O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Chico Xavier, a aurora de uma vida entre o Céu e a Terra — Autores diversos subscritos por F. Xavier.


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Apascentar ovelhas

| 16 de março de 1931.

1 Baseada nesta apóstrofe de Jesus ao apóstolo — “Pedro, apascenta as minhas ovelhas” —, ( † ) irroga-se a Igreja Romana no direito de ser a única mentora das almas em todo o orbe terráqueo. 2 E o seu exclusivismo vai ao limite de anatematizar o próprio bem quando nasce entre aqueles que não se acham de acordo com os seus dogmas e artigos de fé. 3 Desconhece, as mais das vezes, que o verdadeiro discípulo de Cristo é como o samaritano da sua parábola, ( † ) que não pertence a nenhuma casta religiosa.

4 Afinal, o que é apascentar ovelhas, tarefa essa que o Pastor divino frisou com a máxima relevância? Seria saciar-lhes com o pão simbólico da eucaristia que a Igreja afirma conter o corpo e o sangue de Jesus Cristo transubstanciados? Nunca! Apascentar ovelhas é prodigalizar-lhes o alimento da alma e dessedentar-lhes com a água viva dos bons exemplos, dos melhores exemplos!

5 Nada vale a prédica sem a demonstração prática do método a seguir. Que valor possui o mais ornamentado sermão de Vieira ( † ) e toda a eloquência de um Mont’Alverne ( † ) para uma alma que padece de todos os sofrimentos sem conhecer caridosos cireneus para auxiliar-lhe a suportar o peso da cruz das provações remissoras?

6 Portanto, apascentar ovelhas é ofertar-lhes o amor em gestos inesquecíveis. O pastor de almas é obrigado a mostrar-lhes a própria luz em si se não quer que suas ovelhas tresmalhadas se despenhem sobre abismos inestricáveis.

7 Vejamos a Igreja, instituição venerável, que santificada com o sangue dos mártires do Cristianismo foi humanizada pelos homens.

8 Por que é que Martinho Lutero ( † ) fundou a Reforma? ( † ) É que como membro da Igreja de Roma sonhara-a como seguidora irrepreensível da humildade de Jesus e ao reconhecer as suntuosidades de que vivia rodeado o maior representante de Cristo na Terra, e lançando um olhar retrospectivo ao passado do Nazareno, viu bem que ali se encontrava a antítese do filho de Maria.

9 Por que se divorciaram da Igreja a maioria dos idealistas e filósofos, dos cultores das ciências e das artes? É porque ela não suporta a análise. Presa à opinião dos seus teólogos, não aceita as deduções científicas e as sugestões dos pensadores mais profundos.

10 As torres das suas catedrais maravilhosas rasgam as nuvens. O seu interior deslumbra-nos com a magnificência de suas disposições. Lá dentro, porém, não se recebem os mendigos, os andrajosos, os cegos, os leprosos, os orfãozinhos e toda a classe de sofredores que formam o fundo do quadro incomparável da vida de Jesus. Ali acorrem os que possuem o terror do inferno e os que não têm a devida coragem moral para romper com as convenções sociais.

11 A Igreja, portanto, desviou-se dos seus deveres. Não tem apascentado as ovelhas do sumo Pastor. Antes, submergiu-as num acervo de ritualismos e exterioridades, pouco se lhe dando que sejam iluminadas de vida interior. E daí a desilusão dos que refletem verdadeiramente, amando a verdade.

12 Ela não satisfaz aos sinceros, sedentos de luz, porque não tem para dar o pão que alimenta a alma, a água que sacia o Espírito. Enervada pelas vanglórias do mundo, embriagada pelo desejo de domínio, a Igreja separou-se do Reino do Céu, fundando o seu no mundo da carne, e não se congraçará à “terra prometida” ( † ) que Jesus fazia vislumbrar aos que o rodeavam enquanto não se convencer de que as palavras sem a verdadeira exemplificação são sementes tão áridas que se convertem em fontes inesgotáveis do mais entranhado dos ateísmos.


F. Xavier


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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