O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Notáveis reportagens com Chico Xavier reproduzidas do jornal O Globo — Autores diversos


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Humberto de Campos escrevera, em vida, sobre Chico Xavier e suas poesias psicografadas

Como o escritor patrício imaginava, em 1932, os habitantes do Astral “condenados a escutar os maus poetas até à consumação dos séculos”

A “biblioteca” do médium — Quanto a leituras, o homem não foi muito além de almanaques, revistas e jornais velhos — O repórter prepara-se para assistir a uma sessão espírita.


PEDRO LEOPOLDO,  †  24 (Do enviado especial do GLOBO, Clementino de Alencar) — O dia de hoje assumiu uma significação muito especial para a população local. Toda Pedro Leopoldo já sabe que a reportagem do Rio está na cidade e que a sessão espírita, desta noite, será como que dedicada ao jornalista.

A casa onde Chico Xavier reside com irmãos e irmãs, quase todos menores, é tão pequena e tão pobre no seu mobiliário que ali se não podem realizar as reuniões. Estas têm lugar às quartas e sextas-feiras, na casa, também pobre, porém maior, do seu irmão casado, José Cândido, que tem ali uma pequena oficina de seleiro.

Nós não fomos propriamente convidados para a sessão de hoje. Apenas, durante a visita que ontem à noite fizemos a casa de Chico Xavier, como se fizesse referência às reuniões, mostramos desejo de assistir a de hoje, ao que nos responderam:

— Pois não. As sessões são públicas.


A biblioteca do médium


Um das nossas maiores preocupações, desde nossa chegada aqui, foi sabermos se Chico Xavier possuía biblioteca e que espécie de biblioteca, para termos uma ideia de suas leituras.

A visita de ontem à noite deu-nos oportunidade para essa constatação. A biblioteca de Chico Xavier — o termo, no caso, torna-se até um pouco impróprio — é um amontoado de revistas e jornais velhos, álbuns espíritas, outros da imprensa diária, almanaques Bertrand e outros de vários anos, alguns volumes de doutrinadores espíritas, como o “Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec; o “Grande enigma” e o “Depois da morte”, de Léon Denis; os “Quatro Evangelhos”, de Roustaing, livros esses na sua maioria oferecidos ao médium por admiradores seus de Belo Horizonte, quando seu nome já se ia tornando conhecido nos círculos espíritas. Vemos ainda ali alguns fascículos e volumes dos publicados pela Federação Espírita Brasileira, sobre a doutrina. Só não vemos um livro, sequer, dos nossos escritores e poetas mais destacados. Chico Xavier confessa que nunca os leu, a não ser uma ou outra página esparsa de alguns deles, encontradas nas revistas, jornais e almanaques que lhe chegam às mãos.

Perguntamos se já lera ele alguma coisa de Humberto de Campos. Responde que sim: algumas crônicas encontradas naqueles jornais que ali se amontoam. Os livros, porém, nunca os leu. Está agora à espera de dois volumes de Humberto de Campos que um amigo lhe prometeu mandar.


Humberto escrevera, em vida, sobre Chico Xavier


Enquanto assim nos fala, Chico Xavier retira de uma pasta de papelão, um recorte de um jornal de Belo Horizonte. O recorte é antigo, de 1932. É uma crônica de Humberto de Campos. E sobre Chico Xavier!

Essa contestação nos causa certa surpresa. Não sabíamos que o autor das “Sombras que sofrem” - Google Books houvesse escrito sobre o médium de Pedro Leopoldo.

A explicação, porém, logo se nos apresenta.


O “Parnaso de Além-Túmulo”


Em 1932, Chico Xavier já conquistara alguma fama, como médium, e possuía, no seu “arquivo”, isto é, na sua pasta de papelão, muitas poesias recebidas nas suas horas de transe, de vários poetas mortos.

A Federação Espírita Brasileira, interessando-se pelo caso, reuniu aqueles versos psicografados num pequeno volume que publicou, ainda naquele ano, com este título: “Parnaso de Além-Túmulo”.

Foi sobre esse volume e o médium que o psicografara que Humberto de Campos escrevera a crônica citada, em 1932.


“Poetas do outro mundo”


É esse o título da crônica e, por uma observação entre parênteses, vê-se que ela deve ter sido publicada também no “Diário Carioca”.

De início, faz Humberto de Campos algumas referências, esclarecedoras ao leitor, sobre a situação de pobreza e a pouca instrução do “médium”, para acentuar depois o contraste entre essas condições em que vive o rapaz humilde de Pedro Leopoldo e o belo volume de versos que lhe chegara às mãos.

A seguir, referindo-se unicamente a Chico Xavier, diz:

“E como este mundo não lhe parecesse dos mais amáveis, começou a pensar no outro, aderindo ao Espiritismo, com as altas funções e responsabilidades de médium.

“Lidando nesta vida com os espíritos medíocres que frequentam a casa de comércio em que trabalha, resolveu Francisco Cândido Xavier tornar-se mais exigente no reino das sombras, buscando nele, para conversar, inteligências superiores, homens de letras e especialmente poetas que já haviam passado por este mundo. Nessas palestras em que a boca se mantinha em silêncio, transmitiam-lhe os seus novos amigos algumas poesias elaboradas depois de desencarnados, e que o jovem caixeiro de Pedro Leopoldo ia escrevendo mecanicamente, sem esforço do braço ou da imaginação. Esses Espíritos eram ordinariamente Guerra Junqueiro, Antero de Quental, Augusto dos Anjos, Castro Alves, Casimiro de Abreu, João de Deus, Auta de Souza, Pedro II, Souza Caldas, Júlio Diniz, Cruz e Souza e Casimiro Cunha, poeta vassourense. Às vezes aparecia, também, um anônimo, cuja modéstia não desaparecera nem no outro mundo.”

Pouco adiante, observa o cronista, com certa ironia:

“O primeiro pensamento que assalta o leitor, antes de examinar o merecimento literário da obra, é a ideia de que, nem no outro mundo, estará livre dos poetas. A poesia é uma predestinação de tal modo fatal, irremediável, que a vítima não se livra dessa maldição nem, mesmo, depois da morte. Quem faz sonetos ou redondilhas neste planeta, está condenado a fazê-los em todos os pontos do espaço e da eternidade a que o leve o dedo divino. E sem mudar de estilo. E sem variar de temas. E sem modificação de ritmos, de rimas ou de imaginação.

“Admitindo essa verdade, a vida literária no outro mundo deve ser mais variada, embora mais fatigante, do que neste. Lá estarão, ainda, Anchieta, a celebrar a Virgem Maria em língua tupi; Botelho de Oliveira a cantar no estilo da “Ilha da Maré” e da “Música do Parnaso” - Google Books; Cláudio Manoel da Costa, escrevendo sonetos clássicos; Gonçalves Dias, com a sua lira romântica; e os parnasianos; e os simbolistas, e os futuristas que morreram antes do futurismo morrer. A vantagem apresentada por essa reunião de escolas ficará, todavia, comprometida pela eternidade da produção. A superioridade que esta vida apresenta sobre as outras, está, precisamente, no seu caráter transitório. Quando um indivíduo, entre nós, dizendo-se benquisto dos deuses, empunha a lira, ficamos certos, desde logo, que ele um dia emudecerá. E é esse consolo que não têm os habitantes do Astral, os quais se acham condenados a escutar os maus poetas até à consumação dos séculos.”

Por fim, confessa Humberto de Campos:

“Eu faltaria, entretanto, ao que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pela pena do Sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e de expressão que os identificaram neste planeta. Os temas abordados sãos os que os preocupavam em vida. O gosto é o mesmo. E o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos — sente-se ao ler cada um dos autores que veio do outro mundo para contar, neste instante, a inclinação do Sr. Francisco Cândido Xavier para descrever “À la manière de…”, ou para traduzir o que aqueles altos Espíritos sopraram ao seu.”

“Como cantam os mortos”


Quando acabamos de ler essa crônica, Chico Xavier nos mostra outra, também de Humberto de Campos, seguinte àquela, e na qual o escritor patrício, escrevendo ainda sobre o mesmo assunto, trata de identificar a voz dos mortos, pelos versos do “Parnaso de Além-Túmulo”, pois acha que este livro merece trato mais grave e demorado.

Apreciando os versos, diz Humberto:

“Antero de Quental continua triste e trágico no outro mundo, e disposto, parece, a suicidar-se de novo, para reaparecer neste.” [vide soneto de Quental “Fatalidade”]

E mais adiante, sobre Casimiro de Abreu:

“Casimiro de Abreu conserva, nas cordas da sua lira, feitas possivelmente com os restos dos seus nervos, a ingenuidade primitiva. E oferece-nos, nas rimas póstumas, a prova triste de que, mesmo além da vida, no seio mesmo da morte, as paixões não desaparecem. A saudade da Pátria é conservada incólume, como se o morto não tivesse mudado de planeta, mas, apenas, de um país para outro.”

Observa a seguir que Castro Alves continua condoreiro e utilizando as mesmas imagens em que era mestre na Terra:


É a dor que através dos anos,

Dos algozes, dos tiranos,

Anjos puríssimos faz,

Transformando os Neros rudes

Em arautos de virtudes,

Em mensageiros da paz. (Pat)


Depois de apreciar outras produções, volta o cronista às suas considerações gerais sobre o livro, reconhecendo-lhe um valor bem digno de tentar os estudiosos.


Coisas impressionantes


Foi depois dessa rápida investigação junto à “biblioteca” do médium e de uma vista d’olhos pelo resto da casa, que nos voltamos a sentar na sala de chão ladrilhado e ali ouvimos, de Chico Xavier, a narrativa dos fatos impressionantes que o encaminharam para o Espiritismo.


Clementino de Alencar


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