1 Cansado coração, pélago afora,
No peito infortunado, errante e aflito,
Sofre na carne o estranho sambenito
Das rudes provações de cada hora. n
2 Ninguém perceba a mágoa do teu grito;
Persevera no amor, sangrando embora…
Além, no Grande Além, a Eterna Aurora n
É o porto de teus sonhos no Infinito.
3 Escala os topes ásperos da trilha,
Agradecendo o golpe que te humilha,
Onde vibres, tremendo de ansiedade.
4 Ama e perdoa, coração, que, um dia,
Volitarás chorando de alegria n
Na divina ascensão à Imensidade… n
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[1] MÁRIO Veloso Paranhos PEDERNEIRAS — Depois de fazer os estudos secundários no Colégio Pedro II, não logrou o penumbrista do Simbolismo concluir o seu curso de Direito, centralizando toda a atenção no cultivo das letras, passando então a fundar e dirigir revistas quais Rio-Revista, Galáxia, Mercúrio e Fon-Fon!. O seu prestígio ficou evidenciado no primeiro concurso para a escolha do príncipe dos poetas brasileiros: M. Pederneiras classificou-se em terceiro lugar, logo abaixo de Olavo Bilac e Alberto de Oliveira. Assinala Alceu Amoroso Lima (in Lit. no Brasil, III, pág. 404) que a poesia de M. Pederneiras “é marcada por um profundo sentimento de espiritualidade, especialmente doméstica”. (Rio de Janeiro, Gb, 2 de Novembro de 1867 — Rio de Janeiro, Gb, 8 de Fevereiro de 1915.)
BIBLIOGRAFIA: Agonia; Rondas Noturnas; Histórias do Meu Casal; Ao Léu do Sonho e Á Mercê da Vida; etc.
[2] Verso 4 - Leia-se com hiato: ca/da/ ho/ra. Cf. do Autor, em Agonia, o poema “Natal D’Alva” (apud Rodrigo Octávio Filho, N. Cl. nº 29, pág. 24)
“Len/tos, /pri/mei/ros/ tons/ cas/tos/ e/ al/vos”; em Rondas Noturnas, soneto “Sonho — II”, verso 8º: “Em/ ron/da es/pa/lhas/ pe/la/ Noi/te/ al/ta.”; em Histórias do Meu Casal, poema “Vida Simples”: “To/da a/ro/ma/da/ de/ jar/dins/ e/ hor/ta” (os dois últimos versos in op. cit., respectivamente, páginas 26 e 30).
[3] Verso 7 - “Além, no Grande Além,…”: Mesarquia — “Nome dado à FIGURA que resulta quando a mesma palavra é repetida no começo e no meio do VERSO ou período;…” (Geir Campos, Op. cit.)
[4] Verso 13 - Volitar. O verbo volitar é aqui empregado não com o significado comum que os dicionários registam, mas exprimindo a capacidade que tem o Espírito de se locomover, por vezes, com a rapidez do pensamento, sem o auxilio de quaisquer veículos físicos.
[5] Verso 14 - É bem a poesia do homem bom e otimista que, no dizer de Álvaro Moreira, “tanto sofreu e não desesperou nunca” (apud N. Cl., nº 29, páginas 96-97).