1. — Reproduzimos conforme o Salut de Nova Orléans, † a declaração de princípios aprovada na quinta convenção nacional, ou assembleia dos delegados dos espíritas das diversas partes dos Estados Unidos. A comparação das crenças sobre essas matérias, entre o que se chama a escola americana e a escola europeia, é algo de grande importância, como cada um poderá convencer-se.
Declaração de princípios.
O espiritualismo nos ensina:
1. – Que o homem tem uma natureza espiritual, tanto quanto uma natureza corporal; ou, antes, que o homem verdadeiro é um Espírito, tendo uma forma orgânica, composta de materiais sublimados, que representa uma estrutura correspondente à do corpo material.
2. – Que o homem, como Espírito, é imortal. Tendo reconhecido que sobrevive a essa mudança chamada morte, pode-se racionalmente supor que sobreviva a todas as vicissitudes futuras.
3. – Que há um mundo ou estado espiritual, com suas realidades substanciais, tanto objetivas quanto subjetivas.
4. – Que o processo da morte física não transforma, de nenhum modo essencial, a constituição mental ou o caráter moral daquele que a experimenta, pois se assim não fosse, sua identidade seria destruída.
5. – Que a felicidade ou a infelicidade, tanto no estado espiritual quanto neste, não depende de um decreto arbitrário ou de uma lei especial, mas, antes, do caráter, das aspirações e do grau de harmonia ou conformidade do indivíduo com a lei divina e universal.
6. – Segue-se que a experiência e os conhecimentos adquiridos desde esta vida se tornam as bases sobre as quais começa a vida nova.
7. – Visto como o crescimento, sob certos aspectos, é a lei do ser humano na vida presente, e considerando que aquilo que se chama a morte não é, na realidade, senão o nascimento para uma outra condição de existência, que conserva todas as vantagens ganhas na experiência desta vida, daí se pode inferir que o crescimento, o desenvolvimento, a expansão ou a progressão são o destino infinito do espírito humano.
8. – Que o mundo espiritual não está afastado de nós, mas está perto, rodeia-nos ou está entremeado ao nosso presente estado de existência e, consequentemente, estamos constantemente sob a vigilância dos seres espirituais.
9. – Que, desde que os indivíduos passam constantemente da vida terrestre à vida espiritual, em todos os graus de desenvolvimento intelectual e moral, o estado espiritual compreende todos os graus de caracteres, do mais baixo ao mais elevado.
10. – Que, desde que o céu e o inferno, ou a felicidade e a infelicidade, dependem antes dos sentimentos íntimos que das circunstâncias exteriores, há tantas gradações para cada um quantas as nuances de caracteres, gravitando cada indivíduo em seu próprio lugar, por uma lei natural de afinidade. Pode-se dividi-los em sete graus gerais ou esferas; mas estas devem compreender as variedades indefinidas, ou uma “infinidade de moradas”, correspondentes aos caracteres diversos dos indivíduos, desfrutando cada ser de tanta felicidade quanto lhe permite o seu caráter.
11. – Que as comunicações do mundo dos Espíritos, quer sejam recebidas por impressão mental, por inspiração ou por qualquer outra maneira, não são, necessariamente, verdades infalíveis, mas, ao contrário, se ressentem inevitavelmente das imperfeições da inteligência das quais emanam e das vias pelas quais chegam; e que, além disso, são susceptíveis de receber uma falsa interpretação daqueles a quem são dirigidas.
12. – Segue-se que nenhuma comunicação inspirada, no tempo presente ou no passado (sejam quais forem as pretensões que possam, ou tenham podido ser apresentadas quanto à fonte), tem uma autoridade mais ampla que a de representar a verdade à consciência individual, sendo esta última o padrão final a que se devem referir, para o julgamento de todos os ensinamentos inspirados ou espirituais.
13. – Que a inspiração, ou a influência das ideias e das sugestões, vindas do mundo espiritual, não é um milagre dos tempos passados, mas um fato perpétuo, o método constante da economia [organização] divina para a elevação da raça humana.
14. – Que todos os seres angélicos ou demoníacos que se manifestaram ou que se intrometeram nos negócios dos homens no passado, eram simplesmente Espíritos humanos desencarnados, em diversos graus de progressão.
15. – Que todos os milagres autênticos (assim chamados) dos tempos passados, tais como a ressurreição dos que estavam mortos em aparência, a cura das moléstias pela imposição das mãos, ou outros meios igualmente simples, o contato inofensivo com venenos, o movimento de objetos materiais sem concurso visível, etc., etc., foram produzidos em harmonia com as leis universais e, por conseguinte, podem repetir-se em todos os tempos, sob condições favoráveis.
16. – Que as causas de todo fenômeno – as fontes da vida, da inteligência e do amor – devem ser pesquisadas no domínio interior e espiritual, e não no domínio exterior e material.
17. – Que o encadeamento das causas tende inevitavelmente a remontar e a avançar para um Espírito infinito, que não só é um princípio formador (a sabedoria), mas uma fonte de afeição (o amor) – assim sustentando a dupla relação do parentesco, do pai e da mãe, de todas as inteligências finitas que, não obstante, são unidas por laços filiais.
18. – Que o homem, na condição de filho desse pai infinito, é sua mais alta representação nesta esfera de seres, sendo o homem perfeito a mais completa personificação da “plenitude do Paz” que podemos contemplar, e que cada homem, em virtude desse parentesco, é, ou tem em seus refolhos íntimos, um germe de divindade, uma porção incorruptível da essência divina, que o leva constantemente ao bem, e que, com o tempo, dominará todas as imperfeições inerentes à condição rudimentar ou terrestre, e triunfará sobre todo o mal.
19. – Que o mal é a falta mais ou menos grande da harmonia com esse princípio íntimo ou divino; e, contudo, quer o princípio se chame Cristianismo, Espiritualismo, Religião, Filosofia; quer se reconheça o “Espírito Santo”, a Bíblia ou a inspiração espiritual e celeste, tudo quanto ajuda o homem a submeter à sua natureza interna o que em si há de mais exterior, e a torná-lo harmonioso com ela, é um meio de triunfar sobre o mal.
2. — Eis, pois, a base da crença dos espíritas americanos. Se não é a da totalidade, ao menos é a da maioria. Essa crença não é mais o resultado de um sistema preconcebido nesse país, do que o Espiritismo na Europa. Ninguém a imaginou; viu-se, observou-se e tiraram-se conclusões. Lá, como aqui, não se partiu da hipótese dos Espíritos para explicar os fenômenos; mas dos fenômenos, como efeito, chegou-se aos Espíritos como causa, pela observação. Eis uma circunstância capital, que os detratores se obstinam em não levar em conta. Porque trazem consigo, com o pensamento, o desejo mesmo de não encontrar os Espíritos, imaginam que os espíritas deveriam ter tomado seu ponto de partida na ideia preconcebida dos Espíritos, e que a imaginação os faz ver em todo lugar. Como é, então, que tantas pessoas que neles não acreditavam se renderam à evidência? Há milhares de exemplos, na América como aqui. Muitos, ao contrário, passaram pela hipótese que o Sr. Chevillard e a ela não renunciaram senão depois de haverem reconhecido a sua impotência para tudo explicar. Ainda uma vez, não se chegou à afirmação dos Espíritos senão depois de haver experimentado todas as outras soluções.
Já foi possível notar as relações e as diferenças existentes entre as duas escolas, e para os que não se contentam com palavras vãs, mas vão ao fundo das ideias, a diferença se reduz a bem pouca coisa. Não se tendo copiado estas duas escolas, tal coincidência é um fato deveras notável. Assim, eis milhões de pessoas nos dois lados do Atlântico que observam um fenômeno e chegam ao mesmo resultado. É verdade que o Sr. Chevillard ainda não tinha passado por lá para apor o seu veto e dizer àqueles milhões de indivíduos, entre os quais há bom número que não passa por tolos: “Enganastes-vos; só eu possuo a chave desses estranhos fenômenos e vou dar ao mundo a sua solução definitiva.”
3. — Para tornar a comparação mais difícil, vamos tomar a profissão americana, artigo por artigo, e comparar o que diz, sobre cada uma das proposições aí formuladas, a doutrina de O Livro dos Espíritos, publicado em 1857, e que também está desenvolvida em outras obras fundamentais.
Encontrar-se-á um resumo mais completo no capítulo II de O que é o Espiritismo:
1. – O homem possui uma alma ou Espírito, princípio inteligente, no qual residem o pensamento, a vontade, o senso moral, e do qual o corpo não é senão um envoltório material. O Espírito é o ser principal, preexistente e sobrevivente ao corpo, que não passa de um acessório temporário.
Quer durante a vida carnal, quer depois de a ter deixado, o Espírito é revestido de um corpo fluídico ou perispírito, que reproduz a forma do corpo material.
2. – O Espírito é imortal; só o corpo é perecível.
3. – Desprendidos do corpo carnal, os Espíritos constituem o mundo invisível ou espiritual, que nos rodeia e em cujo meio vivemos.
As transformações fluídicas produzem imagens e objetos tão reais para os Espíritos, eles próprios fluídicos, quanto o são as imagens e os objetos terrestres para os homens, que são materiais. Tudo é relativo em cada um desses mundos. (Vide A Gênese segundo o Espiritismo, capítulo dos fluidos e das criações fluídicas).
4. – A morte do corpo em nada modifica a natureza do Espírito, que conserva as aptidões intelectuais e morais adquiridas durante a vida terrena.
5. – O Espírito traz em si os elementos de sua felicidade ou de sua infelicidade; é feliz ou desgraçado em razão do grau de sua depuração moral; sofre as suas próprias imperfeições, cujas consequências naturais suporta, sem que a punição resulte de uma condenação especial ou individual.
A infelicidade do homem na Terra provém da inobservância das leis divinas. Quando conformar seus atos e suas instituições sociais a essas leis, será tão feliz quanto o comporte a sua natureza corporal.
6. – Nada do que o homem adquire durante a vida terrena em conhecimentos e em perfeições morais para ele é perdido; ele é, na vida futura, aquilo que realizou na vida presente.
7. – O progresso é a lei universal, em virtude da qual o Espírito progride indefinidamente.
8. – Os Espíritos estão em meio de nós; rodeiam-nos, veem-nos, escutam-nos e participam, em certa medida, das ações dos homens.
9. – Não sendo os Espíritos senão as almas dos homens, são encontrados em todos os graus de saber e de ignorância, de bondade e de perversidade que existem na Terra.
10. – Segundo a crença vulgar, o céu e o inferno são lugares circunscritos de recompensas e punições. Segundo' o Espiritismo, trazendo os Espíritos em si mesmos os elementos de sua felicidade ou de seus sofrimentos, são felizes ou infelizes em qualquer parte onde se encontrem; as palavras céu e inferno não passam de figuras que caracterizam um estado de felicidade ou de infelicidade.
Há, por assim dizer, tantos graus entre os Espíritos quantas as nuanças nas aptidões intelectuais e morais. Todavia, se se considerarem os caracteres mais marcantes, podem ser agrupados em nove classes ou categorias principais, que se podem subdividir ao infinito, sem que essa classificação nada tenha de absoluto. (O Livro dos Espíritos; 2ª Parte, capítulo I, nº 100 – “Escala Espírita”.)
À medida que os Espíritos avançam em perfeição, habitam mundos cada vez mais adiantados fisicamente e moralmente. Por certo é o que entendia Jesus por estas palavras: “Na casa de meu Pai há muitas moradas.” (Vide O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo III.)
11. – Os Espíritos podem manifestar-se aos homens, de diversas maneiras: pela inspiração, pela palavra, pela vista, pela escrita, etc.
É um erro crer que os Espíritos têm a ciência infusa; seu saber, no espaço como na Terra, está subordinado ao seu grau de adiantamento, e há os que, sobre certas coisas, sabem menos que os homens. Suas comunicações estão em relação com os seus conhecimentos e, por isto mesmo, não poderiam ser infalíveis. O pensamento do Espírito pode, além disso, ser alterado pelo meio que ele atravessa para se manifestar.
Aos que perguntam para que servem as comunicações dos Espíritos, já que não sabem mais que os homens, responde-se, inicialmente, que servem para provar que os Espíritos existem e, por conseguinte, a imortalidade da alma; em segundo lugar, para nos ensinar onde se acham, o que são, o que fazem, e em que condições se é feliz ou desgraçado na vida futura; em terceiro lugar, para destruir os preconceitos vulgares sobre a natureza dos Espíritos e o estado das almas após a morte, coisas estas que não seriam sabidas sem as comunicações com o mundo invisível.
12. – As comunicações dos Espíritos são opiniões pessoais, que não devem ser aceitas cegamente. O homem não deve, em nenhuma circunstância, desprezar seu próprio julgamento e seu livre-arbítrio. Seria dar prova de ignorância e de leviandade aceitar como verdades absolutas tudo quanto vem dos Espíritos; eles dizem o que sabem. Cabe a nós submeter os seus ensinamentos ao controle da lógica e da razão.
13. – Sendo as manifestações a consequência do incessante contato dos Espíritos e dos homens, elas existiram em todos os tempos; estão na ordem das leis da Natureza e nada têm de miraculoso, seja qual for a forma sob a qual se apresentam. Pondo em contato o mundo material e o mundo espiritual, essas manifestações tendem a elevar o homem, provando-lhe que a Terra não é para ele nem o começo, nem o fim de todas as coisas, e que ele tem outros destinos.
14. – Os seres designados sob o nome de anjos ou de demônios não são criações especiais, distintas da Humanidade. Os anjos são Espíritos saídos da Humanidade e chegados à perfeição; os demônios são Espíritos ainda imperfeitos, mas que melhorarão.
Seria contrário à justiça e à bondade de Deus ter este criado seres perpetuamente votados ao mal, incapazes de voltar ao bem, e outros, privilegiados; isentos de todo trabalho para chegar à perfeição e à felicidade.
Segundo o Espiritismo, Deus não tem favores nem privilégios para nenhuma de suas criaturas; todos os Espíritos têm um mesmo ponto de partida e a mesma estrada a percorrer, para chegar, pelo trabalho, à perfeição e à felicidade. Uns chegaram: são os anjos ou puros Espíritos; os outros ainda estão na retaguarda: são os Espíritos imperfeitos. (Vide A Gênese, capítulos sobre os Anjos e os Demônios.) [Obs. Esse capítulo não existe. Vide O Céu e o inferno: Os anjos, capítulo VIII; Os demônios, capítulo IX, e na Gênese, capítulo XI, Doutrina dos anjos decaídos.]
15. – O Espiritismo não admite os milagres, no sentido teológico da palavra, visto como, segundo ele, nada se realiza fora das leis da Natureza. Certos fatos, supondo-os autênticos, só foram reputados miraculosos porque se ignoravam as suas causas naturais. O caráter do milagre é ser excepcional e insólito; quando um fato se reproduz espontaneamente ou facultativamente, é que está submetido a uma lei, e desde então já não é um milagre. Os fenômenos de dupla vista, de aparições, de presciência, de curas pela imposição das mãos, e todos os efeitos designados sob o nome de manifestações físicas estão neste caso. (Vide, para o desenvolvimento completo desta questão, a segunda parte de A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo.)
16. – Todas as faculdades intelectuais e morais têm sua fonte no princípio espiritual, e não no princípio material.
17. – Depurando-se, o Espírito do homem tende a aproximar-se da divindade, princípio e fim de todas as coisas.
18. – A alma humana, emanação divina, traz em si o germe ou princípio do bem, que é o seu objetivo final, e deve fazê-la triunfar das imperfeições inerentes ao seu estado de inferioridade na Terra.
19. – Tudo o que tende a elevar o homem, a desprender sua alma das constrições da matéria, quer sob a forma filosófica, quer sob a religiosa, é um elemento de progresso que o aproxima do bem, ajudando-o a vencer os seus maus instintos.
Todas as religiões conduzem a esse objetivo, por meios mais ou menos eficazes e racionais, conforme o grau de adiantamento dos homens, para a prática dos quais elas foram feitas.
4. — Em que, então, o Espiritismo americano difere do Espiritismo europeu? Seria porque um se chama Espiritualismo e o outro Espiritismo? Questão pueril de palavras, sobre a qual seria supérfluo insistir. Dos dois lados a coisa é vista de um ponto de vista muito elevado para se prender a semelhante futilidade. Talvez ainda difiram em alguns pontos de forma e de detalhes, muito insignificantes, e que se devem mais aos meios e aos costumes de cada país, do que ao fundo da Doutrina. O essencial é que haja concordância sobre os pontos fundamentais, e é o que ressalta com evidência da comparação acima.
Ambos reconhecem o progresso indefinido da alma como a lei essencial do futuro; ambos admitem a pluralidade das existências sucessivas em mundos cada vez mais avançados. A única diferença consiste em que o Espiritismo europeu admite essa pluralidade de existências na Terra, até que o Espírito aqui tenha atingido o grau de adiantamento intelectual e moral que comporta este globo, após o que o deixa para outros mundos, onde adquire novas qualidades e novos conhecimentos. De acordo com a ideia principal, não diferem senão quanto a um dos modos de aplicação. Poderá estar aí uma causa de antagonismo entre gente que persegue um grande objetivo humanitário?
Aliás, o princípio da reencarnação na Terra não é peculiar ao Espiritismo europeu; era um ponto fundamental da doutrina druídica; em nossos dias foi proclamado antes do Espiritismo por ilustres filósofos, tais como Dupont de Nemours, Charles Fourier, Jean Reynaud, etc. Poder-se-ia fazer uma lista interminável de escritores de todas as nações, poetas, romancistas e outros que o afirmaram em suas obras; nos Estados Unidos citaremos Benjamin Franklin e a Sra. Beecher-Stove, autora de A Cabana do Pai Tomás.
Assim, nem somos o seu criador, nem o seu inventor. Hoje ele tende a tomar lugar na filosofia moderna, fora do Espiritismo, como única solução possível e racional de uma imensidade de problemas psicológicos e morais, até agora inexplicáveis. Não é aqui o lugar de discutir essa questão, para cujo desenvolvimento remetemos o leitor à introdução de O Livro dos Espíritos, e ao capítulo IV. de O Evangelho segundo o Espiritismo. De duas, uma: esse princípio é verdadeiro, ou não o é; se é verdadeiro, é uma lei e, como toda lei da Natureza, não são as opiniões contrárias de alguns homens que o impedirão de ser uma verdade e de ser aceito.
Já explicamos muitas vezes as causas que se haviam oposto à sua introdução no Espiritismo americano [Vide: A reencarnação na América]; essas causas desaparecem dia a dia, e é do nosso conhecimento que já encontra numerosas simpatias naquele país. Aliás, o programa acima, dele não fala. Se não é proclamado, não é contestado. Pode-se mesmo dizer que ressalta implicitamente, como consequência inevitável de certas afirmações.
Em suma, como se vê, a maior barreira que separa os espíritas dos dois continentes é o oceano, através do qual podem perfeitamente dar-se as mãos.
5. — O que faltou aos Estados Unidos foi um centro de ação para coordenar os princípios. Não existe, a bem dizer, corpo metódico de doutrina; ali se encontram, como se pode ser convencido, ideias muito justas e de alto alcance, mas sem ligação. É a opinião de todos os americanos que tivemos ocasião de ver, e é confirmado por um relato feito numa das convenções realizadas em Cleveland, † em 1867, de onde extraímos as seguintes passagens:
“Na opinião de vossa comissão, o que hoje se chama Espiritualismo é um caos onde a verdade mais pura está incessantemente misturada aos erros mais grosseiros. Uma das coisas que mais servirão para o adiantamento da nova filosofia será o hábito de empregar bons métodos de observação. Recomendamos aos nossos irmãos e irmãs uma atenção levada ao escrúpulo em toda esta parte do Espiritualismo. Também os aconselhamos a desconfiarem das aparências e a nem sempre tomarem por um estado extático, ou por uma agitação oriunda do mundo espiritual, disposições de alma que podem ter sua origem na desordem dos órgãos, e em particular nas moléstias dos nervos e do fígado, ou em qualquer outra excitação completamente independente da ação dos Espíritos.
“Cada um dos membros da comissão já teve uma experiência muito longa desses fenômenos; já há dez ou quinze anos, todos tínhamos sido testemunhas de fatos cuja origem extraterrestre não podia ser posta em dúvida, e que se impunham à razão. Mas todos estávamos igualmente convencidos de que uma grande parte do que se dá à multidão como manifestações espiritualistas são muito simplesmente passes de magia mais ou menos bem executados por falsários que disto se servem para explorar a credulidade pública.
“As observações que acabamos de fazer a respeito das habilidades qualificadas de manifestações, se aplicam por inteiro a todos os supostos médiuns, que se recusam a fazer suas experiências em qualquer lugar que não seja um quarto escuro: os Davenport, Fays, Eddies, Ferrises, Church, Srta. Vanwie e outros, que pretendem fazer coisas materialmente impossíveis, e se deixam passar como instrumentos dos Espíritos, sem trazer a menor prova em apoio às suas operações. Depois de uma atenta investigação da matéria, estamos na obrigação de declarar que a obscuridade não é uma condição indispensável à produção dos fenômenos; que ela é reclamada como tal apenas pelos velhacos, e que não tem outra utilidade senão favorecer suas trapaças. Em consequência, aconselhamos as pessoas que se ocupam de Espiritualismo a que renunciem à evocação dos Espíritos no escuro.
“Criticando uma prática que pode ser substituída sem esforço por modos de experimentação infinitamente mais probantes, não pretendemos infligir uma censura aos médiuns que o fazem de boa-fé, mas denunciar à opinião pública os charlatães que exploram uma coisa digna de todo o respeito. Queremos defender os verdadeiros médiuns e livrar a nossa gloriosa causa das imposturas que a desonram.
“Cremos nas manifestações físicas; elas são indispensáveis ao progresso do Espiritismo. São provas simples e claras que ferem, de início, aqueles a quem não cegam os preconceitos; são um ponto de partida para chegar à compreensão das manifestações de ordem mais elevada, o caminho que conduziu a maior parte dos espiritualistas americanos do ateísmo ou da dúvida ao conhecimento da imortalidade da alma. (Extraído do New-York Herald, de 10 de setembro de 1867.)