TEMAS CORRELATOS: Antigo Testamento. | Miqueias.
O livro de Miqueias é o sexto dos profetas menores. Seu autor profetizou nos reinados de Jotão, Acaz e Ezequias (1.1). Seu conteúdo também mostra que foi escrito depois dos reinados de Onri e de Acabe (6.16), no tempo em que a Assíria era uma potência temida pelos israelitas (5.5,6), e pelo menos, em parte, quando Samaria e o reino do norte ainda existiam (1.6-14); porém, quanto tempo antes da queda de Samaria as palavras de 1.5-7 foram proferidas, não pode ser determinado, porque desde a época de Ozias e Jotão os profetas ainda prediziam a queda de Samaria (Os 1.6; 3.4; 5.9; Am 2.6; 3.12; 5.1-3, 27; 6.1, 7-11, 14; Is 7.8,9; 8.4) e a desolação de Judá (Os 5.10; Am 2.4; Is 6.1, 11-13; 7.17-25). A alusão à desolação de Basã e Gileade pode indicar um período além de 733-732 A. C., quando Tiglate-Pileser saqueou aquele território e deportou seus habitantes (Mq 7.14, onde as palavras “dias antigos” refere-se à ocupação da região de Israel, do tempo da conquista para a frente, cp. 14 com 20). A profecia de 3.12, foi anunciada durante o reinado de Ezequias (Jr 26.18), embora Miqueias pode ter se pronunciado neste tema antes.
Embora as profecias de Miqueias referirem-se especialmente a Judá, foram dirigidas ao povo do reino do sul, elas contudo ocupam-se de todo Israel (1.1, 5-7, 9-16). As transições abruptas indicam que o livro é mais um resumo do ensino do profeta que uma série de discursos diversos. A expressão “ouvi vós todos” repetida três vezes, serve para marcar o começo das três divisões, cada qual termina do mesmo modo, com uma mensagem de esperança. I. Julgamento sobre Samaria por sua incurável disposição para com a idolatria (1.2-8), e sobre Judá envolvido na mesma culpa (9-16). As aflições que recairão sobre os opressores do povo e a profecia da ruína e cativeiro da nação (2.4,5) como um castigo pela falta de retidão e injustiça de seus homens representativos (1-11). Contudo um resto será restaurado (12,13). II. Denúncias que passam a profecias de salvação. Repreensão às autoridades civis e religiosas pela cruel indiferença à verdade e ao direito e pelo caráter mercenário de sua doutrina e governo (3.1-11); o abandono consequente de Sião por Jeová ao poder de seus inimigos (12); mas também a exaltação final do reino de Jeová por sua influência moral entre os homens, na paz, na prosperidade, e no poder (4.1-8). No presente há desânimo, desamparo e cativeiro (9, 10), seguido pela derrota de seus inimigos por sua oposição pecaminosa a Jeová (11-13). Mas o presente embaraço para Sião (5.1), durará até quando se manifestar Deus que é o governador de Israel, e cuja geração é perpétua (2-4). Esta predestinação divina relativamente ao Messias assegura e fixa a libertação de Sião dos assírios (5,6; cp. Is 7.4-16), e é a promessa e potência que garante a sobrevivência do povo de Deus ao longo do tempo e de seu último triunfo sobre todos os inimigos, de conformidade com os ideais de Deus (5.7-15). III. A controvérsia de Jeová com o povo como um todo, não somente com os bem sucedidos e as classes oficiais (6.1-5), explicando os requisitos da verdadeira religião (6-8; veja também Is 1.11-17), lamentando sua ausência e sua grande oposição (6.9 a 7.6), terminando com a íntima confiança do profeta num futuro glorioso devido à clemente graça de Jeová e sua fidelidade ao convênio com Abraão (7.20). O capítulo 4.1-3 é quase idêntico a Is 2.2-4, mas está mais proximamente ligado que na passagem correspondente de Isaías com os versículos que imediatamente o seguem. Joel expressa um pensamento similar (Jl 3.10). Isaías certamente citou suas palavras, como mostra a introdução: “E acontecerá que”; e ele pode tê-las citado de Miqueias. Mas as variações verbais entre Isaías e Miqueias e entre estes profetas e Joel, podem ser explicadas supondo que cada um adotou uma predição tradicional atual em seus dias. De qualquer modo o povo de Deus há muito contava com profecias autorizadas cujas passagens favoritas eles citavam, da mesma maneira que os cristãos de hoje têm.
A integridade do texto de Miqueias foi impugnada. A evidência dada como prova de interpolação consiste principalmente nos seguintes fatos, frequentemente reforçados pela negação de que o estilo é de Miqueias: I. O exílio é pressuposto (2.12,13; 7.7-20; Wellhausen). Mas seguramente Miqueias talvez antecipasse o exílio do povo, porque: 1. Na teoria da origem mosaica registradas no Deuteronômio, era natural para Miqueias antecipar o exílio do povo. Como previsto e predito que pecado significava fraqueza nacional e ruína; e tais condições naqueles tempos resultavam em sua ordinária subjugação pelas grandes potências, na deportação e escravidão (Dt 28.31-37, 47-53; cp. Is 1.19,20). 2. O exílio de Judá, ou ao menos das aristocracias, é ensinado em passagens reconhecidamente genuínas de Miqueias, e um exílio da nação como um todo é, sem dúvida, claramente anunciado por Isaías (Mq 1.15,16; 2.3-5, 10; Is 5.13; 6.11-13; 7.3; um resto retornará, 10.21). Uma vista antecipada do exílio é portanto cabível na profecia de Miqueias. Os críticos desta tendência, que consideram o contexto como genuíno, rejeitam a cláusula em 4.10 onde Babilônia é mencionada como um lugar de exílio. É chamado um deslumbramento; e certamente pode ser omitido sem ferir o sentido. Mas (1) assim, muitas cláusulas reconhecidamente genuínas podem ser omitidas sem destruir a conexão. E (2) Isaías fala de Babilônia como um lugar de exílio, numa profecia que Miqueias possa ter tido em mente (Is 39.6,7). Vez ou outra Isaías, antevendo a dispersão dos filhos de Israel ao longo do mundo habitado, menciona Sinear, isto é, Babilônia, como uma das terras do exílio (Is 11.11). Esta porção do capítulo, como a cláusula em Miqueias, é impugnada, principalmente por causa desta referência ao exílio babilônico. II. Elementos messiânicos: o reagrupamento de Israel e seu avanço triunfante sob a liderança de seu rei (Mq 2.13); a paz e a prosperidade de Sião no período messiânico, a ascensão dos gentios (4.1-8); e a pessoa do Messias (5.2-8). Mas estes pensamentos eram indiscutivelmente contemporâneos de Miqueias (Os 11.8-11, para não citar as passagens disputadas em Oseias; Is 2.2-4; 4.2-6; 9.1-7; 10.20-22; 11.1-10; veja também Amós 9.11-15, e as observações em sua autenticidade). III. O universalismo que encontra expressão nas relações de Jeová para com o mundo gentílico. A resposta a esta objeção é: 1. Não faltam pressuposições no próprio pensamento de Miqueias, que não sejam refletidas em passagens reconhecidamente genuínas (1.2). 2. Uma concepção universalista aparece na denúncia de Amós do castigo de Jeová sobre as nações por sua hostilidade ao reino de Deus (Amós, caps.1 e 2); na atitude de Jeová para com Damasco, para com o Egito, e a Assíria, proclamado por Isaías; e nos escritos atribuídos a Jeremias e a Ezequiel, contemporâneos de Miqueias, em que menção é feita, do governo moral de Deus no mundo (Gn 2 a 11; 18.25, etc.). IV. As ideias escatológicas de um ataque mundial sobre Sião e seu fracasso, em contraste com a profecia da derrota de Sião por seus inimigos (Mq 4.11-13, com 3.12). As duas ideias, no entanto, não são inconsistentes. O conflito de Judá com as grandes potências é visto por Miqueias, como por outros profetas de seu tempo e posteriores, de dois pontos de vista: Jeová abandona seu povo à espada e ao cativeiro por causa de seus pecados; mas desde que a hostilidade do mundo é dirigida contra Sião por sua importância religiosa, é uma luta contra Jeová, e deve levar à destruição das nações adversárias (Is 1.19,20; 8.5-8,9,10; 10.5-7, 12-16, comp. Is 3.8, 24-26; 5.13, 26-30). Nenhuma espada levantada contra ela prosperará. O progresso do avanço assírio sob Senaqueribe em Judá nos dias de Isaías e talvez de Miqueias, e seu fracasso, oferecem uma ilustração notável do duplo princípio aqui proclamado como uma verdade válida para todo tempo (2 Rs 18.13 a 19.37, cp. 18.11,12 e 19.4-7). V. A condenação dos altares e das imagens, que eram usados na adoração popular, mas não foram condenados até que os lugares altos foram feitos um objeto de ataque pelos profetas, isso é, depois da reforma deuteronômica. Mas 1. Note a implicação de que as recomendações do livro Deuteronômio não são mosaicas em sua origem. 2. A atitude de Miqueias é aquela de seu predecessor Oseias. As muitas construções de altares é condenado por Oseias (Os 10.1.2). Oseias condena todos os ídolos e deve consequentemente, ter-se oposto às imagens da deusa Aserá (2.5, 13; 4.12-17; 8.4-6; e Mq 1.7). 3. A passagem inteira de Mq 5.9-14 é semelhante à de Is 2.6-8. VI. As transições de ameaças para promessas (Mq 2.12,13; 4.1-8; 7.7-20). Esta sequência é, no entanto, habitual entre os profetas. É de seu hábito normal que depois de anunciar a destruição, vir iluminar a escuridão com um raio de promessa, e assim encorajar o religioso a permanecer firme, a se esforçar e a esperar. É, no entanto, hábito desses críticos que apresentam as objeções mencionadas, separar estas passagens de promessa, ou muitas delas, e assim suprimem as profecias para servir uma teoria.
Várias observações que defendem a legitimidade dos capítulos 6 e 7 podem ser colocadas livremente juntas. A visão dos exilados dispersos por toda parte (Mq 7.12) não surpreende num contemporâneo de Isaías; e a esperança que os muros de Jerusalém seriam reconstruídos (7.11) são naturais depois que se retratou o inimigo pisando sob Sião como no lamaçal das ruas (10). Confrontando a afirmação de Ewald de que os capítulos 6 e 7 são da época de Manassés (uma data que, se observada, não necessita estar fora do tempo de Miqueias) pode ser colocada a opinião de Cornill, de que tudo nestes capítulos se aplica bem à época de Acaz. A antecipação do exílio (7.7-20), e a devastação do reino por seus inimigos, ainda que por sua submissão (6.13-16; 7.16,17), e a transição de ameaças para promessas, caracterizam os capítulos 1 a 5, igualmente os caps. 6, 7. Os capítulos 6, 7 formam um avanço natural da denúncia dos representantes oficiais da nação (1 a 3), a controvérsia de Jeová com o povo como um todo (6 e 7). A figura de Jeová em controvérsia com Israel era familiar aos profetas deste período (Os 4.1; 12.2; cp. Is 1.2-24); e se referir a acontecimentos da primeira história de Israel, como se vê em Is 6.4,5; 7.15,20, era uma prática comum de Miqueias (Mq 1.15; 5.6), Oseias e Isaías. Como as profecias dos capítulos 1 a 5 assemelham-se com as expressões vocais de Isaías, assim também o capítulo 6 assemelha-se a Is 1. † — (Dicionário da Bíblia de John D. Davis) ©