Observações preliminares. (1-6.)
— Dos Espíritos. (7-21.)
— Comunicação com o mundo invisível. (22-49.)
— Fim providencial das manifestações espíritas. (50-53.)
— Dos médiuns. (54-69.)
— Escolhos dos médiuns. (70-78.)
— Qualidade dos médiuns. (79-88.)
— Charlatanismo. (89-92.)
— Identidade dos Espíritos. (93-96.)
— Contradições. (97-99.)
— Consequências do Espiritismo. (100-104.) |
DOS MÉDIUNS.
54. — Os médiuns apresentam inúmeras variedades em suas aptidões, o que os torna mais ou menos capazes para a obtenção de tal ou tal fenômeno, de tal ou tal gênero de comunicação. Segundo essas aptidões, podemos distingui-los em médiuns de efeitos físicos, de comunicações inteligentes, videntes, falantes, audientes, sensitivos, desenhistas, poliglotas, poetas, músicos, escreventes, etc. Não se pode esperar do médium aquilo que está fora dos limites da sua faculdade. Sem o conhecimento das aptidões mediúnicas, o observador é incapaz de achar a explicação de certas dificuldades ou de certas impossibilidades que se encontram na prática. (O Livro dos Médiuns, capítulo XVI, nº 185.)
55. — Os médiuns de efeitos físicos são mais particularmente aptos para provocar fenômenos materiais, como movimentos, pancadas, etc., com o auxilio de mesas e outros objetos; quando esses fenômenos revelam um pensamento ou obedecem a uma vontade, são efeitos inteligentes que, por isso mesmo, denotam uma causa inteligente: é um dos modos pelos quais os Espíritos se manifestam. Por meio de um número de pancadas convencionadas, obtém-se as respostas por sim ou por não, ou, então, a designação das letras do alfabeto que servem para formar palavras ou frases. Esse meio primitivo é muito demorado e não se presta a grandes desenvolvimentos. As mesas falantes foram a aurora da ciência; hoje, porém, que se possuem meios de comunicação tão rápidos e completos como entre os viventes, quase ninguém mais recorre àqueles, a não ser acidentalmente e como experimentação.
56. — De todos os meios de comunicação, a escrita é, ao mesmo tempo, o mais simples, o mais rápido, o mais cômodo, o que permite mais desenvolvimento; é também a faculdade mediúnica que se encontra com mais frequência.
57. — Para obter a escrita serviram-se, no princípio, de intermediários
materiais, como cestinhas, pranchetas, etc., munidas de um lápis. (O
Livro dos Médiuns, capítulo
XIII, nº 152 e seguintes.) Mais tarde, reconheceu-se a inutilidade
desses acessórios e a possibilidade, para os médiuns, de escrever diretamente
com a mão, como nas circunstâncias ordinárias.
58. — O médium escreve sob a influência dos Espíritos, que se servem dele
como de um instrumento; sua mão é acionada por um movimento involuntário
que, na maior parte das vezes, ele não consegue dominar. Certos médiuns
não têm consciência alguma do que escrevem, outros a têm mais ou menos
vaga, embora o pensamento lhes seja estranho; é o que distingue os médiuns
mecânicos dos médiuns intuitivos ou semimecânicos.
A ciência espírita explica o modo de transmissão do pensamento do Espírito
ao médium, bem como o papel deste último nas comunicações. (O Livro
Médiuns, capítulo
XV, n.º 179 e seguintes; — capítulo
XIX, n.º 223 e seguintes.)
59. — O médium não tem senão a faculdade de poder comunicar-se, pois a comunicação efetiva depende da vontade dos Espíritos. Se estes não quiserem manifestar-se, aquele nada obterá, tal como um instrumento sem músico.
Como os Espíritos só se comunicam quando querem ou podem, não estão sujeitos ao capricho de ninguém; nenhum médium tem o poder de forçá-los a se apresentarem.
Isto explica a intermitência da faculdade nos melhores médiuns, as interrupções que sofrem, às vezes, durante muitos meses.
Seria, pois, um erro equiparar a mediunidade a um talento. O talento adquire-se pelo trabalho; quem o possui é sempre dele senhor, ao passo que o médium nunca o é da sua faculdade, pois que ela depende de uma vontade estranha.
60. — Os médiuns de efeitos físicos que, regularmente e à vontade, obtém a produção de certos fenômenos, admitindo que não haja embuste, estão em relação com Espíritos de baixa categoria que se comprazem nesse gênero de exibições, e que talvez foram prestidigitadores quando na Terra, mas seria absurdo pensar que Espíritos, mesmo de pouca elevação, se divirtam em encenar farsas teatrais. (Vide mais atrás página 60.)
61. — A obscuridade necessária à produção de certos efeitos físicos, presta-se, sem dúvida, à suspeita, mas nada prova contra a realidade deles. Sabe-se que em química algumas combinações não podem ser operadas à luz; que muitas composições e decomposições se produzem sob a ação do fluido luminoso; ora, todos os fenômenos espíritas são resultantes de uma combinação dos fluidos próprios do Espírito com os do médium; desde que esses fluidos são matéria, não admira que, em certas circunstâncias, essa combinação seja contrariada pela presença da luz.
62. As comunicações inteligentes realizam-se igualmente pela ação fluídica do Espírito sobre o médium, sendo preciso que o fluido deste último se identifique com o do Espírito. A facilidade das comunicações depende do grau de afinidade existente entre os dois fluidos. Cada médium é assim mais ou menos apto a receber a impressão ou a impulsão do pensamento de tal ou qual Espírito; pode ser bom instrumento para um e péssimo para outro. Resulta daí que se achando juntos dois médiuns, igualmente bem dotados, o Espírito poderá manifestar-se por um e não por outro.
63. É, pois, um erro acreditar-se que basta ser médium para receber, com igual facilidade, comunicações de qualquer Espírito. Não existem médiuns universais para as evocações nem com aptidão para produzir todos os fenômenos. Os Espíritos buscam, de preferência, os instrumentos que lhes sejam mais apropriados; impor-lhes o primeiro médium que tenhamos à mão, seria o mesmo que obrigar um pianista a tocar violino, supondo que, por saber música, ela pode tocar qual- quer instrumento.
64. Sem a harmonia, que só pode nascer da assimilação fluídica, as comunicações são impossíveis, incompletas ou falsas. Podem ser falsas, porque, em vez do Espírito que se deseja, não faltam outros sempre prontos a se manifestarem e que pouco se importam com a verdade.
65. A assimilação fluídica é, algumas vezes, totalmente impossível entre certos Espíritos e certos médiuns; outras vezes, e é o caso mais comum, ela não se estabelece senão gradualmente com o tempo; é o que explica a maior facilidade com que os Espíritos se manifestam pelo médium com que estão mais habituados e, também, porque as primeiras comunicações atestam quase sempre um certo constrangimento e são menos explícitas.
66. A assimilação fluídica é tão necessária nas comunicações pela tiptologia como pela escrita, visto que, tanto num como noutro caso, se trata da transmissão do pensamento do Espírito, qualquer que seja o meio material empregado.
67. Não se pode impor um médium ao Espírito que se quer evocar, convindo deixar-lhe a escolha do instrumento. Em todo caso, é necessário que o médium se identifique previamente com o Espírito, pelo recolhimento e pela prece, ao menos durante alguns minutos, e mesmo muitos dias antes se for possível, de modo a provocar e ativar a assimilação fluídica. É um meio de se atenuar a dificuldade.
68. Quando as condições fluídicas não são propícias à comunicação direta do Espírito ao médium, ela pode fazer-se por intermédio do guia espiritual deste último; neste caso, o pensamento chega em “segunda mão”, isto é, depois de ter atravessado dois meios. Compreende-se, então, quão importante é o médium ser bem assistido, porque, se ele o for por um Espírito obsessor, ignorante ou orgulhoso, a comunicação será necessariamente adulterada.
Aqui as qualidades pessoais do médium desempenham forçosamente importante papel, pela natureza dos Espíritos que ele atrai a si. Os mais indignos médiuns podem possuir poderosas faculdades, porém, os mais seguros são os que reúnem a esse poder as melhores simpatias no mundo espiritual. Ora, essas simpatias não ficam, de forma alguma, demonstradas pelos nomes, mais ou menos imponentes, com que se apresentam os Espíritos que assinam as comunicações, mas sim pelo fundo constantemente bom das comunicações que recebem.
69. Qualquer que seja o modo de comunicação, a prática do Espiritismo, do ponto de vista experimental, apresenta inúmeras dificuldades e não é isenta de inconvenientes para quem não tem a experiência necessária. Quer se experimente mesmo, quer se seja simples observador das experiências de outrem, é essencial saber distinguir as diferentes naturezas dos Espíritos que podem manifestar-se, conhecer a causa de todos os fenômenos, as condições em que se podem produzir, os obstáculos que lhe podem ser opostos, a fim de não se perder o tempo, pedindo o impossível. Não é menos necessário conhecer todas as condições e escolhos da mediunidade, a influência do meio, das disposições morais, etc.. (O Livro dos Médiuns, 2ª parte.)