Para compreender a importância desta obra é preciso, antes de tudo, resgatá-la dentro de seu contexto histórico.
As mensagens aqui apresentadas foram psicografadas por Francisco Cândido Xavier, nosso querido Chico Xavier, e publicadas no jornal espírita Aurora, entre julho de 1928 e abril de 1933. Nesses primeiros anos, Chico Xavier era praticamente desconhecido fora das terras mineiras, onde começava a exercer a sua mediunidade. Vejamos a seguir o contexto histórico em que essas matérias foram produzidas.
Um ano antes, em 1927, Chico Xavier conheceu a Doutrina Espírita. Em junho daquele ano, fundou o Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, e em julho iniciou-se na psicografia. Nove meses depois de começar a psicografar, era publicado, em abril de 1928, a mensagem “Exultemos”, a primeira de mais de uma centena de mensagens que Chico Xavier publicou no jornal Aurora.
Há registros de que foi por volta dessa época que outros jornais como O Jornal, do Rio de Janeiro, e o Almanaque de Notícias, de Portugal, começaram a publicar mensagens do médium mineiro, como ocorreu no jornal Aurora.
Ao longo desse período, em que foram publicadas as matérias no jornal Aurora, Chico Xavier publicou apenas os seus dois primeiros livros: Parnaso de além-túmulo, editado pela Federação Espírita Brasileira (FEB) em 1932, e Cartas de uma morta, lançado pela Livraria Allan Kardec Editora (LAKE), no mesmo ano.
Alguns livros contam como foi o processo para que essas mensagens viessem a ser publicadas no jornal Aurora, esse baluarte do Espiritismo, que à época em que as matérias de Chico Xavier foram publicadas tinha uma tiragem quinzenal de quarenta mil exemplares, tendo sido um dos maiores divulgadores do Espiritismo de seu tempo.
O jornalista Marcel Souto Maior conta que muitas poesias de Chico Xavier não tinham dono, e o médium mineiro negava que elas fossem de sua autoria. n Os companheiros do centro espírita desejavam publicar as poesias, mas havia a questão de quem as assinaria. Foi então que decidiram pedir conselhos a Inácio Bittencourt, diretor do jornal Aurora, que decidiu que os poemas seriam publicados e que a identificação “F. XAVIER” seria colocada como assinatura, com o consentimento dos autores espirituais.
Essa questão é bem significativa para este livro. Pois se ao longo de toda a sua vasta obra Chico Xavier sempre creditava as mensagens e poesias a um Espírito, nesta obra ocorre algo inédito, com algumas delas nitidamente indicando que foi ele mesmo quem as produziu. Nesse sentido, destaca-se a belíssima mensagem “Salve, Imortalidade!”, produzida por ocasião da desencarnação de Cidália, sua mãe adotiva, em que o médium, de inúmeras faculdades mediúnicas, descreve tudo que ele vê no momento derradeiro de Cidália nas paragens terrenas. Há também poesias que ele dedica a seus amigos, que certamente devem ser dele também. É o caso de “Surge et ambula!”, que ele dedica ao amigo José Hermínio Perácio, quem o introduziu na Doutrina Espírita; “Bendita a dor!”, que ele dedica a Inácio Bittencourt, que acabara de perder um filho; “Amar!”, que ele oferece a Vinícius (pseudônimo de Pedro de Camargo), outro colaborador do jornal Aurora, entre muitas outras, que eram mensagens afetivas, provavelmente de sua própria lavra. Havia também sonetos por ocasião do aniversário do Aurora, que também deviam ser seus. A maior parte das mensagens publicadas nesta obra é composta de poesias em forma de sonetos, quase sempre publicadas na primeira página do jornal. Mas há também material em prosa, os temas os mais pertinentes, como nas mensagens “A caridade”, “A harmonia”, “O caminho” e “Perdoar”. Na segunda parte da obra [1931-1933], os textos em prosa aparecem com maior frequência. Destacamos uma série de matérias sobre religião, como “Questão religiosa”, “Apascentar ovelhas”, “Igreja pequena” e “Jesus e o Catolicismo”. Há também matérias sobre diversos assuntos, como “Liberdade de consciência”, “O Espiritismo na atualidade”, “Época transitória”, “A lei da reencarnação”, entre outras. Os textos desta obra oferecem preciosas lições de vida, ora nos ensinando a aceitar e a bendizer o sofrimento e as dolorosas provas diárias, ora nos ensinando a levar uma vida verdadeiramente cristã e espírita, ora nos mostrando, por fim, a imortalidade da alma e quão breve é a nossa existência terrena perante a eternidade do tempo. Nela encontramos valiosos ensinamentos que nos impelem a uma vida edificante, certos de que a cada dia construímos a senda da nossa vida e que o nosso futuro dependerá das escolhas que fizermos no nosso dia a dia.
João Marcos Weguelin
Organizador
[1] MAIOR, Marcel Souto. As vidas de Chico Xavier. 2ª edição, Ed. Planeta, São Paulo, 2003.