Observações preliminares. (1-6.)
Dos Espíritos. (7-21.)
Comunicação com o mundo invisível. (22-49.)
Fim providencial das manifestações espíritas. (50-53.)
Dos médiuns. (54-69.)
Escolhos dos médiuns. (70-78.)
Qualidade dos médiuns. (79-88.)
Charlatanismo. (89-92.)
Identidade dos Espíritos. (93-96.)
Contradições. (97-99.)
Consequências do Espiritismo. (100-104.) |
OBSERVAÇÕES PRELIMINARES.
1. — É um erro acreditar-se que basta a certos incrédulos testemunharem fenômenos extraordinários, para que se tornem convictos. Quem não admite no homem a existência da alma ou Espírito, também não pode aceitá-la fora dele; por conseguinte, negando a causa, nega o efeito. Os contraditores se apresentam, quase sempre, com uma ideia preconcebida de negação, o que os impede de observar com seriedade e imparcialidade; levantam questões e objeções que não podem ser respondidas de pronto, de modo completo, porque seria preciso fazer-se, para cada um, uma espécie de curso e retomar as coisas desde o princípio. Só o estudo prévio pode evitar essas objeções que, na maioria, se originam da ignorância das causas dos fenômenos e das condições em que estes se produzem.
2. — Quem não conhece o Espiritismo, supõe que se podem produzir fenômenos espíritas, como se faz experiências de Física e de Química. Daí a pretensão de sujeitá-los à sua vontade e a recusa de se colocar nas condições necessárias para os poder observar. Não admitindo, como princípio, a existência e a intervenção dos Espíritos, ou, pelo menos, não conhecendo a sua natureza nem o seu modo de ação, esses indivíduos agem como se operassem sobre a matéria bruta; e, desde que não obtêm o que pedem, concluem que não há Espíritos.
Colocando-se em um ponto de vista diferente, compreender-se-á que, não sendo os Espíritos mais que as almas dos homens, todos nós, depois da morte, seremos Espíritos, e que, nestas condições, também estaríamos pouco dispostos a servir de joguete para satisfação das fantasias dos curiosos.
3. — Ainda que certos fenômenos possam ser provocados, eles, pelo fato de provirem de inteligências livres, não se acham absolutamente à disposição de quem quer que seja, de modo que quem se disser capaz de obtê-los à vontade, provará, só por isso, ignorância ou má-fé. Precisamos aguardá-los, apanhá-los em sua passagem, pois muitas vezes é quando menos esperamos que se apresentam os fatos mais interessantes e concludentes. Aquele que deseja seriamente instruir- -se, deve, pois, nisto como em tudo, ter paciência, perseverança, e colocar-se nas condições indispensáveis, sem o que será inútil ocupar-se com a fenomenologia espírita.
4. — Nem sempre as reuniões que têm por fim tratar de manifestações espíritas se realizam em boas condições, seja para obter resultados satisfatórios, seja para convencer as pessoas presentes. Não há como negar que, de algumas delas, os incrédulos saem menos convencidos do que estavam ao entrar, levando-os a reclamar do caráter pouco sério do Espiritismo, tendo em vista as coisas muitas vezes ridículas que testemunharam. Neste ponto, eles não são mais lógicos do que aqueles que pretendessem julgar uma arte pelas primeiras provas de um aprendiz, de uma pessoa pela sua caricatura ou de uma tragédia pela sua paródia. O Espiritismo também tem aprendizes, de sorte que quem quiser esclarecer-se não deve colher ensinos de uma só fonte. Só pelo exame e pela comparação se pode firmar um juízo.
5. — As reuniões frívolas têm o grave inconveniente de dar aos noviços, que a elas assistem, uma ideia falsa do caráter do Espiritismo. Os que só têm frequentado reuniões desse gênero, não podem tomar a sério uma coisa que eles veem tratada com leviandade por aqueles mesmos que se dizem adeptos. Um estudo prévio lhes ensinará a julgar do alcance do que veem, a separar o bom do mau.
6. — O mesmo raciocínio se aplica aos que julgam o Espiritismo pelo que dizem certas obras excêntricas, que dele apenas dão uma ideia incompleta e ridícula. O Espiritismo sério é tão pouco responsável por aqueles que o compreendem mal ou o praticam de forma inadequada, quanto a poesia por aqueles que produzem maus versos. É deplorável, dizem, que existam tais obras prejudicando a verdadeira ciência. Sem dúvida, seria preferível que só existissem as boas; o maior mal, porém, consiste em não se darem ao trabalho de estudá-las todas. Todas as artes, todas as ciências, estão no mesmo caso. Não temos visto, sobre as coisas mais sérias, aparecerem tratados absurdos e cheios de erros? Por que o Espiritismo seria privilegiado nesse sentido, principalmente em seu começo? Se os que o criticam não o julgassem pelas aparências, saberiam o que ele admite e o que rejeita, e não lhe atribuiriam o que ele repele em nome da razão e da experiência.