EMANCIPAÇÃO DA ALMA.
44. — A alma não se identifica tanto com o corpo que não possa, em certos momentos, recobrar uma parte da sua liberdade, mesmo durante a vida. Durante o sono e o descanso do corpo, a alma se liberta em parte dos seus vínculos corporais; recobra algumas das suas faculdades de Espírito, e entra diretamente em comunicação com os outros Espíritos. Ela extrai, em geral, dessas comunicações, conselhos salutares dos quais conserva, ao despertar, às vezes uma noção clara e distinta, outras vezes uma simples intuição. É por isso que o homem perverso encontra quase sempre em seus sonhos a desaprovação dos crimes que cometeu ou daqueles em que esteja a meditar; daí também a origem do provérbio: A noite é boa conselheira.
45. — A emancipação da alma pode ter lugar no estado de vigília e se manifesta pelo fenômeno designado sob o nome de segunda vista. Ela ocorre igualmente no sonambulismo, tanto natural, como magnético. O êxtase é um estado de emancipação da alma mais completo que o sonho e o sonambulismo.
46. — As faculdades sonambúlicas são as da alma mais ou menos liberta da matéria. O esquecimento das coisas percebidas no estado sonambúlico, que ocorre geralmente ao despertar, explica-se pela influência da matéria e pela ausência no corpo de órgãos próprios para conservar ou transmitir certas percepções do Espírito. A mesma causa produz o esquecimento do passado no Espírito durante o estado de encarnação; é o que a antiga mitologia exprime pela figura alegórica do Letes.
[1] Nesta segunda versão deste livro, publicado em 1860, o autor apresenta O que é o Espiritismo sob um novo ponto de vista.