Segundo os Espíritos, de todos os globos que compõem o nosso sistema planetário, a Terra é daqueles cujos habitantes são menos adiantados, física e moralmente. Marte lhe seria ainda inferior. Poderiam ser classificados na ordem seguinte, começando pelo último grau: Marte e vários globos menores; Terra; (Mercúrio, Saturno); (Lua, Vênus); (Juno, Urano); Júpiter; sem contar, naturalmente, os milhares de mundos desconhecidos que compõem outros turbilhões, em meio aos quais existem outros ainda bem mais superiores.
Muitos Espíritos, que na Terra animaram personalidades conhecidas, disseram estar reencarnados em Júpiter, um dos mundos que mais se aproximam da perfeição, tendo sido admirável encontrar-se, nesse mundo tão adiantado, homens que a opinião geral não colocaria, aqui, na mesma linha. Isso, porém, nada tem de surpreendente, se considerarmos que certos Espíritos, habitantes daquele planeta, podiam ter sido enviados à Terra para nela desempenharem uma missão que, aos nossos olhos, não os colocaria no primeiro plano. Em segundo lugar, que entre a existência que tiveram na Terra e a que passaram a ter em Júpiter, bem podiam ter tido outras, intermediárias, nas quais se melhoraram. Em terceiro lugar, finalmente, que, naquele mundo, como no nosso, há diferentes graus de desenvolvimento e que, entre esses graus, pode haver a distância que separa, entre nós, o selvagem do homem civilizado. Assim, pelo fato de um Espírito habitar Júpiter, não se segue que esteja no nível dos seres mais adiantados, do mesmo modo que ninguém estará no mesmo nível de um membro do Instituto, só porque reside em Paris.
As condições de longevidade também não são, em toda parte, as mesmas que na Terra, e a idade não se pode comparar. Evocado, o Espírito de uma pessoa que havia desencarnado há alguns anos, disse estar encarnado há seis meses num mundo desconhecido. Interrogado sobre a idade que tinha em tal mundo, respondeu:
“Não posso avaliá-la, porque não contamos o tempo como vós; além disso, os modos de existência não são os mesmos; ali nos desenvolvemos muito mais rapidamente. Assim, embora haja apenas seis dos vossos meses que lá me encontro, posso dizer que, quanto à inteligência, tenho trinta anos da idade que tive na Terra.”
Muitas respostas análogas foram dadas por outros Espíritos e nada há nisso de inverossímil. Não vemos na Terra uma porção de animais que adquirem em alguns meses seu desenvolvimento normal? Por que não se poderia dar o mesmo com o homem em outras esferas? Notemos, além disso, que o desenvolvimento que o homem alcança na Terra aos 30 anos talvez não passe de uma espécie de infância, comparado com o que deve atingir. É ter uma visão bem curta quem nos toma em tudo por modelos da Criação, assim como é rebaixar a Divindade acreditar que, fora o homem, nada mais seja possível a Deus.
As crenças mitológicas baseavam-se na existência de seres superiores à Humanidade, mas tendo ainda algumas de suas paixões. Eram figurados com os dons da presciência e da penetração do pensamento e com corpos menos densos que os nossos, transportando-se através do espaço e nutrindo-se de néctar e ambrosia, isto é, de alimentos menos substanciais e menos grosseiros que os dos mortais. Tais seres sobrenaturais, que haviam vivido entre nós e que ainda se ocupavam com a felicidade ou a desventura dos homens, seriam meros produto da imaginação? Não; nós os encontramos nos habitantes dos mundos superiores; os Antigos, apenas, faziam deles divindades, que adoravam, como o selvagem adora tudo o que está acima de si. Os Espíritos no-los mostram como simples criaturas que alcançaram certo grau de perfeição física, moral e intelectual. Eles se manifestavam na Terra, como os Espíritos se manifestam hoje a nós; os oráculos e sibilas eram médiuns que lhes serviam de intérpretes.
A intuição desses seres superiores à nossa Humanidade não se extinguiu com o paganismo; encontramo-los mais tarde sob os nomes de fadas, gênios, silfos, willis, huris, gnomos, Espíritos familiares (Ver Nota de rodapé de Allan Kardec à questão 188 da edição definitiva de O Livro dos Espíritos).