| 16 de setembro de 1931.
1 Tarefa inglória a dos detratores das doutrinas reencarnacionistas. Todos os recursos da dialética e da hermenêutica na tessitura dos seus argumentos, com o propósito de alvejar esse soberbo monumento de sã filosofia, são esforços infrutíferos. 2 É necessário penetrar mais intimamente no âmago das coisas e dos acontecimentos nos tempos hodiernos; e somente as vidas sucessivas desvendam-nos essa multiplicidade de porquês que nos rodeia na vida planetária.
3 Sem a reencarnação, como se explicaria o problema da dor?
4 Como se aquilatariam as desigualdades sociais?
5 Que poderíamos compreender dos diferentes graus da inteligência humana?
6 Como se descobriria o fenômeno de regressão da memória, uma das propriedades do subconsciente, tantas vezes invocado pelos que receiam a verdade para afastar a hipótese espírita?
7 Teríamos de nos cingir a São Tomás de Aquino, ( † ) que, para conciliar com o bom senso o dogma do pecado original, que a Igreja Romana julga afastar com o batismo pela água, “ensinava ser a alma humana criada por Deus no momento da concepção material”. Apesar de toda a erudição do doutor angélico, a sua teoria coloca a Justiça Divina abaixo da humana.
8 Por que esta pune somente os culpados, quando aquela, que é a Suma Essência de todo o amor, há de condenar os inocentes?
9 Por que é que existem os privilegiados que desfrutam de um gozo aparente na Terra, junto às multidões de seres acicatados pelo sofrimento, mergulhados na dor e na miséria, desde o berço ao túmulo, tudo isso sob as vistas amoráveis de Deus, o Pai de todas as criaturas?
10 Somente a reencarnação resolve tão magno problema. Desde as mais remotas eras que a doutrina reencarnacionista é uma ideia latente no cérebro do homem.
11 Já nas antigas civilizações egípcias, as coletividades possuíam uma vaga intuição dessa lei imutável, reguladora dos destinos, acreditando na Metempsicose, isto é, que o Espírito culpado, após a morte, em longos e indeterminados estágios, permaneceria encarnado em corpos de animais, como o maior dos castigos. 12 O estudioso, sem ideias preconcebidas, encontrará nessa teoria embrionária a luz ainda confusa que já se fazia sentir na alma da humanidade, em sua infância espiritual, quanto à reencarnação, como meio de aperfeiçoamento e expiação de culpas.
13 Também o gênio céltico deixou uma esteira luminosa através dos tempos, com a sua crença nas múltiplas existências da alma. 14 Muitos filósofos da Antiguidade foram apologistas da reencarnação, se bem que inimigos acérrimos das suas doutrinas impedissem a marcha ascendente das suas ideias excessivamente elevadas para aquele tempo.
15 De bem longe vem a grande lei reencarnacionista, ocupando o pensamento da humanidade. Sempre foi atacada por todos aqueles cujo grau de evolução não permite uma visão mais larga das lutas da perfectibilidade humana.
16 Ainda nos tempos modernos há quem a increpe de símile do inferno, proclamado pela quase totalidade dos teólogos católicos, acusando ainda a lei de causa e efeito de mergulhar o homem num eterno círculo vicioso; 17 todavia, está mais que taxativamente provado que é o próprio homem quem tece os fios do seu destino, 18 que é o seu livre-arbítrio que escolhe entre o bem e o mal, entre a luz e a treva, entre a felicidade e a desventura, 19 e que a reencarnação é a grande lei que rege a vida das almas. É através dessa lei que os Espíritos se depuram, se engrandecem, se elevam e se redimem; 20 é através dela que saímos da nossa infância espiritual, que saímos dos lamaçais do crime para aprendermos a preferir os luminosos jardins da virtude; 21 é com ela que entramos na posse da herança do Pai, que é o amor e a sabedoria.
22 Nunca devemos esquecer, porém, que o bem cobre multidão de misérias ( † ) e liberta-nos da nefasta ação do mal. Será o bem que, praticado na face da Terra, em toda a sua amplitude, arrancará a alma humana do poder do sofrimento, da dor; só ele é capaz de, quando fielmente interpretado, libertar o Espírito das adversidades do destino.
23 Tecemos hoje o nosso amanhã. Adornemo-lo, pois, de luz, amando o bem e praticando-o em todos os momentos. 24 Ser bom é tocar do pântano das misérias da Terra a luminosidade esplendente dos Céus.
F. Xavier