OBSERVAÇÕES
PRELIMINARES. — SUPERIORIDADE DA NATUREZA DE JESUS:
(1, 2.) — Sonhos. (3.) — Estrela
dos magos. (4.)
— DUPLA VISTA: Entrada de Jesus em Jerusalém. (5.)
— Beijo de Judas. (6.)
— Pesca milagrosa. (7.)
— Vocação de Pedro, André, Tiago, João e Mateus. (8,
9.) — CURAS: Perda de sangue. (10,
11.) — Cego de Betsaida. (12,
13.) — Paralítico. (14,
15.) — Os dez leprosos. (16,
17.) — Mão seca. (18.)
— A mulher curvada. (19,
20.) — O paralítico da piscina. (21-23.)
— Cego de nascença. (24,
25.) — Numerosas curas de Jesus. (26-28.)
— POSSESSOS. (29-36.)
— RESSURREIÇÕES: Filha de Jairo. (37.)
— Filho da viúva de Naim. (38-40.)
— OUTROS: Jesus caminha sobre a água. (41,
42.) — Transfiguração. (43,
44.) — Tempestade aplacada. (45,
46.) — Bodas de Caná. (47.)
— Multiplicação dos pães. (48.)
— O fermento dos fariseus. (49.)
— O pão do Céu. (50,
51.) — Tentação de Jesus. (52,
53.) — Prodígios à morte de Jesus. (54,
55.) — Aparição de Jesus, após sua morte. (56-63.)
— Desaparecimento do corpo de Jesus. (64-67.) |
OBSERVAÇÕES PRELIMINARES.
SUPERIORIDADE DA NATUREZA DE JESUS. †
1. — Os fatos que o Evangelho relata e que foram até hoje considerados milagrosos pertencem, na sua maioria, à ordem dos fenômenos psíquicos, isto é, dos que têm como causa primária as faculdades e os atributos da alma. 2 Confrontando-os com os que ficaram descritos e explicados no capítulo precedente, reconhecer-se-á sem dificuldade que há entre eles identidade de causa e de efeito. 3 A História registra outros análogos, em todos os tempos e no seio de todos os povos, pela razão de que, desde que há almas encarnadas e desencarnadas, os mesmos efeitos forçosamente se produziram. 4 Pode-se, é certo, contestar, no que concerne a este ponto, a veracidade da História; mas, hoje, eles se produzem às nossas vistas e, por assim dizer, à vontade e por indivíduos que nada têm de excepcionais. 5 O só fato da reprodução de um fenômeno, em condições idênticas, basta para provar que ele é possível e se acha submetido a uma lei, não sendo, portanto, miraculoso.
6 O princípio dos fenômenos psíquicos repousa, como já vimos, nas propriedades do fluido perispiritual, que constitui o agente magnético; 7 nas manifestações da vida espiritual durante a vida corpórea e depois da morte; 8 e, finalmente, no estado constitutivo dos Espíritos e no papel que eles desempenham como força ativa da Natureza. 9 Conhecidos estes elementos e comprovados os seus efeitos, tem-se, como consequência, de admitir a possibilidade de certos fatos que eram rejeitados enquanto se lhes atribuía uma origem sobrenatural.
2. — Sem nada prejulgar quanto à natureza do Cristo, natureza cujo exame não entra no quadro desta obra, considerando-o apenas um Espírito superior, não podemos deixar de reconhecê-lo um dos de ordem mais elevada e colocado, por suas virtudes, muitíssimo acima da humanidade terrestre. 2 Pelos imensos resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a Divindade somente a seus mensageiros diretos confia, para cumprimento de seus desígnios. 3 Mesmo sem supor que ele fosse o próprio Deus, mas unicamente um enviado de Deus para transmitir sua palavra aos homens, seria mais do que um profeta, porquanto seria um Messias divino.
4 Como homem, tinha a organização dos seres carnais; 5 porém, como Espírito puro, desprendido da matéria, havia de viver mais da vida espiritual, do que da vida corporal, de cujas fraquezas não era passível. 6 A superioridade de Jesus com relação aos homens não derivava das qualidades particulares do seu corpo, mas das do seu Espírito, que dominava de modo absoluto a matéria e da do seu perispírito, tirado da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres (Cap. XIV, n.º 9). 7 Sua alma, provavelmente, não se achava presa ao corpo, senão pelos laços estritamente indispensáveis; constantemente desprendida, ela decerto lhe dava dupla vista, não só permanente, como de excepcional penetração e superior de muito à que de ordinário possuem os homens comuns. 8 O mesmo havia de dar-se, nele, com relação a todos os fenômenos que dependem dos fluidos perispirituais ou psíquicos. 9 A qualidade desses fluidos lhe conferia imensa força magnética, secundada pelo incessante desejo de fazer o bem.
10 Agiria como médium nas curas que operava? Poder-se-á considerá-lo poderoso médium curador? Não, porquanto o médium é um intermediário, um instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados. 11 Ora, o Cristo não precisava de assistência, pois que era ele quem assistia os outros; ele agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como o podem fazer, em certos casos, os encarnados, na medida de suas forças. 12 Que Espírito, ao demais, ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os transmitir? 13 Se algum influxo estranho recebia, esse só de Deus lhe poderia vir; segundo definição dada por um Espírito, ele era médium de Deus.
3. — José, diz o Evangelho, foi avisado por um anjo, que lhe apareceu
em sonho e que lhe aconselhou fugisse para o Egito com o Menino. (São
Mateus, capítulo II, vv. 19 a 23.)
2
Os avisos por meio de sonhos desempenham grande papel nos livros sagrados
de todas as religiões. 3
Sem garantir a exatidão de todos os fatos narrados e sem os discutir,
o fenômeno em si mesmo nada tem de anormal, sabendo-se, como se sabe,
que, durante o sono, é quando o Espírito, desprendido dos laços da matéria,
entra momentaneamente na vida espiritual, onde se encontra com os que
lhe são conhecidos. 4
É com frequência essa a ocasião que os Espíritos protetores aproveitam
para se manifestar a seus protegidos e lhes dar conselhos mais diretos.
5
São numerosos os casos de avisos em sonho, porém, não se deve inferir
daí que todos os sonhos são avisos, nem, ainda menos, que tem uma significação
tudo o que se vê em sonho. 6
Cumpre se inclua entre as crenças supersticiosas e absurdas a arte de
interpretar os sonhos. (Cap. XIV,
n.º 27 e 28.)
4. — Diz-se que uma estrela apareceu aos magos que foram adorar a Jesus;
que ela lhes ia à frente indicando-lhes o caminho e que se deteve quando
eles chegaram. (São
Mateus, capítulo II, vv. de 1 a 12.)
2 Não se trata de saber se o fato que São Mateus narra é real, ou se não passa de uma figura indicativa de que os magos foram guiados de forma misteriosa ao lugar onde estava o Menino, dado que não há meio algum de verificação; trata-se de saber se é possível um fato de tal natureza.
3 O que é certo é que, naquela circunstância, a luz não podia ser uma estrela. 4 Na época em que o fato ocorreu era possível acreditassem que fosse, porquanto então se cria serem as estrelas pontos luminosos pregados no firmamento e suscetíveis de cair sobre a Terra; não hoje, quando se conhece a natureza das estrelas.
5
Entretanto, por não ter como causa a que lhe atribuíram, não deixa de
ser possível o fato da aparição de uma luz com o aspecto de uma estrela.
6
Um Espírito pode aparecer sob forma luminosa, ou transformar uma parte
do seu fluido perispirítico em foco luminoso. 7
Muitos fatos desse gênero, modernos e perfeitamente autênticos, não
procedem de outra causa, que nada apresenta de sobrenatural. (Cap. XIV,
n.º 13 e seguintes.)