O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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A Gênese.

(Idioma francês)

OS MILAGRES SEGUNDO O ESPIRITISMO.

Capítulo XV.


OS MILAGRES DO EVANGELHO.

OBSERVAÇÕES PRELIMINARES. — SUPERIORIDADE DA NATUREZA DE JESUS: (1, 2.) — Sonhos. (3.) — Estrela dos magos. (4.) — DUPLA VISTA: Entrada de Jesus em Jerusalém. (5.) — Beijo de Judas. (6.) — Pesca milagrosa. (7.) — Vocação de Pedro, André, Tiago, João e Mateus. (8, 9.) — CURAS: Perda de sangue. (10, 11.) — Cego de Betsaida. (12, 13.) — Paralítico. (14, 15.) — Os dez leprosos. (16, 17.) — Mão seca. (18.) — A mulher curvada. (19, 20.) — O paralítico da piscina. (21-23.) — Cego de nascença. (24, 25.) — Numerosas curas de Jesus. (26-28.) — POSSESSOS. (29-36.) — RESSURREIÇÕES: Filha de Jairo. (37.) — Filho da viúva de Naim. (38-40.) — OUTROS: Jesus caminha sobre a água. (41, 42.) — Transfiguração. (43, 44.) — Tempestade aplacada. (45, 46.) — Bodas de Caná. (47.) — Multiplicação dos pães. (48.) — O fermento dos fariseus. (49.) — O pão do Céu. (50, 51.) — Tentação de Jesus. (52, 53.) — Prodígios à morte de Jesus. (54, 55.) — Aparição de Jesus, após sua morte. (56-63.) — Desaparecimento do corpo de Jesus. (64-67.)


POSSESSOS.

29. — Vieram em seguida a Cafarnaum e Jesus, entrando primeiramente, em dia de sábado, na sinagoga, os instruía. Admiravam-se da sua doutrina, porque ele os instruía como tendo autoridade e não como os escribas.

Ora, achava-se na sinagoga um homem possesso de um Espírito impuro, que exclamou: Que há entre ti e nós, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei quem és: és o santo de Deus. Jesus, porém, falando-lhe ameaçadoramente, disse: Cala-te e sai desse homem. Então, o Espírito impuro, agitando o homem em violentas convulsões, saiu dele.

Ficaram todos tão surpreendidos que uns aos outros perguntavam: Que é isto? que nova doutrina é esta? Ele dá ordem com império, até aos Espíritos impuros, e estes lhe obedecem. (São Marcos, Cap. I, vv. 21 a 27.)


30. — Tendo eles saído apresentaram-lhe um homem mudo, possesso do demônio. Expulso o demônio o mudo falou e o povo, tomado de admiração, dizia: Jamais se viu coisa semelhante em Israel.

Mas os fariseus, ao contrario, diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele expele os demônios. (São Mateus, Cap. IX, vv. 32 a 34.)


31. — Quando ele foi vindo ao lugar onde estavam os outros discípulos, viu em torno destes uma grande multidão de pessoas e muitos escribas que com eles disputavam. Logo que deu com Jesus, todo o povo se tomou de espanto e temor e correram todos a saudá-lo.

Perguntou ele então: Sobre que disputáveis em assembleia? Um homem, do meio do povo, tomando a palavra, disse: Mestre, trouxe-te meu filho, que está possesso de um Espírito mudo; em todo lugar onde dele se apossa, atira-o por terra e o menino espuma, rilha os dentes e se torna todo seco. Pedi a teus discípulos que o expulsassem, mas eles não puderam.

Disse-lhes Jesus: Oh! gente incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos suportarei? Trazei-mo. Trouxeram-lho e ainda não havia ele posto os olhos em Jesus, e o Espírito entrou a agitá-lo violentamente; ele caiu no chão e se pôs a rolar espumando.

Jesus perguntou ao pai do menino: Desde quando isto lhe sucede? Desde pequenino, diz o pai. E o Espírito o tem lançado, muitas vezes, ora à água, ora ao fogo, para fazê-lo perecer; se alguma coisa puderes, tem compaixão de nós e socorre-nos.

Respondeu-lhe Jesus: Se puderes crer, tudo é possível àquele que crê. Logo exclamou o pai do menino, banhado em lágrimas: Senhor, creio, ajuda-me na minha incredulidade.

Jesus, vendo que o povo acorria em multidão, falou em tom de ameaça ao Espírito impuro, dizendo-lhe: Espírito surdo e mudo sai desse menino e não entres mais nele. Então, o Espírito, soltando grande grito e agitando o menino em violentas convulsões, saiu, ficando como morto o menino, de sorte que muitos diziam que ele morrera. Mas Jesus, tomando-lhe as mãos e amparando-o, fê-lo levantar-se.

Quando Jesus voltou para casa, seus discípulos lhe perguntaram, em particular: Por que não pudemos nós expulsar esse demônio? Ele respondeu: Os demônios desta espécie não podem ser expulsos senão pela prece e pelo jejum. (São Marcos, Cap. IX, vv. 14 a 28.)


32. — Apresentaram-lhe então um possesso cego e mudo e ele o curou, de modo que o possesso começou a falar e a ver: Todo o povo ficou presa de admiração e dizia: Não é esse o filho de David?

Mas os fariseus, isso ouvindo, diziam: Este homem expulsa os demônios com o auxílio de Belzebu, príncipe dos demônios.

Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: Todo reino que se dividir contra si mesmo será arruinado e toda cidade ou casa que se divide contra si mesma não pode subsistir. Se Satanás expulsa a Satanás, ele está dividido contra si mesmo, como, pois, o seu reino poderá subsistir? E, se é por Belzebu que eu expulso os demônios, por quem os expulsarão vossos filhos? Por isso, eles próprios serão os vossos juízes. Se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é que o reino de Deus veio até vós. (São Mateus, Cap. XII, 22 a 28.)


33. — Com as curas, as libertações de possessos figuram entre os mais numerosos atos de Jesus. 2 Alguns há, entre os fatos dessa natureza, como os acima narrados, n.º 30, em que a possessão não é evidente. 3 Provavelmente, naquela época, como ainda hoje acontece, atribuía-se à influência dos demônios todas as enfermidades cuja causa se não conhecia, principalmente a mudez, a epilepsia e a catalepsia. 4 Outros há, todavia, em que nada tem de duvidosa a ação dos maus Espíritos, casos esses que guardam com os de que somos testemunhas tão frisante analogia, que neles se reconhecem todos os sintomas de tal gênero de afecção. 5 A prova da participação de uma inteligência oculta, em tal caso, ressalta de um fato material: são as múltiplas curas radicais obtidas, nalguns centros espíritas, pela só evocação e doutrinação dos Espíritos obsessores, sem magnetização, nem medicamentos e, muitas vezes, na ausência do paciente e a grande distância deste. 6 A imensa superioridade do Cristo lhe dava tal autoridade sobre os Espíritos imperfeitos, chamados então demônios, que lhe bastava ordenar se retirassem para que não pudessem resistir a essa injunção. (Cap. XIV, n.º 46.)


34. — O fato de serem alguns maus Espíritos mandados meter-se em corpos de porcos é o que pode haver de menos provável. 2 Aliás, seria difícil explicar a existência de tão numeroso rebanho de porcos num país onde esse animal era tido em horror e nenhuma utilidade oferecia para a alimentação. 3 Um Espírito, porque mau, não deixa de ser um Espírito humano, embora tão imperfeito que continue a fazer mal, depois de desencarnar, como o fazia antes, e é contra todas as leis da Natureza que lhe seja possível fazer morada no corpo de um animal; 4 no fato, pois, a que nos referimos, temos que reconhecer a existência de uma dessas ampliações tão comuns nos tempos de ignorância e de superstição; ou, então, será uma alegoria destinada a caracterizar os pendores imundos de certos Espíritos.


35. — Parece que, ao tempo de Jesus, eram em grande número, na Judeia, os obsidiados e os possessos, donde a oportunidade que ele teve de curar a muitos. 2 Sem dúvida, os Espíritos maus haviam invadido aquele país e causado uma epidemia de possessões. (Cap. XIV, n.º 49.)

3 Sem apresentarem caráter epidêmico, as obsessões individuais são muitíssimo frequentes e se apresentam sob os mais variados aspectos que, entretanto, por um conhecimento amplo do Espiritismo, facilmente se descobrem; 4 podem, não raro, trazer consequências danosas à saúde, seja agravando afecções orgânicas já existentes, seja ocasionando-as. 5 Um dia, virão a ser, incontestavelmente, arroladas entre as causas patológicas que requerem, pela sua natureza especial, especiais meios de tratamento. 6 Revelando a causa do mal, o Espiritismo rasga nova senda à arte de curar e fornece à Ciência meio de alcançar êxito onde até hoje quase sempre vê malogrados seus esforços, pela razão de não atender à primordial causa do mal. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, Cap. XXIII.)


36. — Os fariseus diziam que por influência dos demônios é que Jesus expulsava os demônios; 2 segundo eles, o bem que Jesus fazia era obra de Satanás; não refletiam que, se Satanás expulsasse a si mesmo, praticaria rematada insensatez. 3 É de notar-se que os fariseus daquele tempo já pretendessem que toda faculdade transcendente e, por esse motivo, imputada sobrenatural, era obra do demônio, pois que, na opinião deles, era do demônio que Jesus recebia o poder de que dispunha; 4 é esse mais um ponto de semelhança daquela com a época atual e tal doutrina é ainda a que a Igreja procura fazer que prevaleça hoje, contra as manifestações espíritas. n



[1] Nem todos os teólogos, porém, adotam opiniões tão absolutas sobre a doutrina demoníaca. Aqui está uma cujo valor o clero não pode contestar, emitida por um eclesiástico, Monsenhor Freyssinous, bispo de Hermópolis, na seguinte passagem das suas Conferências sobre a religião, tomo 2.º, pág. 341 (Paris, 1825): “Se Jesus operasse seus milagres pelo poder do demônio, este houvera trabalhado pela destruição do seu império e teria empregado contra si próprio o seu poder. Certamente, um demônio que procurasse destruir o reinado do vício para implantar o da virtude, seria um demônio muito singular. Eis por que Jesus, para repelir a absurda acusação dos judeus, lhes dizia: “Se opero prodígios em nome do demônio, o demônio está dividido consigo mesmo, trabalha, conseguintemente, por se destruir a si próprio!” resposta que não admite réplica.” [v. Défense du Cristianisme ou Conférences sur la religion, par M. D. Frayssinous.]

É precisamente o argumento que os espíritas opõem aos que atribuem ao demônio os bons conselhos que os Espíritos lhes dão. O demônio agiria então como um ladrão profissional que restituísse tudo o que houvesse roubado e exortasse os outros ladrões a se tornarem pessoas honestas.


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