1
Os estranhos fenômenos que estamos testemunhando agora não resultam
de uma descoberta devida ao acaso. 2 Os Espíritos nos dizem que há
nesse fato, que em pouco tempo tomou proporções tão consideráveis, qualquer
coisa de providencial. 3 Declaram que estão encarregados, de agora em
diante, de instruir os homens e de derrubar os erros e os preconceitos,
não mais por meio de alegorias e figuras simbólicas, mas em linguagem
clara e inteligível para todos; 4 não mais sobre um ponto isolado do
globo, mas em toda a superfície da Terra. Segundo eles, essas manifestações
são o prelúdio da transformação da Humanidade.
5
Seja como for, não podemos negar que encontramos, nos ensinamentos dos
Espíritos superiores, os preceitos de uma sublime moral, que não é senão
o desenvolvimento e a explicação da moral do Cristo e cujo efeito é
tornar melhores os homens. 6 Há pessoas que acham essa moral insuficiente,
dizendo nada haver nela de novo; é a moral vulgar. 7 Dever-se-ia esperar
da parte dos Espíritos alguma coisa mais grandiosa, mais extraordinária;
alguma coisa, em suma, que saísse do lugar-comum.
8
Temos pouca coisa a responder-lhes. Diremos, para começar, que estamos
apresentando aqui apenas um resumo e que, se quiserem conhecer a Doutrina
completa, será preciso que se deem ao trabalho de estudá-la e, sobretudo,
de meditar suas aplicações. 9 A base sobre a qual repousa essa moral
é simples, é verdade; mas é por sua simplicidade mesma que ela é sublime:
10 Deus fez seu código em poucas palavras. ( † )
11 Ela é
conhecida, é ainda verdade: é a moral que se ensina por toda parte.
Por que, então, a praticam tão pouco? 12 Mais de um entre os que a
consideram mesquinha talvez ficassem um pouco desapontados se fossem
constrangidos a praticar, no rigor do termo, este simples preceito,
tão pueril aos seus olhos: Não faças a outrem o que não quererias que
te fizessem, ( † ) e, principalmente, de reparar tudo o que fizeram, violando
essa norma.
13
De duas coisas, uma: ou eles acham esse preceito rigoroso demais, ou
o consideram demasiadamente brando. 14 No primeiro caso, poder-se-ia
crer que ficassem contentíssimos de vê-lo substituído por alguma coisa
capaz de livrá-los de uma obrigação que, convenhamos, é bastante incômoda
para muita gente; 15 no segundo, é que eles aparentemente já a praticam
escrupulosamente, e que são mais severos para consigo do que o próprio
Deus. 16 Pois bem! Por mais doce que seja essa obrigação, Deus se contenta
com ela e, quando o homem o quiser, com essas poucas palavras fará de
seu globo uma Terra Prometida. 17 Quanto a nós, achamos que os Espíritos
nos dão prova de sua superioridade justamente por confirmarem as palavras
do Cristo e por anunciarem que estão encarregados de apressar o fim
do reino do egoísmo e substituí-lo pelo da justiça. 18 Não cremos que
seja possível a alguém se convencer sinceramente da existência e da
manifestação dos Espíritos sem promover séria mudança em si mesmo e
sem encarar com confiança o futuro. 19 Esta crença, portanto, não pode
conduzir o homem senão ao caminho do bem, pois nos mostra a nulidade
das coisas terrenas a par do infinito que nos aguarda; 20 coloca na
primeira linha das condições de nossa felicidade futura o amor e a caridade
para com os semelhantes, fazendo que se diluam as paixões que nos assemelham
ao bruto.
ALLAN KARDEC