O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O Livro dos Espíritos.

(1ª edição)
(Idioma francês)

Introdução

ao estudo da Doutrina Espírita. 61

Resposta a várias objeções.
[VI]

1 Como dissemos, os seres que assim se comunicam designaram-se a si mesmos pelo nome de Espíritos ou gênios, declarando, alguns pelo menos, ter pertencido a homens que viveram na Terra. 2 Eles constituem o mundo espiritual, como constituímos, durante nossa vida, o mundo corpóreo.

3 Resumiremos aqui, em poucas palavras, os pontos mais importantes da doutrina que nos transmitiram, a fim de mais facilmente respondermos a certas objeções.

4 Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.

5 Criou o Universo, que compreende todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.

6 Os seres materiais constituem o mundo visível ou corpóreo, e os seres imateriais o mundo invisível ou espiritual, isto é, dos Espíritos.

7 O mundo espiritual é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.

8 O mundo corpóreo é secundário; poderia deixar de existir, ou não ter existido jamais, sem alterar a essência do mundo espiritual.

9 Os seres corpóreos habitam os diferentes globos do Universo.

10 Os seres imateriais ou Espíritos estão em toda parte: o Espaço é o seu domínio.

11 Os Espíritos revestem temporariamente um envoltório material perecível, cuja destruição pela morte lhes restitui a liberdade.

12 Entre as diferentes espécies de seres corpóreos, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos, o que lhe dá superioridade moral e intelectual sobre as demais.

13 A alma é um Espírito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório.

14 Há no homem três coisas: 1º, o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2º, a alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo; 3º, o laço que une a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito.

15 Tem assim o homem duas naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, dos quais tem os instintos; pela alma, participa da natureza dos Espíritos.

16 Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade.  17 Os da primeira ordem são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros por sua perfeição, conhecimentos, proximidade de Deus, pureza de sentimentos e amor ao bem: são os anjos ou Espíritos puros.  18 As demais classes se distanciam cada vez mais dessa perfeição. Os das classes inferiores são inclinados à maioria de nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho, etc.; comprazem-se no mal.  19 Entre eles há os que não são nem muito bons nem muito maus, antes trapalhões e inconvenientes do que perversos; a malícia e as inconsequências parecem suas principais características: são os Espíritos estouvados.

20 Os Espíritos não ocupam perpetuamente a mesma ordem. Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da hierarquia espírita.  21 Essa melhora se efetua por meio da encarnação, que é imposta a uns como expiação e a outros como missão. 22 A vida material é uma prova a que devem submeter-se várias vezes, até que hajam atingido a absoluta perfeição; é uma espécie de filtro ou depurador de onde saem mais ou menos purificados.

23 Deixando o corpo, a alma volta ao mundo dos Espíritos, de onde havia saído, para recomeçar nova existência material, após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece no estado de Espírito errante. 65

24 Tendo o Espírito que passar por muitas encarnações, conclui-se que todos nós tivemos muitas existências e que teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, quer na Terra, quer em outros mundos. 25 A encarnação dos Espíritos ocorre sempre na espécie humana; seria erro acreditar-se que a alma ou Espírito possa encarnar no corpo de um animal. 66

26 As diferentes existências corpóreas do Espírito são sempre progressivas e jamais retrógradas; mas a rapidez de seu progresso depende dos esforços que faça para chegar à perfeição.

27 As qualidades da alma são as do Espírito que está encarnado em nós; assim, o homem de bem é a encarnação de um Espírito bom e o homem perverso a de um Espírito impuro.

 28 A alma tinha sua individualidade antes de encarnar e a conserva depois que se separa do corpo.

29 Na sua volta ao mundo dos Espíritos, a alma encontra todos aqueles que conheceu na Terra, e todas as suas existências anteriores se refletem na sua memória, com a lembrança de todo o bem e de todo mal que fez.

 30 O Espírito encarnado se acha sob a influência da matéria. O homem que vence essa influência, pela elevação e depuração de sua alma, aproxima-se dos Espíritos bons, com os quais estará um dia. 31 Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, aproxima-se dos Espíritos impuros, dando preponderância à natureza animal.

 32 As relações dos Espíritos com os homens são constantes. 33 Os Espíritos bons nos incitam ao bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação. 34 Os maus nos impelem ao mal: é para eles um prazer ver-nos sucumbir e nos identificar com seus defeitos.

35 As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas.  36 As ocultas ocorrem pela influência boa ou má que exercem sobre nós, à nossa revelia. 37 Cabe ao nosso julgamento discernir as boas das más inspirações. 38 As comunicações ostensivas se dão por meio da escrita, da palavra ou de outras manifestações materiais, na maioria das vezes pelos médiuns que lhes servem de instrumento.

39 Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação. 40 Podem evocar-se todos os Espíritos: os que animaram homens obscuros, como os das personagens mais ilustres, seja qual for a época em que tenham vivido; os de nossos parentes, de nossos amigos ou inimigos, e deles obter, por meio de comunicações escritas ou verbais, conselhos, informações sobre sua situação no além-túmulo, seus pensamentos a nosso respeito, assim como as revelações que lhes sejam permitidas fazer-nos.

41 Os Espíritos são atraídos em razão de sua simpatia pela natureza moral do meio que os evoca. 42 Os Espíritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde predominam o amor do bem e o desejo sincero de instruir-se e melhorar-se. 43 A presença deles afasta os Espíritos inferiores que, ao contrário, encontram livre acesso e podem agir com toda liberdade entre pessoas frívolas ou guiadas apenas pela curiosidade, e por toda parte onde encontrem maus instintos. 44 Longe de se obterem bons conselhos, ou ensinamentos úteis, deles só se devem esperar futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto ou mistificações, pois muitas vezes tomam nomes venerados, a fim de melhor induzirem ao erro.

45 Distinguir os Espíritos bons dos maus é extremamente fácil. A linguagem dos Espíritos superiores é constantemente digna, nobre, marcada pela mais alta moralidade, isenta de toda paixão inferior; seus conselhos revelam a mais pura sabedoria e têm sempre por objetivo nosso melhoramento e o bem da Humanidade. 46 A dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconsequente, muitas vezes trivial e mesmo grosseira; 47 se por vezes dizem coisas boas e verdadeiras, em muitas outras dizem falsidades e absurdos, por malícia ou ignorância. 48 Zombam da credulidade e se divertem à custa dos que os interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade e embalando-lhes os desejos com falsas esperanças. 49 Em resumo, as comunicações sérias, na total acepção do termo, só são dadas nos centros sérios, naqueles cujos membros estão unidos por íntima comunhão de pensamentos, tendo em vista o bem.

50 A moral dos Espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: Fazer aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem, ( † ) isto é, fazer o bem e não o mal. O homem encontra nesse princípio a regra universal de conduta, mesmo para suas menores ações.

 51 Eles nos ensinam que o egoísmo, o orgulho, a sensualidade são paixões que nos aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria; 52 que o homem que, desde este mundo, se desliga da matéria pelo desprezo das futilidades mundanas e pelo amor ao próximo, aproxima-se da natureza espiritual; 53 que cada um de nós deve tornar-se útil segundo as faculdades e os meios que Deus nos colocou nas mãos para nos provar; 54 que o Forte e o Poderoso devem apoio e proteção ao Fraco, porque aquele que abusa de sua força e de seu poder para oprimir o semelhante transgride a Lei de Deus. 55 Ensinam, finalmente, que no mundo dos Espíritos, nada podendo estar oculto, o hipócrita será desmascarado e todas as suas torpezas descobertas;  56 que a presença inevitável, e de todos os instantes, daqueles para com quem agimos mal é um dos castigos que nos estão reservados; 57 que ao estado de inferioridade e de superioridade dos Espíritos correspondem penas e gozos que nos são desconhecidos na Terra.

58 Mas eles também nos ensinam que não há faltas irremissíveis que um arrependimento sincero e uma conduta melhor não possam apagar. 59 O homem encontra o meio de consegui-lo nas diferentes existências que lhe permitem avançar, conforme seus desejos e seus esforços, na senda do progresso, rumo à perfeição, que é o seu objetivo final.

60 Este é o resumo da Doutrina Espírita, tal como resulta dos ensinamentos dados pelos Espíritos superiores. Vejamos agora as objeções que se lhe opõem.

61 Entre os antagonistas, é preciso distinguir aqueles entre os quais a incredulidade é uma ideia preconcebida, e no meio destes cumpre ainda distinguir os que repelem as coisas novas por motivos de interesse pessoal; com estes, não temos necessidade alguma de nos ocupar. 62 Em outros, o amor-próprio constitui motivo não menos poderoso; acreditam que a Natureza já lhes disse a última palavra, não lhes reserva mais mistérios, e que tudo aquilo que exceda a elevada ideia que fazem da própria inteligência não passa de estupidez. 63 Seria igualmente perder tempo discutir com eles; só lhes diremos que se transportem alguns anos atrás e vejam o que então pensavam das novas conquistas do homem os que, como eles, pretendiam impor limites à Natureza, parecendo dizer-lhe: não irás além. 64 Os sarcasmos e as perseguições não impediram o progresso, e perguntamos o que lucrou a reputação deles em se inscreverem na oposição a fatos que, mais tarde, lhes viriam dar tão fulminante desmentido à perspicácia. 65 O homem que julga infalível sua razão está bem perto do erro; mesmo aqueles que têm as mais falsas ideias das coisas se apoiam na razão, sendo por causa disso que rejeitam tudo quanto lhes parece impossível. 66 Aqueles que outrora repeliram as admiráveis descobertas de que se glorifica a Humanidade, apelaram todos a esse juiz, para as rejeitar; muitas vezes, aquilo que se chama razão não passa de orgulho disfarçado, e quem quer que se considere infalível pretende igualar-se a Deus e talvez até mesmo duvide do poder infinito do Criador.

67 Dirigimo-nos, portanto, aos antagonistas de boa-fé, prudentes bastante para não duvidarem do que não viram, e que, julgando o futuro pelo passado, não creem que o homem haja chegado ao seu apogeu, nem que a Natureza lhe tenha virado a última página de seu livro.  >>> 



[65] Nota de Allan Kardec: Entre a doutrina da reencarnação e a da metempsicose, tal como a admitem algumas seitas, há uma diferença característica que será explicada no curso desta obra.


[66] N.T.: Neste parágrafo é que caberia a referência sobre a metempsicose. Allan Kardec procedeu às devidas alterações quando publicou a edição definitiva de O Livro dos Espíritos.


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