“O conhecimento dos homens é nulo diante da morre”
PEDRO LEOPOLDO, † 17 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — Em correspondência anterior, apresentamos já cópia de duas mensagens, uma em inglês e outra em italiano, psicografadas por Chico Xavier de forma tal que os originais só podiam ser lidos com o auxílio de um espelho ou contra a luz.
Não pudéramos, conforme dissemos, obter esses originais que se encontram em mãos de pessoa atualmente fora de Pedro Leopoldo. As cópias, todavia, nos foram entregues por pessoa idônea, o que nos fez desde logo confiar na veracidade do que nos era afirmado a respeito. Isso, entretanto, não impedia que mantivéssemos acesa a curiosidade de ver Chico Xavier num desses rasgos de virtuosismo gráfico.
Pois nossa curiosidade, sem que se manifestasse por palavras, foi satisfeita na sessão do dia 15, da qual já nos ocupamos nas duas últimas correspondências.
Teriam os amigos do Espaço lido, em nossa aura, aquele desejo, como querem os espíritas?
Dispensamo-nos de responder à nossa própria pergunta. Não o saberíamos fazer…
A estranha mensagem
Foi quase ao fim da sessão, quando já grafara as respostas às indagações do repórter e os versos, que o médium entrou a escrever a estranha mensagem que alguns dos assistentes estavam já a admitir como árabe, quando foi ela decifrada…
Uma observação
A propósito queremos deixar aqui consignado o seguinte: em geral, as mensagens em idiomas estrangeiros são psicografadas por Chico Xavier por esse processo inverso usado na grafia da página de Emmanuel que hoje enviamos.
“Aqui está a nossa grande mensagem”
Quinze linhas grafou o médium da direita para a esquerda e a gravura que ilustra esta reportagem mostra a página tal qual foi ela composta.
Lendo-se a mensagem, como o auxílio de um espelho, tem-se:
“My dear spiritualist friends. Men’s learning is nothing over against of the death; let you support your cross with patience and courage. The pain and faith are the greater earthly sure and the work is the gold of the life.
But for all you, believing either not, here is the our great message: God is our Father. We are brothers. Let us love one another. — Emmanuel.”
Ainda o artigo “the”
Os que leram nossa correspondência datada de 12 do corrente inteiraram-se já do que ocorreu com a outra mensagem em inglês psicografada por Chico Xavier, na sessão de 23 de novembro de 1933.
Um dos presentes à citada reunião, conhecedor do idioma, observou nas linhas então escritas, um erro no uso do artigo “the” antes do possessivo.
Emmanuel respondera a esse reparo do assistente, com outra mensagem também em inglês, desculpando-se do erro com a justificativa — onde há até um certo humor “terreno” — de não ser ele, o Espírito, um professor de línguas, um mestre do idioma em apreço, mas, sim, um fraco discípulo.
Na mensagem que hoje enviamos, Emmanuel, aliás coerente com a alegação da outra vez, confirma-a de certo modo insistindo no uso do “the” antes do possessivo. Parece-nos, também, que ficaria mais elegante a expressão “the gold of the life”, sem o segundo “the”.
Quanto ao mais, apesar desses senões e outros que os conhecedores do inglês observem na mensagem — e atribuídos, dentro da própria doutrina à deficiência do aparelho, o médium, que nada sabe daquele idioma — é ela clara e simples. Traduzindo-a, teríamos:
“Meus caros amigos espiritualistas. O conhecimento dos homens é nulo em face da morte; suportai a vossa cruz com paciência e coragem. A dor e a fé são os maiores tesouros terrenos e o trabalho é o ouro da vida.
“Para todos vós, entretanto, crentes ou não, aqui está a nossa grande mensagem: Deus é nosso Pai. Nós somos irmãos. Amemo-nos uns aos outros. — Emmanuel.”
Grande foi, como dizíamos, a sensação causada entre os assistentes, por essa mensagem, não só pela maneira como foi ela grafada como pelo fato de estar naquele idioma: em Pedro Leopoldo todos sabem que Chico Xavier nunca teve mestre de inglês, nem consta, a quem quer que seja, se ter ele iniciado, de qualquer forma, no estudo dessa língua.
Os versos
Damos a seguir, os dois sonetos que o médium psicografou com a assinatura de Bilac. Intitulam-se eles “Aos descrentes” e “Ideal”.
Observam-se, desde logo, nesses versos, as rimas parelhas, tão usadas na “Tarde” - Google Books, e, no primeiro dos sonetos citados, a troca da colocação das mesmas rimas nos quartetos, também um hábito de Bilac para obter delas maior variedade e tornar menos monótona a sua sucessão.
Quanto ao ritmo, encontra-se, em verdade, no “Aos descrentes” aquela cadência forte e inconfundível, por exemplo, dos “Matuiús”: “De pés virados, marcha avessa e rude,”
Mas aí enviamos para maior apreciação dos bons conhecedores da poética bilaqueana, os dois sonetos grafados pelo médium Chico Xavier, na sessão de 15 do corrente:
“Aos descrentes
Vós, que seguis a turba desvairada,
As hostes dos descrentes e dos loucos,
Que de olhos cegos e de ouvidos moucos
Estão longe da senda iluminada.
Retrocedei dos vossos mundos ocos,
Começai outra vida em nova estrada,
Sem a ideia falaz do grande Nada,
Que entorpece, envenena e mata aos poucos.
Ó ateus como eu fui — na sombra imensa,
Erguei de novo o eterno altar da crença,
Da fé viva, sem cárcere mesquinho!
Banhai-vos na divina claridade
Que promana das luzes da Verdade,
Sol eterno na glória do Caminho!”
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“Ideal
Na Terra um sonho eterno de beleza
Palpita em todo o Espírito que, ansioso,
Espera a luz esplêndida do gozo
Das .sínteses de amar da Natureza.
É ansiedade perpetuamente acesa
Do turbilhão medonho e tenebroso
Da carne, onde a esperança sem repouso
Luta, sofre e soluça, e sonha presa.
Aspirações do mundo miserando,
Guardadas com ternura, com desvelos,
Nas lágrimas de dor do peito aflito!…
Mas que o homem realiza apenas, quando,
Rotas as carnes, brancos os cabelos,
Busca o beijo de glória do Infinito!”
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Na mesma sessão, grafou ainda o médium o seguinte soneto, com o nome de Augusto dos Anjos:
“Vida e Morte
A morte é como um fato resultante
Das ações de um fenômeno vulgar,
Desorganização molecular,
Fim das forças do plasma agonizante.
Mas a vida a si mesma se garante
Na sua eternidade singular,
E em sua transcendência vai buscar
A luz do espaço, fúlgida e distante!
Vida e Morte — fenômenos divinos,
Na ascendência de todos os destinos,
Do portentoso amor de Deus oriundos…
Vida e Morte — Presente eterno da Ânsia,
Ou condição diversa da substância,
Que manifesta o Espírito nos mundos.”
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E esta Oração assinada por João de Deus:
Oração n
“Pai de Amor e Caridade,
Que sois a eterna clemência
E de todas as criaturas
Carinhosa Providência!
Que os homens todos vos amem,
Que vos possam compreender,
Pois tendo ouvidos não ouvem
E vendo não querem ver.” (Mt)
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Uma consulta mental
Grafada, em seguida, rápida mensagem de “Martha”, e encerrados os trabalhos, o médium declarou que tinha uma comunicação particular do Além para o coronel Anísio Fróes. E este, pouco depois, dizia-nos que, realmente, fizera uma consulta mental, ao início da sessão.
Clementino de Alencar
[1] A oração completa encontra-se no Parnaso de Além-Túmulo