O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O Livro dos Espíritos.

(1ª edição)
(Idioma francês)

Introdução

ao estudo da Doutrina Espírita. 61

Resposta a várias objeções.
[XVI]


1 Resta-nos examinar duas objeções, únicas que realmente merecem esse nome, porque se baseiam em teorias racionais. 2 Ambas admitem a realidade de todos os fenômenos materiais e morais, mas excluem a intervenção dos Espíritos.

3 Segundo a primeira dessas teorias, todas as manifestações atribuídas aos Espíritos não seriam mais que efeitos magnéticos. 4 Os médiuns ficariam num estado que se poderá chamar de sonambulismo desperto, fenômeno de que podem dar testemunho todos os que estudaram o magnetismo. 5 Nesse estado as faculdades intelectuais adquirem um desenvolvimento anormal; o círculo das percepções intuitivas se amplia além dos limites de nossa concepção ordinária. 6 Assim, o médium tiraria de si mesmo e por efeito de sua lucidez tudo que diz e todas as noções que transmite, mesmo sobre as coisas que lhe sejam mais estranhas no seu estado normal.

7 Não seremos nós quem conteste o poder do sonambulismo, cujos prodígios observamos, estudando todas as suas fases. 8 Concordamos, realmente, em que muitas manifestações espíritas podem ser explicadas por esse meio; 9 contudo, uma observação atenta e prolongada mostra uma porção de fatos em que a intervenção do médium, a não ser como instrumento passivo, é materialmente impossível. 10 Aos que partilham dessa opinião, diremos, como aos outros: “Vede e observai, porque seguramente ainda não vistes tudo.” 11 Em seguida, opor-lhes-emos duas considerações tiradas de sua própria doutrina. De onde veio a teoria espírita? É um sistema imaginado por alguns homens para explicar os fatos? De modo algum. 12 Quem, então, a revelou? Precisamente esses mesmos médiuns cuja lucidez exaltais. 13 Se, pois, essa lucidez é tal como a supondes, por que teriam eles atribuído aos Espíritos o que hauriam em si mesmos? Como teriam dado essas informações tão precisas, tão lógicas e tão sublimes sobre a natureza dessas inteligências extra-humanas? 14 De duas coisas, uma: ou eles são lúcidos, ou não. Se o são, e se temos confiança em sua veracidade, não poderíamos, para sermos coerentes, admitir que não estejam com a verdade. 15 Em segundo lugar, se todos os fenômenos tivessem sua fonte no médium, seriam idênticos no mesmo indivíduo e não se veria a mesma pessoa usar de uma linguagem heterogênea, nem exprimir alternadamente as coisas mais contraditórias. 16 Esta falta de unidade nas manifestações obtidas pelo médium prova a diversidade das fontes. Se, pois, não podemos encontrá-las todas no médium, é preciso que as procuremos fora dele.

17 Segundo outra opinião o médium é a fonte das manifestações; mas, em vez de extraí-las de si mesmo, como o pretendem os partidários da teoria sonambúlica, ele as colhe do meio ambiente. 18 O médium seria então uma espécie de espelho a refletir todas as ideias, todos os pensamentos e todos os conhecimentos das pessoas que o cercam; nada diria que não fosse conhecido, pelo menos de algumas delas. 19 Não se pode negar, e isto constitui mesmo um princípio da Doutrina, a influência que os assistentes exercem sobre a natureza das manifestações. 20 No entanto, essa influência é bem diversa da que se supõe existir, e daí a que o médium seja um eco do pensamento daqueles que o rodeiam, vai grande distância, visto que milhares de fatos demonstram terminantemente o contrário. 21 Isto é um grave erro, que prova, uma vez mais, o perigo das conclusões prematuras. 22 Como essas pessoas não podem negar a existência de um fenômeno que a ciência comum não consegue explicar, e não querendo admitir a presença dos Espíritos, explicam-no a seu modo. 23 A teoria que sustentam seria sedutora se pudesse abranger todos os fatos, mas não é isso que acontece. 24 Quando se lhes demonstra, até à evidência, que certas comunicações do médium são completamente estranhas aos pensamentos, aos conhecimentos e às próprias opiniões dos assistentes; que essas comunicações frequentemente são espontâneas e contradizem todas as ideias preconcebidas, elas não se deixam vencer tão facilmente. 25 Respondem que a irradiação vai muito além do círculo imediato que nos cerca; o médium é o reflexo da Humanidade inteira, de tal sorte que, se não haure as inspirações ao seu redor, vai buscá-las fora, na cidade, no país, em todo o globo terreno e mesmo em outras esferas.

26 Não creio que se encontre nessa teoria explicação mais simples e mais provável que a do Espiritismo, pois ela pressupõe uma causa bem mais maravilhosa. 27 A ideia de que seres que povoam os espaços e que, em contato permanente conosco, nos comunicam seus pensamentos, nada tem que choque mais a razão do que a suposição dessa irradiação universal, vinda de todos os pontos do Universo para se concentrar no cérebro de um indivíduo.

28 Ainda uma vez, e este é um ponto fundamental sobre o qual nunca insistiremos bastante: a teoria sonambúlica e a que se poderia chamar refletiva foram imaginadas por alguns homens; são opiniões individuais, criadas para explicar um fato, ao passo que a Doutrina dos Espíritos não é de concepção humana. 29 Foi ditada pelas próprias inteligências que se manifestam, quando nela ninguém pensava e a opinião geral até mesmo a repelia. 30 Ora, perguntamos: onde os médiuns foram colher uma doutrina que não passava pelo pensamento de ninguém na Terra? Também perguntamos: Por que estranha coincidência milhares de médiuns espalhados por todos os pontos do globo, e que jamais se viram, concordaram em dizer a mesma coisa? Se o primeiro médium que apareceu na França sofreu a influência de opiniões já aceitas na América, por que capricho foi ele buscá-las a 2000 léguas além-mar, no seio de um povo tão estranho por seus costumes quanto por sua língua, em vez de procurá-las ao seu redor?

31 Também há outra circunstância na qual não se tem pensado bastante. As primeiras manifestações, na França como na América, não se deram por meio da escrita nem da palavra falada, mas por pancadas concordantes com as letras do alfabeto e formando palavras e frases. 32 Foi por esse meio que as inteligências autoras das manifestações declararam ser Espíritos. 33 Se, portanto, pudéssemos supor a intervenção do pensamento dos médiuns nas comunicações verbais ou escritas, outro tanto não se pensaria em relação às pancadas, cuja significação não podia ser conhecida previamente.

34 Poderíamos citar inúmeros fatos que demonstram, na inteligência que se manifesta, uma individualidade evidente e uma absoluta independência de vontade. 35 Recomendamos, portanto, aos dissidentes uma observação cuidadosa; se quiserem estudar bem, sem prevenção e sem concluir antes de terem visto tudo, reconhecerão a incapacidade de sua teoria para explicar todos os fatos. 36 Limitar-nos-emos a propor as seguintes questões: Por que a inteligência que se manifesta, seja ela qual for, recusa responder a certas perguntas sobre assuntos perfeitamente conhecidos, por exemplo, sobre o nome ou a idade do interlocutor, sobre o que ele tem na mão, que fez na véspera, seus planos para o dia seguinte, etc.? 37 Se o médium fosse o espelho do pensamento dos assistentes, nada lhe seria mais fácil que responder.

38 Os adversários retrucam o argumento indagando, por sua vez, por que os Espíritos, que tudo devem saber, não podem dizer coisas tão simples, de acordo com o axioma: Quem pode o mais pode o menos, e daí concluem que não são Espíritos. 39 Se um ignorante ou um zombador, apresentando-se a uma douta assembleia, perguntasse, por exemplo, por que é dia em pleno meio-dia, seria crível que ela se desse ao incômodo de responder seriamente? E seria lógico concluir-se, pelo silêncio ou pelas zombarias com que respondesse ao interpelante, que seus membros não passam de tolos? 40 Ora, é precisamente porque são superiores que os Espíritos não respondem a questões inúteis e ridículas, nem querem ir para a berlinda; é por isso que se calam ou dizem que só se ocupam com coisas mais sérias.

41 Perguntaremos, finalmente, por que os Espíritos vêm e se vão, muitas vezes, em dado momento, e por que, passado esse momento, não há pedidos nem súplicas que os façam voltar? 42 Se o médium só agisse por impulsão mental dos assistentes, é claro que, em tal circunstância, o concurso de todas as vontades reunidas deveria estimular sua clarividência. 43 Se, portanto, não cede ao desejo da assembleia, corroborado por sua própria vontade, é que obedece a uma influência estranha a ele mesmo e aos que o cercam, influência que, por esse simples fato, acusa sua independência e sua individualidade.  >>> 


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