Observações preliminares. (1-6.)
— Dos Espíritos. (7-21.)
— Comunicação com o mundo invisível.
(22-49.) — Fim providencial das manifestações espíritas. (50-53.)
— Dos médiuns. (54-69.)
— Escolhos dos médiuns. (70-78.)
— Qualidade dos médiuns. (79-88.)
— Charlatanismo. (89-92.)
— Identidade dos Espíritos. (93-96.)
— Contradições. (97-99.)
— Consequências do Espiritismo. (100-104.) |
COMUNICAÇÃO COM O MUNDO INVISÍVEL.
22. — Sendo admitidas a sobrevivência e a individualidade da alma, o Espiritismo se reduz a uma só questão principal: Serão possíveis as comunicações entre as almas e os viventes? Essa possibilidade foi demonstrada pela experiência, e, uma vez estabelecido o fato das relações entre os mundos visível e invisível, bem como conhecidos a natureza, o princípio e o modo dessas relações, abriu-se um novo campo à observação e encontrou-se a chave de grande número de problemas. Fazendo cessar a dúvida sobre o futuro, o Espiritismo é, ao mesmo tempo, poderoso elemento de moralização.
23. — O que gera dúvida na mente de muitas pessoas sobre a possibilidade das comunicações de além-túmulo é a ideia falsa que elas fazem do estado da alma depois da morte. Imaginam que a alma é um sopro, uma fumaça, uma coisa vaga, apenas acessível ao pensamento, que se evapora e vai não se sabe para onde, mas para lugar tão distante que se custa a compreender que ela possa voltar à Terra. Se, ao contrário, a considerarmos ainda unida a um corpo fluídico, semimaterial, formando com ele um ser concreto e individual, as suas relações com os viventes nada terão de incompatível com a razão.
24. — Estando em perpétuo contato, os mundos visível e invisível reagem incessantemente um sobre o outro, porquanto, desde que houve homens, houve também Espíritos; e, já que estes têm o poder de manifestar-se, deviam tê-lo igualmente em todas as épocas e entre todos os povos. Entretanto, nestes últimos tempos, as manifestações dos Espíritos tomaram grande desenvolvimento e adquiriram maior caráter de autenticidade, porque era intenção da Providência pôr termo à praga da incredulidade e do materialismo, por meio de provas evidentes, permitindo, aos que deixaram a Terra, vir atestar sua existência e revelar-nos sua situação, feliz ou infeliz.
25. — As relações entre os mundos visível e invisível podem ser ocultas ou patentes, espontâneas ou provocadas. Os Espíritos atuam sobre os homens ocultamente, sugerindo-lhes pensamentos e influenciando-os, de modo perceptível, por meio de efeitos apreciáveis aos sentidos.
As manifestações espontâneas ocorrem inopinadamente e de improviso; produzem-se, muitas vezes, entre as pessoas mais estranhas às ideias espíritas, as quais, por isso mesmo, não tendo meios de explicá-las, as atribuem a causas sobrenaturais. As que são provocadas, dão-se por intermédio de certos indivíduos dotados para isso de faculdades especiais, e designados pelo nome de médiuns.
26. — Os Espíritos podem manifestar-se de muitas maneiras diferentes: pela vista, pela audição, pelo tato, produzindo ruídos e movimentos de corpos, pela escrita, desenho, música, etc.
27. — Às vezes, os Espíritos se manifestam espontaneamente por pancadas e ruídos; é, muitas vezes, um meio que empregam para atestar sua presença e chamar sobre si a atenção, tal como nós, quando batemos para avisar que alguém está à porta. Alguns não se limitam a ruídos moderados, chegando mesmo a produzir estrondos semelhantes aos de louças que se quebram, portas que se abrem e fecham com fragor, móveis lançados ao chão, chegando alguns a causar uma perturbação real e verdadeiros estragos. (Revista Espírita, maio, junho e julho de 1858, p. 125, 153, 184: “O Espírito batedor de Bergzabern”; Idem, agosto de 1858, p. 219: “O Espírito batedor de Dibbelsdorf”; Id., março de 1860, p. 76: “O padeiro de Dieppe”; Id., abril de 1860, p. 115: “O fabricante de São Petersburgo”; Id., agosto de 1860, p. 236: “O trapeiro da Rue des Noyers”.)
28. — O perispírito é matéria etérea, embora invisível para nós no estado normal. Em certos casos, o Espírito pode fazê-lo sofrer uma espécie de modificação molecular que o torna visível e mesmo tangível; é assim que se produzem as aparições. Esse fenômeno não é mais extraordinário que o do vapor que, invisível quando muito rarefeito, se torna visível por condensação.
Os Espíritos que se tornam visíveis apresentam-se, quase sempre, com as aparências que tinham em vida e que os podem tornar reconhecidos.
29. — Sua visão permanente e geral é muito rara, mas, em compensação, as aparições isoladas são bastante frequentes, sobretudo no momento da morte; parece que o Espírito tem pressa, quando deixa o corpo, de ir rever seus parentes e amigos, como se quisesse adverti-los de que já não se encontra na Terra, e dizer-lhes que ainda vive. Se passarmos em revista as nossas reminiscências, veremos quantos fatos autênticos dessa ordem se passaram conosco, sem que os percebêssemos, não só à noite, durante o sono, como também em pleno dia e em completo estado de vigília. Outrora consideravam tais fatos como sobrenaturais e maravilhosos e os atribuíam à magia e à feitiçaria; hoje, os incrédulos os lançam à custa da imaginação; desde, porém, que a ciência espírita nos deu a chave para explicá-los, ficou-se sabendo como eles se produzem e que pertencem à classe dos fenômenos naturais.
30. — Era por meio do perispírito que o Espírito agia sobre o seu corpo quando vivo, e é ainda com esse mesmo fluido que ele se manifesta agindo sobre a matéria inerte, produzindo ruídos, movimentos de mesas e outros objetos, que ele levanta, derruba ou transporta. Esse fenômeno nada tem de surpreendente, se considerarmos que, entre nós, os mais possantes motores se alimentam dos fluidos mais rarefeitos e, mesmo, imponderáveis, como o ar, o vapor e a eletricidade.
É igualmente com o auxilio do seu perispírito que o Espírito faz os médiuns escreverem, falarem ou desenharem. Não possuindo corpo tangível para atuar ostensivamente, quando quer manifestar-se, o Espírito se serve do corpo do médium, de cujos órgãos se apossa, fazendo-os agir como se fossem seus, por um eflúvio com que ele os envolve e penetra.
31. — No fenômeno designado pelo nome de mesas girantes ou mesas falantes, é ainda pelo mesmo meio que o Espírito age sobre o móvel, seja fazendo-o mover-se sem significação determinada, seja produzindo golpes inteligentes, indicando as letras do alfabeto para formar palavras e frases, fenômeno designado pelo nome de tiptologia. A mesa não passa de um instrumento, de que o Espírito se serve, como o faz com o lápis para escrever; ele lhe dá uma vitalidade momentânea pelo fluido com que a penetra, mas não se identifica com ela. Logo, as pessoas que, presas de emoção, abraçam a mesa quando veem a manifestação de um ser querido, praticam um ato ridículo, porque é exatamente como se abraçassem a bengala de que se serve um indivíduo para bater. O mesmo podemos dizer relativamente àquelas que dirigem a palavra à mesa, como se o Espírito se achasse encerrado na madeira ou como se a madeira se tivesse tornado Espírito.
Quando se produzem comunicações por esse meio, deve-se ter em mente que o Espírito não se acha na mesa, mas ao lado do móvel, como o faria se fosse vivo, e tal como o veríamos, se nesse momento ele pudesse tornar-se visível. Dá-se o mesmo com as comunicações por escrito; o Espírito coloca-se ao lado do médium, dirigindo-lhe a mão ou transmitindo-lhe o seu pensamento por uma corrente fluídica.
Quando a mesa se levanta do solo e flutua no espaço, sem ponto de apoio, o Espírito não a suspende com a força do braço, mas a envolve e penetra com uma espécie de atmosfera fluídica que neutraliza o efeito da gravitação, como faz o ar com os balões e papagaios de papel. Penetrando a mesa, esse fluido lhe dá momentaneamente maior leveza específica. Quando a mesa descansa no solo, acha-se em caso análogo ao da campânula pneumática sob a qual se fez o vácuo. São simples comparações, para mostrar a analogia dos efeitos e não a semelhança absoluta das causas.
Quando a mesa persegue alguém, não é o Espírito que corre, porque ele pode ficar tranquilamente em seu lugar e somente lhe dar, por uma corrente fluídica, o impulso preciso para que ela se mova, segundo a sua vontade. Nas pancadas que são ouvidas na mesa, ou em outra parte qualquer, não é o Espírito quem bate com a mão ou algum objeto; ele lança, sobre o ponto de onde parte o ruído, um jato de fluido que produz o efeito de um choque elétrico e modifica os sons, como se pode modificar os que são produzidos pelo ar.
Assim, facilmente se compreende não ser mais difícil ao Espírito erguer uma pessoa, do que levantar um móvel, transportar um objeto de um para outro lugar, ou atirá-lo a qualquer parte. Esses fenômenos são produzidos pela mesma lei.
32. — Pelo pouco que dissemos, pode-se ver que as manifestações espíritas, de qualquer natureza, nada têm de maravilhoso e sobrenatural; são fenômenos que se produzem em virtude da lei que rege as relações do mundo visível com o invisível, lei tão natural quanto as da eletricidade, da gravitação, etc. O Espiritismo é a ciência que nos faz conhecer essa lei, como a Mecânica nos ensina as do movimento, a Óptica as da luz, etc. Pertencendo à Natureza, as manifestações espíritas se deram em todos os tempos. Uma vez conhecida, a lei que as dirige vem explicar-nos grande número de problemas considerados insolúveis; ela é a chave de uma multidão de fenômenos explorados e amplificados pela superstição.
33. — Afastado por completo o maravilhoso, nada mais apresentam esses fatos que repugne à razão, porque vêm ocupar o seu lugar ao lado dos outros fenômenos naturais. Nos tempos de ignorância, eram reputados sobrenaturais todos os efeitos cuja causa não se conhecia; as descobertas da Ciência, porém, foram restringindo sucessivamente o círculo do maravilhoso, que o conhecimento da nova lei veio aniquilar. Aqueles, pois, que acusam o Espiritismo de ressuscitar o maravilhoso, provam, só por isso, que falam do que não conhecem.
34. — As manifestações dos Espíritos são de duas naturezas: os efeitos físicos e as comunicações inteligentes. Os primeiros são os fenômenos materiais ostensivos, tais como os movimentos, ruídos, transportes de objetos, etc.; os outros consistem na troca regular de pensamentos por meio de sinais, da palavra e, principalmente, da escrita.
35. — As comunicações que recebemos dos Espíritos podem ser boas ou más, justas ou falsas, profundas ou levianas, conforme a natureza dos seres que se manifestam. Os que dão provas de sabedoria e erudição são Espíritos adiantados que já progrediram; os que se mostram ignorantes e maus são Espíritos ainda atrasados, mas que haverão de progredir com o passar do tempo.
Os Espíritos só podem responder sobre aquilo que sabem, segundo o seu estado de adiantamento, e, mesmo assim, dentro dos limites do que lhes é permitido dizer-nos, porque há coisas que eles não podem revelar, por não ser ainda dado ao homem conhecer todas as coisas.
36. — Da diversidade de qualidades e aptidões dos Espíritos, resulta que
não basta nos dirigirmos a um Espírito qualquer para obtermos uma resposta
segura a toda questão, porque, acerca de muitas coisas, ele não nos
pode dar mais que a sua opinião pessoal, que pode ser justa ou errônea.
Se ele é prudente, não deixará de confessar sua ignorância sobre o que
não conhece; se é leviano ou mentiroso, responderá sobre qualquer coisa,
sem se importar com a verdade; se é orgulhoso, apresentará suas ideias
como verdades absolutas. É por isso que São João, o evangelista, diz:
“Não creiais em todos os Espíritos, mas examinai se os Espíritos
são de Deus”.. ( † )
A experiência demonstra a sabedoria desse conselho. Há imprudência e
leviandade em aceitar sem exame tudo o que vem dos Espíritos; por isso,
é absolutamente necessário conhecermos o caráter daqueles que estão
em relação conosco.. (O
Livro dos Médiuns, n.º 267.)
37. — Reconhece-se a qualidade dos Espíritos por sua linguagem; a dos Espíritos verdadeiramente bons e superiores é sempre digna, nobre, lógica, isenta de contradição; nela se respira a sabedoria, a benevolência, a modéstia e a mais pura moral; ela é concisa e sem palavras inúteis. Na dos Espíritos inferiores, ignorantes ou orgulhosos, o vácuo das ideias é quase sempre compensado pela abundância de palavras. Todo pensamento evidentemente falso, toda máxima contrária à sã moral, todo conselho ridículo, toda expressão grosseira, trivial ou simplesmente frívola, enfim, toda manifestação de malevolência, de presunção ou de arrogância, são sinais incontestáveis da inferioridade de um Espírito.
38. — Os Espíritos inferiores são mais ou menos ignorantes; seu horizonte moral é limitado, sua perspicácia é restrita e das coisas não têm senão uma ideia falsa e incompleta; além disso, eles ainda estão sob o império dos prejuízos terrestres, que tomam, às vezes, por verdades; por isso, são incapazes de resolver certas questões. Podem induzir-nos em erro, voluntária ou involuntariamente, sobre aquilo que nem eles mesmos compreendem.
39. — Nem todos os Espíritos inferiores são essencialmente maus; alguns deles são apenas ignorantes e levianos; outros são brincalhões, espirituosos e divertidos, sabendo manejar a sátira fina e mordaz. Ao lado desses encontram-se, no mundo espiritual como na Terra, todos os géneros de perversidade e todos os graus de superioridade intelectual e moral.
40. — Os Espíritos superiores só se ocupam de comunicações inteligentes, com vistas à nossa instrução; as manifestações físicas ou puramente materiais são, mais especialmente, obra dos Espíritos inferiores, vulgarmente designados sob o nome de Espíritos batedores, como, entre nós, as demonstrações de força são executadas por saltimbancos e não por sábios.
41. — As comunicações com os Espíritos devem sempre ser feitas com calma e recolhimento; nunca se deve perder de vista que os Espíritos são as almas dos homens e que não é lícito fazer do seu trabalho um passatempo ou pretexto de divertimento. Se lhes respeitamos os despojos mortais, maior respeito ainda nos devem merecer como Espíritos. As reuniões frívolas, sem objetivo sério, faltam, pois, a um dever; os que as compõem esquecem-se de que, de um momento para outro, podem entrar no mundo dos Espíritos, e não ficarão satisfeitos se os tratarem com tão pouca atenção.
42. — Outro ponto igualmente essencial a considerar é que os Espíritos são livres; comunicam-se quando querem, com quem lhes convém e quando as suas ocupações o permitem; não estão às ordens nem ao capricho de pessoa alguma, e ninguém pode obrigá-los a manifestar-se quando não o queiram nem dizerem o que desejam calar. Esta a razão por que não se pode afirmar que tal Espírito responderá ou não ao apelo de alguém, em dado momento, ou será obrigado a responder a tal ou tal pergunta que lhe for dirigida. Dizer o contrário é provar absoluta ignorância dos princípios mais elementares do Espiritismo. Só o charlatanismo tem fontes infalíveis.
43. — Os Espíritos são atraídos pela simpatia, semelhança de gostos, caracteres e intenção dos que desejam a sua presença. Os Espíritos superiores não vão às reuniões fúteis, como um sábio da Terra não vai a uma assembleia de rapazes levianos. O simples bom senso nos diz que isso não pode ser de outro modo; se acaso eles aí se mostram algumas vezes é para dar um conselho salutar, combater os vícios, reconduzir ao bom caminho os que dele se iam afastando; se, porém, não forem ouvidos, retiram-se. Forma ideia completamente falsa aquele que crê que Espíritos sérios se prestem a responder a futilidades, a questões ociosas, que não provam afeição nem respeito por eles, nem desejo de instruir-se, e ainda menos que eles venham dar-se em espetáculo para diversão dos curiosos. Se quando vivos eles não o fariam, não será depois de mortos que o farão.
44. — A frivolidade das reuniões dá como resultado atrair os Espíritos levianos que só procuram ocasião de enganar e mistificar. Assim como os homens graves e sérios não comparecem às assembleias levianas, os Espíritos sérios só comparecem às reuniões sérias, cujo objetivo é a instrução e não a curiosidade. É nessas assembleias que os Espíritos superiores dão os seus ensinamentos.
45. — Do que precede, resulta que toda reunião espírita, para ser proveitosa, deve, como condição essencial, ser séria e realizada com recolhimento, devendo aí se proceder com respeito, religiosidade e dignamente, caso se queira obter o concurso habitual dos Espíritos bons. Convém não esquecer que se esses mesmos Espíritos se houvessem apresentado nessas reuniões, quando encarnados, teriam recebido todas as atenções a que fariam jus, atenções essas que devem ser ainda maiores depois que desencarnaram.
46. — Em vão se alega a utilidade de certas experiências curiosas, frívolas e divertidas, para convencer os incrédulos; chega-se a um resultado totalmente contrário. O incrédulo, já propenso a escarnecer das mais sagradas crenças, não pode ver uma coisa séria naquilo de que se zomba nem pode respeitar o que não lhe é apresentado de modo respeitável; por isso, retira-se sempre com má impressão das reuniões fúteis e levianas, onde não encontra ordem, gravidade, nem recolhimento. O que, sobretudo, pode convencê-lo, é a prova da presença de seres cuja memória lhe é cara; é diante de suas palavras graves e solenes, de suas revelações íntimas, que o vemos comover-se e empalidecer. Mas, pelo fato mesmo de ele ter respeito, veneração e amor à pessoa cuja alma se lhe apresenta, fica chocado, escandalizado ao vê-la mostrar-se em uma assembleia irreverente, no meio de mesas que dançam e das graçolas dos Espíritos brincalhões; incrédulo como é, sua consciência repele essa aliança do sério com o volúvel, do religioso com o profano; por isso tacha tudo de charlatanismo e, muitas vezes, sai das reuniões menos convicto do que estava ao entrar.
As reuniões dessa natureza fazem sempre mais mal do que bem, porque afastam da Doutrina maior número de pessoas do que atraem, sem contar que se prestam à crítica dos detratores, que nelas encontram fundados motivos para zombarias.
47. — É um erro considerar-se brinquedo as manifestações físicas; se não têm a importância do ensino filosófico, têm sua utilidade do ponto de vista dos fenômenos, pois são o alfabeto da ciência espírita, da qual deram a chave. Apesar de menos necessárias hoje, elas ainda concorrem para a convicção de algumas pessoas. De nenhum modo, porém, elas são incompatíveis com a ordem e a decência que devem reinar nessas reuniões experimentais; se fossem sempre praticadas convenientemente, convenceriam com mais facilidade e produziriam, sob todos os aspectos, muito melhores resultados.
48. — Certas pessoas fazem uma ideia muito falsa das evocações; algumas creem que elas consistem em fazer que os mortos saiam do túmulo, com todo o seu aparato lúgubre. O pouco que temos dito a respeito deverá dissipar tal dúvida. É só nos romances, nos contos fantásticos de fantasmas e no teatro que aparecem mortos descarnados, saindo do sepulcro, envoltos em mortalhas e fazendo chocalhar os ossos. O Espiritismo, que nunca fez milagres, não produz este e jamais pretendeu fazer reviver um corpo morto. guando o corpo está na tumba, não sairá mais dela; mas o ser espiritual, fluídico, inteligente, aí não se acha com seu envoltório grosseiro, do qual se separou no momento da morte; uma vez operada essa separação, nada mais há de comum entre eles.
49. — A crítica malévola deleitou-se em representar as comunicações espíritas como eivadas das práticas ridículas e supersticiosas da magia e da necromancia. Se aqueles que falam do Espiritismo, sem conhecê-lo, se dessem ao trabalho de estudá-lo, teriam evitado esses arroubos da imaginação, que só servem para provar sua ignorância e má vontade. Para o esclarecimento das pessoas estranhas à ciência cumpre-nos dizer que, para nos comunicarmos com os Espíritos, não há dias, horas e lugares mais propícios uns que os outros; que, para evocá-los, não existem fórmulas nem palavras sacramentais ou cabalísticas; que não se precisa para isso de preparação alguma, nem de iniciação; que o emprego de qualquer sinal ou objeto material, seja para atraí-los, seja para repeli-los, não exerce efeito algum, bastando só o pensamento; e, finalmente, que os médiuns recebem as comunicações, tão simples e naturalmente como se fossem ditadas por uma pessoa viva, sem que saiam do estado normal. Só o charlatanismo pode simular o emprego de modos excêntricos e acessórios ridículos.
O apelo aos Espíritos é feito em nome de Deus, com respeito e recolhimento; é a única coisa que se recomenda às pessoas sérias que desejem entrar em relação com Espíritos sérios.