1 Fenômenos que escapam às leis da ciência vulgar manifestam-se por toda parte, revelando, na causa que os produz, a ação de uma vontade livre e inteligente.
2 Diz a razão que um efeito inteligente há de ter como causa uma força inteligente e os fatos provaram que essa força pode entrar em comunicação com os homens por meio de sinais materiais.
3 Interrogada sobre sua natureza, essa força declarou pertencer ao mundo dos seres espirituais que se despojaram do invólucro corpóreo do homem. Assim é que a Doutrina dos Espíritos foi revelada.
4 As comunicações entre o mundo espiritual e o mundo corpóreo fazem parte da natureza das coisas e não constituem nenhum fato sobrenatural, razão pela qual encontramos seus vestígios entre todos os povos e em todas as épocas. Hoje se generalizaram e se tornaram patentes para todos.
5 Os Espíritos anunciam que chegaram os tempos marcados pela Providência para uma manifestação universal e que, sendo eles os ministros de Deus e os agentes de sua vontade, sua missão é instruir e esclarecer os homens, abrindo uma Nova Era para a regeneração da Humanidade.
6 Este livro é o repositório de seus ensinos. 7 Foi escrito por ordem
e sob o ditado de Espíritos superiores, para estabelecer os fundamentos
da verdadeira Doutrina Espírita, isenta dos erros e dos preconceitos.
8 Nada encerra que não seja a expressão do pensamento deles e que não
tenha sido por eles examinado. 9 Só a ordem e a distribuição metódica
das matérias, assim como a forma material de algumas partes da redação
constituem obra daquele que recebeu a missão de o publicar.
10
Entre os Espíritos que concorreram para a realização desta obra, muitos
viveram em diversas épocas na Terra, onde pregaram e praticaram a virtude
e a sabedoria. 11 Outros, por seus nomes, não pertenceram a nenhuma
personagem cuja lembrança a História tenha guardado, mas sua elevação
é atestada pela pureza de sua doutrina e sua união com os que trazem
nomes venerados.
12 Eis os termos em que nos deram, por escrito e por muitos médiuns, a missão de escrever este livro:
13
“Ocupa-te com zelo e perseverança do trabalho que empreendeste com
o nosso concurso; este trabalho é também nosso. 14
Revê-lo-emos juntos, a fim de que nada encerre que não seja a expressão
de nosso pensamento e da verdade; e quando a obra estiver terminada,
nós te ordenaremos não só a imprimi-la como a propagá-la; é uma coisa
de utilidade universal.
15
Compreendeste bem tua missão; estamos contentes contigo. Continua
e não te abandonaremos jamais. Crê em Deus e caminha com confiança!
16
Estaremos contigo sempre que o pedires e estarás também às nossas
ordens toda vez que te chamarmos, pois este livro é apenas uma parte
da missão que te está confiada e que um de nós já te revelou.
17
Entre os ensinos que te são dados, alguns há que deves guardar somente
para ti, até nova ordem. Quando chegar o momento de os publicares,
nós to avisaremos. Enquanto esperas, medita sobre eles, a fim de estares
pronto quando te dissermos.
18
Porás no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos, 68 porque é
o emblema do trabalho do Criador. 19 Aí se acham reunidos todos os
princípios materiais que melhor podem representar o corpo e o espírito.
20 O corpo é a cepa; a alma é o bago; o espírito é a seiva. 69 21 O homem quintessencia o espírito pelo trabalho e tu sabes que é somente
pelo trabalho do corpo que o espírito adquire conhecimentos.
22
Não te deixes desanimar pela crítica. 23 Encontrarás contraditores
obstinados, principalmente entre os que têm interesse nos abusos.
24 Encontrá-los-ás mesmo entre os Espíritos, porque os que ainda
não estão completamente desmaterializados procuram muitas vezes semear
a dúvida por malícia ou ignorância. 25 Prossegue sempre; aqui estaremos
para te amparar e aproxima-se o tempo em que a verdade brilhará de
todos os lados.
26
A vaidade de certos homens, que julgam saber tudo e tudo querem explicar
a seu modo, dará origem a opiniões dissidentes. 27 Mas, todos os
que tiverem em vista o grande princípio de Jesus se confundirão num
mesmo sentimento de amor ao bem e se unirão por um laço fraterno,
que abarcará o mundo inteiro; 28 deixarão de lado as miseráveis disputas
de palavras, para só se ocuparem com o que é essencial. 29 E a Doutrina
será sempre a mesma, quanto ao fundo, para todos os que receberem
comunicações de Espíritos superiores.” 70
* * *
Nota — 1 Os princípios contidos neste livro resultam das respostas dadas
pelos Espíritos às questões diretas que lhes foram propostas, bem
como das instruções que deram espontaneamente sobre as matérias que
encerra. 2 O material foi coordenado de maneira a apresentar um conjunto
regular e metódico, e não foi entregue à publicidade senão depois
de ter sido revisto cuidadosamente, várias vezes seguidas, e corrigido
pelos próprios Espíritos.
3 A primeira coluna contém as perguntas formuladas e as respostas textuais. A segunda encerra o enunciado da Doutrina sob forma corrente. 4 São ambas, propriamente falando, duas redações ou duas formas diferentes do mesmo tema: uma tem a vantagem de apresentar, de alguma sorte, a feição das entrevistas espíritas; a outra, de permitir uma leitura sequencial.
5 Embora o assunto versado em cada coluna seja o mesmo, encerram, frequentemente, numa e noutra, pensamentos especiais que, mesmo quando não resultam de perguntas diretas, não deixam de ser o fruto das lições dadas pelos Espíritos, pois nenhuma há que não seja a expressão do pensamento deles.
[68] Nota de Allan Kardec: A cepa que se vê na p. 67 é o fac-símile da que os Espíritos desenharam.
[69] N.T.: Na edição definitiva de 1860, esse trecho passou ter
a seguinte redação: “O corpo é a cepa; o espírito é a seiva; a alma
ou espírito ligado à matéria é o bago”.
[70] N.T.: Como se vê, na 1ª edição de O Livro dos Espíritos, os “Prolegômenos” são mais resumidos e terminam sem as assinaturas dos Espíritos relacionados na edição definitiva da obra.