1 Há no vasto castelo, estilo Renascença,
Desenhos e painéis de perfeição sem nugas.
Milhões de almas, aí tomadas de ânsia imensa,
Estudam crânios, pés, braços, mãos e verrugas…
2 Buscando provação, dor, angústia e doença,
Desenham-se croquis de mil prisões sem fugas…
E falam do valor da matéria mais densa,
Seja na carne flórea ou num manto de rugas.
3 Tudo é justiça e amor, em feliz casamento;
No Palácio da Luz brilha o renascimento, n
Enaltecendo a Lei, em Divino Objetivo.
4 E o carma aperfeiçoa os derradeiros planos
De todo viajor dos carreiros humanos
Ao renascer no corpo, o templo excelso e vivo!
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“Ingratos, os homens se afastaram do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai…” — O Espírito de Verdade. n
1 E morre a Humanidade em bacanais horrendas…
Manda o bezerro de ouro e, qual dragão, rapina
Os princípios da fé, a enterrá-los nas lendas…
Chega Moisés, a Lei, e aclama a Voz Divina!
2 Séculos vêm e vão… Em loucuras tremendas n
Surge o monstro do vício a morder… E domina.
Nasce Jesus, o Amor, descerrando outras sendas,
E ergue a força do bem por excelsa doutrina!
3 Segue o passo do tempo, e eis que por toda a Terra
Os chacais do ateísmo e as hienas da guerra
Cercam as multidões de fracos e infelizes…
4 Mas Kardec, a Razão, estende luz à História;
Desponta o Espiritismo, o Evangelho em vitória,
Traçando ao mundo aflito as Novas Diretrizes!…
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1 Atende à dor maior a bramir quando passas:
Homens na idade anciã gemendo em noite fria…
Infratores da Lei sob as trevas madraças…
Pais a implorar trabalho e pão de cada dia…
2 Jovens no imenso caos de aventuras devassas…
Anônimos abrindo o corpo à Anatomia…
Mil pedintes sem rumo a esmolar pelas praças…
Mulheres onde o crime, em sombra, assalta e espia…
3 Petizes a esperar quem os peça primeiro… n
Enfermos sem socorro, ao léu da prova escura…
E mães cata-papéis junto ao lixo-celeiro…
4 A Religião da Luz não se isola no Templo; n
Qual pábulo de amor para toda criatura,
A grandeza da Fé fulge e cresce no exemplo!…
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1 Enterro de outro corpo. Abrindo a campa fria,
Ocorreu a imprevista exumação… O achado
Do cadáver de borco, horrível, macerado,
No pavor da aflição, recordando a agonia…
2 Torva interrogação pairou, rude e sombria:
— Fora enterrado vivo o inditoso finado?…
Mas, no Espaço, o problema era já superado:
Caso triste e invulgar de catalepsia… n
3 Alguém pagou à Lei o ceitil derradeiro,
No sofrimento atroz dos minutos da morte,
De um crime feito atrás quando fora coveiro
4 E a alma foi demandando as Esferas da Altura,
Exultante de amor, resplandecente e forte,
Mais livre e mais feliz, mais serena e mais pura!… n
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1 — “Monstro! Monstro! Olhe o monstro!… — Esse era o grito n
Quando ele vinha… O rosto bexiguento…
A mão mirrada… A calva exposta ao vento…
Arrimado ao bastão, coxeante e aflito…
2 Um dia cai… Arrasta-se, febrento…
Ziguezagueia o cérebro em conflito
E morre qual se fora cão maldito
No caos de um formigueiro em movimento…
3 Liberto enfim!… Alegre e delirante,
Sonha empunhar espada e fino guante
Picando irmãos em luta fratricida!…
4 Desperta! E oscula em lágrimas ditosas
As pequeninas feras belicosas
Com quem purgara os erros de outra vida.
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[1] LAFAYETTE MELO — Filho de Desidério de Melo e de D. Clarinda de Melo, L. Melo, além de poeta, foi professor, poliglota e jornalista. Um dos fundadores e diretores de O Garoto, em sua terra natal. Órfão de pai desde cedo, foi um autodidata. Desde que se tornou espírita, passou a ser devotado colaborador de A Flama (hoje, A Flama Espírita), semanário espírita uberabense, com sonetos bem trabalhados, de conteúdo doutrinário. (Uberaba, Minas, 21 de Outubro de 1892 — Patrocínio, Minas, 15 de Agosto de 1953.)
[2] Verso 10 - renascimento. Evidentemente, nada tem a ver com o estilo Renascença do 1º verso, e sim, com a reencarnação.
[3] Eis parte do texto integral: “Mas, ingratos, os homens se afastaram do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e enveredaram pelas ásperas sendas da impiedade.” (Allan Kardec, O Evangelho seg. o Espiritismo, cap. VI, “Instruções dos Espíritos”, “O advento do Espírito de Verdade”.)
[4] Verso 19 - Atente-se no ritmo do 1º hemistíquio, inteiramente jâmbico.
[5] Verso 37 - Aliteração em p.
[6] Verso 40 - Religião da Luz: o Espiritismo ou Doutrina Espírita a que os Espíritos costumam chamar a Religião Cósmica do Amor e da Sabedoria.
[7] Verso 50 - Suarabácti: “ca-ta-le-p-si-a”. Cf. nota 1, pág. 47.
[8] Verso 56 - Note-se a epímone. — Cf. nota nº 2, pág. 36.
[9] Verso 57 - Mesarquia. — Cf. nota 7, pág. 42.