O humilde caixeiro de Pedro Leopoldo de novo escreve para este mundo a palavra de sabedoria do “país das sombras invisíveis”…
PEDRO LEOPOLDO, † 16 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — Na reportagem que enviamos pela mala de hoje, incluímos já a resposta a uma das quatro perguntas apresentadas pelo repórter ao médium, durante a sessão de ontem à noite, na casa de José Cândido.
Enviaremos, agora, as respostas dadas às outras três perguntas, que eram as seguintes conforme dissemos já em correspondência anterior:
— “Continua a alma a lutar pelo seu aperfeiçoamento na vida do Além?”
— “Podereis elucidar-nos sobre os instintos e suas variedades?”
— “Esclarecei-nos sobre o fenômeno do Sonho.”
Relembrando
A fim de poupar, àqueles que estejam porventura acompanhando a nossa reportagem, o trabalho de reler nossa correspondência anterior, relembraremos, em poucas palavras: que as referidas perguntas foram compostas, pelo repórter, quinze minutos antes do início da sessão, isto é, no momento em que ele deixava o hotel, rumo à casa de José Cândido; que foram elas depositadas na mesa, cerca de cinco minutos antes daquele início; que as respostas foram escritas com a rapidez peculiar ao médium, cerca de um minuto depois da prece de abertura da sessão, podendo, pois, ser calculado em dez minutos, no máximo, o tempo decorrido entre a apresentação das perguntas e a resposta.
Entrevista…
Jornalisticamente falando, o caso apresenta-se com característicos de uma autêntica entrevista. O interlocutor a quem nos dirigíamos era, sem dúvida, uma incógnita. Isso, porém, não importa, desde que se verificou esta realidade: fizemos as perguntas com declarada intenção jornalística e as respostas vieram quase que instantaneamente.
Por isso mesmo, parece-nos que não seria demais se considerássemos esta a nossa segunda entrevista com o “mundo das sombras invisíveis”…
A vida é, para a alma, o eterno presente
Expostas, atrás, as circunstâncias em que foram apresentadas as consultas, figuremos agora numa situação de entrevista, para que o episódio ganhe todo o colorido que bem merece, na sua expressão sensacional.
Indagara, pois, o repórter:
— Continua a alma a lutar pelo seu aperfeiçoamento na vida do Além?
E o lápis do médium grafou:
— “O Espírito luta em todos os Planos da existência e a vida é o seu eterno presente. Seus labores não cessam em nenhuma hipótese e é pelo trabalho que busca o galardão supremo da perfectibilidade. A existência na Terra, com o seu olvido, representa, quase, para os seres libertos, um tenebroso pesadelo que a morte vem desfazer. No Além reconhece-se a grandeza de realidades insofismáveis e com mais fervor entrega-se o ser ao seu aprendizado e à sua tarefa. Não obstante a ausência da fadiga, a alma trabalha sempre e o que se verifica entre os encarnados e desencarnados, é a existência de leis físicas cuja complexidade não podeis ainda apreender em virtude da exiguidade das vossas percepções. — Max.” n
Onde reencontramos um pouco de Krishnamurti
Numa de suas conferências ditas à noite, no estádio do Fluminense, ouvíramos, ainda há pouco tempo, de Krishnamurti, † sobre o tema da reencarnação e da imortalidade, uma série de conceitos que se poderiam resumir nesta expressão:
— A imortalidade é o presente.
E parece-nos perfeita a justaposição dos dois conceitos: o do pensador hindu e este que o médium grafara na resposta acima, referindo-se ao Espírito:
— “… a vida é o seu eterno presente”.
Presente, eternidade… A vida não cessa nunca…
Os monstros de outras eras e os instintos de hoje
A entrevista prossegue. Mais uma pergunta:
— Podereis elucidar-nos sobre os instintos e suas variedades?
Reconhecemos que o tema é por demais amplo para um detalhe de entrevista. O lápis do médium, porém, não hesita; e a resposta vem, em síntese elegante, nesta espécie de parábola…
— “Essa questão implica um extenso e complicado problema em sua grandiosa transcendência. Os instintos representam os embriões das faculdades superiores do espírito. Regressai espiritualmente às épocas primárias da evolução geológica do planeta e encontrareis animais monstruosos e cenários de fábula. Mas os séculos vão retocando as animalidades grosseiras, lapidando-as no cadinho dos trabalhos, das lutas, dos sofrimentos e, na atualidade, reconheceis o orbe povoado pelas mais portentosas civilizações. Toda a grandiosidade do vosso progresso, em todos os setores da atividade humana, representa a evolução lenta dos instintos, os quais, transformados na inteligência civilizadora, são, hoje, os motivos do vosso poder e dos vossos surtos evolutivos. — Max”. n
O sonho e sua ascendência fisiológica
Está, por fim, diante do médium, a nossa terceira indagação:
— Esclarecei-nos sobre o fenômeno do sonho.
— “Em sua generalidade — grafa imediatamente o médium — os sonhos representam somente o reflexo de sensações fisiológicas. Contudo, isso não é a regra geral. No sono, como no sonambulismo, nas hipnoses Profundas, pode a alma exteriorizar-se mais intensamente, no seu desprendimento temporário e ouvir e ver quantos a ela se acham ligados pelos elos afetivos no Além, ocorrendo desta forma as predições, como se o dom divinatório fosse faculdade inerente a certos organismos. Convém, todavia, estudar os sonhos, escoimando desses fatos todo o caráter fantasista, porquanto, em regra geral, encontramos constantemente a sua ascendência fisiológica. — Max.” n
Bilac e Augusto dos Anjos
Estava concluída a entrevista. O lápis do médium, porém, não cessou de correr sobre o papel. E foram assim grafados ainda dois sonetos de Bilac, um de Augusto dos Anjos, alguns versos de João de Deus e duas mensagens, uma de Martha e outra de Emmanuel, esta em inglês.
A sensação da noite
Sem esquecer a sensação causada pelas respostas prontas e bonitas dadas por “Max” às perguntas do repórter, pode-se, entretanto, considerar que o “Lit”, o sucesso da noite, foi a mensagem de Emmanuel, em inglês. Ocupa apenas uma página, mas foi grafada de tal forma, numa inversão total do processo normal de escrita, que só com o auxílio de um espelho ou contra a luz se a consegue ler.
Dessa página, na qual se nos manifesta como que um estranho virtuosismo em matéria de comunicações com o Além, nos ocuparemos a seguir.
Clementino de Alencar