O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O Livro dos Espíritos.

(1ª edição)
(Idioma francês)

Introdução

ao estudo da Doutrina Espírita. 61

Resposta a várias objeções.
[VII]

1 Para muita gente, a oposição das corporações científicas constitui, quando não uma prova, pelo menos forte presunção contrária. 2 Não somos dos que se rebelam contra os cientistas, pois não queremos que digam que os insultamos; ao contrário, nós os temos em grande estima e ficaríamos muito honrados se fôssemos contados entre eles. 3 Mas a opinião deles não pode representar, em todas as circunstâncias, uma sentença irrevogável.

4 Desde que a Ciência sai da observação material dos fatos, e trata de os apreciar e explicar, o campo está aberto às conjecturas. 5 Cada um constrói seu sistemazinho, que deseja fazer prevalecer e o sustenta com obstinação. 6 Não vemos diariamente as opiniões mais contraditórias serem alternadamente preconizadas e rejeitadas, ora repelidas como erros absurdos e depois proclamadas como verdades incontestáveis? 7 Os fatos, eis o verdadeiro critério de nossos julgamentos, o argumento sem réplica. 8 Na ausência dos fatos, a dúvida é a opinião do homem sensato.

9 No tocante às coisas notórias, a opinião dos sábios 67 é, com toda razão, digna de fé, pois eles sabem mais e melhor que o vulgo. Mas, em termos de princípios novos, de coisas desconhecidas, sua maneira de ver quase sempre é hipotética, visto que não se acham mais livres de preconceitos que os outros. 10 Direi mesmo que o sábio talvez tenha mais preconceitos que qualquer outro, pois uma propensão natural o leva a subordinar tudo ao ponto de vista em que se especializou: o matemático não vê prova senão numa demonstração algébrica, o químico refere tudo à ação dos elementos, etc. 11 Todo homem que faz uma especialidade, a ela se aferra com todas as forças. Tirai-o daí e o vereis quase sempre delirar, por querer submeter tudo ao mesmo crivo; é uma consequência da fraqueza humana. 12 Consultarei, pois, de bom grado e com toda confiança, um químico sobre uma questão de análise, um físico sobre a força elétrica, um mecânico sobre uma força motriz. 13 Hão, porém, de permitir-me, sem que isto afete a estima a que têm direito por seu saber especial, que eu não tenha em melhor conta suas opiniões negativas sobre o Espiritismo, do que o parecer de um arquiteto sobre uma questão de música.

14 Mas será preciso diploma oficial para se ter bom senso? E não haverá fora das cátedras acadêmicas senão tolos e imbecis? 15 Que se dignem lançar os olhos para os adeptos da Doutrina Espírita, a fim de verem se entre eles só existem ignorantes, e se o número imenso de homens de mérito que a têm abraçado permite relegá-la ao rol das crenças vulgares. 16 O caráter, o saber desses homens merece que se diga: Já que eles afirmam, deve haver pelo menos alguma coisa.

17 Repetimos ainda que, se os fatos com que nos estamos ocupando se houvessem restringido ao movimento mecânico dos corpos, a pesquisa da causa física desse fenômeno entraria no domínio da Ciência. 18 Como, porém, se trata de uma manifestação fora do âmbito das leis da Humanidade, escapa à competência da ciência material, porque não pode ser explicada por algarismos, nem por uma força mecânica. 19 Infelizmente, o erro de muita gente consiste em querer submeter tais fenômenos às mesmas experiências dos fenômenos ordinários, sem atentar que um fenômeno que sai do círculo dos conhecimentos usuais deve ter sua razão de ser para ficar fora desses mesmos conhecimentos, nem pode ser comprovado pelas mesmas experiências. 20 Quando surge um fato novo, que não tem relação com nenhuma ciência conhecida, o sábio, para estudá-lo, deve fazer abstração de sua ciência e dizer a si mesmo que se trata de um estudo novo, impossível de ser feito com ideias preconcebidas.  >>> 



[67] N.T.: Savants, no original. Assim eram chamados os cientistas, os pesquisadores de uma ciência no século XIX. Contudo, muitas vezes Kardec utilizou esse vocábulo no seu sentido lato, isto é, para designar homens eruditos, judiciosos, sensatos, prudentes, enfim, homens que revelam muita sabedoria, sejam ou não “cientistas”. Assim, de acordo com o contexto da palavra savants na frase, ora ela é traduzida como “sábios”, ora como “cientistas”.


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