O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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O Evangelho por Emmanuel — Volume VI

Comentários às Cartas de Paulo

Introdução às Cartas aos Coríntios (1 e 2)

As cartas que Paulo escreve à comunidade em Corinto demonstram uma grande afeição do Apóstolo dos Gentios para com essa comunidade, que ele fundara e que visitara várias vezes, permanecendo ali longo período. Nenhuma outra comunidade recebe um conjunto tão extenso de escritos preservados. Apenas para comparação, enquanto as duas cartas destinadas aos tessalonicenses totalizam 136 versículos e as que se dirigem a Timóteo, 196, as endereçadas aos coríntios somam 693 versículos. Além disso, há quase um consenso entre estudiosos que, entre a primeira e a segunda carta, Paulo escreveu pelo menos mais uma carta aos coríntios, frequentemente referenciada como “a carta das lágrimas”, que não foi preservada na sua integridade e à qual o Apóstolo se refere em 2 Coríntios, 2.4.

Em 1 Coríntios também encontramos o registro da saudação de próprio punho (1 Coríntios, 16.21), 2 Coríntios é, sem dúvida, a carta mais pessoal de Paulo.

A importância das Cartas aos coríntios já é atestada, bem cedo, pela citação de Clemente (95 d.C.), que destaca as disputas no seio daquela comunidade, registradas em 1 Coríntios. Outros, como Inácio, Policarpo e Irineu, também fazem referência a uma ou às duas cartas.


Estrutura e temas

Remetentes: Paulo e Timóteo| Capítulos: 16 | Versículos: 437


A primeira carta de Paulo aos coríntios

   Saudações e destinatários. | 1.1-9
Exortação à união. | 1.8-13
A sabedoria humana e a mensagem do Evangelho. | 1.17 — 2.16
Divisões como sinal de infância espiritual. | 3.1-4
A responsabilidade e o papel dos que ensinaM. | 3.5-17
Advertência contra o orgulho. | 3.18-23
Como Paulo espera ser reconhecido. | 4.1-5
O exemplo de Paulo e Apolo. | 4.6-13
Exortação a seguirem o exemplo de Paulo. | 4.14-21
Problemas de imoralidade na comunidade. | 5.1-13
Como resolver os conflitos dentro da comunidade. | 6.1-11
O exercício da liberdade “tudo me é permitido, mas nem tudo convém”. | 6.12-20
Esclarecimentos sobre casamento, celibato e virgindade. | 7.1-40
Esclarecimentos sobre as carnes sacrificadas aos ídolos. | 8.1-13
O uso que Paulo faz de sua liberdade e direitos. | 9.1-27
As lições nos exemplos na história do povo hebreu. | 10.1-13
Por que se deve evitar a idolatria. | 10.14-22
A alimentação e o uso das coisas materiais. | 10.23 — 11.1
A ordem espiritual explicada pela metáfora do homem e da mulher. | 11.2-16
Alimentação, egoísmo e postura na convivência dentro da comunidade. | 11.16-24
Sobre os dons espirituais. | 12.1-11
O corpo como metáfora da relação de Cristo com a comunidade. | 12.12-30
Hino ao amor. — Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos […]. | 12.31 — 13.13
O uso dos dons espirituais (falar em línguas, profecias, etc.). | 14.1-40
Lembrança do que Paulo ensinou sobre o Evangelho. | 15.1-34
Esclarecimento sobre a ressurreição. | 15.35-58
Recomendações e saudações finais. | 16.1-24


A segunda carta de Paulo aos coríntios

   Destinatários e saudações. | 1.1-8
Sofrimento e confiança no futuro. | 1.9-11
Mudança nos planos da viagem. | 1.12 — 2.11
Viagem de Trôade para a Macedônia. | 2.12-17
A importância da comunidade para Paulo e para Jesus. | 3.1-5
Nova e antiga aliança. | 3.6 — 4.6
O Evangelho vivido na condição humana. | 4.7-12
Fé e esperança. | 4.13-18
A morada celeste. | 5.1-10
O trabalho de esclarecimento e convencimento. | 5.11 — 6.2a
O tempo presente é favorável. | 6.2b-10
Advertências. | 6.11 — 7.4
Relatos do que ocorreu na Macedônia. | 7.5-16
Motivos para generosidade por parte dos coríntios. | 8.1-15
Apresentação dos trabalhadores que Paulo está enviando. | 8.16-24
Confiança na boa vontade dos coríntios. | 9.1-5
Recompensas pelo apoio e doações. | 9.6-15
Resposta em relação à acusação de fraqueza. | 10.1-11
Resposta em relação à acusação de orgulho e ambição. | 10.12-18
Esclarecimento sobre a posição de Paulo. | 11.1-33
O relato do arrebatamento. | 12.1-10
O esforço de Paulo para não ser pesado aos coríntios. | 12.11-18
Apreensão quanto ao estado da comunidade em Corinto. | 12.19 — 13.4
Recomendações. | 13.5-10
Saudações finais. | 13.11-13


A comunidade

A cidade de Corinto era uma das mais importantes da Grécia. Ela foi reconstruída por Júlio Cesar em 46 a.C., e, em 29 a.C., Augusto a torna capital da Acaia. Sua localização entre o continente grego e a Península do Peloponeso, bem como sua . proximidade de portos importantes, como o de Lechaion, que ficava a aproximadamente 2,5 km da cidade, e o de Cencreia, a 14 km, faziam com que ela se tornasse um local muito importante para o comércio, tanto da Grécia com o Peloponeso, como o que passava pelo istmo, então controlado pela cidade.
O comércio e a riqueza de Corinto juntavam-se ao culto à deusa do amor, Afrodite, para construir uma cultura de permissividade que fazia da imoralidade uma proverbial característica da cidade. Talvez, por isso, o tom da primeira carta de Paulo seja mais contundente, assim como seu apelo à caridade e à fraternidade entre os membros da comunidade.
Embora fundada por Paulo, isso não impediu que se tornasse palco de divergências e conflitos, alguns até mesmo contra o próprio fundador.
Se não a totalidade, pelo menos a grande maioria dos membros da comunidade inicial eram de origem pagã, o que se depreende de 1 Coríntios, 12.2.


Autoria e origem

Praticamente, não existem quaisquer controvérsias em torno da autoria das epístolas. Desde a mais remota antiguidade, as Cartas aos coríntios foram atribuídas a Paulo.

Em relação à integralidade das cartas, existem estudiosos que defendem a ideia de que elas representam uma junção de mais de uma carta. Isso porque sabemos que, pelo menos mais uma outra carta foi escrita por Paulo à comunidade de Corinto, como se pode depreender de 1 Coríntios, 5.9. Nesse versículo, Paulo refere-se a uma outra carta que teria escrito antes. Alguns estudiosos defendem que essa carta, que não sobreviveu sob nenhuma forma, teve seu conteúdo incorporado ao texto que hoje temos.

As propostas em relação às cartas serem uma fusão dos demais textos, embora tenham argumentos defendidos por estudiosos, fundam-se quase sempre na análise do conteúdo das cartas atuais. Contudo, a favor da integridade das cartas, pesam elementos muito sólidos. Em primeiro lugar, não existem quaisquer manuscritos que tragam as Cartas aos coríntios em conteúdo e forma diferente dos que temos hoje, salvo pequenas variantes textuais, que não suportam a hipótese de uma junção de conteúdo. Outro fator importante é que na Antiguidade não existiram registros de cartas combinadas ou reunidas em uma só. Quando existiam coleções de cartas, estas eram apresentadas cada uma na sua forma completa.

Em relação ao local em que as cartas foram escritas, 1 Coríntios claramente foi escrita em Éfeso, conforme 1 Coríntios, 16.8ss. Já em relação a 2 Coríntios, existem dúvidas se ela foi também escrita em Éfeso ou se na Macedônia, quando Paulo se dirigia para Corinto.


Possível datação

A datação das cartas depende grandemente do período a que se atribui a permanência de Paulo em Éfeso. Por essa razão, as datas sugeridas oscilam em um período relativamente grande. Para 1 Coríntios, as propostas de datas variam entre os anos de 51 a 55, com maior tendência para o ano de 54. Para 2 Coríntios, o período é de 53 a 57, com tendência para o ano 56.


Conteúdo e temática

A Primeira carta aos coríntios é, às vezes, vista como um manual de conduta, dado o extenso conteúdo que Paulo dedica para tratar de questões do cotidiano. Sabemos que pelo menos parte dessa carta é uma resposta às questões que foram endereçadas por escrito pelos membros da comunidade de Corinto (1 Coríntios, 7.1). Uma outra parte trata de notícias recebidas por intermédio de familiares de Cloé (1 Coríntios, 1.11). Nela são abordadas as divisões que começam a surgir dentro da comunidade, entre os que se diziam seguidores ou de Apolo, ou de Cefas, ou do próprio Paulo; e também o tema da ressurreição (αναστάσιος - anástasis) de Jesus, no capítulo 15. Destaca-se o texto da caridade ou amor (Ágape), segundo Paulo, no capítulo 13.
A Segunda carta aos coríntios é de tom profundamente pessoal. Tanto a afeição de Paulo aos membros da comunidade, quando ele considera sua carta de recomendação escrita no coração (2 Coríntios, 3.2), quanto a autodefesa de sua posição como apóstolo estão marcadamente presentes. Os temas da coleta, da reconciliação e experiências pessoais surgem também como elementos de destaque.


Perspectiva espírita

Do ponto de vista histórico, os vínculos afetivos de Paulo com a comunidade de Corinto são bem explicados pela narrativa trazida por Emmanuel em Paulo e Estêvão, uma vez que a cidade fora berço de Abigail e Estêvão. O surgimento da comunidade, que se dera pelo apoio de Tito Justos e a colaboração de Áquila, Prisca, Loide e Eunice, sugere que, desde o princípio, a proposta do Evangelho foi aceita, principalmente pelos gentios, e que, em contrapartida, houve a rejeição por parte dos membros da sinagoga local à ideia de que Jesus era superior a Moisés. A experiência, ligeiramente referida em 2 Coríntios, 12.2, também é detalhadamente relatada em Paulo e Estêvão, o que torna possível entender a referência a ela feita na epístola.

As questões pessoais, que de início aparecem como pormenores, são reflexos de situações gerais que dizem respeito, não só a indivíduos em todos os tempos, como, também, às comunidades cristãs de todas as épocas. Temos, nessas cartas, as propostas, exemplos e experiências de como vivenciar o Evangelho dentro do mundo, sem dele se afastar, porque é, sobretudo, no cotidiano que a fé cristã se corporifica, fortalece e cresce. Conflitos, choques de ideias, divergências e condutas são fatores que devem permanecer sob o manto da fraternidade e da caridade.

Nessas cartas, temos também o desenvolvimento de questionamentos e reflexões de Paulo acerca de temas como: vida futura, corpo espiritual e ressurreição. Percebe-se uma profunda convicção acerca de pontos chaves, sem, contudo, uma exposição detalhada de processos e mecanismos, o que deu origem a diversas interpretações. Caberia à Doutrina Espírita, dezoito séculos mais tarde, o completo desenvolvimento de tais mecanismos e processos, demonstrando a profunda vinculação entre as Revelações, que vão se descortinando, no tempo certo, para a Humanidade, apontando os horizontes infinitos do progresso, baseado no amor e na sabedoria.


Saulo Cesar Ribeiro da Silva


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