Observações preliminares. (1-6.)
— Dos Espíritos. (7-21.)
— Comunicação com o mundo invisível. (22-49.)
— Fim providencial das manifestações espíritas. (50-53.)
— Dos médiuns. (54-69.)
— Escolhos dos médiuns. (70-78.)
— Qualidade dos médiuns. (79-88.)
— Charlatanismo. (89-92.)
— Identidade dos Espíritos. (93-96.)
— Contradições. (97-99.)
— Consequências do Espiritismo.
(100-104.) |
CONSEQUÊNCIAS DO ESPIRITISMO.
100. — Diante da incerteza das revelações feitas pelos Espíritos, muita gente pergunta: para que serve, então, o estudo do Espiritismo?
Para provar materialmente a existência do mundo espiritual. Sendo o mundo espiritual formado pelas almas daqueles que viveram, resulta de sua admissão a prova da existência da alma e sua sobrevivência ao corpo.
As almas que se manifestam revelam suas alegrias ou seus sofrimentos, segundo o modo pelo qual empregaram o tempo de vida terrena; nisto temos a prova das penas e recompensas futuras.
Ao nos descreverem seu estado e situação, as almas ou Espíritos retificam as ideias falsas que faziam da vida futura e, principalmente, quanto à natureza e duração das penas. Passando assim a vida futura do estado de teoria vaga e incerta ao de fato conhecido e positivo, surge a necessidade de trabalhar o mais possível durante a vida presente, que é tão curta, em proveito da vida futura, que é indefinida [por tempo indeterminado].
Suponhamos que um homem de vinte anos tenha a certeza de morrer aos vinte e cinco anos; que fará ele nesses cinco anos que lhe restam? trabalhará para o futuro? certamente que não; procurará gozar o mais possível, acreditando ser uma tolice submeter-se a fadigas e privações sem proveito. Se, porém, ele tiver a certeza de viver até aos oitenta anos, agirá de modo completamente diverso, porque então compreenderá a necessidade de sacrificar alguns instantes do repouso atual para assegurar o repouso futuro, durante longos anos. O mesmo se dá com aquele que tem a certeza da vida futura.
A dúvida sobre a vida futura leva naturalmente as pessoas a sacrificar tudo em beneficio dos gozos do presente; daí ligar-se excessiva importância aos bens materiais. O valor que se dá a esses bens excita a cobiça, a inveja e o ciúme do que tem pouco com aquele que tem muito. Da cobiça ao desejo de adquirir, por qualquer preço, o que o vizinho possui, não há senão um passo, resultando ódios, querelas, processos, guerras e todos os males engendrados pelo egoísmo.
Com a dúvida sobre o futuro, o homem, acabrunhado nesta vida pelo desgosto e pelo infortúnio, só vê na morte o termo dos seus sofrimentos; nada mais esperando, acha normal abreviar os seus dias pelo suicídio. Sem esperança de futuro é natural que o homem se aflija e se desespere com as decepções por que passa. Os abalos violentos que experimenta repercutem-lhe no cérebro e são a fonte da maioria dos casos de loucura.
Sem a vida futura, a atual se torna para o homem a, coisa capital, o único objeto de suas preocupações, ao qual ele tudo subordina; por isso, quer gozar a todo custo, não só os bens materiais como as honrarias; aspira a brilhar, a elevar-se acima dos outros, a eclipsar os vizinhos por seu fausto e posição; daí a ambição desordenada e a importância que atribui aos títulos e a todas as futilidades, pelos quais ele é capaz de sacrificar a própria honra, porque nada mais vê além. A certeza da vida futura e de suas consequências muda-lhe totalmente a ordem das ideias e lhe faz ver as coisas por outro prisma; é um véu que se levanta descobrindo imenso e esplêndido horizonte.
Diante da infinidade e grandeza da vida de além-túmulo, a vida terrena se apaga, como um segundo na contagem dos séculos, como o grão de areia ao lado de uma montanha. Tudo se torna pequeno, mesquinho, e ficamos admirados de haver dado importância a coisas tão efêmeras e pueris. Daí, no meio dos acontecimentos da vida, uma calma, uma tranquilidade que já constituem uma felicidade, comparadas às fadigas e aos tormentos a que nos sujeitamos, a fim de nos elevarmos acima dos outros; daí, também, para as vicissitudes e decepções, uma indiferença que, tirando todo motivo de desespero, afasta numerosos casos de loucura e desvia forçosamente o pensamento do suicídio. Com a certeza do futuro, o homem espera e se resigna; com a dúvida perde a paciência, porque nada espera do presente.
O exemplo daqueles que já viveram, provando que a soma da felicidade futura guarda relação direta com o progresso moral efetuado e com o bem que se praticou na Terra; que a soma das infelicidades é diretamente proporcional à soma dos vícios e das más ações, infunde, em quantos estão bem convencidos dessa verdade, uma tendência natural para fazer o bem e evitar o mal.
Quando a maioria dos homens estiver convencida dessa ideia e professar esses princípios, praticando o bem, este, inevitavelmente, triunfará do mal aqui na Terra; então os homens não mais se prejudicarão uns aos outros e regularão suas instituições sociais tendo em vista o bem de todos e não o proveito de alguns; em suma, compreenderão que a lei de caridade ensinada pelo Cristo é a fonte da felicidade, mesmo neste mundo, e basearão as leis civis sobre a lei de caridade.
A demonstração da existência do mundo espiritual que nos cerca e de sua ação sobre o mundo corpóreo é a revelação de uma das forças da Natureza e, por conseguinte, a chave de grande número de fenômenos incompreendidos, tanto na ordem física quanto na moral. Quando a Ciência levar em conta essa nova força até hoje desconhecida, retificará uma porção de erros oriundos do fato de ela atribuir tudo a uma única causa: a matéria. O conhecimento dessa nova causa, nos fenômenos da Natureza, será uma alavanca para o progresso e produzirá o efeito da descoberta de um agente inteiramente novo. Com o auxilio da lei espírita, o horizonte da Ciência se alargará, como se alargou com a ajuda da lei da gravitação.
Quando os sábios proclamarem, do alto de suas cátedras, a existência do mundo espiritual e sua participação nos fenômenos da vida, eles infiltrarão na mocidade o contraveneno das ideias materialistas, em vez de predispô-la à negação do futuro.
Nas lições de Filosofia clássica, os professores ensinam a existência da alma e seus atributos, segundo as diversas escolas, mas sem apresentar provas materiais. Não parece estranho que, quando chegam essas provas, eles as repilam e classifiquem de superstições? Não será isso o mesmo que confessar a seus discípulos que eles lhes ensinam a existência da alma, mas que de tal fato não têm prova alguma?
Quando um sábio emite uma hipótese sobre um ponto de Ciência, procura com empenho e acolhe com alegria tudo o que possa demonstrar a veracidade dessa hipótese. Como, pois, um professor de Filosofia, cujo dever é provar a seus discípulos que eles têm uma alma, trate com tanto desprezo os meios de lhes fornecer uma patente demonstração?
101. — Suponhamos que os Espíritos sejam incapazes de ensinar-nos alguma coisa além do que já sabemos, ou que não possamos saber por nós mesmos; vê-se que só a demonstração da existência do mundo espiritual conduz forçosamente a uma revolução nas ideias. Ora, uma revolução nas ideias leva forçosamente a uma revolução na ordem das coisas. É essa revolução que o Espiritismo prepara.
102. — Os Espíritos, porém, fazem mais que isso; se suas revelações são cercadas de certas dificuldades, se elas exigem minuciosas precauções para que se comprove a sua exatidão, não é menos verdadeiro que os Espíritos esclarecidos, quando sabemos interrogá-los e quando lhes é permitido, podem revelar-nos fatos ignorados, dar-nos a explicação do que não compreendemos e encaminhar-nos para um progresso mais rápido. É nisto, sobretudo, que o estudo completo e atento da ciência espírita é indispensável, a fim de só lhe pedir o que ela pode dar e do modo por que o pode fazer; quando ultrapassamos esses limites nós nos expomos a ser enganados.
103. — As menores causas podem produzir grandes efeitos. Assim como de um grãozinho pode brotar uma árvore imensa; assim como a queda de uma maçã levou à descoberta da lei que rege os mundos, e assim como as rãs, saltando num prato, revelaram a força galvânica, também do fenômeno vulgar das mesas girantes saiu a prova da existência do mundo invisível, e desta, uma doutrina que, em alguns anos, fez a volta do mundo e pode regenerá-lo tão só pela constatação da realidade da vida futura.
104. — O Espiritismo ensina poucas verdades absolutamente novas, ou mesmo nenhuma, em virtude do axioma de que nada há de novo debaixo do Sol. Só as verdades eternas são absolutas; as que o Espiritismo ensina, sendo fundadas sobre leis naturais, existiram de todos os tempos, razão pela qual encontraremos, em todas as épocas, os germens que um estudo mais completo e observações mais atentas conseguiram desenvolver. Assim, as verdades ensinadas pelo Espiritismo são antes consequências do que descobertas.
O Espiritismo não descobriu nem inventou os Espíritos, como não descobriu o mundo espiritual, no qual se acreditou em todos os tempos; apenas ele o prova por fatos materiais e o apresenta em sua verdadeira luz, desembaraçando-o dos preconceitos e ideias supersticiosas, que geram a dúvida e a incredulidade.
Observação. – Por mais incompletas que sejam, bastam estas explicações para mostrar a base em que se assenta o Espiritismo, o caráter das manifestações e o grau de confiança que podem inspirar, segundo as circunstâncias.