1 As observações anteriores nos levam a dizer algumas palavras sobre as contradições que se possam encontrar nas soluções dadas pelos Espíritos a certas perguntas, e das quais os adversários tentam tirar um argumento contra a Doutrina.
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Sendo os Espíritos muito diferentes uns dos outros, do ponto de vista
dos conhecimentos e da moralidade, é evidente que a mesma questão pode
ser por eles resolvida em sentidos opostos, conforme a categoria que
ocupem, exatamente como sucederia entre os homens se a propusessem,
ora a um sábio, ora a um ignorante, ora a um gracejador de mau gosto.
3 O ponto essencial, já o dissemos, é saber a quem nos dirigimos.
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Mas, ponderam, como se explica que Espíritos reconhecidos como seres
superiores nem sempre estejam de acordo entre si? 5 Diremos, em primeiro
lugar, que, independentemente da causa que acabamos de assinalar, existem
outras que podem exercer certa influência sobre a natureza das respostas,
abstração feita do caráter dos Espíritos. 6 Este é um ponto capital,
cuja explicação se encontrará no curso desta obra, motivo por que nos
abstemos de reproduzi-la aqui. É nisso, sobretudo, que consiste a dificuldade
dos estudos espíritas. É por isso que dizemos que esses estudos requerem
atenção demorada, observação profunda e, principalmente, como o exigem
todas as ciências humanas, continuidade e perseverança. 7 São precisos
alguns anos para formar-se um médico medíocre e três quartas partes
da vida para formar-se um cientista. Como se pretender em algumas horas
adquirir a Ciência do Infinito? 8 Que ninguém, portanto, se iluda:
o estudo do Espiritismo é imenso; diz respeito a todas as questões da
metafísica e da ordem social; é todo um mundo que se abre diante de
nós. 9 Será de admirar que demande tempo, muito tempo mesmo?
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A contradição, ademais, nem sempre é tão real quanto possa parecer,
prendendo-se mais à forma da linguagem que ao sentido intrínseco. Não
vemos todos os dias homens que professam a mesma ciência divergirem
na definição dada a uma coisa, seja porque empregam termos diferentes,
seja porque a consideram sob outro ponto de vista, embora a ideia fundamental
seja sempre a mesma? 11 Acrescentemos, ainda, que a forma da resposta
depende muitas vezes da forma da pergunta. 12 Seria pueril, portanto,
ver contradição onde geralmente só existe diferença de palavras. 13 Os Espíritos superiores não se preocupam de modo algum com a forma;
para eles, o fundo do pensamento é tudo.
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Tomemos por exemplo a definição de alma. Não tendo esta palavra uma
acepção única, os Espíritos podem, assim como nós, divergir na definição
que lhe dão: um poderá dizer que é o princípio da vida, outro chamá-la
de centelha anímica, um terceiro afirmar que ela é interna, um quarto
que é externa, etc., e todos terão razão, cada um de seu ponto de vista.
15 Poder-se-á mesmo crer que alguns deles professem teorias materialistas
e, todavia, não ser assim. 16 Dá-se o mesmo com a palavra Deus.
Será: o Princípio de todas as coisas, o Criador do Universo, a Inteligência
Suprema, o Infinito, o Grande Espírito, etc. Mas, em última análise,
será sempre Deus. 17 Citemos, finalmente, a classificação dos Espíritos.
Eles formam uma série ininterrupta, desde o grau inferior até o grau
superior. A classificação é, pois, arbitrária: um poderá fixá-la em
três classes, outro em cinco, dez ou vinte, à vontade, sem que nenhum
esteja em erro. 18 Todas as ciências humanas nos oferecem o mesmo exemplo.
Cada cientista tem o seu sistema; os sistemas mudam, mas a Ciência não
muda. Quer se aprenda a Botânica pelo sistema de Lineu, de Jussieu ou
de Tournefort, nem por isso se saberá menos Botânica. 19 Deixemos,
pois, de dar às coisas puramente convencionais mais importância do que
merecem, para só nos atermos àquilo que é verdadeiramente sério e, não
raro, a reflexão nos fará descobrir, naquilo que parecia ser o maior
disparate, uma similitude que nos havia escapado a um primeiro exame. >>>