1 Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, tal como a Doutrina Espírita,
que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova e tão grande,
não pode ser realizado com proveito senão por homens sérios, perseverantes,
isentos de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar
a um resultado. 2 Não poderíamos dar essa qualificação aos que julgam a priori,
levianamente e sem tudo terem visto; que não imprimem a seus estudos
a continuidade, a regularidade e o recolhimento necessários.
3 Ainda menos poderíamos dá-los a certas pessoas que, para não perderem
sua reputação de homens de espírito, se esforçam por encontrar um lado
burlesco nas coisas mais verdadeiras, ou tidas como tais por pessoas
cujo saber, caráter e convicções merecem consideração dos que se prezam
de bem-educados.
4 Que se abstenham, portanto, os que entendem que os fatos não são
dignos de sua atenção. Ninguém pensa violentar-lhes a crença; concordem,
porém, em respeitar a dos outros.
5 O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá.
6 Devemos admirar-nos de não obter, com frequência, nenhuma resposta
sensata a questões de si mesmas graves, quando as fazemos ao acaso e
à queima-roupa, em meio a uma enxurrada de perguntas extravagantes?
7 Além disso, acontece muitas vezes que uma questão complexa, para
ser esclarecida, exige outras preliminares ou complementares.
8 Quem quer adquirir uma ciência deve fazer um estudo metódico dela,
começar pelo princípio e seguir o encadeamento e o desenvolvimento das
ideias.
9 Aquele que dirige a um sábio, ao acaso, perguntas acerca de uma ciência
cujas primeiras palavras ignore, colherá algum proveito?
10 Poderá o próprio sábio, por maior que seja sua boa vontade, dar-lhe
resposta satisfatória? Essa resposta isolada será forçosamente incompleta
e, por isso mesmo, quase sempre ininteligível, ou parecerá absurda e
contraditória.
11 Dá-se exatamente o mesmo nas relações que estabelecemos com os Espíritos.
Se quisermos nos instruir na sua escola, com eles devemos fazer um curso;
mas, como entre nós, é preciso escolher os professores e trabalhar com
assiduidade.
12 Dissemos que os Espíritos superiores só comparecem às reuniões sérias,
sobretudo àquelas em que reina perfeita comunhão de pensamentos e de
sentimentos para o bem.
13 A leviandade e as questões ociosas os afastam, como, entre os homens,
afastam as pessoas sensatas; o campo fica, então, livre à turba dos
Espíritos mentirosos e frívolos, sempre à espreita de ocasiões para
zombarem de nós e se divertirem à nossa custa.
14 O que sucederia, numa reunião dessas, a uma pergunta grave? Seria
respondida, mas por quem?
15 É como se no meio de um bando de galhofeiros lançássemos estas questões:
Que é a alma? Que é a morte? e outras tão recreativas quanto essas.
16 Se quereis respostas sérias, comportai-vos com seriedade na mais
ampla acepção do termo e procurai preencher todas as condições requeridas;
só então obtereis grandes coisas.
17 Sede mais laboriosos e perseverantes nos vossos estudos, a fim de
que os Espíritos superiores não vos abandonem, como faz um professor
com alunos negligentes. >>>