1
Obtido o fato, restava constatar um ponto essencial, o papel do médium
nas respostas e a parte que nelas pode tomar, mecânica e moralmente.
2 Duas circunstâncias capitais, que não escapariam a um observador atento,
podem resolver a questão. 3 A primeira é o modo pelo qual a cesta se
move sob sua influência, pela simples imposição dos dedos sobre a borda;
o exame demonstra a impossibilidade de o médium imprimir uma direção
qualquer à cesta. 4 Essa impossibilidade se patenteia, sobretudo, quando
duas ou três pessoas colocam os dedos, ao mesmo tempo, na mesma cesta;
seria preciso haver entre elas uma concordância de movimentos verdadeiramente
fenomenal; além disso, seria preciso haver uma concordância dos pensamentos
para que pudessem entender-se sobre a resposta a dar à questão formulada.
5 Outro fato, não menos singular, vem aumentar ainda mais a dificuldade.
É a mudança radical da caligrafia, conforme o Espírito que se manifesta,
reproduzindo-se a escrita toda vez que o mesmo Espírito retorna. 6 Seria,
pois, necessário que o médium se houvesse exercitado em dar à própria
caligrafia vinte formas diferentes e, sobretudo, que pudesse lembrar-se
da que pertence a este ou àquele Espírito.
7
A segunda circunstância resulta da própria natureza das respostas que,
na maioria das vezes, sobretudo quando se referem a questões abstratas
ou científicas, estão notoriamente fora dos conhecimentos e, em alguns,
além do alcance intelectual do médium; 8 que este, como geralmente sucede,
não tem consciência do que escreve sob sua influência; 9 que, frequentemente,
não entende ou não compreende a questão proposta, já que pode ser formulada
numa língua que lhe seja estranha, podendo a resposta ser dada nesse
idioma. 10 Enfim, muitas vezes acontece que a cesta escreva espontaneamente,
sem que se haja feito pergunta alguma, sobre um assunto qualquer e inteiramente
inesperado.
11
Em alguns casos, essas respostas revelam tal cunho de sabedoria, profundeza
e oportunidade, pensamentos tão elevados e tão sublimes, que não podem
emanar senão de uma inteligência superior, impregnada da mais pura moralidade.
12 De outras vezes são tão levianas, tão frívolas, tão triviais mesmo,
que a razão se recusa a acreditar que possam proceder da mesma fonte.
13 Tal diversidade de linguagem não se pode explicar senão pela diversidade
das inteligências que se manifestam. 14 Essas inteligências estão na Humanidade
ou fora da Humanidade? Este o ponto a esclarecer e cuja explicação completa
se encontrará nesta obra, tal como foi dada pelos próprios Espíritos.
15
Eis, pois, efeitos patentes que se produzem fora do círculo habitual
de nossas observações; que não ocorrem misteriosamente, mas à luz do
dia; que todos podem ver e constatar, que não constituem privilégio
de nenhum indivíduo e que milhares de pessoas reproduzem à vontade todos
os dias. 16 Esses efeitos têm necessariamente uma causa e, desde que revelam
a ação de uma inteligência e de uma vontade, saem do domínio puramente
físico.
17
Muitas teorias foram formuladas a respeito. Vamos examiná-las daqui
a pouco e veremos se podem explicar a razão de todos os fatos que se
produzem. Admitamos, por enquanto, a existência de seres distintos da
Humanidade, pois é essa a explicação fornecida pelas Inteligências que
se revelam, e vejamos o que eles nos dizem. >>>