Gálatas não é uma carta destinada a uma comunidade específica, mas às comunidades existentes na região da Galácia, fundadas por Paulo em suas viagens.
Desde muito cedo, essa carta é acolhida pelos chamados pais da Igreja, o que atesta o seu importante papel. Tertuliano, Irineu, Justino, Clemente, Orígenes, dentre outros, conhecem e citam a carta aos Gálatas.
Embora existam semelhanças entre a Carta aos gálatas e a endereçada aos Romanos, uma vez que tanto uma como outra apresentam o Evangelho de maneira sistemática, o caráter de Gálatas é, consideravelmente, mais simples do que a estrutura e argumentação largamente desenvolvidas em Romanos. Isso talvez se deva ao fato de que, no caso de Romanos, Paulo precisava se apresentar para uma comunidade que não o conhecia pessoalmente, enquanto as comunidades na Galácia foram fundadas por ele e por isso dispensavam argumentação mais desenvolvida, uma vez que sua palavra e exemplo possuíam peso por si mesmos.
Estrutura e temas
Remetente: Paulo e todos os que com ele estão | Capítulos: 6 | Versículos: 149
Destinatários e saudações. | 1.1-5
Admoestações iniciais. | 1.6-10
O que Paulo ensina é o Evangelho de Jesus. | 1.11,12
Rememoração dos fatos da vida de Paulo. | 1.13 — 2.15
Como o homem se torna justo. | 2.16-21
A prevalência da confiança e fé em Deus sobre as obras da Lei. | 3.1-18
O papel da Lei. | 3.19-22
O papel da fé / confiança. | 3.23-29
A filiação divina. | 4.1-11
Lamento pela mudança dos Gálatas. | 4.12-20
As duas alianças: Agar e Sara. | 4.21-31
A liberdade cristã. | 5.1-12
Liberdade e caridade. | 5.13-26
Orientações diversas para a comunidade. | 6.1-10
Conclusão de próprio punho. | 6.11-15
Saudação final. | 6.16-18
A comunidade
A região chamada Galácia teve sua origem no século III a.C. e está intimamente ligada em sua cultura e origem aos celtas. No ano 50 a.C., o rei Amintas expandiu o território, incorporando terras ao sul. O Império Romano manteve a mesma denominação de Galácia para o território expandido, muito embora no século II o que se conhecia por Galácia era, mais frequentemente, as terras ao norte. Essa evolução histórica da região faz com que os estudiosos façam uma distinção entre “Galácia do norte” e “Galácia do sul”.
São comunidades cristãs, dessa região, as de Derbe, Listra, Icônio e Antioquia da Psídia. Essas comunidades surgiram, como a maioria daquelas fundadas por Paulo, na casa de pessoas que acolhiam a mensagem do Evangelho.
Autoria
Praticamente não existem objeções a que Gálatas seja considerada uma autêntica carta de Paulo. A atestação em Gálatas 6.11 é praticamente inequívoca: “Vede com que letras grandes vos escrevo, de próprio punho”. Peculiarmente, esta carta não traz outros signatários que não o próprio Paulo.
Origem e possível datação
Se no que diz respeito a autoria e conteúdo, praticamente não existem controvérsias envolvendo a Carta aos gálatas, o mesmo não se pode dizer quanto a sua data e origem. Não existem informações na própria carta que estabeleçam, de maneira inequívoca, o local e a data de redação. Além disso, como ela não especifica a que comunidade da Galácia ela se destina, os estudiosos se dividem entre os que defendem que ela foi destinada às comunidades da região da Galácia do norte e os que advogam que ela foi endereçada às comunidades da Galácia do Sul. Como é quase certo que assas comunidades não surgiram ao mesmo tempo, dependendo da opção, a data de redação e, consequentemente, a sua origem podem variar bastante. Nos extremos, temos os que pretendem que Gálatas tenha sido escrita entre 48/49 e os que a colocam nos anos 56/57. Entre esses extremos, estão os que defendem os anos de 50/51 como data de redação. Esse amplo espectro de possibilidades deriva do fato de não ser uma carta destinada a uma comunidade, mas às comunidades de uma determinada região e aos relatos de Paulo em relação ao conflito ocorrido entre ele e Pedro em Antioquia.
Conteúdo e temática
A Carta aos gálatas é, em grande parte, uma resposta a um problema específico surgido naquelas comunidades: pessoas que Paulo classifica como falsos mestres aparecem nas comunidades e as desestabilizam em relação às suas crenças. Parecem valorizar em demasia as obras da lei, na identificação dos que são verdadeiramente justos e podem ser considerados cristãos, impõem padrões e práticas que se contrastam com a liberdade trazida pelo Evangelho. A resposta de Paulo é uma veemente recordação do que é o Evangelho e de alertas ao seu correto entendimento e prática. Viver de acordo com Cristo, seus preceitos, exemplos e ensinos, é o que caracteriza o cristão verdadeiro. Isso não significa eliminar ou ignorar as diferenças entre as pessoas. Cada um possui o seu papel, podendo viver, dentro do contexto em que está, de acordo com o Cristo. Nessa linha de argumentação, Paulo toma o próprio exemplo, registrando a sua história, a sua conversão, os conflitos, mesmo com os mais renomados apóstolos, culminando na célebre frase: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gálatas, 2.20).
Perspectiva espírita
Do ponto de vista histórico, em Paulo e Estêvão, Emmanuel indica que os gálatas são membros das comunidades existentes na região à qual os estudiosos se referem hoje em dia como sendo a “Galácia do sul”, ou seja, a província romana e não a região mais ao norte.
O tema da liberdade é também, prioritariamente, tratado nos comentários a essa carta. Das 35 ocorrências da palavra “liberdade” nos comentários de Emmanuel às cartas paulinas, 27 delas (77%) ocorrem em Gálatas, sendo que, dessas, 6 estão em títulos de comentários. Isso demonstra o profundo compromisso de Emmanuel em aclarar o caráter e a mensagem desse texto do Novo Testamento.
A Doutrina Espírita amplia a perspectiva registrada em Gálatas. Em primeiro lugar, facultando uma compreensão mais profunda do Evangelho, evitando que seja possível interpretar a Lei de Deus ao sabor das paixões, ou falsear o sentido de uma Lei toda de amor e de caridade. n Em segundo, porque já não são somente os encarnados que podem levar os homens aos equívocos de entendimento, mas, também, os Espíritos ainda imperfeitos, ou que possuem uma compreensão limitada ou equivocada das Leis Universais. n Por último, postulando a liberdade de consciência, mas esclarecendo as relações de causa e efeito, deixa o homem livre para agir atrelando, contudo, a essa liberdade, a responsabilidade advinda das próprias escolhas e ações. n
[1] Vide item 627 de O livro dos Espíritos. (Nota do organizador)
[2] Vide O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 21, “Haverá falsos cristos e falsos profetas” (Nota do organizador)
[3] Vide item 466 de O livro dos Espíritos. (Nota do organizador)
Saulo Cesar Ribeiro da Silva