O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O Livro dos Espíritos — Livro I — Doutrina Espírita.

(1ª edição)
(Idioma francês)

Capítulo IX.


Intervenção dos Espíritos no mundo corpóreo.

Penetração dos Espíritos em nossos pensamentos. — Influência dos Espíritos em nossos pensamentos e atos. — Sujeição do homem aos Espíritos. — Pactos. — Influência dos Espíritos sobre os bens e os males da vida corpórea. — Afeição dos Espíritos por certas pessoas. — Crenças em locais fatalmente propícios ou funestos pela frequência de Espíritos. — Gênios familiares. — Pessoas fatais eu propícias a outras pessoas. — Maldição. — Possessos. (Questões 172 a 199.)


172. Os Espíritos veem tudo o que fazemos? [Questão 456.]
“Sim, pois constantemente vos rodeiam; cada um, porém, só vê as coisas a que dá atenção, não se ocupando das que lhes são indiferentes.”


172 a. Os Espíritos podem conhecer nossos mais secretos pensamentos? [Questão 457.]
“Sim, mesmo aqueles que desejaríeis ocultar de vós mesmos.”


172 b. Que pensam de nós os Espíritos que estão ao nosso redor e nos observam? [Questão 458.]
“Depende. Os Espíritos levianos riem dos pequenos aborrecimentos que vos causam e zombam de vossas impaciências. Os Espíritos sérios lamentam vossas imperfeições e procuram ajudar-vos.”


Como os Espíritos estão por toda parte, nós os temos continuamente à nossa volta, vendo e ouvindo tudo o que fazemos e dizemos.
A penetração do pensamento, que é um dos atributos de sua essência, permite que eles leiam nos refolhos mais profundos de nossos corações; nada lhes pode ser dissimulado; conhecem tudo que gostaríamos de esconder de nós mesmos.
Os Espíritos que nos rodeiam e nos observam julgam nossos atos do ponto de vista de sua própria natureza. Os Espíritos levianos, à maneira das crianças travessas, se divertem à nossa custa; os Espíritos sérios apiedam-se de nossas torpezas e fraquezas.


173. Os Espíritos influem em nossos pensamentos e em nossos atos? [Questão 459.]
“Sim.”


173 a. De que modo os Espíritos influem em nossas ações?
“Dirigindo vosso pensamento.”


173 b. Exercerão alguma influência nos acontecimentos da vida?
“Sim, pois que te aconselham.”


Os Espíritos influem em nossos pensamentos e, portanto, em nossas ações, que são a consequência de nossos pensamentos; é desta forma que podem influir sobre os acontecimentos da vida material.
A influência dos Espíritos é uma missão que receberam para a execução dos desígnios da Providência.


174. Além dos pensamentos que nos são próprios, haverá outros que nos sejam sugeridos? [Questão 460.]
“Sim, e é isso que vos deixa na incerteza, porque tendes em vós duas ideias que se combatem.”


Como nossa alma é um Espírito encarnado, resulta que temos pensamentos que nos são próprios e outros que nos são sugeridos por Espíritos estranhos; daí, muitas vezes, os pensamentos contraditórios que nos chegam ao mesmo tempo sobre o mesmo assunto.


175. Como distinguir os pensamentos que nos são próprios dos que nos são sugeridos? [Questão 461.]
“Quando sugerido, o pensamento surge de improviso; é como uma voz que te fala. Geralmente, os pensamentos próprios são os que acorrem em primeiro lugar.”


Os pensamentos que nos são sugeridos não são, em geral, produto da reflexão; são, de certo modo, espontâneos, surgem de improviso e fazem brotar dentro de nós ideias novas; parece que ouvimos uma voz interior que nos diz para ir ou agir neste ou naquele sentido.


176. Como distinguir se um pensamento sugerido procede de um Espírito bom ou de um Espírito mau? [Questão 464.]
“Estudai o caso. Os Espíritos bons só aconselham o bem. Cabe a vós distinguir.”


176 a. De acordo com isso, não seria mais exato dizer que o primeiro impulso é sempre bom? [Questão 463.]
“Pode ser bom ou mau, conforme a natureza do Espírito encarnado em ti.”


Os pensamentos que nos são estranhos, bem como os que nos são próprios, podem ser bons ou maus, segundo o Espírito que no-los sugere. O pensamento do bem nos advém sempre dos Espíritos bons, e o do mal, dos Espíritos imperfeitos. Deus nos deu a razão e o discernimento; cumpre a nós escolher.


177. Com que objetivo os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal? [Questão 465.]
“Para que sofrais como eles sofrem.”


177 a. Isso diminui seus sofrimentos? [Questão 465 a.]
“Não. Fazem-no por inveja, ao verem seres mais felizes do que eles.”


177 b. Qual a natureza do sofrimento que querem que os outros experimentem? [Questão 465 b.]
“Os que resultam dos seres de ordem inferior, afastados de Deus.”


177 c. Por que Deus permite que Espíritos nos incitem ao mal? [Questão 466.]
“Tu, sendo Espírito, deves progredir na ciência do infinito. Nossa missão é colocar-te no bom caminho, e quando más influências agem sobre ti, é que as atrais pelo desejo do mal. Eu já te disse que os Espíritos inferiores vêm auxiliar-te no mal, quando tens vontade de praticá-lo. Respondo ainda, uma vez mais, à tua pergunta: os Espíritos maus não podem ajudar-te no mal senão quando queiras o mal.
“Pois bem! Se és inclinado ao assassínio terás uma multidão de Espíritos que alimentarão em ti essa ideia. Mas, também, terás outros que se empenharão em influenciar-te para o bem, o que restabelece o equilíbrio da balança e te deixa senhor de teus atos.”


O Espírito deve progredir sem cessar na ciência do infinito e, para isso, há de passar pelas provas do mal para chegar ao bem. Tem a escolha dessas provas e é durante sua encarnação que deve sofrê-las. É então que outros Espíritos lhe vêm em auxílio, conforme seu desejo, quer para o bem, quer para o mal.
Se a natureza ainda imperfeita de nosso Espírito faz predominar em nós o instinto do mal, uma multidão de Espíritos também imperfeitos se abate sobre nós, como sobre uma presa fácil, aguilhoando-nos pelos maus pensamentos que suscitam em nós. O objetivo deles, ao nos afastarem de Deus, é fazer que soframos como eles, deixando-nos estagnar em posições inferiores. Isto em nada lhes diminui os sofrimentos, mas a inveja que sentem da felicidade alheia os estimula a retardarem nossa melhoria tanto quanto possam.
Mas, ao mesmo tempo, outros Espíritos tratam de influenciar-nos em sentido contrário, recolocando-nos no bom caminho; é assim que o equilíbrio se restabelece e que Deus deixa à nossa consciência a escolha do roteiro que devemos seguir, bem como a liberdade de ceder a uma ou outra das influências contrárias que se exercem sobre nós.


178. Pode o homem libertar-se da influência dos Espíritos que o impelem ao mal? [Questão 467.]
“Sim, visto que tais Espíritos só se apegam aos que os chamam por seus desejos.”


178 a. Os Espíritos cuja influência é repelida pela vontade do homem renunciam às suas tentativas? [Questão 468.]
“Que querias que fizessem? Quando não há nada a fazer, eles cedem o lugar. Entretanto, espreitam o momento favorável, como o gato espreita o rato.”


Os Espíritos impuros só exercem sua dominação sobre o homem quando este, por seus desejos, os solicitam, apegando-se apenas aos que os escutam e fugindo dos que os repelem.
Quando não veem nenhuma presa, deixam o campo livre aos Espíritos bons; entretanto, espreitam sem cessar o instante propício em que possam consumar seus propósitos.
Praticando o bem e pondo toda nossa confiança em Deus, repelimos a influência dos Espíritos inferiores e destruímos o império que eles queriam exercer sobre nós.


179. Não haverá homens que só tenham o instinto do mal? [Questão 993.]
“Já te disse que o Espírito tem que evoluir sem cessar. Aquele que, nesta vida, só possui o instinto do mal, terá o do bem em outra existência e é por isso que renasce muitas vezes, pois é preciso que todos progridam e atinjam a meta, uns em tempo mais curto, outros com mais lentidão, conforme seus desejos.”


Cada existência constitui uma das fases da vida espiritual. Temos todos os mesmos graus a percorrer, e o que não se conseguir numa se conseguirá em outra existência. Se um homem parece não ter senão o instinto do mal, é que terá o do bem em outra vida, sendo por isso que renasce muitas vezes. Aquele que só tem o instinto do bem já se purificou, pois talvez tenha tido o do mal numa existência anterior.


180. Pelos favores que os Espíritos nos concedem, não nos submetem eles à sua dependência e não teremos, mais cedo ou mais tarde, contas a ajustar com eles?
“Não; só a Deus devereis prestar contas.”


180 a. Haverá algo de verdadeiro nos pactos com os Espíritos maus? [Questão 549.]
“Não; não há pactos, mas naturezas más que simpatizam com os Espíritos maus. Por exemplo: queres atormentar teu vizinho e não sabes como fazê-lo. Apelas, então, a Espíritos inferiores que, como tu, só querem o mal e que, para te ajudarem, exigem que também os sirvas em seus maus propósitos; isto não significa que teu vizinho não possa livrar-se deles, por uma conjuração contrária ou pela própria vontade. Aquele que deseja praticar uma ação má, chama os Espíritos maus, a fim de que o auxiliem nessa decisão, mas aos quais, por sua vez, fica obrigado a servir, já que esses Espíritos também precisam dele para o mal que queiram fazer. E somente nisto que consiste o pacto.”


A dependência em que, algumas vezes, se acha o homem em relação aos Espíritos inferiores, provém de sua entrega aos maus pensamentos que tais Espíritos lhe sugerem, e não de quaisquer acordos feitos entre eles. O pacto, no sentido vulgar do termo, é uma alegoria que simboliza uma natureza má simpatizando com Espíritos malfazejos.
O homem que quer fazer o mal chama a si Espíritos inferiores que, como ele, só querem o mal, os quais, para o ajudar, também querem que ele lhes sirva aos maus instintos. Isto não quer dizer que aquele que deva ser vítima de uma maldade não possa preservar-se dela por uma conjuração contrária ou pela própria vontade, apelando ao auxílio dos Espíritos bons. É apenas nisto que consiste o pacto, e somente a Deus devemos conta dos favores que tivermos recebido, uma vez que os Espíritos não passam de ministros e instrumentos da Providência divina.


181. Os Espíritas se interessam por nossos infortúnios e por nossa prosperidade? [Questão 486.]
“Sim; os Espíritos bons fazem todo o bem que podem e se sentem felizes com as vossas alegrias.”


181 a. Dentre nossos males, quais os que mais afligem os Espíritos por nossa causa? Serão os males físicas ou os morais? [Questão 487.]
“Vosso egoísmo e a dureza de vossos corações. Daí decorre tudo o mais. Riem-se de todos esses males imaginários que nascem do orgulho e da ambição; alegram-se com os que têm por fim abreviar a duração de vossas provas, pois são a crise salutar do enfermo.”


Os Espíritos se interessam por nossa desgraça e por nossa prosperidade. Mas, sabendo que a vida corpórea é transitória e que as tribulações que a acompanham são meios de alcançar um estado melhor, eles se afligem mais pelas causas morais que nos conduzem à perdição, do que por nossos males físicos, que são passageiros. Pouco se incomodam com os infortúnios que apenas atingem nossas ideias mundanas e nossa ambição. Riem-se das futilidades, tal como fazemos com as mágoas pueris da infância.


182. Os Espíritos têm o poder de afastar os males de certas pessoas e de atrair para elas a prosperidade? [Questão 532.]
“Não completamente, porque há males que estão nos desígnios da Providência; contudo, minoram vossas dores. Aquilo que vos parece um mal nem sempre é um mal. Muitas vezes, dele resultará um bem, que será maior que o mal, e é isso que não compreendeis, porque só pensais na hora presente.”


Como os males que nos afligem na Terra estão nos desígnios da Providência, nem sempre os Espíritos terão o poder de afastá-los inteiramente de nós, embora possam minorar nossas dores, dando-nos a força de as suportar com paciência e sugerindo-nos pensamentos propícios para nos livrarmos delas, tanto quanto possível, por nossa maneira de agir. Eles só assistem aqueles que sabem ajudar-se a si mesmos.


183. Será por influência de algum Espírito que certos obstáculos parecem vir opor-se fatalmente aos nossos projetos? [Questão 534.]
“Sim e não. Algumas vezes são os Espíritos; de outras vezes sois vós, que escolhestes mal vossos projetos. A posição e o caráter influem bastante.”


183 a. Há pessoas que parecem perseguidas por uma fatalidade, independente da maneira como procedem. A desgraça não estará no seu destino? [Questão 852.]
“São talvez provas que devam sofrer e que elas mesmas escolheram. Ainda uma vez lançais à conta do destino o que muitas vezes é apenas consequência de vossas próprias faltas. Nos males que vos afligem, tratai de conservar pura a consciência e já vos sentireis bastante consolados.”


Quando obstáculos parecem vir opor-se fatalmente aos nossos projetos, não nos devemos queixar senão de nós mesmos, pois quase sempre fomos nós que nos conduzimos mal. As ideias justas ou falsas que fazemos das coisas nos levam a ser bem ou malsucedidos, de acordo com nosso caráter e nossa posição social. Achamos mais simples e menos humilhante para nosso amor-próprio atribuir nossos fracassos à sorte ou ao destino, do que à nossa própria falta. A influência dos Espíritos contribui algumas vezes para isso; entretanto, sempre podemos nos livrar dessa influência, repelindo as ideias que eles nos sugerem, quando más.


184. Os Espíritos se afeiçoam de preferência a certas pessoas? [Questão 484.]
“Sim.”


184 a. Quais os motivos dessa preferência?
“Tudo e nada; simpatia; similitude de sentimentos.”


184 b. Essa afeição dos Espíritos por certas pessoas é exclusivamente moral? [Questão 485.]
“Sim.”


Os Espíritos se afeiçoam de preferência a certas pessoas. Os motivos dessa preferência são exclusivamente morais e fundados na similitude dos sentimentos. Daí a simpatia dos Espíritos bons pelos homens de bem ou suscetíveis de se melhorarem, e a dos Espíritos impuros por pessoas perversas ou capazes de se perverterem.


185. Os parentes e amigos que nos precederam na outra vida têm mais simpatia por nós do que as Espíritos que nos são estranhos? [Questão 488.]
“Sim, e quase sempre vos protegem como Espíritos.”


185 a. São sensíveis à afeição que lhes conservamos? [Questão 488 a.]
“Sim, mas se esquecem dos que os esquecem.”


185 b. Já que tivemos muitas existências, nossa parentela se originou bem antes de nossa existência atual? [Questão 204.]
“Não pode ser de outra maneira.”


Os parentes e amigos que nos precederam na vida espiritual apegam-se a nós em razão da afeição que lhes dispensamos, e frequentemente nos protegem como Espíritos.
A parentela direta, oriunda de nossa existência atual, não é a única que subsiste entre nós, os homens, e os Espíritos. A sucessão das existências corpóreas estabelece entre eles e nós liames que remontam às existências anteriores; daí, muitas vezes, causas de simpatia entre nós, homens, e certos Espíritos que nos parecem estranhos.


186. Haverá lugares propícios ou funestos pela natureza dos Espíritos que os frequentem?
“Superstição; sois vós que atraís os Espíritos; sede sempre bondosos e só tereis Espíritos bons ao vosso lado.”


Os Espíritos se apegam mais às pessoas do que às coisas. É erro acreditar que certas localidades são fatalmente propícias ou funestas pela natureza dos Espíritos que as frequentem. Nós mesmos é que tornamos favoráveis ou desfavoráveis esses lugares, pela natureza dos Espíritos que para eles atraímos.


187. Há Espíritos que se liguem particularmente a um indivíduo? [Questão 489.]
“Sim. É o que chamais o gênio familiar.”


187 a. Cada um de nós tem seu Espírito familiar?
“Sim.”


187 b. O Espírito familiar liga-se ao indivíduo desde seu nascimento? [Questão 492.]
“Sim, e até a morte.”


187 c. Haverá Espíritos que se liguem a uma família inteira? [Questão 517.]
“Sim.”


Além da influência geral dos Espíritos, todo homem fica mais ou menos sob a dependência de um Espírito particular que a ele se liga desde o nascimento até a morte. É o que se chama seu Espírito ou gênio familiar.
Há os que se ligam a uma família inteira, isto é, aos membros de uma mesma família que vivem juntos e são unidos pela afeição.


188. A missão do Espírito familiar é voluntária ou obrigatória? [Questão 493.]
“O Espírito é obrigado a velar por vós, mas pode escolher os seres que lhe são simpáticos.”


188 a. Ligando-se a uma pessoa ou a uma família, o Espírito renuncia a proteger outros indivíduos? [Questão 493 a.]
“Não, mas o faz com menos exclusividade.”


A missão do Espírito familiar é velar pela pessoa ou pela família cuja guarda lhe foi confiada. Esta missão não é voluntária. O Espírito é obrigado a velar por nós, mas pode escolher as pessoas que lhe são simpáticas.
O Espírito que se liga a uma pessoa ou a uma família não renuncia, por isso, a se ocupar de outros indivíduos, embora o faça com menos exclusividade.


189. Temos apenas um Espírito familiar?
“Podemos ter dois, um Espírito bom e um mau.”


189 a. Dentre os dois, qual o que exerce maior influência? “Aquele pelo qual o homem se deixe dominar.”


189 b. Que se deve entender por anjo da guarda ou gênio bom? [Questão 490.]
“O Espírito familiar, quando é bom.”


Nem sempre existe apenas um Espírito familiar, muitas vezes há dois: um impele o homem à perdição, o outro o protege contra as tentações. O homem fica mais ou menos sob a influência de um ou de outro, conforme aquele por quem se deixe dominar.
O que vulgarmente se chama anjo da guarda ou gênio bom é o Espírito familiar, quando ele é bom.


190. O gênio protetor abandona algumas vezes seu protegido? Por que motivo? [Questão 495.]
“Afasta-se quando nele vê uma natureza má e predisposição a entregar-se ao seu gênio mau; mas não o abandona completamente e sempre se faz ouvir. Quem fecha os ouvidos é o homem. O protetor volta, desde que chamado.”


190 a. O Espírito mau também se retira, algumas vezes?
“Sim, quando nada tem a fazer; mas espreita sempre as ocasiões de te induzir ao mal.”


Por vezes o Espírito bom se afasta de seu protegido quando vê nele irresistível vontade de se entregar ao inimigo; porém, não o abandona completamente e se faz sempre ouvir. É a voz da consciência a falar dentro de nós, mas à qual fechamos muitas vezes o ouvido.
Pela mesma razão o Espírito mau renuncia às suas tentativas quando as reconhece inútil pelo ascendente que a vontade do homem dá ao Espírito benfazejo; entretanto, nem por isso deixa aquele de espreitar as ocasiões de nos induzir ao mal. É assim que o homem de bem tantas vezes é assaltado por maus pensamentos.


191. O Espírito familiar fica fatalmente preso à criatura confiada à sua guarda? [Questão 494.]
“Não; muitas vezes ele a deixa por outra. Nesse caso, outro Espírito o substitui.”


O Espírito familiar não fica invariavelmente e fatalmente ligado ao ser que escolheu; muitas vezes o deixa por outro, sem causa preponderante. Outro Espírito, então, o substitui.


192. Todos os homens têm seu gênio familiar?
“Sim.”


192 a. Mesmo no estado de selvageria ou de degradação, os homens também têm seu gênio familiar? [Questão 509.]
“Sim; mas, então, o gênio mau o domina.”


192 b. Depois desta vida, reconheceremos nossos gênios bom e mau? [Questão 506.]
“Sim; já os conhecíeis antes de vossa encarnação.


Todos os seres humanos têm seu gênio familiar, seja qual for o grau da escala social a que pertençam; mas, entre os homens ainda atrasados quanto ao desenvolvimento moral e intelectual, são os Espíritos imperfeitos que predominam.
Ao deixarem a vida corpórea para penetrar o mundo dos Espíritos, todos reconhecerão seus gênios bons e maus.


193. Recebemos conselhos dos Espíritos protetores?
“Sim, de vossos Espíritos familiares.”


193 a. Por que meio eles nos dão esses conselhos?
“Pelos pressentimentos e pensamentos que vos sugerem.”


193 b. Os conselhos de nossos Espíritos protetores têm como finalidade única nossa conduta moral ou também a conduta que devamos adotar em relação aos assuntos da vida particular? [Questão 524.]
“Tudo. Eles tentam fazer que vivais o melhor possível.”


193 c. Por que sinal podemos reconhecer que o conselho dado procede de um Espírito bom ou de Espírito mau? [Questão 464.]
“Eu já vos disse: pressentimento. Consultai a consciência e a natureza de vossos pensamentos.”


Os Espíritos protetores nos guiam ao bom caminho pelos conselhos que nos dão. Eles no-los transmitem por meio de pressentimentos e pelos pensamentos que nos sugerem, quer tenham como objetivo nossa conduta moral, quer digam respeito à conduta que devamos adotar em relação aos assuntos da vida particular, quer ainda para evitar os males que nos ameacem.
Por outro lado, nosso gênio mau nos suscita entraves e provoca nossas desventuras aqui na Terra, ao nos sugerirem pensamentos perniciosos. Deus nos deu por guias a consciência e a razão; cabe a nós escolher. Quem quer que estude a natureza de seus pensamentos pode facilmente reconhecer-lhes a fonte.


194. Que devemos pensar do primeiro impulso que nos impele em nossas ações? [Questão 463.]
“O primeiro impulso é sempre bom no homem que escuta a inspiração de seu gênio bom.”


194 a. Na incerteza, que devemos fazer?
“Quando estiveres em dúvida, invoca teu Espírito bom.” [Questão 523.]


194 b. A quem devemos rogar, quando não conhecemos nosso Espírito familiar?
Pede a Deus, Senhor de todos os seres, para que te envie um de seus mensageiros, um de nós.” [Questão 523.]


No homem que segue o impulso de seu gênio bom, o primeiro movimento é sempre bom; se ele o seguir, será sempre justo.
Na incerteza, deve evocar com sinceridade seu anjo da guarda, pois sempre receberá dele um conselho salutar; ou rogar a Deus para que lhe envie um de seus mensageiros, isto é, um Espírito bom, e sua prece será sempre atendida.


195. Que se deve pensar dessas pessoas que parecem ligar-se a certos indivíduos para levá-los fatalmente à perdição ou para guiá-los no bom caminho? [Questão 515.]
“Deus as envia para os experimentar.”


195 a. Nossos gênios bom e mau não poderiam encarnar, a fim de nos acompanharem na vida de maneira mais direta? [Questão 516.]
“Sim, isso acontece algumas vezes. Frequentemente, no entanto, eles encarregam dessa missão outros Espíritos encarnados que lhes são simpáticos.”


Há seres fatais para certas pessoas e que parecem ter nascido para as arrastar à ruína completa; outros, ao contrário, parecem predestinados a guiá-las no bom caminho. São seres animados por Espíritos mais ou menos puros que Deus põe em nosso caminho para nos experimentar ou nos socorrer. Cabe a nós escolher o bom ou o mau caminho. É também, algumas vezes, o nosso gênio bom ou o nosso gênio mau que está encarnado para nos escoltar na vida.


196. A malevolência dos seres que nos fizeram mal na Terra extingue-se com sua vida corpórea? [Questão 531.]
“Muitas vezes reconhecem a injustiça e o mal que causaram. Mas, também, não é raro que vos persigam com sua animosidade, se Deus o permitir, para continuar a vos experimentar.”


196 a. Que sentimento experimentam, após a morte, aqueles a quem fizemos mal neste mundo? [Questão 295.]
“Se são bons, eles vos perdoam, conforme vosso arrependimento.”


A ação maléfica dos seres perversos que nos fizeram mal na Terra não se extingue com a vida corpórea. Muitas vezes, ao retornarem ao mundo dos Espíritos, reconhecem a injustiça que praticaram; todavia, podem continuar nos perseguindo com sua animosidade, até mesmo em outra existência, se Deus assim o permitir, para acabar nossa prova.
Aqueles a quem fizemos mal nos perdoam as faltas após a morte, se forem bons, e segundo nosso arrependimento.


197. A bênção e a maldição podem atrair o bem e o mal para aqueles sobre os quais são lançadas? [Questão 557.]
“Sim, porque na maior parte das vezes amaldiçoam-se os maus e se abençoam os bons. Deus não escuta uma maldição injusta e aquele que a pronuncia é culpado aos seus olhos. Como temos os dois gênios opostos, o bem e o mal, é possível que a maldição exerça uma influência momentânea, especialmente sobre a matéria. Contudo, essa influência só se verifica pela vontade de Deus, e como acréscimo de provação para aquele que a sofre.”


A bênção e a maldição são invocações que têm por objetivo atrair o bem e o mal sobre as pessoas a quem são destinadas, mas não podem jamais desviar a Providência do caminho da justiça. Só atinge o maldito se ele for mau, e sua proteção cobre apenas aquele que tem mérito. Deus não escuta uma maldição injusta; ao contrário, faz que recaia sobre o ser que a pronunciou.
Todavia, como temos dois gênios opostos, o bem e o mal, a vontade do homem pode influir momentaneamente, sobretudo na matéria; mas tal influência, seja ela boa ou má, só se dará dentro dos planos da Providência.


198. Um Espírito pode tomar momentaneamente o invólucro corpóreo de uma pessoa viva, isto é, introduzir-se num corpo animado e agir no lugar do Espírito que nele se encontra encarnado? [Questão 473.]
“Não; o Espírito não entra num corpo como entras numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de agirem conjuntamente. Mas é sempre o Espírito encarnado quem atua, conforme queira, sobre a matéria de que se acha revestido.”


A ação dos Espíritos sobre o homem não se limita a uma influência moral sobre o pensamento; algumas vezes essa ação é mais direta. Frequentemente eles se unem ao Espírito de uma pessoa viva e lhe prestam seu concurso, de modo a agirem conjuntamente, quer para o bem, quer para o mal; entretanto, o Espírito desencarnado não pode substituir-se ao que está encarnado, pois este terá que permanecer ligado ao seu corpo até o termo fixado para sua existência material.


199. Haverá possessos segundo a ideia comumente associada a esta palavra?
“Não, visto que dois Espíritos não podem habitar simultaneamente o mesmo corpo. Os assim chamados eram epilépticos ou loucos, mais necessitados de médico que de exorcismo.” [Questão 474.]


Como o Espírito desencarnado não pode substituir-se ao que está encarnado, nem coabitar com este no mesmo corpo, resulta que não há possessos no sentido vulgar associado a esta palavra. Os que foram tomados como tais, nos tempos de superstição e ignorância, eram epilépticos, loucos ou extáticos.

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