O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O que é o Espiritismo.

(Primeira versão.)
(Idioma francês)

Capítulo primeiro.


PEQUENA CONFERÊNCIA ESPÍRITA.


SEGUNDO DIÁLOGO. — O CÉTICO.
(Sumário)

Origem das ideias espíritas modernas.


17. O Visitante. — Uma coisa que eu desejava saber, caro senhor, é o ponto de partida das ideias espíritas modernas; serão devidas a uma revelação espontânea dos Espíritos, ou resultarão de uma crença prévia na existência deles? Bem compreendeis a importância de minha pergunta, porque, neste último caso, é perfeitamente admissível que a imaginação haja desempenhado o seu papel.


A. K. — Como dissestes, essa questão é importante, no ponto de vista em que vos colocais, embora seja difícil admitir-se, supondo essas ideias nascidas de uma crença antecipada, que a imaginação pudesse produzir todos os resultados materiais observados. De fato, se o Espiritismo se baseasse no pensamento preconcebido da existência dos Espíritos, poder-se-ia, com alguma aparência de razão, duvidar da sua realidade, porque, se o princípio fosse uma quimera, suas consequências também o seriam. Mas as coisas não se passaram assim.

Notai, em primeiro lugar, que essa marcha seria totalmente ilógica; os Espíritos são a causa e não o efeito; quando se vê um efeito, pode-se procurar sua causa, mas não é natural imaginar-se uma causa antes de lhe ter visto os efeitos. Não era, pois, possível conceber o pensamento da existência dos Espíritos, se não se tivessem mostrado efeitos que achassem explicação provável na existência de seres invisíveis. Pois bem! Não foi deste modo que surgiu a ideia, isto é, não se imaginou uma hipótese com o fim de explicar certos fenômenos; a primeira suposição feita foi a de uma causa material. Assim, longe de admitir-se a ideia preconcebida da existência dos Espíritos, partiu-se do ponto de vista materialista para se chegar até eles. Como este meio era insuficiente para explicar tudo, somente a observação conduziu à causa espiritual. Refiro-me às ideias espíritas modernas, pois sabemos que essa crença é tão velha quanto o mundo. Vejamos, agora, como as coisas se deram.

Sob a influência de certas pessoas e sem causa ostensiva conhecida, produziram-se diversos fenômenos espontâneos, tais como ruídos estranhos, pancadas, movimentos de objetos, etc. Nada, até aí, autorizava a se buscar sua causa fora da ação de um fluido magnético ou outro qualquer, de propriedades ainda desconhecidas. Não se tardou, porém, a reconhecer nesses ruídos e movimentos um caráter intencional e inteligente, do que se concluiu, como eu já disse, que: Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente. Esta inteligência não podia estar no objeto, porque a matéria não é inteligente. Seria o reflexo da inteligência da pessoa ou das pessoas presentes? Assim se pensou no início, como também já o disse; só a experiência podia pronunciar-se, e ela demonstrou, por provas irrecusáveis e em diversas circunstâncias, a completa independência da inteligência que se manifesta. Ela não pertencia, pois, nem ao objeto nem à pessoa. Quem era então? Ela própria respondeu, declarando pertencer aos seres incorpóreos chamados Espíritos. Logo, a ideia dos Espíritos não preexistia e nem mesmo lhe foi consecutiva; em uma palavra, não nasceu do cérebro de ninguém, mas nos foi dada pelos próprios Espíritos, que também nos ensinaram tudo o que a respeito deles ficamos sabendo.

Uma vez revelada a existência dos Espíritos e estabelecidos os meios de nos comunicarmos com eles, pôde-se manter com eles conversações seguidas e obter informações sobre a natureza desses seres, as condições de sua existência e seu papel no mundo visível. Se do mesmo modo pudéssemos interrogar os seres do mundo dos infinitamente pequenos, quantas coisas curiosas não ficaríamos sabendo sobre eles!

Suponhamos que existisse um fio elétrico entre a Europa e a América pré-colombiana, e que na sua extremidade europeia se houvessem produzido alguns sinais inteligentes; a conclusão a tirar-se é a de que, na outra extremidade, se achavam seres inteligentes que desejavam comunicar-se conosco, os quais teriam respondido se os tivéssemos interrogado. Ficaríamos, assim, certos da sua existência e conheceríamos os seus costumes, usos e modos de ser, apesar de nunca os termos visto. Foi o que se deu nas relações com o mundo invisível; as manifestações materiais foram sinais e meios de aviso que nos levaram a comunicações mais regulares e mais contínuas. E — coisa notável! — à medida que meios mais fáceis de comunicação vão sendo postos ao nosso dispor, os Espíritos abandonam os meios primitivos, insuficientes e incômodos, tal como o mudo que, recuperando a palavra, renuncia à linguagem dos sinais.

Quem eram os habitantes desse mundo? Eram seres à parte, estranhos à Humanidade? Eram bons ou maus? Foi ainda a experiência que se encarregou de resolver tais questões; mas, até que observações numerosas tivessem derramado luz sobre o assunto, o campo das conjeturas e dos sistemas esteve aberto, e só Deus sabe quantos surgiram! Uns acreditaram que os Espíritos eram superiores em tudo, enquanto outros não viram neles senão demônios; era só por suas palavras e atos que podiam julgá-los.

Suponhamos que entre os desconhecidos habitantes transatlânticos, de que acabamos de falar, uns tenham dito coisas muito boas, ao passo que outros se faziam notar pelo cinismo da linguagem, e logo se teria concluído que entre eles havia bons e maus. Foi o que aconteceu com os Espíritos; foi assim que se reconheceu, entre eles, todos os graus de bondade e malvadez, de saber e ignorância. Uma vez bem informados acerca dos defeitos e das qualidades que se encontram entre eles, cabe à nossa prudência distinguir o que é bom do que é mau, o verdadeiro do falso em suas relações conosco, exatamente como procedemos em relação aos homens.

A observação não nos esclareceu somente sobre as qualidades morais dos Espíritos, mas também sobre a natureza deles e sobre o seu estado fisiológico, se assim nos podemos expressar. Ficou-se sabendo, por eles mesmos, que uns são muito ditosos, enquanto outros são muito infelizes; que não são seres à parte, de natureza excepcional, e sim as almas daqueles que já viveram na Terra, onde deixaram seu envoltório corporal, e que hoje povoam os espaços, nos cercam, nos acotovelam sem cessar e, dentre eles, cada um pode, por sinais incontestáveis, reconhecer seus parentes e amigos e os que conhecera na Terra; pode-se acompanhá-los em todas as fases de sua existência de além-túmulo, desde o instante em que abandonaram o corpo, e observar sua situação segundo o gênero de morte e o modo pelo qual viveram na Terra. Enfim, soube-se que eles não são seres abstratos, imateriais, no sentido absoluto da palavra; possuem um envoltório, a que chamamos perispírito, espécie de corpo fluídico, vaporoso, diáfano, invisível no estado normal, mas que, em certos casos e por uma espécie de condensação ou de disposição molecular, pode tornar-se momentaneamente visível e mesmo tangível, ficando explicado, desde então, o fenômeno das aparições e do toque. Esse envoltório existe durante a vida do corpo; é o laço entre o Espírito e a matéria; quando o corpo morre, a alma ou Espírito, que é a mesma coisa, só se despoja do seu envoltório grosseiro — o corpo, conservando, porém, o perispírito, do mesmo modo como despimos as peças exteriores da nossa roupa, para só conservarmos as interiores, e do mesmo modo como gérmen de um fruto se despoja do envoltório cortical, conservando apenas o perisperma. Esse envoltório semimaterial do Espírito é o agente dos diferentes fenômenos, por meio dos quais ele manifesta a sua presença.

Tal é, em poucas palavras, senhor, a história do Espiritismo; bem vedes, e reconhecereis ainda melhor quando o tiverdes estudado a fundo, que tudo nele é o resultado da observação e não de um sistema preconcebido.


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