Reencarnação
dos Espíritos. — Metempsicose. — Objetivo da reencarnação. —
A vida temporal é uma peneira ou um depurador para o Espírito.
— A reencarnação nos diferentes mundos. — Estado progressivo
físico e moral dos seres que habitam os diferentes mundos. —
Vida eterna. — Espíritos errantes. — Intervalos das existências
corpóreas. — Provações da vida corpórea. — Escolha das provas.
— Lembrança das existências anteriores. — Marcha progressiva
dos Espíritos. — Semelhanças físicas e morais do homem nas suas
múltiplas existências. (Questões 125
a 152.) |
125. A
alma passa por muitas encarnações ou, melhor dizendo, por muitas existências
corpóreas? [Questão 166 b.]
“Sim, todos nós temos muitas existências corpóreas. Os que dizem o contrário
querem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram; esse
é o desejo deles.”
125 a. Qual
o objetivo das diversas encarnações? [Questão
167.]
“Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isso, onde estaria
a justiça?”
Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta
os meios de alcançá-la pelas provações da vida corpórea. Mas, em sua
justiça, Ele lhes concede realizar, em novas existências, o que não
puderam fazer ou concluir numa primeira prova.
Deus não agiria com equidade, nem de acordo com sua bondade, se castigasse
para sempre os que encontraram obstáculos ao seu melhoramento, independentemente
de sua vontade, no próprio meio em que foram colocados. [Questão
171.]
126. Em
que se baseia o dogma da reencarnação? [Questão
171.]
“Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos:
o bom pai sempre deixa aos filhos uma porta aberta ao arrependimento.
Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade
eterna todos aqueles de quem não dependeu se melhorarem? Não são filhos
de Deus todos os homens? Somente entre os homens egoístas se encontram
a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão.”
O dogma da reencarnação, isto é, o que consiste em admitir
para o homem muitas existências sucessivas, é o único que corresponde
à ideia que fazemos da justiça de Deus, com respeito aos homens de formação
moral inferior; o único que pode explicar o futuro e firmar nossas esperanças,
pois que nos oferece os meios de resgatar nossos erros mediante novas
provações. A razão no-lo indica e os Espíritos o ensinam. É o que Jesus
queria dizer por estas palavras que não foram compreendidas: Eu fui,
eu sou, eu serei.
127. A
alma do homem não teria sido inicialmente o princípio de vida dos seres
vivos mais primitivos da Criação, para chegar, por meio de uma lei progressiva,
até ao homem, percorrendo os diversos graus da escala orgânica? [Questões
540 e 613.]
“Não! Não! Homens, somos natos. Cada coisa progride na sua espécie e
na sua essência; o homem jamais foi outra coisa além de homem.” 95
Seja qual for a diversidade das existências por que passe
o nosso Espírito ou nossa alma, elas pertencem todas à Humanidade. Seria
erro acreditar que, por uma lei progressiva, o homem haja passado pelos
diferentes graus da escala orgânica para chegar ao seu estado atual.
Assim, sua alma não foi inicialmente o princípio de vida dos primitivos
seres animados da Criação, para chegar sucessivamente ao grau superior:
ao homem.
128. A
doutrina da metempsicose tem algum fundo de verdade?
“Não, visto que o homem tem sido sempre ele mesmo.”
128 a. Por
mais errônea que seja, a doutrina da metempsicose não resultaria do
sentimento intuitivo que o homem possui de suas diversas existências?
[Questão 613.]
“Sim, mas o homem a desnaturou, como costuma fazer com a maioria de
suas ideias intuitivas. Sempre o mesmo orgulho, a mesma ambição!”
A doutrina da metempsicose é duplamente errônea, visto que,
em vez de estar fundada na marcha ascendente da Natureza, tem por princípio
a degradação dos seres que ela faz passar da Humanidade ao estado de
bruto.
Contudo, por mais falsa que seja essa doutrina, não deixa de
resultar do sentimento intuitivo do homem sobre as diferentes existências
corpóreas que ele percorreu ou que deve ainda percorrer.
129. Não
podendo as Espíritos melhorar-se, a não ser por meio das tribulações
da existência corpórea, segue-se que a vida material seja uma espécie
de cadinho, pelo qual devem passar os seres do mundo espiritual
para alcançarem a perfeição? [Questão
196.]
“Sim, é exatamente isso.”
129 a. É
o corpo que influi sobre o Espírito para que este se melhore, ou é o
Espírito que influi sobre o corpo? [Questão
196 a.]
“Teu Espírito é tudo; teu corpo é uma veste que apodrece: eis tudo.”
As vicissitudes da existência são provas que os Espíritos
devem sofrer para chegarem à perfeição. Eles se melhoram nessas provas
evitando o mal e praticando o bem.
A vida corpórea é, pois, uma espécie de cadinho ou depurador,
por onde devem passar os seres do mundo incorpóreo. Entretanto, isto
só se dá depois de numerosas encarnações ou depurações sucessivas, que
eles atingem, em tempo mais ou menos longo, segundo seus esforços,
o objetivo para o qual aspiram.
130. Nossas
diversas encarnações se realizam todas na Terra? [Questão
172.]
“Não; nem todas.”
130 a. Onde
elas se realizam? [Questão 172.]
“Nos diferentes mundos.”
130 b. Podemos
reaparecer muitas vezes na Terra? [Questão
173 a.]
“Certamente.”
130 c. Podemos
voltar à Terra depois de termos vivido em outros mundos? [Questão
173 b.]
“Sim.”
130 d. Depois
de terem encarnado em outros mundos, os Espíritos podem encarnar na
Terra, sem que aqui jamais tenham estado? [Questão
176.]
“Sim, do mesmo modo que vós em outros globos.”
130 e. Podemos
saber quando um Espírito está na sua primeira encarnação? [Questão
176 b.]
“Não.”
As diferentes encarnações não se realizam, necessariamente,
todas na Terra: podem cumprir-se nos diversos mundos que compõem o Universo.
A que passamos na Terra não é a primeira, nem a última, embora seja
uma das mais materiais e das mais distantes da perfeição.
É possível que cada um de nós já tenha aparecido na Terra, como é possível que
aqui reapareçamos um dia; é o que saberemos quando nos houvermos despido
da espessa vestimenta que nos comprime, porque, então, teremos recuperado
a lembrança do passado.
A primeira encarnação dos Espíritos é um mistério
que não nos é dado desvendar.
131. Os
Espíritos são de diferentes sexos? [Questão
201.]
“Não; o mesmo Espírito pode animar alternadamente sexos diferentes.”
Os Espíritos não têm sexo e nas suas diversas encarnações
eles podem animar, alternadamente, corpos de homens ou de mulheres. 96
132. Os
seres que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos?
[Questão 181.]
“Sem dúvida eles têm corpos, porque o Espírito precisa estar revestido
de matéria; mas esse envoltório é mais ou menos material, conforme o
grau de pureza a que chegaram os Espíritos. É isso que diferencia os
mundos que devemos percorrer, pois há muitas moradas na casa de nosso
Pai, sendo de muitos graus essas moradas. Alguns o sabem e têm consciência
disso aqui na Terra, o que não acontece com outros.”
132 a. Podemos
conhecer exatamente o estado físico e moral dos diferentes mundos? [Questão
182.]
“Nós, Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento
em que vos encontrais; ou seja: não podemos revelar estas coisas a todos,
pois nem todos estão em condições de compreendê-las e isso os perturbaria.”
As condições para a encarnação nos diferentes mundos variam
segundo a perfeição do Espírito; à medida que este se aproxima da perfeição,
o corpo que o reveste aproxima-se igualmente da natureza espiritual.
A matéria é menos densa, ele já não se arrasta penosamente pela superfície
do solo, suas necessidades físicas são menos grosseiras, não mais sendo
preciso que os seres vivos se destruam mutuamente para se alimentarem.
O Espírito é mais livre e tem, das coisas longínquas, percepções que
desconhecemos. Vê com os olhos do corpo o que só entrevemos pelo pensamento.
A depuração progressiva dos Espíritos reflete-se na perfeição moral
dos seres em que estão encarnados. As paixões animais se enfraquecem
e o egoísmo cede lugar ao sentimento da fraternidade. É assim que, nos
mundos superiores à Terra, as guerras são desconhecidas, os ódios e
discórdias não têm objetivo, pois ninguém pensa em prejudicar seu semelhante.
133. Os
Espíritos podem encarnar em mundo menos perfeito do que aquele a que
já pertencem? [Questão 178.]
“Sim.”
133 a. Por
que, então, submetê-los às tribulações de uma existência inferior, uma
vez que já se acham depurados?
“É uma missão para ajudar o progresso.”
Os Espíritos que habitam um mundo superior podem encarnar
em mundos menos perfeitos; nesse caso, não se trata de expiação, mas
de missão, que eles cumprem assistindo os homens na senda do progresso,
missão que aceitam satisfeitos pela oportunidade que têm de praticar
o bem.
134. Os
seres que habitam cada mundo alcançaram todos o mesmo grau de perfeição?
[Questão 179.]
“Não; é como na Terra: há seres mais e menos adiantados.”
Nem todos os seres que habitam cada mundo chegaram ao mesmo
grau de perfeição. Assim como vemos na Terra raças mais ou menos adiantadas,
cada mundo abriga também seres mais ou menos aperfeiçoados, embora no
conjunto superiores ou inferiores a nós (Nota 3).
135. O
estado físico e moral dos seres vivos é perpetuamente o mesmo em cada
Globo? [Questão 185.]
“Não.”
135 a. Todos
os mundos começaram, como o nosso, por um estado inferior?
“Sim.”
135 b. A
Terra também sofrerá a transformação que já se produziu em outros mundos?
“Certamente. Tornar-se-á um paraíso terrestre, quando os homens se houverem
tornado bons.”
O estado físico e moral dos seres vivos não é perpetuamente
o mesmo em cada globo. Todos os mundos começaram a ser povoados pelas
raças inferiores que se foram aprimorando. É assim que as raças, que
hoje povoam a Terra, desaparecerão um dia e serão substituídas por seres
cada vez mais perfeitos; essas raças transformadas sucederão às atuais,
como estas sucederam a outras ainda mais grosseiras. 97
136. Haverá
mundos onde o Espírito, deixando de revestir corpos materiais, só tenha
por envoltório o perispírito? [Questão
186.]
“Sim, e mesmo esse envoltório se torna tão etéreo que para vós é como
se não existisse. É esse o estado dos Espíritos puros.”
À medida que os Espíritos se depuram, despojam-se, nas encarnações
sucessivas e conforme o mundo que habitam, do envoltório grosseiro dos
mundos inferiores.
Chegados a certo grau de superioridade, o envoltório
deles consiste apenas no perispírito (43). No último grau de depuração
o Espírito fica, para nós, como que despido de todo e qualquer envoltório.
137. Em
que se transforma o Espírito depois de sua última encarnação? [Questão
170.]
“Em Espírito bem-aventurado; é a vida eterna.”
137 a. Assim
a vida eterna seria o estado da alma que percorreu todas as existências
corpóreas?
“Sim, ela goza de perfeita felicidade; mas essa felicidade não é a do
egoísta: a alma está sempre feliz pelo bem que pode fazer.”
Os Espíritos chegados à perfeição absoluta não precisam
mais de encarnação; são Espíritos puros; isto é para eles a vida eterna.
A vida eterna é o estado dos Espíritos que alcançaram o supremo grau
de pureza e que, não mais precisando sofrer as provas da vida material,
gozam de inalterável felicidade. É a vida de que falava Jesus, quando
dizia: “Meu reino não é deste mundo.” ( † )
138. O
perispírito é parte integrante e inseparável do Espírito?
“Não; o Espírito pode despojar-se dele.” 98
138 a. De
onde o Espírito tira seu perispírito? [Questão
94.]
“Do fluido de cada globo.”
138 b. A
substância que compõe o perispírito é a mesma em todos os globos? [Questão
187.]
“Não; ela é mais ou menos etérea.”
138 c. Passando
de um mundo a outro, o Espírito deixa seu perispírito para tomar outro?
“Sim, e com a rapidez do relâmpago.”
A substância semimaterial de que se forma o perispírito
é inerente a cada globo e sua natureza é mais ou menos etérea segundo
o mundo ao qual pertence.
Em suas transmigrações de um mundo a outro,
os Espíritos se despojam do perispírito do mundo que deixam, para revestir
instantaneamente o do mundo em que entram. É sob esse envoltório que
eles nos aparecem algumas vezes com figuração humana ou outra qualquer,
seja nos sonhos, seja mesmo no estado de vigília, mas sempre inacessível
ao tato. 99
139. A
alma reencarna imediatamente após a separação do corpo? [Questão
223.]
“Algumas vezes reencarna imediatamente, mas na maioria das vezes só
depois de intervalos mais ou menos longos.”
139 a. Qual
pode ser a duração desses intervalos? [Questão
224 a.]
“De alguns minutos a alguns séculos; depende do grau de pureza dos Espíritos.
Mas, em geral, o justo reencarna imediatamente numa condição melhor,
isto é, dotado de uma faculdade de percepção mais ampla do passado,
do futuro e do presente.
“Algumas vezes o Espírito reencarna logo em seguida, numa condição mais
penosa do que a que tinha antes. Um malfeitor, um assassino, pode reencarnar
imediatamente em condições que lhe permitam arrepender-se. Se, na existência
material em que cometeu o crime, talvez se achasse em condição de poder
satisfazer a todas as suas necessidades, na nova encarnação se verá
privado dessas condições e perderá a companhia daqueles com quem mantinha
laços de amizade.”
A reencarnação da alma pode ocorrer imediatamente após a
separação do corpo; na maior parte das vezes, porém, só se realiza com
intervalos mais ou menos longos. O número das encarnações e a duração
dos intervalos não nos podem ser revelados; vai depender do grau de
pureza a que chegaram os Espíritos.
O homem que tem consciência de sua inferioridade haure na doutrina da
reencarnação uma esperança consoladora. Se crê na justiça de Deus, não
pode esperar que, na eternidade, seja igual aos que procederam melhor
que ele. A ideia de que essa inferioridade não o deserdará para sempre
do bem supremo, e que ele poderá conquistá-lo mediante novos esforços,
que o sustenta e lhe dá coragem. Qual é aquele que, ao término da carreira,
não lamenta ter adquirido tarde demais uma experiência da qual não pode
mais aproveitar? Essa experiência tardia não fica perdida; o Espírito
a aproveitará em nova existência. (Nota 4).
140. Que
se torna a alma no intervalo das diversas encarnações? [Questão
224.]
“Espírito errante, que aspira a novo destino.”
140 a. Entre
os Espíritos errantes haverá apenas Espíritos inferiores?
“Há Espíritos errantes de todos os graus.”
140 b. Os
Espíritos errantes são felizes ou infelizes? [Questão
231.]
“Depende da perfeição em que se encontram.”
Nos intervalos que separam cada encarnação, a alma é um
Espírito errante que aspira a uma nova existência que deve cumprir.
Os Espíritos errantes não se encontram necessariamente num estado de
inferioridade absoluta. São mais ou menos elevados e, por conseguinte,
mais ou menos felizes, conforme o bem ou o mal que hajam feito.
141. Por
não ter podido praticar o mal, o Espírito de uma criança que morreu
em tenra idade pertence às categorias superiores? [Questão
198.]
“Não; se não fez o mal, também não fez o bem e Deus não o isenta das
provas que tenha de padecer.”
141 a. Em
que se transforma o Espírito de uma criança que morreu em tenra idade?
[Questão 199 a.]
“Entra em outro corpo e recomeça uma nova existência.”
141 b. Por
que a vida se interrompe com tanta frequência na infância? [Questão
199.]
“Pode ser, para o Espírito, o complemento de uma existência e, quase
sempre, uma expiação para os pais.”
Como todos os outros, o Espírito da criança não alcança
o estado de pureza absoluta senão depois de o ter merecido por seus
atos, e Deus não o desobriga das provas por que tenha de passar.
A alma da criança que morre ao nascer, ou antes de ter plena consciência e
liberdade de seus atos, não mereceu penas nem recompensas; cumprirá
sua missão em outra existência.
Muitas vezes, a duração da vida da criança é, para o Espírito nela encarnado,
o complemento de uma existência interrompida antes do termo requerido,
e sua morte uma prova ou uma expiação para os pais.
142. O
arrependimento se dá no estado corpóreo ou no estado espiritual? [Questão
990.]
“No estado espiritual; mas, também pode ocorrer no estado corpóreo,
quando bem compreendeis a diferença entre o bem e o mal.”
142 a. Qual
a consequência do arrependimento no estado espiritual? [Questão
991.]
“O desejo de uma nova encarnação para se purificar.”
142 b. O
arrependimento sempre acontece no estado corpóreo?
“Muito mais do que se crê, embora, frequentemente, tarde demais.”
142 c. Qual
a consequência do arrependimento no estado corpóreo? [Questão
992.]
“Avançar, já na vida presente, se ainda houver tempo para o homem
reparar suas faltas.”
Para o homem que compreende a diferença existente entre
o bem e o mal, o arrependimento começa no estado corpóreo, pois a consciência
lhe censura os erros e ele pode melhorar-se. O arrependimento dá-se
sempre no estado espiritual, quando, então, já é tarde demais para emendar-se;
todo pesar é supérfluo, visto que o Espírito não pode mais abrandar
sua sorte, a não ser depurando-se mediante nova encarnação. Depois da
morte, compreende as faltas que o privam da felicidade de que gozam
os Espíritos superiores e aspira a uma nova existência, em que possa
expiá-las; esta, porém, não lhe é concedida ao seu bel-prazer; deve
esperar que o tempo se consuma.
143. O
homem perverso que não reconheceu suas faltas durante a vida sempre
as reconhece depois da morte? [Questão
994.]
“Sim; sempre as reconhece, e então sofre mais, porque vê e sente
em si todo o mal que praticou.”
O homem perverso que não haja reconhecido suas faltas durante
a vida sempre as reconhecerá quando se tornar Espírito; sofrerá, então,
muito mais, pois compreenderá quanto foi culpado e padecerá de todos
os malefícios que fez aos outros ou de que foi causa voluntária.
144. A
expiação se realiza no estado corpóreo ou no estado espiritual? [Questão
998.]
“Já dissemos que o Espírito é tudo, o corpo nada é. O Espírito a experimenta;
o corpo é o instrumento.”
A expiação se cumpre durante a existência corpórea por meio
de provas a que o Espírito se acha submetido. O Espírito as sofre, o
corpo é o instrumento. O castigo consiste nos sofrimentos morais inerentes
à sua inferioridade na vida espiritual.
145. O
Espírito pode escolher o corpo em que deve encarnar? [Questão
335.]
“Não; pode escolher somente o gênero de provas que deve sofrer, e é
nisso que consiste seu livre-arbítrio.” 100
145 a. Assim,
todas as tribulações que experimentamos na vida teriam sido previstas
e escolhidas por nós mesmos? 101
[Questão 259.]
“Sim.”
145 b. O
que guia o Espírito na escolha das provas que queira sofrer? [Questão
264.]
“Ele escolhe, de acordo com a natureza de suas faltas, as provas que
o levem a expiá-las e o façam progredir mais depressa.”
145 c. O
Espírito poderá fazer a escolha de suas provas durante a vida corpórea?
[Questão 267.]
“Seu desejo pode influir, dependendo da intenção. Como Espírito livre,
porém, quase sempre vê as coisas de modo bem diferente do que quando
se acha encarnado. É o Espírito quem faz a escolha; mas, ainda uma vez,
ele pode fazê-la mesmo na vida material, pois há sempre momentos em
que o Espírito se torna independente da matéria em que habita.”
Não cabe ao Espírito a escolha do corpo em que deve encarnar,
mas a do género de provas que queira sofrer, e é nisso que consiste
seu livre-arbítrio. Assim, pois, uns podem impor-se uma vida de misérias
e privações a fim de tentar suportá-la com coragem; outros querem experimentar-se
pelas tentações da fortuna e do poder, bem mais perigosos pelo abuso
e má utilização que se podem fazer deles, afora as más paixões que desenvolvem.
Sob a influência das ideias carnais, o homem, na Terra, só vê nas provas
o lado penoso. É por isso que lhe parece natural escolher as que, de
seu ponto de vista, podem coexistir com os prazeres materiais. Na vida
espiritual, todavia, ele pensa de outro modo; compara esses gozos fugazes
e grosseiros com a inalterável felicidade que entrevê e, desde então,
que lhe importam alguns sofrimentos passageiros? (Nota
5.) [Questão 266.]
146. No
intervalo das existências corpóreas, o Espírito tem conhecimento de
todas as suas vidas anteriores? [Questão
308.]
“Sim; lembra-se de todas as suas existências, embora não se lembre,
de modo absoluto, de todos os atos que praticou. É frequente evocares
um Espírito errante que acaba de deixar a Terra e que não se lembra
dos nomes das pessoas a quem amava, nem de detalhes que, para ti, parecem
importantes; isso pouco lhe importa e cai no esquecimento. O de que
ele se lembra muito bem são os fatos principais que o ajudam a melhorar-se.”
Em sua sabedoria, a Providência julgou por bem ocultar ao
homem o mistério de suas existências anteriores. Ao encarnar, o Espírito
perde a lembrança delas, mas, ao entrar novamente na vida espiritual,
suas diversas existências lhe vêm à memória, assim como todos os atos
que praticou. Todavia, há detalhes pouco importantes que ele não valoriza
e que caem no esquecimento. Lembra-se principalmente das faltas e dos
fatos que podem influenciar no seu melhoramento.
147. Como
podemos melhorar, se não conhecemos os erros cometidos nas existências
anteriores? [Questão 393.]
“A cada nova existência adquires mais inteligência e podes distinguir
melhor o bem e o mal. Onde estaria o mérito se te lembrasses de todo
o passado?”
A perda da lembrança de nossas existências anteriores durante
a encarnação, bem como dos erros que tenhamos cometido, não constitui
obstáculo à nossa melhoria, porque em cada existência nova a inteligência
do homem se torna mais desenvolvida e ele compreende melhor o bem e
o mal. 102
148. Podemos
ter algumas revelações sobre nossas existências anteriores? [Questão
395.]
“Nem sempre. Contudo, muitas pessoas sabem o que foram e o que faziam.
Se lhes fosse permitido dizê-lo abertamente, fariam extraordinárias
revelações sobre o passado.”
148 a. Algumas
pessoas julgam ter vaga lembrança de um passado desconhecido. Essa ideia
é apenas uma ilusão? [Questão 396.]
“Algumas vezes é real; frequentemente, porém, é uma ilusão contra a
qual deve o homem precaver-se.”
148 b. Nas
existências corpóreas de natureza mais elevada que a nossa, a lembrança
das existências anteriores é mais precisa? [Questão
397.]
“Sim; à medida que o corpo se torna menos material, o homem recorda
melhor.”
Nem sempre o mistério de nossas existências anteriores é
absolutamente impenetrável; poderá ser permitido a certas pessoas tomarem
conhecimento do que foram e do que fizeram no passado, embora nem sempre
lhes seja permitido revelar isso. Há os que guardam vaga lembrança do
passado, mais ou menos como a imagem fugaz de um sonho que em vão se
procura captar. Essa lembrança se torna cada vez mais clara, à medida
que o homem se eleva na escala dos seres que habitam os mundos de ordem
superior.
Salvo o caso de uma revelação direta, a lembrança que julgamos
ter de nosso passado não deve ser aceita senão com grande reserva, já
que pode ser efeito de ilusão ou de imaginação superexcitada.
149. Em
suas novas existências pode o homem descer mais baixo do que já esteja
na atual? [Questão 193.]
“Em termos de posição social, sim; como Espírito, não.”
149 a. O
homem pode recuar no caminho do progresso?
“Não; mas somente deixar de progredir.”
149 b. Temos
vista, no entanto, alguns povos recaírem na barbárie. [Questão
786.]
“É um tempo de parada; um passo atrás, a fim de avançarem mais tarde.
Devemos ver a Humanidade em seu conjunto e não em alguns detalhes.”
A marcha dos Espíritos é progressiva e jamais retrógrada.
Elevam-se gradualmente na hierarquia e não descem da categoria a que
chegaram.
Em suas diferentes existências corpóreas eles podem descer em posição
social, mas não como Espíritos.
Assim, a alma de um poderoso da Terra pode mais tarde animar o mais
humilde operário e vice-versa, porque, entre os homens, as posições
sociais guardam, frequentemente, relação inversa com a elevação dos
sentimentos morais.
Herodes era rei; e Jesus, carpinteiro. [Questão
194 a.]
150. É
possível, em nova encarnação, que a alma de um homem de bem anime o
corpo de um celerado? [Questão 194.]
“Não, visto que não pode degenerar.”
150 a. A
alma de um homem perverso pode transformar-se na de um homem de bem?
[Questão 194 a.]
“Sim, se se arrependeu. Isso, então, é uma recompensa.”
Não podendo o Espírito decair de sua classe, mas progredindo
sempre, resulta que a alma de um homem de bem não pode, numa existência
nova, animar o corpo de um celerado; mas a alma de um perverso pode
tornar-se a de um homem de bem, se compreendeu suas faltas, o que será
para ela uma recompensa.
151. O
homem conserva, em suas novas existências, os traços do caráter moral
de suas vidas anteriores? [Questão
216.]
“Sim, isso pode acontecer. Mas, melhorando-se, ele muda. Sua posição
social pode, também, não ser a mesma. Se de soberano passa a trapeiro,
seus gostos serão muito diferentes e teríeis dificuldade em reconhecê-lo.”
Sendo o Espírito o mesmo em suas diversas encarnações, suas
manifestações podem guardar certas analogias de uma para outra. O homem
pode, pois, conservar os traços do caráter moral de suas existências
anteriores; mas os gostos, os hábitos e as tendências mudam, quer em
posição social, que pode ser muito diferente, quer pelo melhoramento
do Espírito que, de orgulhoso e malvado, pode tornar-se humilde e humano,
se se arrependeu.
152. Nas
suas diferentes encarnações, o homem conserva os traços do caráter físico
das existências anteriores? [Questão
217.]
“Não; o corpo é destruído e o novo não tem nenhuma relação com o antigo.
Entretanto, o Espírito se reflete no corpo. Certamente o corpo é apenas
matéria, mas, apesar disso, é modelado pelas capacidades do Espírito,
que lhe imprime certo caráter, principalmente ao rosto, o que significa
dizer que o rosto, mais particularmente, reflete a alma. É por isso
que uma pessoa excessivamente feia, quando nela encarnou um Espírito
bom, criterioso e humanitário, tem qualquer coisa que agrada, ao passo
que há rostos belíssimos, que nenhuma impressão te causam, podendo até
mesmo inspirar-te repulsa. Poderias supor que somente corpos bem moldados
servem de envoltório a Espíritos mais perfeitos, quando encontras todos
os dias homens de bem sob um exterior disforme.”
Os caracteres físicos do homem são atributos do corpo, e
sendo o corpo destruído pela decomposição, aquele que reveste a alma
numa nova encarnação não guarda nenhuma relação essencial com
o que deixou; seria, pois, absurdo deduzir-se uma sucessão de existências
tomando por base apenas uma semelhança eventual.
Todavia, ainda que o corpo e o Espírito sejam de natureza diferente
e não se liguem entre si senão por laços indiretos e frágeis, o corpo
é, de certo modo, modelado pelo Espírito. O rosto é o reflexo deste,
e não é sem razão que se apontam os olhos como o espelho da alma. Assim,
mesmo sem haver pronunciada parecença, a fisionomia, por refletir o
caráter do Espírito, pode dar lugar ao que se chama “um ar de família';
e sob o envoltório mais humilde se pode encontrar a expressão da grandeza
e da dignidade, enquanto sob a indumentária do monarca se veem algumas
vezes a da baixeza e da ignomínia.
[94] N. T.: A expressão “dos Espíritos.” não faz parte do título original deste capítulo. Consta, porém, no Sumário da 1ª edição francesa, razão por que a inserimos nesta tradução.
[95]
N. T.: Os Espíritos da Codificação, tendo à frente o Espírito de Verdade,
houveram por bem modificar este conceito, conforme se pode verificar
no trecho final da resposta à questão
540, da edição definitiva, a saber: “[...] É assim que tudo serve,
tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo,
que também começou pelo átomo [...].”, tese que predominou nos demais
livros da Codificação e, posteriormente, na obra dos continuadores de
Kardec, a partir de Delanne e Léon Denis. Vejam-se, também, os quatro
últimos parágrafos dos comentários de Allan Kardec à questão
nº 613, da edição definitiva de O Livro dos Espíritos, parágrafos
que só foram acrescentados por ele a partir da 4ª edição da obra, publicada
em 1861, e que revelam o extremado devotamento, o prudente cuidado,
o zelo a toda prova e a elegância sem par do Codificador ao abordar
um tema delicado que, por ora, segundo palavras suas, ainda faz parte
dos segredos de Deus.
[96]
N. T.: Inquiridos se os Espíritos têm sexo, os Imortais assim responderam
a Kardec: “Não como o entendeis, porque os sexos dependem do organismo.
Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos”.
(Questão 200, da 2ª edição francesa
de O Livro dos Espíritos)
[97] N. E.: Ver “Nota explictiva”, p. 551.
[98]
N. T.: Ver resposta à questão 186,
da edição definitiva de 1860, que liquida o assunto.
[99]
N. T.: Sempre inacessível ao tato não é bem o termo. O Espírito pode
manifestar-se ao mesmo tempo pela vista e pelo tato, como o demonstram
claramente os livros Fatos Espíritas, de William Crookes, e O
Trabalho dos Mortos, de Nogueira de Faria, ambos editados pela FEB
(ver também, a questão 202 a,
desta tradução, p. 188).
[100] N.
T.: O Espírito também pode, em certos casos, escolher o corpo. Ver resposta
à questão 335, da edição definitiva
de O Livro dos Espíritos.
[101] N.
T.: “todas.” não é bem o termo. Ver resposta à questão
259, da edição definitiva de O Livro dos Espíritos.
[102] N.
T.: Ver também O Evangelho Segundo o
Espiritismo, capítulo V, item 11.