MANIFESTAÇÕES DOS ESPÍRITOS.
10. — As relações entre o mundo espírita e o mundo corporal são incessantes: elas são ocultas ou patentes.
Os Espíritos agem sobre os homens de uma maneira oculta pelos pensamentos que lhes sugerem; de uma maneira patente comunicando-se com eles por meios apreciáveis aos sentidos, como a visão, a audição, a escrita, a palavra, e por diversos fenômenos físicos, como os ruídos sem causa material, o movimento dos corpos inertes, etc.
11. — As comunicações dos Espíritos têm lugar pela mediação de certas pessoas dotadas de faculdades especiais e que são designadas pelo nome de médiuns. Os médiuns são, assim, as pessoas aptas a receber de maneira patente a impressão dos Espíritos e a servir de intermediários entre o mundo visível e o mundo invisível. Distinguem-se de acordo com a diversidade das suas aptidões e os meios específicos que dependem da sua organização, em médiuns escreventes, desenhistas, músicos, videntes, falantes, auditivos, intuitivos, inspirados, sensitivos, de efeitos físicos, etc.
12. — Os Espíritos superiores não se ocupam senão de comunicações inteligentes; as manifestações físicas ou puramente materiais estão mais especialmente nas atribuições dos Espíritos inferiores, vulgarmente designados sob o nome de Espíritos batedores, como, entre nós, as exibições de força são feitas pelos saltimbancos e não pelos sábios.
13. — A natureza das comunicações espíritas depende da natureza dos Espíritos que se manifestam e do grau da sua perfeição.
Os Espíritos inferiores são mais ou menos ignorantes e seu horizonte moral é limitado, sua perspicácia restrita; não têm das coisas senão uma ideia muitas vezes falsa e incompleta; além disso, eles estão ainda sob o império dos preconceitos terrestres que tomam às vezes por verdades, é por isso que eles são incapazes de resolver certas questões. Não é suficiente, portanto, para conhecer a verdade dirigir-se a um Espírito qualquer, é necessário sobretudo saber a qual Espírito se dirige, já que os Espíritos inferiores podem induzir-nos em erro voluntaria ou involuntariamente sobre o que nem eles mesmos compreendem.
14. — A experiência e o hábito de conversar com os Espíritos ensinam a reconhecer a natureza dos que se comunicam. Distinguem-se geralmente por sua linguagem; a dos Espíritos superiores é sempre digna, nobre, elevada, cheia de benevolência, isenta de contradições, e não inspira senão a moral mais pura. Todo pensamento evidentemente falso, toda máxima contrária à sã moral, todo conselho ridículo, toda expressão grosseira, trivial ou simplesmente frívola, enfim, toda marca de malícia, são sinais incontestáveis de inferioridade num Espírito.
15. — Os bons Espíritos comunicam-se mais ou menos voluntariamente por esse ou aquele médium de acordo com sua simpatia ou pela afinidade que este tenha com seu próprio Espírito. O que constitui a qualidade de um médium não é a facilidade com que obtém comunicações, mas sua aptidão em não receber senão as boas e de não servir de joguete aos Espíritos levianos e enganadores.
16. — Os Espíritos se manifestam visivelmente nas aparições que ocorrem tanto no estado de vigília como durante o sono. As aparições são quase sempre espontâneas e o homem não é dono das circunstâncias nas quais se produzem. A aptidão para ver os Espíritos constitui a variedade dos médiuns videntes.
17. — Os Espíritos aparecem através do seu perispírito ou invólucro semimaterial. A substância deste invólucro, invisível para nós no seu estado normal, pode sofrer modificações que a tornam perceptível em certos casos, como o vapor quando é condensado.
Os Espíritos aparecem sob uma forma humana ou qualquer outra que desejarem, mas geralmente sob aquela que tiveram em sua vida, sem as imperfeições físicas inerentes à matéria, a menos que o queiram para assim fazerem-se reconhecidos e poder convencer sobre sua identidade.
[1] Nesta segunda versão deste livro, publicado em 1860, o autor apresenta O que é o Espiritismo sob um novo ponto de vista.