Roteiro 4
A prece: importância, benefícios e a maneira correta de orar
Objetivos específicos: Conceituar prece. — Identificar os benefícios produzidos pela prece. — Explicar, à luz do Espiritismo, a maneira correta de orar, os tipos de prece e a sua importância numa reunião mediúnica.
SUBSÍDIOS
1. O QUE É PRECE
A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar n’Ele; é aproximar-se d’Ele; é pôr-se em comunicação com Ele. A três coisas podemos propor-nos por meio da prece: louvar, pedir e agradecer. (7) Pode-se dizer, também, que a prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. (2)
2. IMPORTÂNCIA DA PRECE
Pela prece, obtém, o homem o concurso dos bons Espíritos, que acorrem a sustentá-lo em suas boas resoluções e a inspirar-lhes ideias sãs. Ele adquire, desse modo, a força moral necessária a vencer as dificuldades e a volver ao caminho reto, se dele se afastou. Por esse meio, pode também desviar de si os males que atrairia pelas suas próprias faltas. (3) Está no pensamento o poder da prece, que por nada depende nem das palavras, nem do momento em que seja feita. Pode-se, portanto, orar em toda parte, e a qualquer hora, a sós ou em comum. (4)
3. A MANEIRA CORRETA DE ORAR, SEGUNDO O ENTENDIMENTO ESPÍRITA
A verdadeira prece não deve ser recitada, mas sentida. Não deve ser cômodo processo de movimentação de lábios, emoldurado, muita vez, por belas palavras, mas uma expressão de sentimento vivo, real, a fim de que realizemos legítima comunhão com a Espiritualidade Maior. (16)
A prece outra coisa não é senão uma conversa que entretemos com Deus Nosso Pai; com Jesus, Nosso Mestre e Senhor; com nossos amigos espirituais. É diálogo silencioso, humilde, contrito, revestido de unção e fervor, em que o filho, pequenino e imperfeito, fala com o Pai, Poderoso e Bom, Perfeição das Perfeições. Quando o espírita ora, sabe, por antecipação, que sua prece não opera modificações na Lei, que é imutável; altera-nos, contudo, o mundo íntimo, que se retempera, valorosamente, de modo a enfrentarmos com galhardia as provas, que se atenuam ao influxo da comunhão com o Mundo Espiritual Superior. (15)
Jesus definiu, claramente, a maneira correta de orar, que pode ser entendida como as qualidades que a prece deve ter. Ele nos recomenda que, quando orarmos, não nos devemos pôr em evidência, mas orar em secreto. Que não é pela multiplicidade das palavras que seremos atendidos, mas pela sinceridade delas.
Recomenda-nos, também, perdoar qualquer coisa que tenhamos contra o nosso próximo, antes de orar, visto que a prece agradável a Deus parte de um coração purificado pelo sentimento de caridade. Esclarece, por fim, que a prece deve ser revestida de humildade, procurando cada um ver os seus próprios erros e não os do próximo. (1) Quando Jesus nos recomenda orar secretamente («entrai para o vosso quarto e, fechada a porta, orai ao vosso Pai em secreto», nas palavras de Mateus), não está estabelecendo um posicionamento ou postura especial, física ou mística, para entrar em comunhão com Deus. Afinal, não podemos esquecer que existe uma multidão de pessoas no planeta que não possui nem mesmo um modesto quarto para se recolher. O que Jesus pretende é que busquemos o recolhimento para, a sós, dialogarmos com Deus. (17) No insulamento, a oração flui com maior maturidade, sem interferências, sem preocupações com fórmulas e formas, favorecendo a comunhão legítima com a Espiritualidade […] Nesses instantes, orienta Jesus, não nos preocupemos em falar muito, como se as respostas estivessem condicionadas à prolixidade ou se fôssemos hábeis advogados empenhados em convencer o Céu a ajudar-nos. (17) O essencial não é orar muito, mas orar bem. (8) As preces muito longas, além de cansativas, podem revelar uma forma de ostentação que é sempre contrária à humildade.
Outra qualidade da prece é ser inteligível. Quem ora sem compreender o que diz, habitua-se a valorizar mais as palavras do que os pensamentos; […] para ele as palavras é que são eficazes, mesmo que o coração em nada tome parte. (9) A esse respeito o apóstolo Paulo nos fala com lucidez: se eu, pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala e ele estrangeiro para mim […]. (10) A prece inteligível fala ao nosso Espírito. Para isto não basta que seja dita em língua compreensível pelo que ora; há preces em língua vulgar que não dizem muito mais ao pensamento do que se o fossem em língua estranha, e que, por isso mesmo, não vão ao coração; as raras ideias que encerram são, às vezes, abafadas pela superabundância de palavras e pelo misticismo da linguagem. (10) A principal qualidade da prece é ser clara, simples e concisa, sem fraseologia inútil, nem luxo de epítetos, que não passam de vestimentas, de lantejoulas; cada palavra deve ter o seu alcance, despertar um pensamento, mover uma fibra; numa palavra, deve fazer refletir; só com esta condição a prece pode atingir o seu objetivo, do contrário não passa de ruído. (10)
A prece deve ser também espontânea, nascida do coração: A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois, para Ele, a intenção é tudo. Assim, preferível lhe é a prece do íntimo à prece lida, por muito bela que seja, se for lida mais com os lábios do que com o coração. Agrada-lhe a prece, quando dita com fé, com fervor e sinceridade. (6)
4. TIPOS DE PRECE
O mais perfeito modelo de concisão, no caso da prece, é, sem contradita, a Oração Dominical [Pai Nosso], verdadeira obra-prima de sublimidade na simplicidade; sob a mais reduzida forma, ela resume todos os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. (10) O Pai Nosso deve ser visto não apenas como uma prece, mas também como um símbolo, que deve ser colocado em destaque acima de qualquer outra prece, seja porque procede do próprio Jesus (Mateus, 6.9-13), seja porque pode suprir a todas, conforme os pensamentos que se lhe conjuguem. (5) O Pai Nosso encerra um pedido das coisas necessárias à vida e o princípio da caridade. Quem o diga, em intenção de alguém, pede para este o que pediria para si. (5)
Todas as preces podem ser definidas como sendo um apelo de nossa alma em ligação instantaneamente feita com o Mundo Espiritual, segundo os princípios de afinidade estabelecidos no intercâmbio mental. (14) Sendo a prece um apelo, evidentemente somos levados a, de acordo com as instruções dos Benfeitores Espirituais, classificá-las de vários modos. Em primeiro lugar, temos a prece vertical, isto é, aquela que, expressando aspirações realmente elevadas, se projetam na direção do Mais Alto, sendo, em face dos mencionados princípios de afinidade recolhidos pelos Missionários das Esferas Superiores. Em segundo lugar, teremos a prece horizontal, traduzindo anseios vulgares […]. Encontrará ressonância entre aqueles Espíritos ainda ligados aos problemas terrestres. (14) Por fim, temos a descendente. A essa não daremos a denominação de prece, substituindo-a por invocação […] Na invocação o apelo receberá a resposta de entidades de baixo tom vibratório. São os petitórios inadequados, expressando desespero, rancor, propósitos de vingança, ambições etc. A prece é vertical, horizontal ou descendente, em decorrência do potencial mental de cada pessoa que ora, ou dos sentimentos que ela expressa. (14)
A prece, qualquer que ela seja, é ação provocando a reação que lhe corresponde. Conforme a sua natureza, paira na região em que foi emitida ou eleva-se mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou remota, segundo as finalidades a que se destina. Desejos banais encontram realização próxima na própria esfera em que surgem. Impulsos de expressão algo mais nobre são amparados pelas almas que se enobreceram. Ideais e petições de significação profunda na imortalidade remontam às alturas. (21)
Cada prece, tanto quanto cada emissão de força, se caracteriza por determinado potencial de frequência e todos estamos cercados por Inteligências capazes de sintonizar com o nosso apelo, à maneira de estações receptoras. (21)
5. A IMPORTÂNCIA DA PRECE NUMA REUNIÃO MEDIÚNICA
a) Preparação para a reunião mediúnica
Pela prece, o homem atrai o concurso dos bons Espíritos, que vêm sustenta-lo nas boas resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos. Assim, adquire ele a força necessária para vencer as dificuldades e entrar no bom caminho, se deste se houver afastado. (3) Portanto, no dia da reunião mediúnica, pelo menos durante alguns minutos, horas antes dos trabalhos, seja qual for a posição que ocupe no conjunto, dedique-se o companheiro de serviço à prece e à meditação em seu próprio lar. Ligue as tomadas do pensamento para o Alto. Retire-se, em espírito, das vulgaridades do terra-a-terra, e ore, buscando a inspiração da Vida Maior. Reflita que, em breve tempo, estará em contato, embora ligeiro, com os irmãos domiciliados no Mundo Espiritual […] e antecipe o cultivo da simpatia e do respeito, da compaixão produtiva e da bondade operosa para com todos aqueles que perderam o corpo físico sem a desejada maturação espiritual. (18)
b) A prece durante a reunião mediúnica
O Espiritismo aconselha o hábito da prece antes e após as suas reuniões: Se o Espiritismo proclama a sua utilidade, não é por espírito de sistema, mas porque a observação permitiu constatar a sua eficácia e o modo de ação. (11) Além da ação puramente moral, o Espiritismo nos mostra na prece um efeito de certo modo material, resultante da transmissão fluídica. Em certas moléstias, sua eficácia é constatada pela experiência, conforme demonstra a teoria. (12)
Sobrevindo o momento exato em que a reunião terá começo, o orientador diminuirá o teor da iluminação e tomará a palavra, formulando a prece inicial. Cogitará, porém, de ser preciso, não se alongando além de dois minutos. […] A prece, nessas circunstâncias, pede o mínimo de tempo, de vez que há entidades em agoniada espera de socorro, à feição do doente desesperado, reclamando medicação substancial. (19)
A oração final, proferida pelo dirigente da reunião [mediúnica), obedecerá à concisão e à simplicidade. (20) A prece tem o poder de acalmar o Espírito comunicante desajustado, fornecendo-lhe fluidos salutares para a sua harmonização íntima. O médium que busca refúgio na prece cria um ambiente, em torno de si, favorável ao amparo espiritual, livrando-o da ação nociva de certos Espíritos inescrupulosos.
A mediunidade, na ordem superior da vida, esteve sempre associada à oração, para converter-se no instrumento da obra iluminativa do mundo. (22) Como a oração é a expressão mais alta e mais pura do pensamento traça uma via fluídica, que permite às Entidades do Espaço descerem até nós e comunicar-se; nos grupos constitui um meio favorável à produção de fenômenos de ordem elevada, ao mesmo tempo que os preserva contra os maus Espíritos. (13)
c) A prece e o vampirismo espiritual (*)
A oração é o mais eficiente antídoto do vampirismo. A prece não é movimento mecânico de lábios, nem disco de fácil repetição no aparelho da mente. É vibração, energia, poder. A criatura que ora, mobilizando as próprias forças, realiza trabalhos de inexprimível significação. Semelhante estado psíquico descortina forças ignoradas, revela a nossa origem divina e coloca-nos em contato com as fontes superiores. Dentro dessa realização, o Espírito, em qualquer forma, pode emitir raios de espantoso poder. (23)
Constantemente […] cada um de nós recebe trilhões de raios de vária ordem e emitimos forças que nos são peculiares e que vão atuar no plano da vida, por vezes em regiões muitíssimo afastadas de nós. Nesse círculo de permuta incessante, os raios divinos, expedidos pela oração santificadora, convertem-se em fatores adiantados de cooperação eficiente e definitiva na cura do corpo, na renovação da alma e iluminação da consciência. Toda prece elevada é manancial de magnetismo criador e vivificante e toda criatura que cultiva a oração, com o devido equilíbrio do sentimento, transforma-se, gradativamente, em foco irradiante de energias da Divindade. (24)
(*) Vampirismo espiritual: forma de obsessão em que a entidade desencarnada se alimenta dos fluidos vitais do encarnado, desvitalizando-o.
Referências:
1. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo XXVII, item 4, p. 370.
2. Idem, ibidem - Item 9, p. 373.
3. Idem, ibidem - Item 11, p. 373.
4. Idem, ibidem - Item 15, p. 377.
5. Idem - Capítulo XXVIII, item 2, p. 387.
6. Idem - O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 84. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003, questão 658, p. 319.
7. Idem, ibidem - Questão 659, p. 319.
8. Idem, ibidem - Questão 660, p. 319.
9. Idem - Revista Espírita. Jornal de Estudos Psicológicos. Ano 1864. Tradução de Evandro Noleto Bezerra; poesias traduzidas por Inaldo Lacerda Lima. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Sétimo Volume, agosto de 1864, nº 8. Item: Suplemento do capítulo das Preces da Imitação do Evangelho, p. 314.
10. Idem, ibidem - p. 315.
11. Idem - Ano 1866. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Nono Volume, janeiro de 1866, nº 1. Item: Considerações sobre a prece no Espiritismo, p. 19.
12. Idem, ibidem - p. 20.
13. DENIS, Léon. Espíritos e Médiuns. Tradução de José Jorge. Rio de Janeiro, Centro Espírita Léon Denis, 1987, p. 55 (Espíritos e médiuns).
14. PERALVA, Martins. Estudando a Mediunidade. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo XXXIII (Definindo prece), p. 174-175.
15. Idem - O Pensamento de Emmanuel. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000. Capítulo 25 (Eficácia da prece), p. 160.
16. Idem, ibidem - p. 161.
17. SIMONETTI, Richard. A Voz do Monte. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Item: Ante a oração, p. 118-119.
18. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Desobsessão. Pelo Espírito André Luiz. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 4 (Preparo Para a Reunião: Prece e Meditação), p. 33.
19. Idem - Capítulo 29 (Prece Inicial), p. 117.
20. Idem - Capítulo 56 (Prece Final), p. 197.
21. Idem - Entre a Terra e o Céu. Pelo Espírito André Luiz. 21. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Capítulo I (Em Torno da Prece), p. 10.
22. Idem - Mecanismos da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo XXV (Oração), item: mediunidade e prece, p. 180.
23. Idem - Missionários da Luz. Pelo Espírito André Luiz. 39. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 6 (A Oração), p. 83.
24. Idem, ibidem - p. 84.