1. Da reencarnação. (166-170.)
— 2. Justiça
da reencarnação. (171.) — 3. Encarnação
nos diferentes mundos. (172-188.) — 4. Transmigração
progressiva. (189-196.) — 5. Sorte
das crianças depois da morte. (197-199.) — 6. Sexos
nos Espíritos. (200-202.) — 7. Parentesco,
filiação. (203-206.) — 8. Parecenças
físicas e morais. (207-217.) — 9. Ideias
inatas. (218-221.) |
166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?
“Sofrendo a prova de uma nova existência.”
a — Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como Espírito?
“Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.”
b — A alma passa então por muitas existências corporais?
1 “Sim, todos contamos muitas existências. 2 Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse o desejo deles.”
c — Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado um corpo, toma outro, ou, então, que reencarna em novo corpo. É assim que se deve entender?
“Evidentemente.”
167. Qual o fim objetivado com a reencarnação?
“Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”
168. É limitado o número das existências corporais, ou o Espírito reencarna perpetuamente?
1 “A cada nova existência, o Espírito dá um passo para diante na senda do progresso. 2 Desde que se ache limpo de todas as impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal.”
169. É invariável o número das encarnações para todos os Espíritos?
1 “Não; aquele que caminha depressa, a muitas provas se forra. 2 Todavia, as encarnações sucessivas são sempre muito numerosas, porquanto o progresso é quase infinito.”
170. O que fica sendo o Espírito depois da sua última encarnação?
“Espírito bem-aventurado; puro Espírito.”
171. Em que se funda o dogma da reencarnação?
1 “Na justiça de Deus e na revelação, 2 pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se? Não são filhos de Deus todos os homens? 3 Só entre os egoístas se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão.”
4 Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.
5 Não obraria Deus com equidade, nem de acordo com a sua bondade, se condenasse para sempre os que talvez hajam encontrado, oriundos do próprio meio onde foram colocados e alheios à vontade que os animava, obstáculos ao seu melhoramento. 6 Se a sorte do homem se fixasse irrevogavelmente depois da morte, não seria uma única a balança em que Deus pesa as ações de todas as criaturas e não haveria imparcialidade no tratamento que a todas dispensa.
7 A doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia que formamos da justiça de Deus para com os homens que se acham em condição moral inferior; a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações. A razão no-la indica e os Espíritos a ensinam.
8 O homem, que tem consciência da sua inferioridade, haure consoladora esperança na doutrina da reencarnação. Se crê na justiça de Deus, não pode contar que venha a achar-se, para sempre, em pé de igualdade com os que mais fizeram do que ele. Sustém-no, porém, e lhe reanima a coragem a ideia de que aquela inferioridade não o deserda eternamente do supremo bem e que, mediante novos esforços, dado lhe será conquistá-lo. Quem é que, ao cabo da sua carreira, não deplora haver tão tarde ganho uma experiência de que já não mais pode tirar proveito? Entretanto, essa experiência tardia não fica perdida; o Espírito a utiliza em nova existência.
172. As nossas diversas existências corporais se verificam todas na Terra?
1 “Não; vivemo-las em diferentes mundos. 2 As que aqui passamos não são as primeiras, nem as últimas; são, porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição.”
173. A cada nova existência corporal a alma passa de um mundo para outro, ou pode ter muitas no mesmo globo?
“Pode viver muitas vezes no mesmo globo, se não se adiantou bastante para passar a um mundo superior.”
a — Podemos então reaparecer muitas vezes na Terra?
“Certamente.”
b — Podemos voltar a este, depois de termos vivido em outros mundos?
“Sem dúvida. É possível que já tenhais vivido algures e na Terra.”
174. Tornar a viver na Terra constitui uma necessidade?
“Não; mas, se não progredistes, podereis ir para outro mundo que não valha mais do que a Terra e que talvez até seja pior do que ela.”
175. Haverá alguma vantagem em voltar-se a habitar a Terra?
“Nenhuma vantagem particular, a menos que seja em missão, caso em que se progride aí como em qualquer outro planeta.”
a — Não se seria mais feliz permanecendo na condição de Espírito?
“Não, não; estacionar-se-ia e o que se quer é caminhar para Deus.”
176. Depois de haverem encarnado noutros mundos, podem os Espíritos encarnar neste, sem que jamais aí tenham estado?
1 “Sim, do mesmo modo que vós em outros. 2 Todos os mundos são solidários: o que não se faz num faz-se noutro.”
a — Assim, homens há que estão na Terra pela primeira vez?
“Muitos, e em graus diversos de adiantamento.”
b — Pode-se reconhecer, por um indício qualquer, que um Espírito está pela primeira vez na Terra?
“Nenhuma utilidade teria isso.”
177. Para chegar à perfeição e à suprema felicidade, destino final de todos os homens, tem o Espírito que passar pela fieira de todos os mundos existentes no Universo?
“Não, porquanto muitos são os mundos correspondentes a cada grau da respectiva escala e o Espírito, saindo de um deles, nenhuma coisa nova aprenderia nos outros do mesmo grau.”
a — Como se explica então a pluralidade de suas existências em um mesmo globo?
“De cada vez poderá ocupar posição diferente das anteriores e nessas diversas posições se lhe deparam outras tantas ocasiões de adquirir experiência.”
178. Podem os Espíritos encarnar em um mundo relativamente inferior a outro onde já viveram?
“Sim, quando em missão, com o objetivo de auxiliarem o progresso, caso em que aceitam alegres as tribulações de tal existência, por lhes proporcionar meio de se adiantarem.”
a — Mas, não pode dar-se também por expiação? Não pode Deus degredar para mundos inferiores Espíritos rebeldes?
1 “Os Espíritos podem conservar-se estacionários, mas não retrogradam. 2 Em caso de estacionamento, a punição deles consiste em não avançarem, em recomeçarem, no meio conveniente à sua natureza, as existências mal empregadas.”
b — Quais os que têm de recomeçar a mesma existência?
“Os que faliram em suas missões ou em suas provas.”
179. Os seres que habitam cada mundo hão todos alcançado o mesmo nível de perfeição?
“Não; dá-se em cada um o que ocorre na Terra: uns Espíritos são mais adiantados do que outros.”
180. Passando deste planeta para outro, conserva o Espírito a inteligência que aqui tinha?
1
“Sem dúvida; a inteligência não se perde. 2
Pode, porém, acontecer que ele não disponha dos mesmos meios para manifestá-la,
dependendo isto da sua superioridade e das condições do corpo que tomar.”
(Ver: Influência
do organismo.)
181. Os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos?
1 “É fora de dúvida que têm corpos, porque o Espírito precisa estar revestido de matéria para atuar sobre a matéria. 2 Esse envoltório, porém, é mais ou menos material, conforme o grau de pureza a que chegaram os Espíritos.
3 É isso o que assinala a diferença entre os mundos que temos de percorrer, porquanto muitas moradas há na casa de nosso Pai, sendo, conseguintemente, de muitos graus essa moradas. 4 Alguns o sabem e desse fato têm consciência na Terra; com outros no entanto, o mesmo não se dá.”
182. É-nos possível conhecer exatamente o estado físico e moral dos diferentes mundos?
1 “Nós, Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos achais. 2 Quer dizer que não devemos revelar estas coisas a todos, porque nem todos estão em estado de compreendê-las e semelhante revelação os perturbaria.”
3 À medida que o Espírito se purifica, o corpo que o reveste se aproxima igualmente da natureza espírita. Torna-se-lhe menos densa a matéria, deixa de rastejar penosamente pela superfície do solo, menos grosseiras se lhe fazem as necessidades físicas, não mais sendo preciso que os seres vivos se destruam mutuamente para se nutrirem. 4 O Espírito se acha mais livre e tem, das coisas longínquas, percepções que desconhecemos. Vê com os olhos do corpo o que só pelo pensamento entrevemos.
5 Da purificação do Espírito decorre o aperfeiçoamento moral, para os seres que eles constituem, quando encarnados. As paixões animais se enfraquecem e o egoísmo cede lugar ao sentimento da fraternidade. 6 Assim é que, nos mundos superiores ao nosso, se desconhecem as guerras, carecendo de objeto os ódios e as discórdias, porque ninguém pensa em causar dano ao seu semelhante. 7 A intuição que seus habitantes têm do futuro, a segurança que uma consciência isenta de remorsos lhes dá, fazem que a morte nenhuma apreensão lhes cause. Encaram-na de frente, sem temor, como simples transformação.
8 A duração da vida, nos diferentes mundos, parece guardar proporção com o grau de superioridade física e moral de cada um, o que é perfeitamente racional. Quanto menos material o corpo, menos sujeito às vicissitudes que o desorganizam. Quanto mais puro o Espírito, menos paixões a miná-lo. É essa ainda uma graça da Providência, que desse modo abrevia os sofrimentos.
183. Indo de um mundo para outro, o Espírito passa por nova infância?
“Em toda parte a infância é uma transição necessária, mas não é, em toda parte, tão obtusa como no vosso mundo.”
184. Tem o Espírito a faculdade de escolher o mundo onde passe a habitar?
“Nem sempre. Pode pedir que lhe seja permitido ir para este ou aquele e pode obtê-lo, se o merecer, porquanto a acessibilidade dos mundos, para os Espíritos depende do grau da elevação destes.”
a — Se o Espírito nada pedir, que é o que determina o mundo em que ele reencarnará?
“O grau da sua elevação.”
185. O estado físico e moral dos seres vivos é perpetuamente o mesmo em cada mundo?
1 “Não; os mundos também estão sujeitos à lei do progresso. 2 Todos começaram, como o vosso, por um estado inferior e a própria Terra sofrerá idêntica transformação. Tornar-se-á um paraíso, quando os homens se houverem tornado bons.”
3 É assim que as raças, que hoje povoam a Terra, desaparecerão um dia, substituídas por seres cada vez mais perfeitos, pois que essas novas raças transformadas sucederão às atuais, como estas sucederam outras ainda mais grosseiras.
186. Haverá mundos onde o Espírito, deixando de revestir corpos materiais, só tenha por envoltório o perispírito?
“Há e mesmo esse envoltório se torna tão etéreo que para vós é como se não existisse. Esse o estado dos Espíritos puros.”
a — Parece resultar daí que, entre o estado correspondente às últimas encarnações e o de Espírito puro, não há linha divisória perfeitamente demarcada; não?
“Semelhante demarcação não existe. A diferença entre um e outro estado se vai apagando pouco a pouco e acaba por ser imperceptível, tal qual se dá com a noite às primeiras claridades do alvorecer.”
187. A substância do perispírito é a mesma em todos os mundos?
1 “Não; é mais ou menos etérea. 2 Passando de um mundo a outro, o Espírito se reveste da matéria própria desse outro, operando-se, porém, essa mudança com a rapidez do relâmpago.”
188. Os Espíritos puros habitam mundos especiais, ou se acham no espaço universal, sem estarem mais ligados a um mundo do que a outros?
“Habitam certos mundos, mas não lhes ficam presos, como os homens à Terra; podem, melhor do que os outros, estar em toda parte.” n
189. Desde o início de sua formação, goza o Espírito da plenitude de suas faculdades?
1 “Não, pois que para o Espírito, como para o homem, também há infância. 2 Em sua origem, a vida do Espírito é apenas instintiva. Ele mal tem consciência de si mesmo e de seus atos. A inteligência só pouco a pouco se desenvolve.”
190. Qual o estado da alma na sua primeira encarnação?
“O da infância na vida corporal. A inteligência então apenas desabrocha: a alma se ensaia para a vida.”
191. As dos nossos selvagens são almas no estado de infância?
“De infância relativa, pois já são almas desenvolvidas, visto que já nutrem paixões.”
a — Então, as paixões são um sinal de desenvolvimento?
1 “De desenvolvimento, sim; de perfeição, porém, não. 2 São sinal de atividade e de consciência do eu, porquanto, na alma primitiva, a inteligência e a vida se acham no estado de gérmen.”
3 A vida do Espírito, em seu conjunto, apresenta as mesmas fases que observamos na vida corporal. Ele passa gradualmente do estado de embrião ao de infância, para chegar, percorrendo sucessivos períodos, ao de adulto, que é o da perfeição, com a diferença de que para o Espírito não há declínio, nem decrepitude, como na vida corporal; 4 que a sua vida, que teve começo, não terá fim; 5 que imenso tempo lhe é necessário, do nosso ponto de vista, para passar da infância espírita ao completo desenvolvimento; 6 e que o seu progresso se realiza, não num único mundo, mas vivendo ele em mundos diversos. 7 A vida do Espírito, pois, se compõe de uma série de existências corpóreas, cada uma das quais representa para ele uma ocasião de progredir, do mesmo modo que cada existência corporal se compõe de uma série de dias, em que cada um dos quais o homem obtém um acréscimo de experiência e de instrução. Mas, assim como, na vida do homem, há dias que nenhum fruto produzem, na do Espírito há existências corporais de que ele nenhum resultado colhe, porque não as soube aproveitar.
192. Pode alguém, por um proceder impecável na vida atual, transpor todos os graus da escala do aperfeiçoamento e tornar-se Espírito puro, sem passar por outros graus intermédios?
1 “Não, pois o que o homem julga perfeito longe está da perfeição. Há qualidades que lhe são desconhecidas e incompreensíveis. 2 Poderá ser tão perfeito quanto o comporte a sua natureza terrena, mas isso não é a perfeição absoluta. 3 Dá-se com o Espírito o que se verifica com a criança que, por mais precoce que seja, tem de passar pela juventude, antes de chegar à idade da madureza; e também com o enfermo que, para recobrar a saúde, tem que passar pela convalescença. 4 Demais, ao Espírito cumpre progredir em ciência e em moral. Se somente se adiantou num sentido, importa se adiante no outro, para atingir o extremo superior da escala. 5 Contudo, quanto mais o homem se adiantar na sua vida atual, tanto menos longas e penosas lhe serão as provas que se seguirem.”
a — Pode ao menos o homem, na vida presente, preparar com segurança, para si, uma existência futura menos prenhe de amarguras?
“Sem dúvida. Pode reduzir a extensão e as dificuldades do caminho. Só o descuidado permanece sempre no mesmo ponto.”
193. Pode um homem, nas suas novas existências, descer mais baixo do que esteja na atual?
“Com relação à posição social, sim; como Espírito, não.”
194. É possível que, em nova encarnação, a alma de um homem de bem anime o corpo de um celerado?
“Não, visto que não pode degenerar.”
a — A alma de um homem perverso pode tornar-se a de um homem de bem?
1 “Sim, se ele arrependeu-se. Isso constitui então uma recompensa.”
2 A marcha dos Espíritos é progressiva, jamais retrograda. Eles se elevam gradualmente na hierarquia e não descem da categoria a que ascenderam. 3 Em suas diferentes existências corporais, podem descer como homens, não como Espíritos. Assim, a alma de um potentado da Terra pode mais tarde animar o mais humilde obreiro e vice-versa, por isso que, entre os homens, as categorias estão, frequentemente, na razão inversa da elevação das qualidades morais. Herodes era rei e Jesus, carpinteiro.
195. A possibilidade de se melhorarem noutra existência não será de molde a fazer que certas pessoas perseverem no mau caminho, dominadas pela ideia de que poderão corrigir-se mais tarde?
1 “Aquele que assim pensa em nada crê e a ideia de um castigo eterno não o refrearia mais do que qualquer outra, porque sua razão a repele, e semelhante ideia induz à incredulidade a respeito de tudo. Se unicamente meios racionais se tivessem empregado para guiar os homens, não haveria tantos cépticos. 2 De fato, um Espírito imperfeito poderá, durante a vida corporal, pensar como dizes; mas, liberto que se veja da matéria, pensará de outro modo, pois logo verificará que fez cálculo errado e, então, sentimento oposto a esse trará ele para a sua nova existência. 3 É assim que se efetua o progresso e essa a razão por que, na Terra, os homens são desigualmente adiantados. Uns já dispõem de experiência que a outros falta, mas que adquirirão pouco a pouco. Deles depende o acelerar-se-lhes o progresso ou retardar-se indefinidamente.”
4 O homem, que ocupa uma posição má, deseja trocá-la o mais depressa possível. Aquele, que se acha persuadido de que as tribulações da vida terrena são consequência de suas imperfeições, procurará garantir para si uma nova existência menos penosa e esta ideia o desviará mais depressa da senda do mal do que do fogo eterno, em que não acredita.
196. Não podendo os Espíritos aperfeiçoar-se, a não ser por meio das tribulações da existência corpórea, segue-se que a vida material seja uma espécie de crisol ou de depurador, por onde têm que passar todos os seres do mundo espírita para alcançarem a perfeição?
“Sim, é exatamente isso. Eles se melhoram nessas provas, evitando o mal e praticando o bem; porém, somente ao cabo de mais ou menos longo tempo, conforme os esforços que empreguem; somente após muitas encarnações ou depurações sucessivas, atingem a finalidade para que tendem.”
a — É o corpo que influi sobre o Espírito para que este se melhore, ou o Espírito que influi sobre o corpo?
1 “Teu Espírito é tudo; teu corpo é simples veste que apodrece: eis tudo.”
2 O suco da vide nos oferece um símile material dos diferentes graus da depuração da alma. Ele contém o licor que se chama espírito ou álcool, mas enfraquecido por uma imensidade de matérias estranhas, que lhe alteram a essência. Esta só chega à pureza absoluta depois de múltiplas destilações, em cada uma das quais se despoja de algumas impurezas. O corpo é o alambique em que a alma tem que entrar para se purificar. Às matérias estranhas se assemelha o perispírito, que também se depura, à medida que o Espírito se aproxima da perfeição.
197. Poderá ser tão adiantado quanto o de um adulto o Espírito de uma criança que morreu em tenra idade?
“Algumas vezes o é muito mais, porquanto pode dar-se que muito mais já tenha vivido e adquirido maior soma de experiência, sobretudo se progrediu.”
a — Pode então o Espírito de uma criança ser mais adiantado que o de seu pai?
“Isso é muito frequente. Não o vedes vós mesmos tão amiudadas vezes na Terra?”
198. Não tendo podido praticar o mal, o Espírito de uma criança que morreu em tenra idade pertence a algumas das categorias superiores?
1 “Se não fez o mal, igualmente não fez o bem e Deus não o isenta das provas que tenha de padecer. 2 Se for um Espírito puro, não o é pelo fato de ter animado apenas um criança, mas porque já progredira até à pureza.”
199. Porque tão frequentemente a vida se interrompe na infância?
1 “A curta duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que a animava, o complemento de existência precedente interrompida antes do momento em que devera terminar, 2 e sua morte, também não raro, constitui provação ou expiação para os pais.”
a — Que sucede ao Espírito de uma criança que morre pequenina?
1 “Recomeça outra existência.”
2 Se uma única existência tivesse o homem e se, extinguindo-se-lhe ela, sua sorte ficasse decidida para a eternidade, qual seria o mérito de metade do gênero humano, da que morre na infância, para gozar, sem esforços, da felicidade eterna e com que direito se acharia isenta das condições, às vezes tão duras, a que se vê submetida a outra metade? Semelhante ordem de coisas não corresponderia à justiça de Deus. 3 Com a reencarnação, a igualdade é real para todos. O futuro a todos toca sem exceção e sem favor para quem quer que seja. Os retardatários só de si mesmos se podem queixar. 4 Forçoso é que o homem tenha o merecimento de seus atos, como tem deles a responsabilidade.
5 Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Não se veem crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a educação? Algumas não há que parecem trazer do berço a astúcia, a felonia, a perfídia, até pendor para o roubo e para o assassínio, não obstante os bons exemplos que de todos os lados se lhes dão? 6 A lei civil as absolve de seus crimes, porque, de fato, elas obram mais por instinto do que intencionalmente. Donde, porém, provirão instintos tão diversos em crianças da mesma idade, educadas em condições idênticas e sujeitas às mesmas influências? Donde a precoce perversidade, senão da inferioridade do Espírito, uma vez que a educação em nada contribuiu para isso? As que se revelam viciosas, é porque seus Espíritos muito pouco hão progredido. Sofrem então, por efeito dessa falta de progresso, as consequências, não dos atos que praticam na infância, mas dos de suas existências anteriores. Assim é que a lei é uma só para todos e que todos são atingidos pela justiça de Deus.
200. Têm sexos os Espíritos?
1 “Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. 2 Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos.”
201. Em nova existência, pode o Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa?
“Decerto; são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres.”
202. Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher?
1 “Isso pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passar.”
2 Os Espíritos encarnam como homens ou como mulheres, porque não têm sexo. Visto que lhes cumpre progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, lhes proporciona provações e deveres especiais e, com isso, ensejo de ganharem experiência. Aquele que só como homem encarnasse só saberia o que sabem os homens.
203. Transmitem os pais aos filhos uma parcela de suas almas, ou se limitam a lhes dar a vida animal que, mais tarde, outra alma vem adicionar a vida moral?
1 “Dão-lhes apenas a vida animal, pois que a alma é indivisível. 2 Um pai obtuso pode ter filhos inteligentes e vice-versa.”
204. Uma vez que temos tido muitas existências, a nossa parentela vai além da que a existência atual nos criou?
1 “Não pode ser de outra maneira. 2 A sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos ligações que remontam às vossas existências anteriores. 3 Daí, muitas vezes, a simpatia que vem a existir entre vós e certos Espíritos que vos parecem estranhos.”
205. A algumas pessoas a doutrina da reencarnação se afigura destruidora dos laços de família, com o faze-los anteriores à existência atual.
1 “Ela os distende; não os destrói. 2 Fundando-se o parentesco em afeições anteriores, menos precários são os laços existentes entre os membros de uma mesma família. 3 Essa doutrina amplia os deveres da fraternidade, porquanto, no vosso vizinho, ou no vosso servo, pode achar-se um Espírito a quem tenhais estado presos pelos laços da consanguinidade.”
a — Ela, no entanto, diminui a importância que alguns dão à genealogia, visto que qualquer pode ter tido por pai um Espírito que haja pertencido a outra raça, ou que haja vivido em condição muito diversa.
1 “É exato; mas essa importância assenta no orgulho. Os títulos, a categoria social, a riqueza, eis o que esses tais veneram nos seus antepassados. Um, que coraria de contar, como ascendente, honrado sapateiro, orgulhar-se-ia de descender de um gentil-homem devasso. 2 Digam, porém, o que disserem, ou façam o que fizerem, não obstarão a que as coisas sejam como são, que não foi consultando-lhes a vaidade que Deus formulou as leis da Natureza.”
206. Do fato de não haver filiação entre os Espíritos dos descendentes de qualquer família, seguir-se-á que o culto dos avoengos seja ridículo?
1 “De modo nenhum. Todo homem deve considerar-se ditoso por pertencer a uma família em que encarnaram Espíritos elevados. 2 Se bem os Espíritos não procedam uns dos outros, nem por isso menos afeição consagram aos que lhes estão ligados pelos elos da família, dado que muitas vezes eles são atraídos para tal ou qual família pela simpatia, ou pelos laços que anteriormente se estabeleceram. 3 Mas, ficai certos de que os vossos antepassados não se honram com o culto que lhes tributais por orgulho. Em vós não se refletem os méritos de que eles gozem, senão na medida dos esforços que empregais por seguir os bons exemplos que vos deram. Somente nestas condições lhes é grata e até mesmo útil a lembrança que deles guardais.”
207. Frequentemente, os pais transmitem aos filhos a parecença física. Transmitirão também alguma parecença moral?
1 “Não, que diferentes são as almas ou Espíritos de uns e outros. 2 O corpo deriva do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito. 3 Entre os descendentes das raças apenas há consanguinidade.”
a — Donde se originam as parecenças morais que costuma haver entre pais e filhos?
“É que uns e outros são Espíritos simpáticos, que reciprocamente se atraíram pela analogia dos pendores.”
208. Nenhuma influência exercem os Espíritos dos pais sobre o filho depois do nascimento deste?
“Ao contrário: bem grande influência exercem. Conforme já dissemos, os Espíritos têm que contribuir para o progresso uns dos outros. Pois bem, os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os de seus filhos pela educação. Constitui-lhes isso uma tarefa. Tornar-se-ão culpados, se vierem a falir no seu desempenho.”
209. Porque é que de pais bons e virtuosos nascem filhos de natureza perversa? Por outra: porque é que as boas qualidades dos pais nem sempre atraem, por simpatia, um bom Espírito para lhes animar o filho?
“Não é raro que um mau Espírito peça lhe sejam dados bons pais, na esperança de que seus conselhos o encaminhem por melhor senda e muitas vezes Deus lhe concede o que deseja.”
210. Pelos seus pensamentos e preces podem os pais atrair para o corpo, em formação, do filho um bom Espírito, de preferência a um inferior?
1 “Não, mas podem melhorar o Espírito do filho que lhes nasceu e está confiado. Esse o dever deles. 2 Os maus filhos são uma provação para os pais.”
211. Donde deriva a semelhança de caráter que muitas vezes existe entre dos irmãos, mormente se gêmeos?
“São Espíritos simpáticos que se aproximam por analogia de sentimentos e se sentem felizes por estar juntos.”
212. Há dois Espíritos, ou, por outra, duas almas, nas crianças cujos corpos nascem ligados, tendo comum alguns órgãos?
“Sim, mas a semelhança entre elas é tal que faz vos pareçam, em muitos casos, uma só.”
213. Pois que nos gêmeos os Espíritos encarnam por simpatia, donde provém a aversão que às vezes se nota entre eles?
“Não é de regra que sejam simpáticos os Espíritos dos gêmeos. Acontece também que Espíritos maus entendam de lutar juntos no palco da vida.”
214. Que se deve pensar dessas histórias de crianças que lutam no seio materno?
“Lendas! Para significarem quão inveterado era o ódio que reciprocamente se votavam, figuram-no a se fazer sentir antes do nascimento delas. Em geral, não levais muito em conta as imagens poéticas.”
215. Que é o que dá origem ao caráter distintivo que se nota em cada povo?
1 “Também os Espíritos se grupam em famílias, formando-as pela analogia de seus pendores mais ou menos puros, conforme a elevação que tenham alcançado. Pois bem! um povo é uma grande família formada pela reunião de Espíritos simpáticos. Na tendência que apresentam os membros dessas famílias, para se unirem, é que está a origem da semelhança que, existindo entre os indivíduos, constitui o caráter distintivo de cada povo. 2 Julgas que Espíritos bons e humanitários procurem, para nele encarnar, um povo rude e grosseiro? Não. Os Espíritos simpatizam com as coletividades, como simpatizam com os indivíduos. Naquelas em cujo seio se encontrem, eles se acham no meio que lhes é próprio.”
216. Em suas novas existências conservará o Espírito traços do caráter moral de suas existências anteriores?
1 “Isso pode dar-se. Mas, melhorando-se, ele muda. Pode também acontecer que sua posição social venha a ser outra. Se de senhor passa a escravo, inteiramente diversos serão os seus gostos e dificilmente o reconheceríeis. 2 Sendo o Espírito sempre o mesmo nas diversas encarnações, podem existir certas analogias entre as suas manifestações, se bem que modificadas pelos hábitos da posição que ocupe, até que um aperfeiçoamento notável lhe haja mudado completamente o caráter, porquanto, de orgulhoso e mau, pode tornar-se humilde e bondoso, se arrepender-se.”
217. E do caráter físico de suas existências pretéritas conserva o Espírito traços nas suas existências posteriores?
1 “O novo corpo que ele toma nenhuma relação tem com o que foi anteriormente destruído. Entretanto, o Espírito se reflete no corpo. Sem dúvida que este é unicamente matéria, porém, nada obstante, se modela pelas capacidades do Espírito, que lhe imprime certo cunho, sobretudo ao rosto, pelo que é verdadeiro dizer-se que os olhos são o espelho da alma, isto é, que o semblante do indivíduo lhe reflete de modo particular a alma. 2 Assim é que uma pessoa excessivamente feia, quando nela habita um Espírito bom, criterioso, humanitário, tem qualquer coisa que agrada, ao passo que há rostos belíssimos que nenhum impressão te causam, que até chegam a inspirar-te repulsão. Poderias supor que somente corpos bem moldados servem de envoltório aos mais perfeitos Espíritos, quando o certo é que todos os dias deparas com homens de bem, sob um exterior disforme. 3 Sem que haja pronunciada parecença, a semelhança dos gostos e das inclinações pode, portanto, dar lugar ao que se chama um ar de família.”
4 Nenhuma relação essencial guardando o corpo que a alma toma numa encarnação com o de que se revestiu em encarnação anterior, visto que aquele lhe pode vir de procedência muito diversa da deste, fora absurdo pretender-se que, numa série de existências, haja uma semelhança que é inteiramente fortuita. 5 Todavia, as qualidades do Espírito frequentemente modificam os órgãos que lhe servem para as manifestações e lhe imprimem ao semblante físico e até ao conjunto de suas maneiras um cunho especial. 6 É assim que, sob um envoltório corporal da mais humilde aparência, se pode deparar a expressão da grandeza e da dignidade, enquanto sob um envoltório de aspecto senhoril se percebe frequentemente a da baixeza e da ignomínia. Não é pouco frequente observar-se que certas pessoas, elevando-se da mais ínfima posição, toma sem esforços os hábitos e as maneiras da alta sociedade. Parece que elas aí vêm a achar-se de novo no seu elemento. Outras, contrariamente, apesar do nascimento e da educação, se mostram sempre deslocadas em tal meio. De que modo se há de explicar esse fato, senão como reflexo daquilo que o Espírito foi antes?
218. Encarnado, conserva o Espírito algum vestígio das percepções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas existências anteriores?
“Guarda vaga lembrança, que lhe dá o que se chama ideias inatas.”
a — Não é, então, quimérica a teoria das ideias inatas?
1 “Não; os conhecimentos adquiridos em cada existência não mais se perdem. 2 Liberto da matéria, o Espírito sempre os tem presentes. Durante a encarnação, esquece-os em parte, momentaneamente; porém, a intuição que deles conserva lhe auxilia o progresso. Se não fosse assim, teria que recomeçar constantemente. 3 Em cada nova existência, o ponto de partida, para o Espírito, é o em que, na existência precedente, ele ficou.”
b — Grande conexão deve então haver entre duas existências consecutivas?
“Nem sempre tão grande quanto talvez o suponhas dado que bem diferentes são, muitas vezes, as posições do Espírito nas duas e que, no intervalo de uma a outra, pode ele ter progredido (216).”
219. Qual a origem das faculdades extraordinárias dos indivíduos que, sem estudo, parecem ter a intuição de certos conhecimentos, o das línguas, do cálculo, etc.?
“Lembrança do passado; progresso anterior da alma, mas de que ela não tem consciência. Donde queres que venham tais conhecimentos? O corpo muda, o Espírito, porém, não muda, embora troque de roupagem.”
220. Pode o Espírito, mudando de corpo, perder algumas faculdades intelectuais, deixar de ter, por exemplo o gosto das artes?
1 “Sim, desde que conspurcou a sua inteligência ou a utilizou mal. 2 Depois, uma faculdade qualquer pode permanecer adormecida durante uma existência, por querer o Espírito exercitar outra, que nenhuma relação tem com aquela. Esta, então, fica em estado latente, para reaparecer mais tarde.”
221. Dever-se-ão atribuir a uma lembrança retrospectiva o sentimento instintivo que o homem, mesmo quando selvagem, possui da existência de Deus e o pressentimento da vida futura?
“É uma lembrança que ele conserva do que sabia como Espírito antes de encarnar. Mas, o orgulho amiudadamente abafa esse sentimento.”
a — Serão devidas a essa mesma lembrança certas crenças relativas à Doutrina Espírita, que se observam em todos os povos?
1 “Esta doutrina é tão antiga quanto o mundo; tal o motivo por que em toda parte a encontramos, o que constitui prova de que é verdadeira. 2 Conservando a intuição do seu estado de Espírito, o Espírito encarnado tem, instintivamente, consciência do mundo invisível, mas os preconceitos bastas vezes falseiam essa ideia e a ignorância lhe mistura a superstição.”
[1] Segundo
os Espíritos, de todos os mundos que compõem o nosso sistema planetário,
a Terra é dos de habitantes menos adiantados, física e moralmente.
Marte
lhe estaria ainda abaixo, sendo-lhe Júpiter superior de muito, a todos
os respeitos. [Referência à comunicação do Espírito
Georges, registrada pelo Codificador na Revista
Espírita de 1860; todavia, compreendendo, sobretudo, as diferenças
vibratórias entre as esferas de vida dos respectivos orbes que compõem
nosso sistema e confrontando a afirmativa acima com outras descrições
mais recentes do planeta Marte através dos Espíritos de Maria João de
Deus em Cartas
de uma morta e Humberto de Campos em Novas
Mensagens as afirmativas do Espírito Georges não devem merecer crédito.
Para saber sobre as condições espirituais de Georges leia: Observações
Preliminares. Vide também: Júpiter
e outros mundos; Descrição
de Júpiter por Bernard Palissy.] O sol não seria mundo habitado
por seres corpóreos, mas simplesmente um lugar de reunião dos Espíritos
superiores, os quais de lá irradiam seus pensamentos para os outros
mundos, que eles dirigem por intermédio de Espíritos menos elevados,
transmitindo-os a estes por meio do fluido universal. Considerado do
ponto de vista da sua constituição física, o sol seria foco de eletricidade.
Todos os sóis como que estariam em situação análoga.
O volume de cada um e a distância a que esteja do Sol nenhuma
relação necessária guardam com o grau do seu adiantamento, pois que,
do contrário, Vênus deveria ser tida por mais adiantada do que Terra
e Saturno menos do que Júpiter. [Sobre Saturno,
vide: Cartas de uma
morta.]
Muitos Espíritos, que na Terra animaram personalidades conhecidas, disseram estar reencarnados em Júpiter, um dos mundos mais próximos da perfeição, e há causado espanto que, nesse globo tão adiantado, estivessem homens a quem a opinião geral aqui não atribuía tanta elevação. Nisso nada há de surpreendente, desde que se atenda a que, possivelmente, certos Espíritos, habitantes daquele planeta, foram mandados à Terra para desempenharem aí certa missão que, aos nossos olhos, os não colocava na primeira plana. Em segundo lugar, deve-se atender a que, entre a existência que tiveram na Terra e a que passaram a ter em Júpiter, podem eles ter tido outras intermédias, em que se melhoraram. Finalmente, cumpre se considere que, naquele mundo, como no nosso, múltiplos são os graus de desenvolvimento e que, entre esses graus, pode mediar lá a distância que vai, entre nós, do selvagem ao homem civilizado. Assim, do fato de um Espírito habitar Júpiter não se segue que esteja no nível dos seres mais adiantados, do mesmo modo que ninguém pode considerar-se na categoria de um sábio do Instituto, só porque reside em Paris.
As condições de longevidade não são, tão-pouco, em qualquer parte, as mesmas que na Terra e as idades não se podem comparar. Evocado, um Espírito que desencarnara havia alguns anos, disse que, desde seis meses antes, estava encarnado em mundo cujo nome nos é desconhecido. Interrogado sobre a idade que tinha nesse mundo, disse: “Não posso avaliá-la, porque não contamos o tempo como contais. Depois, os modos de existência não são idênticos. Nós, lá, nos desenvolvemos muito mais rapidamente. Entretanto, se bem não haja mais de seis dos vossos meses que lá estou, posso dizer que, quanto à inteligência, tenho trinta anos da idade que tive na Terra.”
Muitas respostas análogas foram dadas por outros Espíritos
e o fato nada apresenta de inverossímil. Não vemos que, na Terra, uma
imensidade de animais em poucos meses adquire o desenvolvimento normal?
Porque não se poderia dar o mesmo com o homem noutras esferas? Notemos,
além disso, que o desenvolvimento que o homem alcança na Terra aos trinta
anos talvez não passe de uma espécie de infância, comparado com o que
lhe cumpre atingir. Bem curto de vista se revela quem nos toma em tudo
por protótipos da criação, assim como é rebaixar a Divindade o imaginar-se
que, fora o homem, nada mais seja possível a Deus. [Para
melhor compreensão dessas palavras de Allan Kardec atentemos para as
considerações de Emmanuel na lição:
Pluralidade dos mundos habitados, especialmente nos indicadores
7 e 8.]