1. A alma após a morte; sua individualidade.
Vida Eterna. (149-153.) — 2. Separação
da alma e do corpo. (154-162.) — 3. Perturbação
espiritual. (163-165.) |
A alma após a morte; sua individualidade.
Vida Eterna. †
149. Que sucede à alma no instante da morte?
“Volta a ser Espírito, isto é, volve ao mundo dos Espíritos, donde se apartara momentaneamente.”
150. A alma após a morte, conserva a sua individualidade?
“Sim; jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse?”
a — Como comprova a alma a sua individualidade, uma vez que não tem mais corpo material?
“Continua a ter um fluido que lhe é próprio, haurido na atmosfera do seu planeta, e que guarda a aparência de sua última encarnação: seu perispírito.”
150b — A alma nada leva consigo deste mundo?
1 “Nada, a não ser a lembrança e o desejo de ir para um mundo melhor, lembrança cheia de doçura ou de amargor, conforme o uso que ela fez da vida. 2 Quanto mais pura for, melhor compreenderá a futilidade do que deixa na Terra.”
151. Que pensar da opinião dos que dizem que após a morte a alma retorna ao todo universal?
1 “O conjunto dos Espíritos não forma um todo? não constitui um mundo completo? 2 Quando estás numa assembleia, és parte integrante dela; mas, não obstante conservas sempre a tua individualidade.”
152. Que prova podemos ter da individualidade da alma depois da morte?
1 “Não tendes essa prova nas comunicações que recebeis? Se não fôsseis cegos, veríeis; se não fôsseis surdos, ouviríeis, pois que muito amiúde uma voz vos fala, reveladora da existência de um ser que está fora de vós.”
2 Os que pensam que, pela morte, a alma reingressa no todo universal estão em erro, se supõem que, semelhante à gota d’água que cai no Oceano, ela perde ali a sua individualidade. 3 Estão certos, se por todo universal entendem o conjunto dos seres incorpóreos, conjunto de que cada alma ou Espírito é um elemento.
4 Se as almas se confundissem num amálgama, só teriam as qualidades do conjunto, nada as distinguiria umas das outras. Careceriam de inteligência e de qualidades pessoais, quando, ao contrário, em todas as comunicações, denotam ter consciência do seu eu e vontade própria. A diversidade infinita que apresentam, sob todos os aspectos, é a consequência mesma de constituírem individualidades diversas. 5 Se, após a morte, só houvesse o que se chama o grande Todo, a absorver todas as individualidades, esse Todo seria uniforme e, então, as comunicações que se recebessem do mundo invisível seriam idênticas. Desde que, porém, lá se nos deparam seres bons e maus, sábios e ignorantes, felizes e infelizes; que lá os há de todos os caracteres: alegres e tristes, levianos e ponderados, etc., patente se faz que eles são seres distintos. 6 A individualidade ainda mais evidente se torna, quando esses seres provam a sua identidade por indicações incontestáveis, particularidades individuais verificáveis, referentes às suas vidas terrestres. Também não pode ser posta em dúvida, quando se fazem visíveis nas aparições.
7 A individualidade da alma nos era ensinada em teoria, como artigo de fé. O Espiritismo a torna manifesta e, de certo modo, material.
153. Em que sentido se deve entender a vida eterna?
“A vida do Espírito é que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma retorna à vida eterna.”
a — Não seria mais exato chamar vida eterna a dos Espíritos puros, dos que, tendo atingido a perfeição, não estão sujeitos a sofrer mais prova alguma?
“Essa é antes a felicidade eterna. Mas isto constitui uma questão de palavras. Chamai as coisas como quiserdes, contanto que vos entendais.”
154. É dolorosa a separação da alma e do corpo?
1 “Não; o corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma nenhuma parte toma nisso. 2 Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o termo do seu exílio.”
3 Na morte natural, a que sobrevém pelo esgotamento dos órgãos, em consequência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber: é uma lâmpada que se apaga por falta de energia.
155. Como se opera a separação da alma e do corpo?
“Rotos os laços que a retinham, ela se desprende.”
a — A separação se dá instantaneamente por brusca transição? Haverá alguma linha de demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte?
1 “Não; a alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados se tocam e confundem, de sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes laços se desatam, não se quebram.”
2 Durante a vida, o Espírito se acha preso ao corpo pelo seu envoltório semimaterial ou perispírito. A morte é a destruição do corpo somente, não a desse outro invólucro, que do corpo se separa quando cessa neste a vida orgânica. 3 A observação demonstra que, no instante da morte, o desprendimento do perispírito não se completa subitamente; que, ao contrário, se opera gradualmente e com uma lentidão muito variável, conforme os indivíduos. Em uns é bastante rápido, podendo dizer-se que o momento da morte é mais ou menos o da libertação. Em outros, naqueles sobretudo cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito menos rápido, durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade de volver à vida, mas uma simples afinidade com o Espírito, afinidade que guarda sempre proporção com a preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. 4 É, com efeito, racional conceber-se que, quanto mais o Espírito se haja identificado com a matéria, tanto mais penoso lhe seja separar-se dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo, de modo que, em chegando a morte, ele é quase instantâneo. 5 Tal o resultado dos estudos feitos em todos os indivíduos que se têm podido observar por ocasião da morte. Essas observações ainda provam que a afinidade, persistente entre a alma e o corpo, em certos indivíduos, é, às vezes, muito penosa, porquanto o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso, porém, é excepcional e peculiar a certos gêneros de vida e a certos gêneros de morte. Verifica-se com alguns suicidas.
156. A separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação completa da vida orgânica?
1 “Na agonia, a alma, algumas vezes já tem deixado o corpo; nada mais há que a vida orgânica. O homem já não tem consciência de si mesmo; entretanto, ainda lhe resta um sopro de vida orgânica. 2 O corpo é a máquina que o coração põe em movimento. Existe, enquanto o coração faz circular nas veias o sangue, para o que não necessita da alma.”
157. No momento da morte, a alma sente, alguma vez, qualquer aspiração ou êxtase que lhe faça entrever o mundo onde vai de novo entrar?
1 “Muitas vezes a alma sente que se desfazem os laços que a prendem ao corpo. Emprega então todos os esforços para desfaze-los inteiramente. 2 Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de Espírito.”
158. O exemplo da lagarta que, primeiro, anda de rastos pela terra, depois se encerra na sua crisálida em estado de morte aparente, para enfim renascer com uma existência brilhante, pode dar-nos ideia da vida terrestre, do túmulo e, finalmente, da nossa nova existência?
“Uma ideia acanhada. A imagem é boa; todavia, cumpre não seja tomada ao pé da letra, como frequentemente vos sucede.”
159. Que sensação experimenta a alma no momento em que reconhece estar no mundo dos Espíritos?
1 “Depende. Se praticaste o mal, impelido pelo desejo de o praticar, no primeiro momento te sentirás envergonhado de o haveres praticado. 2 Com a alma do justo as coisas se passam de modo bem diferente. Ela se sente como que aliviada de grande peso, pois que não teme nenhum olhar perscrutador.”
160. O Espírito se encontra imediatamente com os que conheceu na Terra e que morreram antes dele?
“Sim, conforme à afeição que lhes votava e a que eles lhe consagravam. Muitas vezes aqueles seus conhecidos o vêm receber à entrada do mundo dos Espíritos e o ajudam a desligar-se das faixas da matéria. Encontra-se também com muitos dos que conheceu e perdeu de vista durante a sua vida terrena. Vê os que estão na erraticidade, como vê os encarnados e os vai visitar.”
161. Em caso de morte violenta e acidental, quando os órgãos ainda se não enfraqueceram em consequência da idade ou das moléstias, a separação da alma e a cessação da vida ocorrem simultaneamente?
“Geralmente assim é; mas, em todos os casos, muito breve é o instante que medeia entre uma e outra.”
162. Após a decapitação, por exemplo, conserva o homem por alguns instantes a consciência de si mesmo?
1 “Não raro a conserva durante alguns minutos, até que a vida orgânica se tenha extinguido completamente. Mas, também, quase sempre a apreensão da morte lhe faz perder aquela consciência antes do momento do suplício.”
2 Trata-se aqui da consciência que o supliciado pode ter de si mesmo, como homem e por intermédio dos órgãos, e não como Espírito. Se não perdeu essa consciência antes do suplício, pode conservá-la por alguns breves instantes. Ela, porém, cessa necessariamente com a vida orgânica do cérebro, o que não quer dizer que o perispírito esteja inteiramente separado do corpo. 3 Ao contrário: em todos os casos de morte violenta, quando a morte não resulta da extinção gradual das forças vitais, mais tenazes são os laços que prendem o corpo ao perispírito e, portanto, mais lento o desprendimento completo.
163. A alma tem consciência de si mesma imediatamente depois de deixar o corpo?
“Imediatamente não é bem o termo. A alma passa algum tempo em estado de perturbação.”
164. A perturbação que se segue à separação da alma e do corpo é do mesmo grau e da mesma duração para todos os Espíritos?
1 “Não; depende da elevação de cada um. 2 Aquele, que já está purificado, se reconhece quase imediatamente, pois que se libertou da matéria antes que cessasse a vida do corpo, 3 enquanto que o homem carnal, aquele cuja consciência ainda não está pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria.”
165. O conhecimento do Espiritismo exerce alguma influência sobre a duração, mais ou menos longa, da perturbação?
1 “Influência muito grande, por isso que o Espírito já antecipadamente compreendia a sua situação. Mas, a prática do bem e a consciência pura são o que maior influência exercem.”
2 Por ocasião da morte, tudo, a princípio, é confuso. De algum tempo precisa a alma para entrar no conhecimento de si mesma. Ela se acha como que aturdida, no estado de uma pessoa que despertou de profundo sono e procura orientar-se sobre a sua situação. A lucidez das ideias e a memória do passado lhe voltam, à medida que se apaga a influência da matéria que ela acaba de abandonar, e à medida que se dissipa a espécie de névoa que lhe obscurece os pensamentos.
3 Muito variável é o tempo que dura a perturbação que se segue à morte. Pode ser de algumas horas, como também de muitos meses e até de muitos anos. 4 Aqueles que, desde quando ainda viviam na Terra, se identificaram com o estado futuro que os aguardava, são os em quem menos longa ela é, porque esses compreendem imediatamente a posição em que se encontram.
5 Aquela perturbação apresenta circunstâncias especiais, de acordo com os caracteres dos indivíduos e, principalmente, com o gênero de morte. 6 Nos casos de morte violenta, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimento, etc., o Espírito fica surpreendido, espantado e não acredita estar morto. Obstinadamente sustenta que não o está. No entanto, vê o seu próprio corpo, reconhece que esse corpo é seu, mas não compreende que se ache separado dele. Acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não percebe porque elas não o ouvem. 7 Semelhante ilusão se prolonga até ao completo desprendimento do perispírito. Só então o Espírito se reconhece como tal e compreende que não pertence mais ao número dos vivos. 8 Este fenômeno se explica facilmente. Surpreendido de improviso pela morte, o Espírito fica atordoado com a brusca mudança que nele se operou; considera ainda a morte como sinônimo de destruição, de aniquilamento. Ora, porque pensa, vê, ouve, tem a sensação de não estar morto. 9 Mais lhe aumenta a ilusão o fato de se ver com um corpo semelhante, na forma, ao precedente, mas cuja natureza etérea ainda não teve tempo de estudar. Julga-o sólido e compacto como o primeiro e, quando se lhe chama a atenção para esse ponto, admira-se de não poder palpá-lo. 10 Esse fenômeno é análogo ao que ocorre com alguns sonâmbulos inexperientes, que não creem dormir. É que têm o sono por sinônimo de suspensão das faculdades. Ora, como pensam livremente e veem, julgam naturalmente que não dormem. 11 Certos Espíritos revelam essa particularidade, se bem que a morte não lhes tenha sobrevindo inopinadamente, todavia, sempre mais generalizada se apresenta entre os que, embora, doentes, não pensavam em morrer. 12 Observa-se então o singular espetáculo de um Espírito assistir ao seu próprio enterramento como se fora o de um estranho, falando desse ato como de coisa que lhe não diz respeito, até ao momento em que compreende a verdade.
13 A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem, que se conserva calmo, semelhante em tudo a quem acompanha as fases de um tranquilo despertar. 14 Para aquele cuja consciência ainda não está pura, a perturbação é cheia de ansiedade e de angústias, que aumentam à proporção que ele da sua situação se compenetra.
15 Nos casos de morte coletiva, tem sido observado que todos os que perecem ao mesmo tempo nem sempre tornam a ver-se logo. Presas da perturbação que se segue à morte, cada um vai para seu lado, ou só se preocupa com os que lhe interessam.