O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Notáveis reportagens com Chico Xavier reproduzidas do jornal O Globo — Autores diversos


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Chico Xavier psicografa, diante do repórter, a resposta a uma nova pergunta

Espiritualistas contra materialistas “Não me fales da morte, ilustre Ulisses…” — Pela escada maravilhosa da prece todas as perguntas respondidas

Max, o “amigo do espaço”, resume em vinte linhas um assunto vasto como a própria ciência!


PEDRO LEOPOLDO,  †  16 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — Concorridíssima também a segunda sessão espírita a que assistimos na casa de José Cândido. Quando ali chegamos, cerca das 20 horas, encontramos, além de numerosas pessoas de Pedro Leopoldo, várias outras de Belo Horizonte, entre as quais o coronel Anísio Fróes e o major Benedicto de Mello Franco, da Força Pública de Minas; e, de Sete Lagoas, entre outras os Srs. Francisco Teixeira, conhecido banqueiro; José Macedo, promotor; Geraldo Bhering, advogado; e José Affonso Vianna, médico.

Entre os presentes, de Pedro Leopoldo, vemos ali os Srs. Maurício Azevedo, coletor federal; Romero Carvalho Filho, farmacêutico e proprietário; Annibal Belizário, Theodoro Vianna, Leopoldo de Mello, José Vianna Braga, Fausto Joviano, e mais alguns negociantes, proprietários e funcionários.

Como da outra vez, estava a casa repleta, e, ainda como da outra vez, José Cândido, ativo e cordial, se esforça por acomodar a assistência na exiguidade de sua residência pobre.

Quando chegamos, lá já estava Chico Xavier; e prepara-se rapidamente a mesa para a sessão a iniciar-se dentro de poucos minutos.


A queixa de Aquiles


Na sala, também oficina de seleiro, onde se agrupa, ainda, a maior parte da assistência, a palestra segue animada sobre o tema da hora e do local. Não se estabelecem propriamente discussões; de quando em quando, entretanto, as pontas afiadas do debate rasgam o estofo nobre das frases. E reacende-se ali, num lampejo rápido, para continuar a consumir depois, a velha contenda: materialistas contra espiritualistas, monistas contra dualistas, razão pura contra misticismo. A eterna porfia da devoção e da análise — paralelas espirituais que, sem dúvida, como linhas da teoria euclidiana  †  se hão de encontrar e confundir no infinito…

Não faz mal que seja a sala pequenina, apenas a modesta oficina de um seleiro do sertão. Não faz mal que estejamos, ali, tão distanciados, no tempo e no espaço, dos filósofos e de suas querelas. Kant  †  e a sua crítica arrasadora; Hegel  †  e o seu Deus-Ideia, potencial da realidade; Lotze,  †  com a sua lógica; tudo está lá, para trás de Bergson,  †  com quem já se pode admitir a existência de um Deus. Ao fim da rajada tremenda da análise e da crítica, alguma coisa ainda ficou de pé: — a dúvida, que, para alguns, se vai diluindo nas convicções confortadoras; e, para outros, espraia-se definitivamente na negação. E agora ali, no meio da animação da sala exígua, quando os vivos se dirigem para o locutório de onde se escuta a palavra “silenciosa” da Morte, eis que nos ocorre, não saberíamos bem dizer por que estranha associação de ideias, a resposta da alma de Aquiles a Ulisses, na passagem famosa: [HOMERO, Odisseia, 11.484-491]

“— ‘Quando eras tu vivo, Aquiles, nós te venerávamos como um deus; e, agora, tu comandas todos os mortos. Tal como aí estás, e ainda que morto, não te lamentes, Aquiles!” Eu falava assim e ele me respondeu: “— Não me fales da morte, ilustre Ulisses! Eu preferia ser o obreiro humilde que serve, por salário, do que comandar, na morte, aqueles que já não existem’.”


Ponha as perguntas aqui


Apenas chegáramos, falamos ao José Cândido:

— Temos aqui algumas perguntas. Deverão ser elas apresentadas antes ou durante os trabalhos?

— Estão escritas?

— Sim.

— Então, por favor, cheguem até aqui.

E José Cândido leva-nos para a peça contígua onde se realizará a sessão.

A mesa ainda está vazia, sob a toalha branca.

Tiramos as perguntas do bolso e escolhemos, delas, duas apenas. Pareceu-nos que seria exagero apresentá-las todas.

Entregamos a José Cândido as duas folhas, que ele estende na cabeceira da mesa, no lugar de onde dirigirá os trabalhos. Nesse momento, Chico Xavier aproxima-se, já para ocupar a sua cadeira. Percebe, talvez, que estivéramos a escolher estas perguntas e, apontando para as duas folhas que ainda temos nas mãos:

— E essas?

— Ah! É que nós tínhamos composto várias perguntas. Pareceu-nos, porém, que seriam muitas para uma sessão.

— Não, não — acode ele, com seu sorriso sem malícia — o senhor pode pôr essas também aí, na mesa, com as outras. Pediremos resposta para todas. Se vier, bem; se não, paciência… em todo caso, tenta-se, ué!…

E as quatro perguntas juntaram-se, na cabeceira da mesa, à espera da palavra do Além.


Iniciam-se os trabalhos


Ao mesmo tempo, José Cândido convida os assistentes a tomarem lugar no pequeno cômodo.

A mesa, ou melhor a “corrente”, está assim formada: José Cândido, Chico Xavier, coronel Anísio Fróes, Nelson Penna, Fausto Joviano, Nancy Penna e senhorita Carmosina Penna.

Em redor a assistência acomoda-se, em silêncio, e concentra-se na Prece que José Cândido dirige aos “cimos resplandecentes” e com que as almas daquele grupo de humílimos sofredores se prostram aos pés do Pai Misericordioso.

E a palavra humana, de ordinário tão pesada e rústica, assume como que a leveza e o esplendor de um sopro luminoso, naquela invocação de esperança e de fé. Estendida assim, no ar, a escada de Jacob  †  da prece coletiva, ouvimos que por ela acima lança, José Cândido, as perguntas que fizéramos.

Depois, silêncio no ambiente. Mais se inclinam as cabeças, cerram os olhos, elevam as almas. Os homens aguardam, debruçados, a visita dos emissários luminosos das alturas insondáveis.

Um minuto talvez, e a mão do médium dá o primeiro sinal. Depois, entra a correr sobre o papel, com a rapidez habitual. Os “Amigos do Espaço” atenderam à nossa invocação. E, pela escada maravilhosa da prece, que não cessa mesmo sob as bocas mudas, descem agora as respostas que pedíramos.

Correndo, o lápis vence o campo virgem da folha branca, sob as próprias linhas da pergunta que grafáramos. Quando chega ao pé, José Cândido vira-a. Esgotado o espaço da outra página, o lápis volta ao alto da página já escrita, rápido sempre, ansioso quase como um pensamento que se não quer perder a si mesmo e busca a imagem imperecível das palavras. E é já sobre as linhas em que grafáramos a pergunta que vem cair esta assinatura: Max.

Em seguida, são respondidas, pelo mesmo Max, as demais perguntas.


Versos


O lápis estaca um momento. Alguém batera à porta, quebrando o silêncio.

Retardatários que chegam.

Agora, novas folhas virgens vão ser entregues ao médium, para as mensagens espontâneas. José Cândido convida os assistentes a rubricarem as páginas; esses, porém, dispensam, cortesmente, a formalidade.

Reforça-se de novo a “corrente” e as comunicações se restabelecem.

O médium psicografa versos.


Virtuosismo


Sete ou oito páginas ficam logo cheias de estrofes.

Depois, o lápis, contrariando o processo normal da escrita, como que se rebela e começa a grafar da direita para a esquerda, como o fazem certos povos do oriente.

O que ele vai escrevendo apresenta-se inteiramente incompreensível para os assistentes. Há até um ligeiro sussurro de surpresa.

— Será árabe? — ouvimos que uma voz cicia a um ouvido, ao lado. O lápis estava, por fim, no pé da página, no último traço de uma assinatura arrevesada [v. cap. 20].

O médium abandona-o então. A prece de encerramento ergue-se agora, como um novo sopro luminoso e suave. Estão concluídos os trabalhos.

E, ansiosamente, como da outra vez, a assistência põe-se a examinar a produção.

“A vossa ciência não conhece o homem integral”


As nossas perguntas, como dizíamos, tiveram todas a sua resposta. A primeira que caiu sob o lápis do médium foi esta:

Está o mundo subconsciente subordinado às funções corporais?

E a resposta foi assim psicografada ao pé da indagação:

— O mundo subconsciente não se acha subordinado à função de nenhum órgão. Ele representa a súmula dos conhecimentos do ser, em suas existências passadas, consubstanciada na inteligência operosa e criadora. Ele é a câmara secreta onde todas as experiências se arquivam para emergirem em futuro próximo ou longínquo. A vossa ciência não conhece o homem integral, porquanto o esquecimento a que se acham submetidos os encarnados não deixa que se possa entrever a alma total. A subconsciência é o mundo da alma em sua existência extra-terrestre.

Podeis conceber isto ponderadamente. O aparelho respiratório existe no feto que dele se não serve, em virtude do meio não comportar o seu uso. Ele, porém, está latente no homem embrionário. Assim são as faculdades espirituais. Não aparecem na nossa vida comum, porquanto o ambiente atual ainda não as comporta, mas estão no seu estado latente para emergirem, futuramente, em toda a sua plenitude. — Max. n


Bezerra de Menezes?


Enviaremos a seguir as outras respostas. Antes, porém, de encerrarmos a correspondência de hoje queremos assinalar ainda o seguinte:

Concluída a recepção das mensagens, nos comunicou o médium ter ouvido de “Max”, que este se chamara em vida, Bezerra de Menezes.

Clementino de Alencar



[1] Dr. Adolfo Bezerra de Menezes (1831-1900), grande vulto do Espiritismo brasileiro, com o pseudônimo de Max escreveu no jornal O Paiz, do Rio de Janeiro — na época o periódico de maior tiragem do Brasil —, de 1887 a 1894, aos domingos, uma série de artigos sob a legenda “Espiritismo - Estudos Filosóficos”, que foram enfeixados em livro, de três volumes com o mesmo título. (Nota do Org.)


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