Observações preliminares. (1-6.)
— Dos Espíritos. (7-21.)
— Comunicação com o mundo invisível. (22-49.)
— Fim providencial das manifestações espíritas. (50-53.)
— Dos médiuns. (54-69.)
— Escolhos dos médiuns. (70-78.)
— Qualidade dos médiuns. (79-88.)
— Charlatanismo. (89-92.)
— Identidade dos Espíritos. (93-96.)
— Contradições. (97-99.)
— Consequências do Espiritismo. (100-104.) |
DOS ESPÍRITOS.
7. — Os Espíritos não são, como muitas vezes se imagina, seres à parte na Criação; são as almas dos que viveram na Terra ou em outros mundos, despidas do seu envoltório corporal. Aquele que admite a sobrevivência da alma ao corpo, admite, pelo mesmo motivo, a existência dos Espíritos; negar os Espíritos seria negar a alma.
8. — Faz-se geralmente uma ideia muito errônea do estado dos Espíritos; eles não são, como alguns acreditam, seres vagos e indefinidos, nem chamas semelhantes a fogos-fátuos, nem fantasmas como os pintam nos contos das almas do outro mundo. São seres semelhantes a nós, tendo como nós um corpo, mas fluídico e invisível no estado normal.
9. — Quando a alma está unida ao corpo, durante a vida, ela tem um duplo envoltório: um pesado, grosseiro e destrutível — o corpo; o outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito.
10. — Há, pois, no homem três elementos essenciais: 1º a alma ou Espírito, princípio inteligente em que residem o pensamento, a vontade e o senso moral; 2º o corpo, envoltório material que põe o Espírito em relação com o mundo exterior; 3º o perispírito, envoltório fluídico, leve, imponderável, que serve de laço e de intermediário entre o Espírito e o corpo.
11. — Quando o invólucro exterior está gasto e não pode mais funcionar, tomba e o Espírito o abandona, como o fruto se despoja da sua semente, a árvore da casca, a serpente da pele, em suma, como se deixa uma roupa velha; é o que se chama morte.
12. — A morte é apenas a destruição do envoltório material, que a alma abandona, como faz a borboleta com a crisálida, conservando porém seu corpo fluídico ou perispírito.
13. — A morte do corpo desembaraça o Espírito do laço que o prendia à Terra e o fazia sofrer; uma vez libertado desse fardo, não lhe resta mais que o seu corpo etéreo, que lhe permite percorrer o espaço e transpor as distâncias com a rapidez do pensamento.
14. — A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o homem; a alma e o perispírito, separados do corpo, constituem o ser chamado Espírito.
OBSERVAÇÃO. — A alma é assim um ser simples; o Espírito
um ser duplo e o homem um ser triplo. Seria, pois, mais exato reservar
a palavra alma para designar o princípio inteligente, e o termo
Espírito para o ser semimaterial formado desse princípio e do
corpo fluídico. Como, porém, não se pode conceber o princípio inteligente
totalmente isolado da matéria nem o perispírito sem ser animado pelo
princípio inteligente, as palavras alma e Espírito são,
quanto ao uso, indiferentemente empregadas uma pela outra; é a figura
que consiste em tomar a parte pelo todo, do mesmo modo por que se diz
que uma cidade é povoada de tantas almas, uma vila composta de tantas
famílias; todavia, é indispensável fazer-se a diferença.
15. — Revestidos de seus corpos materiais, os Espíritos constituem a Humanidade ou mundo corpóreo visível; despojados desses corpos, constituem o mundo espiritual ou invisível que povoa o espaço e no meio do qual vivemos, sem disso desconfiar, como vivemos no meio dos infinitamente pequenos, de que não suspeitávamos, antes da invenção do microscópio.
16. — Os Espíritos não são, portanto, seres abstratos, vagos e indefinidos, mas seres concretos e circunscritos, aos quais só falta serem visíveis para se assemelharem aos humanos. Se, em dado momento, pudéssemos levantar o véu que no-los esconde, eles formariam uma população, cercando-nos por toda parte.
17. — Os Espíritos possuem todas as percepções que tinham na Terra, porém
em grau mais alto, porque as suas faculdades não estão amortecidas pela
matéria; têm sensações que nos são desconhecidas, veem e ouvem coisas
que os nossos sentidos limitados não nos permitem ver nem ouvir. Para
eles não há obscuridade, excetuando-se aqueles que, por punição, se
acham temporariamente nas trevas. Todos os nossos pensamentos se repercutem
neles, e eles os leem como num livro aberto, de sorte que o que podíamos
esconder a alguém, durante a vida ter- rena, não mais o podemos depois
da sua desencarnação.. (O
Livro dos Espíritos, n.º 237.)
18. — Os Espíritos estão em toda parte, ao nosso lado, acotovelando-nos e observando-nos sem cessar. Por sua presença incessante entre nós, os Espíritos são os agentes de diversos fenômenos; desempenham importante papel no mundo moral e, até certo ponto, no físico, constituindo, assim, uma das forças da Natureza.
19. — Desde que se admita a sobrevivência da alma ou do Espírito, é racional que também se admita a sobrevivência das afeições, sem o que as almas dos nossos parentes e amigos estariam, pela morte, totalmente perdidas para nós.
Já que os Espíritos podem ir a toda parte, é igualmente racional admitir-se que aqueles que nos amaram, durante a vida terrena, ainda nos amem depois da morte, que venham para junto de nós, que desejem comunicar-se conosco, servindo-se, para tanto, dos meios que encontrem à sua disposição; é o que confirma a experiência.
Com efeito, a experiência comprova que os Espíritos conservam as afeições sérias que tinham na Terra, que sentem prazer em se juntarem àqueles a que amaram, sobretudo quando são por estes atraídos pelo pensamento e pelos sentimentos afetuosos que lhes dedicam, mostrando-se, ao contrário, indiferentes para quem só lhes vota indiferença.
20. — O Espiritismo tem por fim demonstrar e estudar a manifestação dos Espíritos, suas faculdades, sua situação feliz ou infeliz, seu futuro; em suma, o conhecimento do mundo espiritual. Uma vez comprovadas, essas manifestações conduzem à prova incontestável da existência da alma, de sua sobrevivência ao corpo, de sua individualidade depois da morte, isto é, de sua vida futura; por isso mesmo ele é a negação das doutrinas materialistas, não mais por meio de raciocínios, mas de fatos.
21. — Uma ideia quase geral entre os que não conhecem o Espiritismo é a de crer que os Espíritos, só porque se desprenderam da matéria, devem saber tudo e estar de posse da sabedoria suprema. É um grave erro. Não sendo mais que as almas dos homens, os Espíritos não adquirem a perfeição logo que deixam o envoltório terreno. Seu progresso só se realiza com o tempo e não é senão paulatinamente que se despojam das suas imperfeições, que adquirem os conhecimentos que lhes faltam. Seria tão ilógico admitir-se que o Espírito de um selvagem ou de um criminoso se torne de repente sábio e virtuoso, como seria contrário à Justiça de Deus supor que ele continue perpetuamente em inferioridade.
Assim como há homens de todos os graus de saber e ignorância, de bondade e malvadez, assim também se verifica entre os Espíritos. Alguns destes são apenas levianos e travessos; outros são mentirosos, traiçoeiros, hipócritas, maus e vingativos; outros, ao contrário, possuem as mais sublimes virtudes e o saber em grau desconhecido na Terra. Essa diversidade nas qualidades dos Espíritos é um dos pontos mais importantes a considerar, porque explica a qualidade boa ou má das comunicações que se recebem; é em distingui-las que devemos empregar todo o nosso cuidado. (O Livro dos Espíritos, n.º 100, Escala Espírita — O Livro dos Médiuns, capítulo XXIV.)