1.
No Templo do Socorro, n
o Ministro Clarêncio comentava a sublimidade da prece, e nós o ouvíamos
com a melhor atenção.
2 — Todo desejo, —
dizia, convincente, — é manancial de poder. A planta que se eleva para
o alto, convertendo a própria energia em fruto que alimenta a vida,
é um ser que ansiou por multiplicar-se…
3 — Mas todo petitório
reclama quem ouça, — interferiu um dos companheiros. — Quem teria respondido
aos rogos, sem palavras, da planta?
4 O venerando orientador respondeu,
tranquilo:
— A Lei, como representação de nosso Pai Celestial, manifesta-se a tudo e a todos, através dos múltiplos agentes que a servem. No caso a que nos reportamos, o Sol sustentou o vegetal, conferindo-lhe recursos para alcançar os objetivos que se propunha atingir.
5 E, imprimindo significativa
entonação à voz, continuou:
— Em nome de Deus, as criaturas, tanto quanto possível, atendem às
criaturas. Assim como possuímos em eletricidade os transformadores de
energia para o adequado aproveitamento da força, temos igualmente, em
todos os domínios do Universo, os transformadores da bênção, do socorro,
do esclarecimento… 6
As correntes centrais da vida partem do Todo-Poderoso e descem a flux,
transubstanciadas de maneira infinita. Da luz suprema à treva total,
e vice-versa, temos o fluxo e o refluxo do sopro do Criador, através
de seres incontáveis, escalonados em todos os tons do instinto, da inteligência,
da razão, da humanidade e da angelitude, que modificam a energia divina,
de acordo com a graduação do trabalho evolutivo, no meio em que se encontram.
7 Cada degrau da vida
está superlotado por milhões de criaturas… O caminho da ascensão espiritual
é bem aquela escada milagrosa da visão de Jacob, ( † )
que passava pela Terra e se perdia nos céus… 8
A prece, qualquer que ela seja, é ação provocando a reação que lhe corresponde.
Conforme a sua natureza, paira na região em que foi emitida ou eleva-se
mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou remota, segundo as
finalidades a que se destina. Desejos banais encontram realização próxima
na própria Esfera em que surgem. Impulsos de expressão algo mais nobre
são amparados pelas almas que se enobreceram. Ideais e petições de significação
profunda na imortalidade remontam às Alturas…
9 O mentor generoso fez pequeno
intervalo, como a dar-nos tempo para refletir e acentuou:
— Cada prece, tanto quanto cada emissão de força, se caracteriza por
determinado potencial de frequência e todos estamos cercados por Inteligências
capazes de sintonizar com o nosso apelo, à maneira de estações receptoras.
10 Sabemos que a
Humanidade Universal, nos infinitos mundos da grandeza cósmica, está
constituída pelas criaturas de Deus, em diversas idades e posições…
11 No Reino Espiritual,
compete-nos considerar igualmente os princípios da herança. Cada consciência,
à medida que se aperfeiçoa e se santifica, aprimora em si qualidades
do Pai Celestial, harmonizando-se, gradativamente, com a Lei. 12
Quanto mais elevada a percentagem dessas qualidades num Espírito, mais
amplo é o seu poder de cooperar na execução do Plano Divino, respondendo
às solicitações da vida, em nome de Deus, que nos criou a todos para
o Infinito Amor e para a Infinita Sabedoria…
2.
Quebrando o silêncio que se fizera natural para a nossa reflexão, o
irmão Hilário perguntou:
2 — Contudo, como
interpretar o ensinamento, quando estivermos à frente de propósitos
malignos? Um homem que deseja cometer um crime estará também no serviço
da prece?
3 — Abstenhamo-nos de empregar
a palavra “prece”, quando se trate do desequilíbrio, — aduziu Clarêncio,
bondoso, — digamos “invocação”.
4 E acrescentou:
— Quando alguém nutre o desejo de perpetrar uma falta está invocando
forças inferiores e mobilizando recursos pelos quais se responsabilizará.
5 Através dos impulsos
infelizes de nossa alma, muitas vezes descemos às desvairadas vibrações
da cólera ou do vício e, de semelhante posição, é fácil cairmos no enredado
poço do crime, em cujas furnas nos ligamos, de imediato, a certas mentes
estagnadas na ignorância, que se fazem instrumentos de nossas baixas
realizações ou das quais nos tornamos deploráveis joguetes na sombra.
6 Todas as nossas aspirações
movimentam energias para o bem ou para o mal. Por isso mesmo, a direção
delas permanece afeta à nossa responsabilidade. 7
Analisemos com cuidado a nossa escolha, em qualquer problema ou situação
do caminho que nos é dado percorrer, porquanto o nosso pensamento voará,
diante de nós, atraindo e formando a realização que nos propomos atingir
e, em qualquer setor da existência, a vida responde, segundo a nossa
solicitação. Seremos devedores dela pelo que houvermos recebido.
8 O Ministro sorriu, benevolente,
e lembrou:
— Estejamos convictos, porém, de que o mal é sempre um círculo fechado sobre
si mesmo, guardando temporariamente aqueles que o criaram, qual se fora
um quisto de curta ou longa duração, a dissolver-se, por fim, no bem
infinito, à medida que se reeducam as Inteligências que a ele se aglutinam
e afeiçoam. O Senhor tolera a desarmonia, a fim de que por intermédio
dela mesma se efetue o reajustamento moral dos Espíritos que a sustentam,
de vez que o mal reage sobre aqueles que o praticam, auxiliando-os a
compreender a excelência e a imortalidade do bem, que é o inamovível
fundamento da Lei. 9
Todos somos senhores de nossas criações e, ao mesmo tempo, delas escravos
infortunados ou felizes tutelados. Pedimos e obtemos, mas pagaremos
por todas as aquisições. A responsabilidade é princípio divino a que
ninguém poderá fugir.
10 Nesse instante, uma jovem
de semblante calmo penetrou no recinto e, dirigindo-se ao nosso orientador,
falou algo aflita:
— Irmão Clarêncio, uma de nossas pupilas do quadro de reencarnações sob suas diretrizes pede socorro com insistência…
— É um apelo individual urgente? — indagou o Ministro, preocupado.
— É assunto inquietante, mas numa prece refratada.
O prestimoso instrutor convidou-nos a acompanhá-lo e seguimo-lo, atentamente.
André Luiz
[1] Instituição da cidade espiritual em que se encontra o Autor — Nota do Autor espiritual.