1 Quando a luta te deixe em plena estrada,
Qual tronco a sós, sem flores e sem frondes, n
Na secreta renúncia a que te arrimas,
Bendita seja a lágrima que escondes!
2 Quando a amargura te converta a vida
Em rede estranha de sinistras horas,
Mesmo nas raias do suplício extremo,
Bendita seja a lágrima que choras!
3 Quando a prova te assalte os semelhantes
Na dor de sendas ásperas e incertas,
Na simpatia que te inflama o peito,
Bendita seja a lágrima que ofertas!
4 Quando, porém, caminhas na bondade
A que nobre e sereno te conjugas,
Muito acima das lágrimas que vertes,
Bendita seja a lágrima que enxugas! n
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[1] Francisco LOBO DA COSTA — De família humilde, órfão em tenra idade, o poeta romântico do Sul, no dizer de Edgard Cavalheiro (Pan. II, pág. 298), já aos doze anos cantava em versos a retomada de Uruguaiana. Colaborou nos jornais mais importantes de sua terra, e foi sócio do “Pártenon Literário”. Não conseguindo matricular-se na Faculdade de Direito de S. Paulo, veio a residir por algum tempo em Florianópolis, onde se entregou à bebida, que lhe aniquilou o corpo físico. Definiu-o João Pinto da Silva (História Lit. R. G. S., pág. 43) como “o intérprete inspirado do pensamento e dos sentimentos do povo, em face do Amor e do Infortúnio”. E a respeito de sua poesia assim se expendeu Guilhermino César (Hist. da Literatura R. G. S., pág. 233): “A sua forma, tão espontânea, era às vezes muito descuidada, mas Lobo da Costa possuía, como poucos, senso musical e bom gosto inato.” (Pelotas, Rio Grande do Sul, 12 de Julho de 1853 — Aí desencarnou em 19 de Junho de 1888.)
BIBLIOGRAFIA: Auras do Sul; Dispersos; O Filho das Ondas; Flores do Campo.
[2] Verso 2 - “…sem flores e sem frondes”: Epímone — “Nome dado à FIGURA que resulta quando se repete enfaticamente a mesma palavra,…” (Geir Campos, Peq. Dic. de Arte Poética.)
[3] Verso 16 - Observe-se o cólon “Bendita seja a lágrima que…”, de magnífico efeito.