| 1º de dezembro de 1929.
1 “Perdoai não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes”, ( † ) disse o Mestre. E na Terra, onde se misturam todos os sentimentos, a maioria dos homens jamais buscou compenetrar-se dessa grandiosa verdade.
2 Perdoar! Quem poderá, mergulhado no mar revolto das imperfeições terrenas, compreender, em toda a sua plenitude, a grandeza dessa palavra? Ela encerra o que há de mais luminoso e sublime dentro dos corações! 3 Se a compreendêssemos, de fato, a nossa existência na Terra, que tantas vezes maldizemos em nossos desânimos, seria uma vida decorrida com mais serenidade, percorreríamos os nossos caminhos tortuosos e ásperos como se fossem transformados em estradas ridentes, onde encontraríamos os maiores encantos! 4 Aquele que a compreendesse em sua justa e verdadeira acepção assemelhar-se-ia, palidamente embora, ao mais sublime instrutor da humanidade — Jesus!
5 Aquele que perdoa é humilde e quem é humilde é feliz. 6 Muitas vezes acontece que se receba uma dor nascida da irreflexão ou da ignorância de alguém; o ofendido displicentemente diz: “Eu o perdoo”, mas o seu perdão se conserva nos lábios. 7 Aquele que o ofendeu é considerado o mais imperfeito dos seres; distancia-se dele, guardando a seu respeito os mais escabrosos pensamentos. E será isso perdoar?
8 Nunca! Perdoar é a maior manifestação da lei de amor, é derramar sobre a alma ulcerada pelas dores inenarráveis do remorso as flores maravilhosas do bem, cuja essência puríssima fará desaparecer as nuvens trevosas que empanam o sol da tranquilidade moral. 9 Perdoar verdadeiramente é permitir que se infiltre em nossas almas a suave compreensão deste estatuto universal, pelo qual um dia se regerão todos os Espíritos: O Evangelho de Jesus!
10 Aquele que nos ofende devemos abençoar, pois que foi ele o instrumento do nosso progresso. 11 É o nosso dever procurar apegar-nos a ele pelos mais fortes laços de fraternidade, tentando, constantemente, proporcionar-lhe, em todas as horas, as mais convincentes provas de amizade pura, desinteresse e abnegação! 12 As vibrações dos nossos pensamentos, se de fato eles obedecem à lei do amor, atingirão o Espírito daquele a quem nunca devemos qualificar de inimigo, devolvendo-lhe à alma a desejada paz, predispondo-a, simultaneamente, à compreensão de maiores e mais elevados ideais, que não se limitem aos pequeninos e mesquinhos nadas deste planeta de provações.
13 Ainda que se levantem em nosso íntimo todas as fibras do coração traduzindo revolta, em virtude das nossas imperfeições e fraquezas, devemos abafar esses gritos pavorosos que tornam pavorosa a nossa alma, e, num supremo esforço, procurarmos dilatar os bons sentimentos que ainda nos restem. 14 Se assim praticarmos em todos os dias, os mais duradouros e santos afetos brotarão, espontaneamente, dos nossos íntimos, sentiremos em toda a sua pureza e extensão as vibrações dulcíssimas que nos prodigalizam o amor, 15 pois através de todos os tempos o bem sobrepujará sempre o mal e a luz constantemente triunfará da treva!
16 Saibamos, pois, perdoar, atraindo o nosso irmão infeliz com doces palavras, pensamentos sadios e bons atos, como se ele fosse o mais dileto dos nossos amigos, fazendo com que o nosso afeto por ele brote do mais profundo do ser. Só assim teremos compreendido o perdão.
17 Perdoar é amar. E amar significa caminhar para Deus!
F. Xavier