Preâmbulo. (1.) — Oração dominical.
(2, 3.)
— Reuniões espíritas. (4-7.)
— Para os médiuns. (8-10.) |
1. Os Espíritos hão dito sempre: “A forma nada vale, o pensamento é tudo. Ore, pois, cada um segundo suas convicções e da maneira que mais o toque; 2 um bom pensamento vale mais do que grande número de palavras com as quais nada tenha o coração.”
3 Os Espíritos jamais prescreveram qualquer fórmula absoluta de preces; quando dão alguma, é apenas para fixar as ideias e, sobretudo, para chamar a atenção sobre certos princípios da Doutrina Espírita. 4 Fazem-no também com o fim de auxiliar os que sentem embaraço para externar suas ideias, pois alguns há que não acreditariam ter orado realmente, desde que não formulassem seus pensamentos.
5 A coletânea de preces, que este capítulo encerra, representa uma escolha feita entre muitas que os Espíritos ditaram em várias circunstâncias; eles, sem dúvida, podem ter ditado outras e em termos diversos, apropriadas a certas ideias ou a casos especiais; mas, pouco importa a forma, se o pensamento é essencialmente o mesmo. 6 O objetivo da prece consiste em elevar nossa alma a Deus; a diversidade das fórmulas nenhuma diferença deve criar entre os que nele creem, nem, ainda menos, entre os adeptos do Espiritismo, porquanto Deus as aceita todas quando sinceras.
7 Não há, pois, considerar esta coletânea como um formulário absoluto e único, mas, apenas, uma variedade no conjunto das instruções que os Espíritos ministram. 8 É uma aplicação dos princípios da moral evangélica desenvolvidos neste livro, um complemento aos ditados deles, relativos aos deveres para com Deus e o próximo, complemento em que são lembrados todos os princípios da Doutrina.
9 O Espiritismo reconhece como boas as preces de todos os cultos, quando ditas de coração e não de lábios somente; nenhuma impõe, nem reprova nenhuma; Deus, segundo ele, é sumamente grande para repelir a voz que lhe suplica ou lhe entoa louvores, porque o faz de um modo e não de outro. 10 Quem quer que lance anátema às preces que não estejam no seu formulário provará que desconhece a grandeza de Deus. Crer que Deus se atenha a uma fórmula é emprestar-lhe a pequenez e as paixões da Humanidade.
11 Uma condição essencial prece, segundo São Paulo (capítulo XXVII, n.º 16), é que seja inteligível, a fim de que nos possa falar ao espírito; para isso, não basta seja dita numa língua que aquele que ora compreenda; 12 há preces em língua vulgar que não dizem ao pensamento muito mais do que se fossem proferidas em língua estrangeira, e que, por isso mesmo, não chegam ao coração; as raras ideias que elas contêm ficam, as mais das vezes, abafadas pela superabundância das palavras e pelo misticismo da linguagem.
13 A qualidade principal da prece é ser clara, simples e concisa, 14 sem fraseologia inútil, nem luxo de epítetos, que são meros adornos de lantejoulas; 15 cada palavra deve ter alcance próprio, despertar uma ideia, por em vibração uma fibra da alma: 16 numa palavra, deve fazer refletir; somente sob essa condição pode a prece alcançar o seu objetivo; de outro modo, não passa de ruído. 17 Entretanto, notai com que ar distraído e com que volubilidade elas são ditas na maioria dos casos. Veem-se lábios a mover-se; mas, pela expressão da fisionomia, pelo som mesmo da voz, verifica-se que ali apenas há um ato maquinal, puramente exterior, ao qual se conserva indiferente a alma.
18 Estão divididas em cinco categorias as preces constantes nesta coletânea: 1º Preces gerais; 2º Preces por si mesmo; 3º Preces pelos vivos; 4º Preces pelos mortos; 5º Preces especiais pelos enfermos e os obsidiados.
19 Com o propósito de chamar, de maneira especial, a atenção sobre o objeto de cada prece e de lhe tornar mais compreensível o alcance, vão todas precedidas de uma instrução preliminar, de uma espécie de exposição de motivos, sob o título de prefácio.
2. PREFÁCIO. Os Espíritos recomendaram que, encabeçando esta coletânea, puséssemos a Oração dominical, não somente como prece, mas também como símbolo. 2 De todas as preces, é a que eles colocam em primeiro lugar, seja porque procede do próprio Jesus (São Mateus, capítulo VI, vv. 9 a 13), seja porque pode suprir a todas, conforme os pensamentos que se lhe conjuguem; é o mais perfeito modelo de concisão, verdadeira obra-prima de sublimidade na sua simplicidade. 3 Com efeito, sob a mais singela forma, ela resume todos os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo; 4 ela encerra uma profissão de fé, um ato de adoração e de submissão, o pedido das coisas necessárias à vida e o princípio da caridade. 5 Quem a diga, em intenção de alguém, pede para este o que pediria para si.
6 Contudo, em virtude mesmo da sua brevidade, o sentido profundo que encerram as poucas palavras de que ela se compõe escapa à maioria das pessoas; daí vem o dizerem-na, geralmente, sem que os pensamentos se detenham sobre as aplicações de cada uma de suas partes; 7 dizem-na como uma fórmula cuja eficácia se ache condicionada ao número de vezes que seja repetida; ora, quase sempre esse é um dos números cabalísticos: três, sete ou nove, tomados à antiga crença supersticiosa na virtude dos números e de uso nas operações da magia.
8 Para preencher o que de vago a concisão desta prece deixa na mente, a cada uma de suas proposições aditamos, aconselhado pelos Espíritos e com a assistência deles, um comentário que lhes desenvolve o sentido e mostra as aplicações. 9 Conforme as circunstâncias e o tempo disponível, pode-se, portanto, dizer a Oração dominical simples ou desenvolvida.
3. PRECE. — I. Pai nosso, que estás no Céu, santificado seja o teu nome! ( † )
2 Cremos em ti, Senhor, porque tudo revela o teu poder e a tua bondade. 3 A harmonia do Universo dá testemunho de uma sabedoria, de uma prudência e de uma previdência que ultrapassam todas as faculdades humanas; 4 em todas as obras da Criação, desde o raminho de erva minúscula e o pequenino inseto, até os astros que se movem no espaço, o nome se acha inscrito de um ser soberanamente grande e sábio; 5 por toda a parte se nos depara a prova de paternal solicitude; cego, portanto, é aquele que te não reconhece nas tuas obras, orgulhoso aquele que te não glorifica e ingrato aquele que te não rende graças.
6 II. Venha o teu reino! ( † )
7 Senhor, deste aos homens leis plenas de sabedoria e que lhes dariam a felicidade, se eles as cumprissem. 8 Com essas leis, fariam reinar entre si a paz e a justiça e mutuamente se auxiliariam, em vez de se maltratarem, como o fazem. O forte sustentaria o fraco, em vez de o esmagar. Evitados seriam os males, que se geram dos excessos e dos abusos. 9 Todas as misérias deste mundo provêm da violação de tuas leis, porquanto nenhuma infração delas deixa de ocasionar fatais consequências.
10 Deste ao bruto o instinto, que lhe traça o limite do necessário, e ele maquinalmente se conforma; ao homem, no entanto, além desse instinto, deste a inteligência e a razão; 11 também lhe deste a liberdade de cumprir ou infringir aquelas das tuas leis que pessoalmente lhe concernem, isto é, a liberdade de escolher entre o bem e o mal, a fim de que tenha o mérito e a responsabilidade das suas ações.
12 Ninguém pode pretextar ignorância das tuas leis, pois, com paternal previdência, quiseste que elas se gravassem na consciência de cada um, sem distinção de cultos, nem de nações; 13 se as violam, é porque as desprezam.
Dia virá em que, segundo a tua promessa, todos as praticarão; 14 desaparecido terá, então, a incredulidade; todos te reconhecerão por soberano Senhor de todas as coisas, e o reinado das tuas leis será o teu reino na Terra.
15 Digna-te, Senhor, de apressar-lhe o advento, outorgando aos homens a luz necessária, que os conduza ao caminho da verdade.
16 III. Faça-se a tua vontade, assim na Terra como no Céu. ( † )
17 Se a submissão é um dever do filho para com o pai, do inferior para com o seu superior, quão maior não deve ser a da criatura para com o seu Criador! 18 Fazer a tua vontade, Senhor, é observar as tuas leis e submeter-se, sem queixumes, aos teus decretos divinos; 19 o homem a ela se submeterá, quando compreender que és a fonte de toda a sabedoria e que sem ti ele nada pode; fará, então, a tua vontade na Terra, como os eleitos a fazem no Céu.
20 IV. Dá-nos o pão de cada dia. ( † )
21 Dá-nos o alimento indispensável à sustentação das forças do corpo; mas, dá-nos também o alimento espiritual para o desenvolvimento do nosso Espírito.
22 O bruto encontra a sua pastagem; o homem, porém, deve o sustento à sua própria atividade e aos recursos da sua inteligência, porque o criaste livre.
23 Tu lhe hás dito: “Tirarás da terra o alimento com o suor da tua fronte;” desse modo, fizeste do trabalho, para ele, uma obrigação, a fim de que exercitasse a inteligência na procura dos meios de prover às suas necessidades e ao seu bem-estar, uns mediante o labor manual, outros pelo labor intelectual; sem o trabalho, ele se conservaria estacionário e não poderia aspirar à felicidade dos Espíritos superiores.
24 Ajudas o homem de boa vontade que em ti confia, pelo que concerne ao necessário; não, porém, àquele que se compraz na ociosidade e desejara tudo obter sem esforço, nem aquele que busca o supérfluo. (capítulo XXV)
25
Quantos há que sucumbem por culpa própria, pela sua incúria, pela sua
imprevidência, ou pela sua ambição e por não terem querido contentar-se
com o que lhes havias concedido! 0
Esses são os artífices do seu infortúnio e carecem do direito de queixar-se,
pois que são punidos naquilo em que pecaram. 27
Mas, nem a esses mesmos abandonas, porque és infinitamente misericordioso;
as mãos lhes estendes para socorrê-los, desde que, como o filho pródigo,
se voltem sinceramente para ti. (capítulo
V, n.º 4.)
28 Antes de nos queixarmos da sorte, inquiramos de nós mesmos se ela não é obra nossa; 29 a cada infortúnio que nos chegue, cuidemos de saber se não teria estado em nossas mãos evitá-lo; 30 consideremos também que Deus nos outorgou a inteligência para tirar-nos do lameiro, e que de nós depende o modo de a utilizarmos.
31 Pois que à lei do trabalho se acha submetido o homem na Terra, dá-nos coragem e forças para obedecer a essa lei; 32 dá-nos também a prudência, a previdência e a moderação, a fim de não perdermos o respectivo fruto.
33 Dá-nos, pois, Senhor, o pão de cada dia, isto é, os meios de adquirirmos, pelo trabalho, as coisas necessárias à vida, porquanto ninguém tem o direito de reclamar o supérfluo.
34 Se trabalhar nos é impossível, à tua divina providência nos confiamos.
35 Se está nos teus desígnios experimentar-nos pelas mais duras provações, mau grado aos nossos esforços, aceitamo-las como justa expiação das faltas que tenhamos cometido nesta existência, ou noutra anterior, porquanto és justo; sabemos que não há penas imerecidas e que jamais castigas sem causa.
36
Preserva-nos, ó meu Deus, de invejar os que possuem o que não temos,
nem mesmo os que dispõem do supérfluo, ao passo que a nós nos falta
o necessário. Perdoa-lhes, se esquecem a lei de caridade e de amor do
próximo, que lhes ensinaste. (capítulo
XVI, n.º 8.)
37
Afasta, igualmente, do nosso espírito a ideia de negar a tua justiça,
ao notarmos a prosperidade do mau e a desdita que, por vezes, cai sobre
o homem de bem. 38
Já sabemos, graças às novas luzes que te aprouve conceder-nos, que a
tua justiça se cumpre sempre e a ninguém excetua; que a prosperidade
material do mau é efêmera, quanto a sua existência corpórea, e que experimentará
terríveis reveses, ao passo que eterno será o júbilo daquele que sofre
resignado. (Cap. V,
n.º 7, 9,
12,
18.)
39 V. Perdoa as nossas dívidas, como perdoamos aos que nos devem. Perdoa as nossas ofensas, como perdoamos aos que nos ofenderam. ( † )
40 Cada uma das nossas infrações às tuas leis, Senhor, é uma ofensa que te fazemos e uma dívida que contraímos e que cedo ou tarde teremos de saldar. Rogamos-te que no-las perdoes pela tua infinita misericórdia, sob a promessa, que te fazemos, de empregarmos os maiores esforços para não contrair outras.
41 Tu nos impuseste por lei expressa a caridade; mas, a caridade não consiste apenas em assistirmos os nossos semelhantes em suas necessidades; também consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. 42 Com que direito reclamaríamos a tua indulgência, se dela não usássemos para com aqueles que nos hão dado motivo de queixa?
43
Concede-nos, ó meu Deus, forças para apagar de nossa alma todo ressentimento,
todo ódio e todo rancor; faze que a morte não nos surpreenda guardando
no coração desejos de vingança. 44
Se te aprouver tirar-nos hoje mesmo deste mundo, faze que nos possamos
apresentar, diante de ti, puros de toda animosidade, a exemplo do Cristo,
cujos últimos pensamentos foram em prol dos seus algozes. (capítulo
X.)
45
Constituem parte das nossas provas terrenas as perseguições que os maus
nos infligem; devemos, então, recebê-las sem nos queixarmos, como todas
as outras provas, 46
e não maldizer dos que, por suas maldades, nos rasgam o caminho da felicidade
eterna, visto que nos disseste, por intermédio de Jesus: “Bem-aventurados
os que sofrem pela justiça!” ( † )
Bendigamos, portanto, a mão que nos fere e humilha, uma vez que as mortificações
ao corpo nos fortificam a alma e que seremos exaltados por efeito da
nossa humildade. (capítulo
XII, n.º 4.)
47
Bendito seja teu nome, Senhor, por nos teres ensinado que nossa sorte
não está irrevogavelmente fixada depois da morte; que encontraremos,
em outras existências, os meios de resgatar e de reparar nossas culpas
passadas, de cumprir em nova vida o que não podemos fazer nesta, para
nosso progresso. (capítulo
IV, e capítulo
V, n.º 5.)
48 Assim se explicam, afinal, todas as anomalias aparentes da vida. É a luz que se projeta sobre o nosso passado e o nosso futuro, sinal evidente da tua justiça soberana e da tua infinita bondade.
49 VI. Não nos deixes entregues à tentação, mas livra-nos do mal. ( † ) n
50 Dá-nos, Senhor, a força de resistir às sugestões dos Espíritos maus, que tentem desviar-nos da senda do bem, inspirando-nos maus pensamentos.
51 Mas, somos Espíritos imperfeitos, encarnados na Terra para expiar nossas faltas e melhorar-nos. Em nós mesmos está a causa primária do mal e os maus Espíritos mais não fazem do que aproveitar os nossos pendores viciosos, em que nos entretêm para nos tentarem.
52
Cada imperfeição é uma porta aberta à influência deles, ao passo que
são impotentes e renunciam a toda tentativa contra os seres perfeitos.
53
É inútil tudo o que possamos fazer para afastá-los, se não lhes opusermos
decidida e inabalável vontade de permanecer no bem e absoluta renunciação
ao mal. 54
Contra nós mesmos, pois, é que precisamos dirigir os nossos esforços
e, se o fizermos, os maus Espíritos naturalmente se afastarão, porquanto
o mal é que os atrai, ao passo que o bem os repele. (Veja-se aqui adiante:
Preces
pelos obsidiados.)
55
Senhor, ampara-nos em nossa fraqueza; inspira-nos, pelos nossos anjos
guardiães e pelos bons Espíritos, a vontade de nos corrigirmos de todas
as imperfeições a fim de obstarmos aos Espíritos maus o acesso à nossa
alma. (Veja-se
aqui adiante o n.º 11.)
56 O mal não é obra tua, Senhor, porquanto o manancial de todo o bem nada de mau pode gerar; somos nós mesmos que criamos o mal, infringindo as tuas leis e fazendo mau uso da liberdade que nos outorgaste. 57 Quando os homens as cumprirmos, o mal desaparecerá da Terra, como já desapareceu de mundos mais adiantados que o nosso.
58 O mal não constitui para ninguém uma necessidade fatal e só parece irresistível aos que nele se comprazem. 59 Desde que temos vontade para fazê-lo, também podemos ter a de praticar o bem, pelo que, ó meu Deus, pedimos a tua assistência e a dos Espíritos bons, a fim de resistirmos à tentação.
60 VII. Assim seja. ( † )
61 Praza-te, Senhor, que os nossos desejos se efetivem. Mas, curvamo-nos perante a tua sabedoria infinita. 62 Que em todas as coisas que nos escapam à compreensão se faça a tua santa vontade e não a nossa, pois somente queres o nosso bem e melhor do que nós sabes o que nos convém.
63 Dirigimos-te esta prece, ó Deus, por nós mesmos e também por todas as almas sofredoras, encarnadas e desencarnadas, pelos nossos amigos e inimigos, por todos os que solicitem a nossa assistência e, em particular, por N…
64 Para todos suplicamos a tua misericórdia e a tua bênção.
65
Nota. Aqui podem formular-se os agradecimentos que se queiram
dirigir a Deus e o que se deseje pedir para si mesmo ou para outrem.
(Vejam-se, adiante,
os números 26 e 27.)
4.
Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome,
eu com elas estarei. (São
Mateus, capítulo XVIII, v. 20.)
5. PREFÁCIO. Estarem reunidas, em nome de Jesus, duas, três ou mais pessoas, não quer dizer que basta se achem materialmente juntas, é preciso que o estejam espiritualmente, em comunhão de intentos e de ideias, para o bem; Jesus, então, ou os Espíritos puros, que o representam, se encontrarão na assembleia.
2 O Espiritismo nos faz compreender como podem os Espíritos estar entre nós. Eles aí estão com seu corpo fluídico ou espiritual e sob a aparência que nos levaria a reconhecê-los, se eles se tornassem visíveis. Quanto mais elevados são na hierarquia espiritual, tanto maior é neles o poder de irradiação; é assim que possuem o dom da ubiquidade e que podem estar simultaneamente em muitos lugares, bastando para isso que enviem a cada um desses lugares um raio de suas mentes.
3
Dizendo as palavras acima transcritas, quis Jesus revelar o efeito da
união e da fraternidade; o que o atrai não é o maior ou menor número
de pessoas que se reúnam, pois, em vez de duas ou três, houvera ele
podido dizer dez ou vinte, mas o sentimento de caridade que reciprocamente
as anime; ora, para isso, basta que elas sejam duas. 4
Contudo, se essas duas pessoas oram cada uma por seu lado, embora dirigindo-se
ambas a Jesus, não há entre elas comunhão de pensamentos, sobretudo
se ali não estão sob o influxo de um sentimento de mútua benevolência;
se elas se olham com prevenção, com ódio, inveja ou ciúme, as correntes
fluídicas de seus pensamentos, longe de se conjugarem por um comum impulso
de simpatia, repelem-se; nesse caso, não estarão reunidas em nome
de Jesus; Jesus não é senão o pretexto da reunião, e não
o verdadeiro móvel. (capítulo
XXVII, n.º 9.)
5
Isso não significa que ele se mostre surdo ao que lhe diga uma única
pessoa; e se ele não disse: “Atenderei a todo aquele que me chamar”,
é que, antes de tudo, exige o amor do próximo; e desse amor mais provas
podem dar-se quando são muitos os que exoram, com exclusão de todo sentimento
pessoal, e não um apenas; 6
segue-se que, se, numa assembleia numerosa, somente duas ou três pessoas
se unem de coração, pelo sentimento de verdadeira caridade, enquanto
as outras se isolam e se concentram em pensamentos egoísticos ou mundanos,
ele estará com as primeiras e não com as outras. 7
Não é, pois, a simultaneidade das palavras, dos cânticos ou dos atos
exteriores que constitui a reunião em nome de Jesus, mas a comunhão
de pensamentos, em concordância com o espírito de caridade que ele personifica.
(capítulo
X, n.º 7 e 8; capítulo
XXVII, n.º 2 a 4.)
8 Tal o caráter de que devem revestir-se as reuniões espíritas sérias, aquelas em que sinceramente se deseja o concurso dos bons Espíritos.
6. PRECE. (Para o começo da reunião.) — Ao Senhor Deus onipotente suplicamos que envie, para nos assistirem, Espíritos bons; que afaste os que nos possam induzir em erro e nos conceda a luz necessária para distinguirmos da impostura a verdade.
2 Afasta, igualmente, Senhor, os Espíritos malfazejos, encarnados e desencarnados, que tentem lançar entre nós a discórdia e desviar-nos da caridade e do amor ao próximo. Se procurarem alguns deles introduzir-se aqui, faze não achem acesso no coração de nenhum de nós.
3 Bons Espíritos que vos dignais de vir instruir-nos, tornai-nos dóceis aos vossos conselhos, preservai-nos de toda ideia de egoísmo, orgulho, inveja e ciúme; inspirai-nos indulgência e benevolência para com os nossos semelhantes, presentes e ausentes, amigos ou inimigos; fazei, em suma, que, pelos sentimentos de que nos achemos animados, reconheçamos a vossa influência salutar.
4 Dai aos médiuns que escolherdes para transmissores dos vossos ensinamentos, consciência do mandato que lhes é conferido e da gravidade do ato que vão praticar, a fim de que o façam com o fervor e o recolhimento precisos.
5 Se, em nossa reunião, estiverem pessoas que tenham vindo impelidas por sentimentos outros que não os do bem, abri-lhes os olhos à luz e perdoai-lhes, como nós lhes perdoamos, se trouxerem malévolas intenções.
6 Pedimos, especialmente, ao Espírito N…, nosso guia espiritual, que nos assista e por nós vele.
7. (Para o fim da reunião.) — Agradecemos aos bons Espíritos que se dignaram de comunicar-se conosco e lhes rogamos que nos ajudem a pôr em prática as instruções que nos deram e façam que, ao sair daqui, cada um de nós se sinta fortalecido para a prática do bem e do amor ao próximo.
2 Também desejamos que as suas instruções aproveitem aos Espíritos sofredores, ignorantes ou viciosos, que tenham participado da nossa reunião e para os quais imploramos a misericórdia de Deus.
8.
Nos últimos tempos, diz o Senhor, difundirei do meu Espírito sobre toda
carne; vossos filhos e filhas profetizarão; vossos jovens terão
visões e vossos velhos, sonhos. Nesses dias, difundirei do meu Espírito
sobre a meus servidores e servidoras, e eles profetizarão. (Atos,
capítulo II, vv. 17 e 18.)
9. PREFÁCIO. Quis o Senhor que a luz se fizesse para todos os homens e que em toda a parte penetrasse a voz dos Espíritos, a fim de que cada um pudesse obter a prova da imortalidade; 2 com esse objetivo é que os Espíritos se manifestam hoje em todos os pontos da Terra e a mediunidade se revela em pessoas de todas as idades e de todas as condições, nos homens como nas mulheres, nas crianças como nos velhos, é um dos sinais de que chegaram os tempos preditos.
3 Para conhecer as coisas do mundo visível e descobrir os segredos da Natureza material, outorgou Deus ao homem a vista corpórea, os sentidos e instrumentos especiais; com o telescópio, ele mergulha o olhar nas profundezas do espaço, e, com o microscópio, descobriu o mundo dos infinitamente pequenos. Para penetrar no mundo invisível, deu-lhe a mediunidade.
4 Os médiuns são os intérpretes incumbidos de transmitir aos homens os ensinos dos Espíritos; ou, melhor, são os órgãos materiais de que se servem os Espíritos para se expressarem aos homens por maneira inteligível. Santa é a missão que desempenham, visto ter por fim rasgar os horizontes da vida eterna.
5 Os Espíritos vêm instruir o homem sobre seus destinos, a fim de o reconduzirem à senda do bem, e não para o pouparem ao trabalho material que lhe cumpre executar neste mundo, tendo por meta o seu adiantamento, nem para lhe favorecerem a ambição e a cupidez. 6 Aí têm os médiuns o de que devem compenetrar-se bem, para não fazerem mau uso de suas faculdades. 7 Aquele que, médium, compreende a gravidade do mandato de que se acha investido, religiosamente o desempenha. Sua consciência lhe profligaria, como ato sacrílego, utilizar por divertimento e distração, para si ou para os outros, faculdades que lhe são concedidas para fins sobremaneira sérios e que o põem em comunicação com os seres de além-túmulo.
8 Como intérpretes do ensino dos Espíritos, têm os médiuns de desempenhar importante papel na transformação moral que se opera; os serviços que podem prestar guardam proporção com a boa diretriz que imprimam às suas faculdades, porquanto os que enveredam por mau caminho são mais nocivos do que úteis à causa do Espiritismo; pela má impressão que produzem, mais de uma conversão retardam. 9 Terão, por isso mesmo, de dar contas do uso que hajam feito de um dom que lhes foi concedido para o bem de seus semelhantes.
10 O médium que queira gozar sempre da assistência dos bons Espíritos tem de trabalhar por melhorar-se; o que deseja que a sua faculdade se desenvolva e engrandeça tem de se engrandecer moralmente e de se abster de tudo o que possa concorrer para desviá-la do seu fim providencial.
11
Se, às vezes, os Espíritos bons se servem de médiuns imperfeitos, é
para dar bons conselhos, com os quais procuram faze-los retomar a estrada
do bem. Se, porém, topam com corações endurecidos e se suas advertências
não são escutadas, afastam-se, ficando livre o campo aos maus. (capítulo
XXIV, n.º 11 e 12.)
12 Prova a experiência que, da parte dos que não aproveitam os conselhos que recebem dos bons Espíritos, as comunicações, depois de terem revelado certo brilho durante algum tempo, degeneram pouco a pouco e acabam caindo no erro, na verbiagem, ou no ridículo, sinal incontestável do afastamento dos bons Espíritos.
13 Conseguir a assistência destes, afastar os Espíritos levianos e mentirosos, tal deve ser a meta para onde convirjam os esforços constantes de todos os médiuns sérios; sem isso, a mediunidade se torna uma faculdade estéril, capaz mesmo de redundar em prejuízo daquele que a possua, pois pode degenerar em perigosa obsessão.
14 O médium que compreende o seu dever, longe de se orgulhar de uma faculdade que não lhe pertence, visto que lhe pode ser retirada, atribui a Deus as boas coisas que obtém. 15 Se as suas comunicações receberem elogios, não se envaidecerá com isso, porque as sabe independentes do seu mérito pessoal; agradece a Deus o haver consentido que por seu intermédio bons Espíritos se manifestassem. 16 Se dão lugar à crítica, não se ofende, porque não são obra do seu próprio Espírito; ao contrário, reconhece no seu íntimo que não foi um instrumento bom e que não dispõe de todas as qualidades necessárias a obstar a imiscuência dos Espíritos maus; cuida, então, de adquirir essas qualidades e suplica, por meio da prece, as forças que lhe faltam.
10. PRECE. — Deus onipotente, permite que os bons Espíritos me assistam na comunicação que solicito. 2 Preserva-me da presunção de me julgar resguardado dos Espíritos maus; 3 do orgulho que me induza em erro sobre o valor do que obtenha; 4 de todo sentimento oposto à caridade para com outros médiuns. 5 Se cair em erro, inspira a alguém a ideia de me advertir disso e a mim a humildade que me faça aceitar reconhecido a crítica e tomar como endereçados a mim mesmo, e não aos outros, os conselhos que os bons Espíritos me queiram ditar.
6 Se for tentado a cometer abuso, no que quer que seja, ou a me envaidecer da faculdade que te aprouve conceder-me, peço que ma retires, de preferência a consentires seja ela desviada do seu objetivo providencial, que é o bem de todos e o meu próprio avanço moral.
[1] Algumas traduções dizem: Não nos induzas à tentação (et ne nos inducas in tentationem). (Mt) Essa expressão daria a entender que a tentação promana de Deus, que Ele, voluntariamente, impele os homens ao mal, ideia blasfematória que igualaria Deus a Satanás e que, portanto, não poderia estar na mente de Jesus. É, aliás, conforme à doutrina vulgar sobre o papel dos demônios. (Veja-se: O Céu e o Inferno, 1ª parte, capítulo IX: Os demônios.)