O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O que é o Espiritismo.

(Primeira versão.)
(Idioma francês)

Capítulo II.


NOÇÕES ELEMENTARES DE ESPIRITISMO

(Sumário)


ESCOLHOS DOS MÉDIUNS.


70. — Um dos maiores escolhos da mediunidade é a obsessão, isto é, o domínio que certos Espíritos podem exercer sobre os médiuns, impondo-se a eles sob nomes apócrifos e impedindo que se comuniquem com outros Espíritos. É também um obstáculo com que se depara todo observador novato e inexperiente que, não conhecendo as características desse fenômeno, pode ser iludido pelas aparências, como aquele que, desconhecendo a Medicina, pode enganar-se sobre a causa e a natureza de um mal. Se o estudo prévio, neste caso, é útil para o observador, para o médium ele é indispensável, por lhe fornecer os meios de prevenir um inconveniente que lhe poderia trazer consequências bem desagradáveis. É por isso que nunca nos cansamos de recomendar o estudo, antes que o médium se entregue à prática do Espiritismo. (O Livro dos Médiuns, capítulo XXIII.)


71. — A obsessão apresenta três graus principais bem característicos: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação. No primeiro, o médium tem perfeita consciência de não obter coisa alguma boa; ele não se ilude acerca da natureza do Espírito que se obstina em manifestar-se por seu intermédio, e do qual deseja desembaraçar-se. Este caso não oferece gravidade alguma: é um simples incômodo, do qual o médium se liberta, deixando momentaneamente de escrever; neste caso o Espírito, cansando-se de não ser ouvido, acaba por se retirar.

A fascinação obsessiva é muito mais grave, porque nela o médium é completamente iludido. O Espírito que o domina apodera-se de sua confiança, a ponto de impedi-lo de julgar as comunicações que recebe, fazendo-lhe achar sublimes os maiores absurdos. O caráter distintivo deste gênero de obsessão é provocar no médium uma excessiva suscetibilidade e levá-lo a não acreditar bom, justo e verdadeiro senão o que ele escreve; a repelir, e mesmo considerar mau todo conselho e toda observação crítica, preferindo romper com os amigos a convencer-se de que está sendo enganado; a encher-se de inveja contra os outros médiuns, cujas  comunicações sejam julgadas melhores que as suas; a querer impor-se nas reuniões espíritas, das quais se afasta quando não pode dominá-las. O médium chega, assim, a sofrer uma dominação tal, que o Espírito obsessor é capaz de impeli-lo a dar os passos mais ridículos e comprometedores.


72. — Uma das características distintivas dos Espíritos maus é a imposição; eles dão ordens e querem ser obedecidos; os bons jamais se impõem; dão conselhos e, se não são atendidos, retiram-se. Resulta daí que a impressão que nos causa os Espíritos maus é sempre penosa, fatigante e muitas vezes desagradável; ela provoca uma agitação febril, movimentos bruscos e desordenados; a dos bons, pelo contrário, é calma, branda e proporciona um verdadeiro bem-estar.


73. — A subjugação obsessiva, outrora designada sob o nome de possessão, é um constrangimento físico exercido sempre por Espíritos da pior espécie e que pode chegar a neutralizar o livre-arbítrio do paciente. Muitas vezes ela se limita a simples impressões desagradáveis. Algumas vezes, porém, provoca movimentos desordenados, atos insensatos, gritos, palavras injuriosas ou incoerentes, de que o subjugado, às vezes, compreende o ridículo, mas não pode abster-se. Este estado difere essencialmente da loucura patológica, com a qual erradamente a confundem, pois na possessão não há lesão orgânica; sendo diversa a causa, outros devem ser também os meios de curá-la. Não raro, a aplicação do processo ordinário das duchas e dos tratamentos corpóreos poderá determinar o aparecimento de uma verdadeira loucura, numa situação em que só havia uma causa moral.


74. — Na loucura propriamente dita, a causa do mal é interna; há que se restituir o organismo ao seu estado normal; na subjugação, esta causa é externa, e precisa-se libertar o doente de um inimigo invisível, não lhe opondo remédios materiais, mas uma força material superior à dele. A experiência prova que nunca, em tal caso, os exorcismos produziram resultado satisfatório, antes agravando do que melhorando a situação. Indicando a verdadeira causa do mal, só o Espiritismo pode dar os meios de combatê-lo, fazendo a educação moral do Espírito obsessor. Por conselhos prudentemente dirigi- dos, chega-se a torná-lo melhor e a fazer que deixe voluntariamente de atormentar o enfermo, que então fica livre.. (O Livro dos Médiuns, n.º 279Revista Espírita, fevereiro, março e junho de 1864: “A jovem obsedada de Marmande”.)


75. — A subjugação obsessiva é ordinariamente individual; quando, porém, uma falange de Espíritos maus se lança sobre uma população, ela pode apresentar caráter epidêmico. Foi um fenômeno desse gênero que se verificou ao tempo do Cristo; só um poder moral superior podia então domar esses seres malfazejos, designados sob o nome de demônios, e restituir a calma às suas vítimas. n


76. — Um fato importante a considerar-se é que a obsessão, seja qual for a sua natureza, é independente da mediunidade, e que ela se encontra em todos os graus, principalmente o último, em grande número de pessoas que nunca ouviram falar de Espiritismo, e isto por uma razão muito simples: como os Espíritos sempre existiram, em todos os tempos eles têm exercido a sua influência. A mediunidade não é uma causa, mas simples modo de manifestação dessa influência, pelo que podemos dizer, com certeza, que todo médium obsidiado sofre de um modo qualquer e, muitas vezes, nos atos mais comuns da sua vida os efeitos dessa influência que, sem a mediunidade, se manifestaria por outros efeitos, muitas vezes atribuídos a essas enfermidades misteriosas que escapam a todas as investigações da Medicina. Pela mediunidade o ser maléfico trai a sua presença; sem ela, é um inimigo oculto, de quem não se desconfia.


77. — Os que nada admitem fora da matéria, não podem aceitar essa causa oculta; quando, porém, a Ciência tiver saído da senda materialista, reconhecerá, na ação do mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivemos, um poder que reage sobre as coisas físicas, assim como sobre as morais; será um novo caminho aberto ao progresso e a chave de grande número de fenômenos até hoje mal compreendidos.


78. — Como a obsessão nunca pode proceder de um Espírito bom, é essencial saber reconhecer-se a natureza dos que se apresentam. O médium não esclarecido pode ser enganado pelas aparências, mas o prevenido descobre o menor sinal suspeito, acabando o Espírito por se retirar, quando percebe que nada pode fazer. O conhecimento prévio dos meios de distinguir os Espíritos bons dos maus é, pois, indispensável ao médium que não quer expor-se a cair numa cilada. Ele o é também ao simples observador, que pode, por esse meio, apreciar o justo valor do que vê e ouve. (O Liv. dos Médiuns, capítulo XXIV.)



[1] N. de A. K.: Durante vários anos, uma epidemia semelhante tomou conta de um vilarejo localizado na Haute-Savoie. (Veja-se a Revista Espírita, abril e dezembro de 1862; janeiro, fevereiro, abril e maio de 1863: “Os possessos de Morzine”.)


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