474. Por que o homem tem, instintivamente, horror ao nada? [Questão 958.]
“Porque o nada não existe.”
A ideia do nada tem qualquer coisa que repugna à razão. Por mais despreocupado que seja o homem nesta vida, chegado o momento supremo pergunta a si mesmo o que vai ser dele, e involuntariamente espera.
475. De onde vem para o homem o sentimento instintivo da vida futura? [Questão 959.]
“Já dissemos: antes de encarnar o Espírito conhece todas essas coisas, e a alma guarda vaga lembrança do que sabe e do que viu no estado espiritual.”
Crer em Deus sem admitir a vida futura seria um contrassenso. O sentimento de uma vida melhor reside no foro íntimo de todos os homens e não é possível que Deus o tenha colocado aí inutilmente.
A vida futura implica a conservação de nossa individualidade após a morte. Se conosco tudo acabasse na Terra, ou se em nós só operasse uma transformação que não nos deixasse nenhuma consciência do, atos passados, não haveria nem bem nem mal reais, nem necessidade de sofrear nossas paixões; a moral seria uma vã palavra; o homem só teria por móvel a satisfação de seus desejos, sem escrúpulo do agravo que pudesse causar aos semelhantes.
A consequência da vida futura decorre da responsabilidade de nossos atos. A razão e a justiça nos dizem que, na partilha da felicidade a que todos aspiram, os bons e os maus não podem estar confundidos. Não é possível que Deus queira que uns gozem, sem trabalho, de bens que outros só alcançam com esforço e perseverança.
476. Qual a origem da crença nas penas e recompensas futuras, que se encontra no seio de todos os povos? [Questão 960.]
“É sempre a mesma coisa: pressentimento da realidade, trazido ao homem pelo Espírito nele encarnado. Porque, sabei-o bem, não é em vão que uma voz interior vos fala, e vosso erro consiste em não ouvi-la com bastante atenção. Se nisso pensásseis bem, e com mais frequência, tornar-vos-íeis melhores.”
477. Qual o sentimento que domina a maioria dos homens no momento da morte: a dúvida, o temor, ou a esperança? [Questão 961.]
“A dúvida, nos céticos endurecidos; o temor, nos culpados; a esperança, nos homens de bem.”
477 a. Por que existem céticos, visto que a alma traz ao homem o sentimento das coisas espirituais? [Questão 962.]
“Eles são em número muito menor do que julgais. Muitos se fazem de espíritos fortes, durante a vida, somente por orgulho; mas, no momento da morte, deixam de ser tão fanfarrões.”
A ideia que Deus nos dá de sua justiça e de sua bondade, mediante a sabedoria de suas leis, não nos permite acreditar que o justo e o mau estejam na mesma categoria aos seus olhos, nem duvidar de que recebam, algum dia, um a recompensa, o outro o castigo, pelo bem ou pelo mal que tenham feito.
478. Deus se ocupa com cada homem, individualmente? Não é Ele muito grande e nós pequenos demais para que cada criatura em particular tenha, aos seus olhos, alguma importância? [Questão 963.]
“Deus se ocupa de todos os seres que criou, por menores que sejam. Nada é demasiado pequeno para sua bondade.”
478 a. Mas será necessário que Deus se ocupe de cada um de nossos atos, para nos recompensar ou punir Esses atos não são, na sua maioria, insignificantes para Ele? [Questão 964.]
“Deus tem suas leis, que regulam todas as vossas ações. Se as violais, a culpa é vossa. Sem dúvida, quando um homem comete um excesso qualquer, Deus não profere contra ele uma sentença, dizendo-lhe, por exemplo: Foste guloso, vou punir-te. Ele traçou um limite: as doenças e muitas vezes a morte são a consequência dos excessos. Eis a punição; ela resulta da infração da lei, como, aliás, sucede em tudo.”
Todas as nossas ações estão submetidas às leis de Deus. Não há nenhum ato, por mais insignificante que nos pareça, que não possa ser uma transgressão daquelas leis. Se sofremos as consequências dessa transgressão, só nos devemos queixar de nós mesmos, que, desse modo, nos tornamos artífices de nossa felicidade ou infelicidade futuras.” (Nota 16.) 131
479. Tem alguma coisa de material as penas e gozos depois da morte, ou são de natureza puramente espiritual? [Questão 965.]
“Diz o bom senso que não podem ser materiais, visto que a alma não é matéria.”
479 a. Por que, em geral, o homem faz ideias tão grosseiras e absurdas das penas e gozos da vida futura? [Questão 966.]
“Inteligência que ainda não se desenvolveu suficientemente. A criança compreende da mesma forma que o adulto? Ademais, isso depende também do que lhe ensinaram: é aí que há necessidade de uma reforma.
“Vossa linguagem é incompleta demais para expressar o que está fora de vós. Foi preciso, então, que se recorresse a comparações e tomastes essas imagens e figuras como a própria realidade. No entanto, à medida que o homem se esclarece, vai compreendendo melhor as coisas que sua linguagem não pode exprimir.”
A ideia que os homens fazem das penas e gozos da alma após a morte será mais ou menos elevada, conforme o estado de sua inteligência. Quanto mais ele se desenvolve, mais essa ideia se depura e se liberta da matéria; compreende as coisas de um ponto de vista mais racional, deixando de tomar ao pé da letra as imagens de uma linguagem figurada. Ensinando-nos que a alma é um ser todo espiritual, a razão, mais esclarecida, nos diz, por isso mesmo, que ela não pode ser afetada pelas impressões que atuam apenas sobre a matéria, o que não significa que esteja isenta de sofrimentos, nem que não receba o castigo de suas faltas.
480. Os Espíritos apenas compreendem a felicidade infinita, ou começam a experimentá-la?
“Experimentam a felicidade ou a desventura, segundo a posição que ocupam.”
As penas e gozos dos Espíritos são inerentes ao estado de perfeição a que hajam chegado. São mais ou menos felizes, segundo o grau de depuração que sofreram nas provas da vida corpórea, nas quais a alma se depura pela prática da Lei de Deus.
Podendo o homem apressar ou retardar essa perfeição conforme sua vontade, essas penas e gozos constituem a punição de sua negligência ou o prêmio de seus esforços para o atingir. Foi por isso que Jesus disse que cada um seria recompensado segundo suas obras.
481. Tornando-se Espírito após a morte, o homem reconhece sempre suas faltas?
“Sim, para o Espírito errante já não há véus; é como se tivesse saído de um nevoeiro e visse o que o afasta da felicidade. Então sofre ainda mais, porque compreende quanto foi culpado. Para ele não há mais ilusão: vê as coisas na sua realidade.” [Questão 975.]
Na erraticidade o Espírito descortina, de um lado, todas as suas existências passadas e, de outro, o futuro que lhe está prometido, compreendendo o que lhe falta para alcançá-lo. É como o viajante que, ao chegar ao cume de uma montanha, vê o caminho que percorreu e o que lhe resta percorrer para chegar ao seu destino.
482. A visão dos Espíritos que sofrem não constitui, para os bons, uma causa de aflição? Nesse caso, em que se transforma a felicidade deles assim perturbada? [Questão 976.]
“Isto não constitui uma causa de aflição, pois eles sabem que o mal terá um fim. Auxiliam os outros a se melhorarem e lhes estendem as mãos: essa é a ocupação deles, e que se lhes torna um prazer quando bem sucedidos.”
483. Todos os Espíritos veem a Deus? [Questão 244.]
“Todos veem o infinito, mas só os Espíritos perfeitos podem aproximar-se de Deus.”
483 a. Que é que impede os Espíritos imperfeitos de se aproximarem de Deus?
“A impureza deles.”
484. Os Espíritos inferiores compreendem a felicidade do justo? [Questão 975.]
“Sim, e isso lhes é um suplício, porque compreendem que estão privados dela por sua culpa. Daí por que o Espírito, liberto da matéria, aspira a uma nova existência corpórea, pois cada existência, se for bem empregada, pode abreviar a duração desse suplício. É então que escolhe provas por meio das quais possa expiar suas faltas. Porque, ficai sabendo, o Espírito sofre por todo o mal que praticou, ou de que foi causa voluntária, por todo o bem que poderia ter feito e não fez, e por todo o mal que resulte de não haver feito o bem.”
485. Não podendo os Espíritos ocultar um dos outros seus pensamentos, e sendo conhecidos todos os atos da vida, dever-se-á concluir que o culpado está perpetuamente em presença de sua vítima? [Questão 977.]
“Diz o bom senso que não pode ser de outro modo.”
485 a. Essa divulgação de todos os nossos atos reprováveis e a presença constante dos que foram vítimas de tais atos não serão um castigo para os culpados? [Questão 977 a.]
“Maior do que se pensa, mas somente até que o culpado tenha expiado suas faltas. Se o homem soubesse quanto custa fazer o mal!”
Quando nos acharmos no mundo dos Espíritos, estando patente todo nosso passado, o bem e o mal que houvermos feito serão igualmente conhecidos. Em vão aquele que haja praticado o mal tentará escapar ao olhar de suas vítimas: a presença inevitável delas lhe será um castigo e um remorso incessante, até que tenha expiado seus erros, ao passo que o homem de bem só encontrará em toda parte olhares amigos e benevolentes.
Para o mau, não há maior tormento, na Terra, do que a presença de suas vítimas, razão pela qual ele as evita sem cessar. Que será dele, quando a ilusão das paixões se dissipar e compreender o mal que fez, vendo revelados seus atos mais secretos, desmascarada sua hipocrisia e não puder subtrair-se à visão delas? Enquanto a alma do homem perverso é presa de vergonha, pesar e remorso, a do justo goza de perfeita serenidade.
486. Ao deixar seus despojos mortais, a alma vê imediatamente os parentes e amigos que a precederam no mundo dos Espíritas? [Questão 286.]
“Imediatamente nem sempre é o termo próprio. Como já dissemos, ela precisa de algum tempo para reconhecer-se e desembaraçar-se do véu material. Muitas vezes, também, os parentes e amigos vêm ao seu encontro para felicitá-la, o que constitui para ela uma recompensa.”
486 a. A duração desse primeiro momento de perturbação que se segue à morte é a mesma para todos os Espíritos?
“Não; depende da elevação de cada um. Aquele que já está purificado se reconhece quase imediatamente, pois já se libertou da matéria durante a vida do corpo, enquanto o homem carnal, aquele cuja consciência não é pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria.” [Questão 164.]
487. A lembrança das faltas que a alma tenha cometido, quando imperfeita, não lhe turba a felicidade, mesmo depois de se haver purificado? [Questão 978.]
“Não, porque resgatou suas faltas e saiu vitoriosa das provas a que se submetera para esse fim.”
487 a. As provas que a alma ainda tenha de sofrer para concluir sua purificação não lhe serão uma causa de penosa apreensão, que perturba sua felicidade? [Questão 979.]
“Para a alma ainda maculada, sim. É por isso que ela não pode gozar de perfeita felicidade senão quando estiver completamente pura. Mas, para a alma que já se elevou, nada tem de penoso o pensar nas provas que ainda haja de sofrer.”
A alma que chegou a certo grau de pureza já experimenta a felicidade. Um sentimento de doce satisfação a invade. Sente-se feliz por tudo o que vê, por tudo o que a cerca. Levanta-se para ela o véu que encobria os mistérios e as maravilhas da Criação e as perfeições divinas lhe aparecem em todo seu esplendor.
488. O laço de simpatia que une os Espíritos da mesma ordem constitui para eles uma fonte de felicidade? [Questão 980.]
“Sim; a união dos Espíritos comprometidos com o bem é, para eles, um dos maiores prazeres, porque não temem ver essa união turbada pelo egoísmo.”
Na Terra, o homem goza das primícias dessa felicidade quando encontra almas com as quais pode confundir-se numa união pura e santa. Em uma vida mais purificada, esse prazer será inefável e ilimitado, pois aí ele só encontrará almas simpáticas, que o egoísmo não arrefece. Tudo é amor na Natureza: o egoísmo é que o mata.
489. O Espírito que expia suas faltas em nova existência não experimenta sofrimentos materiais? Será então exato dizer-se que, depois da morte, só há para a alma sofrimentos morais? [Questão 983.]
“É bem verdade que, quando a alma está reencarnada, as tribulações da vida representam um sofrimento para ela; mas só o corpo sofre materialmente.
“Muitas vezes, falando de alguém que morreu, costumais dizer que não mais sofrerá. Nem sempre isto exprime a realidade. Como Espírito, está isento de dores físicas; dependendo, porém, das faltas que haja cometido, pode estar sujeito a dores morais mais agudas; pode mesmo vir a ser ainda mais infeliz em nova existência. O mau rico pedirá esmola e estará sujeito a todas as privações da miséria; o orgulhoso, a todas as humilhações; o que abusa de sua autoridade e trata com desprezo e crueldade os subordinados se verá forçado a obedecer a um patrão mais duro do que ele o foi. Todas as penas e tribulações da vida são expiação das faltas de outra existência, quando não resultam de faltas da vida atual. Logo que houverdes saído daqui, compreendereis isso.”
O homem que se considera feliz na Terra porque pode satisfazer às suas paixões é o que emprega menos esforços para se melhorar. Se muitas vezes começa a expiar esses prazeres efêmeros já mesmo nesta vida, com certeza os expiará em outra existência tão material quanto aquela.
490. A reencarnação da alma num mundo menos grosseiro é uma recompensa? [Questão 985.]
“É a consequência de sua depuração, porquanto, à medida que se depuram, os Espíritos passam a encarnar em mundos cada vez mais perfeitos, até que se tenham despojado totalmente da matéria e se lavado de todas as impurezas, para então gozarem eternamente da felicidade dos Espíritos puros no seio de Deus.”
Nos mundos onde a existência é menos material que na Terra, as necessidades são menos grosseiras e menos intensos os sofrimentos físicos. Lá os homens não mais conhecem as paixões más que, nos mundos inferiores, os fazem inimigos uns dos outros. Não tendo nenhum motivo de ódio nem de ciúme, vivem em paz, porque praticam a lei de justiça, amor e caridade. Não conhecem os aborrecimentos e os cuidados oriundos da inveja, do orgulho e do egoísmo, causas do tormento de nossa existência terrestre.
491. O Espírito que progrediu em sua existência terrena pode reencarnar algumas vezes no mesmo mundo? [Questão 986.]
“Sim, desde que não tenha logrado concluir sua missão, ele próprio pode pedir para completá-la em nova existência. Mas, então, já não constituirá para ele uma expiação.”
491 a. Em tal caso, terá ele de sofrer as mesmas vicissitudes?
“Não; quanto menos tiver de que se censurar, menos terá a expiar.”
492. O que acontece ao homem que, embora não fazendo o mal, também nada faz para libertar-se da influência da matéria? [Questão 987.]
“Desde que não dá nenhum passo rumo à perfeição, tem que recomeçar uma existência de mesma natureza que a precedente. Fica estacionário, podendo assim prolongar os sofrimentos da expiação.”
493. Há pessoas cuja vida transcorre em perfeita calma; que, nada precisando fazer por si mesmas, estão livres de preocupações. Essa existência feliz é uma prova de que nada têm a expiar de existência anterior? [Questão 988.]
“Conheces muitas dessas pessoas? Se acreditas que sim, enganaste. Muitas vezes, a calma é apenas aparente. Podem ter escolhido essa existência, mas, quando a deixam, percebem que não lhes serviu para progredirem. Então, tal como o preguiçoso, lamentam o tempo perdido. Sabei que o Espírito não pode adquirir conhecimentos e elevar-se senão pela atividade. Se adormece na indolência, não se adianta. Assemelha-se àquele que (segundo vossos costumes) precisa trabalhar e vai passear ou deitar-se, com a intenção de nada fazer.”
494. Haverá no Universo lugares circunscritos para as penas e gozos dos Espíritos, segundo seu merecimento? [Questão 1012.]
“Já respondemos a esta pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um tira de si mesmo o princípio de sua felicidade ou de sua desventura. E como eles estão por toda parte, não existe nenhum lugar circunscrito ou fechado especialmente destinado a uns ou a outros. Quanto aos Espíritos encarnados, esses são mais ou menos felizes ou infelizes, conforme seja mais ou menos adiantado o mundo em que habitam.”
495. De acordo com isso, o inferno e o paraíso não existem, tais como o homem os imagina? [Questão 1012 a.]
“São simples alegorias: por toda parte há Espíritos felizes e infelizes. Entretanto, conforme também já dissemos, os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por simpatia; mas, quando são perfeitos, podem reunir-se onde queiram.”
A localização absoluta das regiões de penas e recompensas só existe na imaginação do homem. Provém de sua tendência a materializar e circunscrever as coisas, cuja essência infinita é incapaz de compreender.
496. De onde procede a doutrina do fogo eterno? [Questão 974.]
“Imagem tomada como realidade, como tantas outras. É exatamente como quando se faz medo do bicho papão às criancinhas.”
496 a. Mas o temor desse fogo não produzirá bom resultado? [Questão 974 a.]
“Vede se serve de freio, mesmo entre os que o ensinam. Se só ensinásseis coisas que a razão não rejeitasse mais tarde, causaríeis uma impressão durável e salutar.”
496 b. Será que o remorso das faltas e o prazer das boas ações não nos darão uma ideia justa das penas e gozos da vida espiritual?
“Sim, mas as penas e alegrias que experimentais se acham sempre mescladas à vossa vida terrestre.”
Incapaz de expressar, por sua linguagem, a natureza daqueles sofrimentos, o homem não encontrou comparação mais enérgica do que a do fogo, porque, para ele, o fogo simboliza o tipo de suplício mais cruel, de ação mais violenta. É por isso que a crença no fogo eterno remonta à mais alta antiguidade, tendo-a os povos modernos herdado dos mais antigos. É pela mesma razão que se diz, em sua linguagem figurada: o fogo das paixões; queimar de amor, de ciúme, etc. [Questão 974 a.]
497. Que se deve entender por purgatório? [Questão 1013.]
“Dores físicas e morais: o tempo da expiação. É quase sempre na Terra que fazeis o vosso purgatório e que Deus vos obriga a expiar vossas faltas.”
O que o homem chama purgatório é igualmente uma alegoria, pela qual se deve entender não um local determinado, mas o estado dos Espíritos imperfeitos que estão em expiação até alcançarem a purificação completa, que os elevará à categoria dos Espíritos bem-aventurados. Operando-se essa purificação por meio das diversas encarnações, o purgatório consiste nas provas da vida corpórea.
498. Serão úteis as preces dirigidas a Deus pelas almas em expiação?
“Depende da intenção. Como já dissemos, as preces banais são palavras vazias de sentido. Para que uma prece seja ouvida, é preciso que parta de um coração profundamente imbuído do que diz; neste caso, é uma comunicação de vosso Espírito com os demais Espíritos. Uni-vos a eles com vistas a lhes secundar os esforços para ampararem os Espíritos encarnados nas provas que tenham de sofrer.”
498 a. Uma vez que são os Espíritos que atuam diretamente, a quem se deve orar de preferência, a Deus ou aos Espíritos?
“Os Espíritos ouvem as preces feitas a Deus e cumprem suas ordens. Somos seus ministros.”
498 b. Por que, quando oramos com fervor, nos sentimos aliviados?
“Porque um Espírito vem ajudar aquele que ora com fervor, e é essa assistência que lhe dá forças e confiança.”
499. Devendo todos os Espíritos atingir a perfeição, segue-se que não há penas eternas?
“Já temos dito que somente o bem é eterno e que o mal terá fim. No entanto, até que o Espírito adquira todos os conhecimentos que deve possuir e passe por todas as provas necessárias, na Terra ou em outros mundos semelhantes, o caminho que deverá percorrer para se purificar completamente é por vezes bem longo; para vós, é como se fosse uma eternidade.”
500. Como se explica que Espíritos, cuja superioridade se revela par sua linguagem, tenham respondido a pessoas muito sérias, a respeito do inferno e do purgatório, segundo a ideia que deles fazemos vulgarmente? [Questão 1014.]
“Como já te dissemos, é preciso que nos tornemos compreensíveis, e para isso nos servimos de vossos termos, o que vos leva a crer que algumas vezes cedemos aos vossos preconceitos. Além disso, não convém chocar tão bruscamente os prejuízos, porque seria a maneira de não sermos ouvidos. Essa a razão por que às vezes os Espíritos falam de acordo com a opinião daqueles que os escutam, de modo a levá-los pouco a pouco à verdade. Apropriam assim a linguagem aos interlocutores, como tu mesmo o fazes, se fores um orador um tanto hábil; não falarão, portanto, a um chinês ou a um maometano, como o fariam a um francês ou a um cristão, pois serão muito mal acolhidos. 132 Alguns Espíritos, pois, usaram dos termos inferno, purgatório e outros semelhantes, quando se dirigiram a pessoas imbuídas de tais ideias, sem por isso se contradizerem. É frequente, também que utilizemos os termos inferno e purgatório em nossas respostas, quando se empregam meios incômodos e demorados de comunicação, como sucede com as mesas falantes, etc., que nos aborrecem; então, não podendo desenvolver nosso pensamento, respondemos sim ou não, quando esse fato não tem grande importância e quando não desnatura o verdadeiro sentido de nossos ensinos.”
500 a. Compreende-se que assim procedam os Espíritos que desejam instruir-nos. Como, porém, se explica que alguns Espíritos, quando interrogados acerca de sua situação, tenham respondido que sofriam as torturas do inferno ou do purgatório? [Questão 1014 a.]
“Quando são inferiores e ainda não completamente desmaterializados, os Espíritos conservam em parte suas ideias terrenas e, para dar suas impressões, se servem dos termos que lhes são familiares. Inferno pode traduzir-se por uma vida de privações extremamente dolorosa, com a incerteza de haver outra melhor; purgatório, por uma vida também de privações, mas com a consciência de um futuro melhor.
Quando sentes uma grande dor, não dizes que sofres como um condenado? Tudo isso não passa de palavras, e sempre ditas em sentido figurado.”
501. Alguns Espíritos disseram estar habitando o quarto, o quinto céus, etc. Que queriam dizer com isso? [Questão 1017.]
“Se lhes perguntais que céu habitam, é que formais ideia de muitos céus superpostos, como os andares de uma casa; eles, então, vos respondem de acordo com vossa linguagem. Mas, para eles, as palavras quarto e quinto céus exprimem diferentes graus de purificação e, por conseguinte, de felicidade. É exatamente como quando se pergunta a um Espírito se está no inferno. Se for infeliz, dirá que sim, porque inferno, para ele, é sinônimo de sofrimento; mas sabe perfeitamente que não se trata de uma fornalha. Um pagão diria estar no Tártaro ou nos Campos Elíseos.”
FIM
[131] N. T.: Esta Nota ficou em aberto na edição original. Pelo assunto tratado, corresponde à de nº XV, desenvolvida na página 358. [Obs. No texto ela foi remetida para o nº XVI, pois o Codificador, para que não ouvesse dúvida a respeito da questão tratada, colocou entre parêntesis, em seguida ao nº da nota, o nº da questão a que se refere; e lá consta: Nota XVI. — (Nº 478)]
[132] N. T.: Aqui, a parte grifada tem conotação mais genérica, sendo, portanto, mais facilmente assimilável pelos adeptos de Maomé, em comparação ao texto correspondente da questão 1014 da edição definitiva de 1860, pelas falsas especulações a que esta última poderá dar margem entre os muçulmanos do Oriente Médio, do Norte da África e do Sudeste asiático, dificultando, de certa forma, a penetração e a aceitação da Doutrina Espírita em vastas regiões do Velho Mundo (grifos nossos).