Ninguém
é profeta em sua terra. (1,
2.) — Morte e paixão de Jesus. (3-9.)
— Perseguição aos apóstolos. (10-13.)
— Cidades impenitentes. (14.)
— Ruína do Templo e de Jerusalém. (15-21.)
— Maldição aos fariseus. (22,
23.) — Minhas palavras não passarão. (24-26.)
— A pedra angular. (27,
28.) — Parábola dos vinhateiros homicidas. (29,
30.) — Um só rebanho e um só pastor. (31,
32.) — Advento de Elias. (33,
34.) — Anúncio do Consolador.
(35-42) — Segundo advento do Cristo. (43-46.)
— Sinais precursores. (47-58.)
— Vossos filhos e vossas filhas profetizarão. (59-61.)
— Juízo final. (62-67.) |
ANÚNCIO
DO CONSOLADOR.
35. — Se me amais, guardai os meus mandamentos e eu pedirei a meu Pai
e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco:
O Espírito de Verdade que o mundo não pode receber, porque não
o vê; vós, porém, o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará
em vós. Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, que meu Pai enviará
em meu nome, vos ensinará todas as coisas e fará vos lembreis
de tudo o que vos tenho dito. (São
João, capítulo XIV, vv. 15 a 17 e 26; O
Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo VI.)
36. — Entretanto, digo-vos a verdade: Convém que eu me vá, porquanto, se eu não me for, o Consolador não vos virá, porém, me vou e vo-lo enviarei. — E quando ele vier, convencerá o mundo no que respeita ao pecado, à justiça e ao juízo: no que respeita ao pecado, por não terem acreditado em mim; no que respeita à justiça, porque me vou para meu Pai e não mais me vereis; no que respeita ao juízo, porque já está julgado o príncipe deste mundo.
Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas presentemente não as podeis suportar.
Quando vier esse Espírito de Verdade, ele vos ensinará toda a verdade,
porquanto não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tenha escutado
e vos anunciará as coisas porvindouras. Ele me glorificará, porque receberá
do que está em mim e vo-lo anunciará. (São
João, capítulo XVI, vv. 7 a 14.)
37. — Esta predição, não há contestar, é uma das mais importantes, do ponto de vista religioso, porquanto comprova, sem a possibilidade do menor equívoco, que Jesus não disse tudo o que tinha a dizer, pela razão de que não o teriam compreendido nem mesmo seus apóstolos, visto que a eles é que o Mestre se dirigia.
2 Se lhes houvesse dado instruções secretas, os Evangelhos fariam referência a tais instruções. 3 Ora, desde que ele não disse tudo a seus apóstolos, os sucessores destes não terão podido saber mais do que eles, com relação ao que foi dito; ter-se-ão possivelmente enganado, quanto ao sentido das palavras do Senhor, ou dado interpretação falsa aos seus pensamentos, muitas vezes velados sob a forma parabólica. 4 As religiões que se fundaram no Evangelho não podem, pois, dizer-se possuidoras de toda a verdade, porquanto ele, Jesus, reservou para si o direito de completar ulteriormente os seus ensinamentos. 5 O princípio da imutabilidade, em que elas se firmam, constitui um desmentido às próprias palavras do Cristo.
6 Sob o nome de Consolador e de Espírito de Verdade, Jesus anunciou a vinda daquele que havia de ensinar todas as coisas e de lembrar o que ele dissera: logo, não estava completo o seu ensino; 7 e, ao demais, prevê não só que ficaria esquecido, como também que seria desvirtuado o que por ele fora dito, visto que o Espírito de Verdade viria tudo lembrar e, de combinação com Elias, restabelecer todas as coisas, isto é, pô-las de acordo com o verdadeiro pensamento de seus ensinos.
38. — Quando terá de vir esse novo revelador? É evidente que se, na época em que Jesus falava, os homens não se achavam em estado de compreender as coisas que lhe restavam a dizer, não seria em alguns anos apenas que poderiam adquirir as luzes necessárias a entendê-las. 2 Para a inteligência de certas partes do Evangelho, excluídos os preceitos morais, faziam-se mister conhecimentos que só o progresso das ciências facultaria e que tinham de ser obra do tempo e de muitas gerações. 3 Se, portanto, o novo Messias tivesse vindo pouco tempo depois do Cristo, houvera encontrado o terreno ainda nas mesmas condições e não teria feito mais do que o mesmo Cristo. 4 Ora, desde aquela época até os nossos dias, nenhuma grande revelação se produziu que haja completado o Evangelho e elucidado suas partes obscuras, indício seguro de que o Enviado ainda não aparecera.
39. — Qual deverá ser esse Enviado? Dizendo: “Pedirei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador”, Jesus claramente indica que esse Consolador não seria ele, pois, do contrário, houvera dito: “Voltarei a completar o que vos tenho ensinado.” Não só tal não disse, como acrescentou: A fim de que fique eternamente convosco e ele estará em vós. 2 Esta posição não poderia referir-se a uma individualidade encarnada, visto que não poderia ficar eternamente conosco, nem, ainda menos, estar em nós; compreendemo-la, porém, muito bem com referência a uma doutrina, a qual, com efeito, quando a tenhamos assimilado, poderá estar eternamente em nós. 3 O Consolador é, pois, segundo o pensamento de Jesus, a personificação de uma doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador há de ser o Espírito de Verdade.
40. — O Espiritismo realiza, como ficou demonstrado (Cap. I, n.º 30), todas as condições do Consolador que Jesus prometeu. 2 Não é uma doutrina individual, nem de concepção humana; ninguém pode dizer-se seu criador. 3 É fruto do ensino coletivo dos Espíritos, ensino a que preside o Espírito de Verdade. 4 Nada suprime do Evangelho: antes o completa e elucida com o auxílio das novas leis que revela, 5 conjugadas essas leis às que a Ciência já descobrira, faz se compreenda o que era ininteligível e se admita a possibilidade daquilo que a incredulidade considerava inadmissível. 6 Teve precursores e profetas, que lhe pressentiram a vinda. 7 Pela sua força moralizadora, ele prepara o reinado do bem na Terra.
8 A doutrina de Moisés, incompleta, ficou circunscrita ao povo judeu; a de Jesus, mais completa, se espalhou por toda a Terra, mediante o Cristianismo, mas não converteu a todos; o Espiritismo, ainda mais completo, com raízes em todas as crenças, converterá a Humanidade. n
41. — Dizendo a seus apóstolos: “Outro virá mais tarde, que vos ensinará o que agora não posso ensinar”, proclamava Jesus a necessidade da reencarnação. 2 Como poderiam aqueles homens, aproveitar do ensino mais completo que ulteriormente seria ministrado; como estariam aptos a compreendê-lo, se não tivessem de viver novamente? 3 Jesus houvera proferido uma coisa inconsequente se, de acordo com a doutrina vulgar, os homens futuros houvessem de ser homens novos, almas saídas do nada por ocasião do nascimento. 4 Admita-se, ao contrário, que os apóstolos e os homens do tempo deles tenham vivido depois; que ainda hoje revivem, e plenamente justificada estará a promessa de Jesus; 5 tendo-se desenvolvido ao contato do progresso social, a inteligência deles pode presentemente comportar o que então não podia. 6 Sem a reencarnação a promessa de Jesus fora ilusória.
42. — Se disserem que essa promessa se cumpriu no dia de Pentecostes, por meio da descida do Espírito Santo, poder-se-á responder que o Espírito Santo os inspirou, que lhes desanuviou a inteligência, que desenvolveu neles as aptidões mediúnicas destinadas a facilitar-lhes a missão, porém que nada lhes ensinou além daquilo que Jesus já ensinara, porquanto, no que deixaram, nenhum vestígio se encontra de um ensinamento especial. 2 O Espírito Santo, pois, não realizou o que Jesus anunciara relativamente ao Consolador; a não ser assim, os apóstolos teriam elucidado o que, no Evangelho, permaneceu obscuro até ao dia de hoje e cuja interpretação contraditória deu origem às inúmeras seitas que dividiram o Cristianismo desde os primeiros séculos.
[1] Todas as doutrinas filosóficas e religiosas trazem o nome do seu fundador. Diz-se: o Moisaísmo, o Cristianismo, o Maometismo; o Budismo, o Cartesianismo, o Fourrierismo, o São-Simonismo, etc. A palavra Espiritismo, ao contrário, não lembra nenhuma personalidade; encerra uma ideia geral, que ao mesmo tempo indica o caráter e o tronco multíplice da doutrina.