Provas
da existência de Deus. — Deus é um ser individual. — Atributos
da Divindade. (Questões 1 a 10 a.) |
1.
Que é Deus? 71, 72
[Questão 1.] 73
“Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas.”
74
2.
Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus? [Questão
4.]
“Num axioma que aplicais às vossas ciências: não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e vossa razão responderá.”
Para crer em Deus basta lançar os olhos sobre as obras da Criação.
O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus seria
negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.
3.
Que consequência se pode tirar do sentimento intuitivo, que todos os
homens trazem em si, da existência de Deus? [Questão
5.]
“Que Deus existe.”
3 a.
O sentimento íntimo que temos da existência de Deus não seria fruto
da educação e das ideias adquiridas? 75
[Questão 6.]
“Se assim fosse, por que vossos selvagens teriam esse sentimento?”
Deus pôs dentro de nós mesmos a prova de sua existência pelo sentimento instintivo que se acha entre todos os povos, em todos os séculos e em todos os graus da escala social.
Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse apenas produto de um ensino, não seria universal e, como sucede com as noções científicas, só existiria nos que tivessem recebido esse ensino.
4.
Poder-se-ia encontrar nas propriedades íntimas da matéria a causa primeira
da formação das coisas? [Questão 7.]
“Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É preciso sempre uma causa
primeira.”
Atribuir a formação primeira das coisas às propriedades
íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, pois essas propriedades
são, em si mesmas, um efeito que deve ter uma causa.
5.
Que pensar da opinião que atribui a formação primeira a uma combinação
fortuita da matéria, ou seja, ao acaso? [Questão
8.]
“Outro absurdo. Que homem de bom senso pode considerar o acaso como um ser
inteligente? E, além disso, que é o acaso? Nada!”
A harmonia que regula as forças do Universo revela combinações e propósitos determinados e, por isso mesmo, denota um poder inteligente. Atribuir a formação primeira ao acaso seria um contrassenso, pois o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz.
6.
Onde se vê, na causa primeira, uma inteligência suprema e superior a
todas as inteligências? [Questão 9.]
“Tendes um provérbio que diz: Pela obra se conhece o autor. Pois bem! Vede
a obra e procurai o autor. É o orgulho que gera a incredulidade. O homem
orgulhoso nada admite acima de si e, por isso, se julga um espírito
forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!”
Julga-se o poder de uma inteligência por suas obras. Não
podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primeira
é, portanto, uma inteligência superior à Humanidade.
Quaisquer que sejam os prodígios realizados pela inteligência humana,
ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que realize, tanto maior
há de ser a causa primeira. Essa inteligência superior é que é a causa
primeira de todas as coisas, seja qual for o nome pelo qual a designem.
7.
Alguns filósofos disseram que Deus é o infinito; os próprios Espíritos
assim o têm designado. Que se deve pensar desta explicação? [Questão
3.]
“Definição incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, insuficiente para definir
o que está acima de sua inteligência.”
7 a.
Que se deve entender por infinito? [Questão
2.]
“O que não tem começo nem fim.”
Deus é infinito em suas perfeições, mas o infinito é uma abstração. Dizer que Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa pela própria coisa; é definir uma coisa que não é conhecida por outra que também não o é. E é assim que, querendo penetrar o que não lhe é dado conhecer, o homem se lança num beco sem saída, dando margem a discussões.
8.
Deus é um ser distinto, ou seria, segundo a opinião de alguns, a resultante
de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas,
o que faria de cada ser uma parcela da Divindade? [Questão
14.]
“Orgulho da criatura, que se julga o próprio Deus. Filha ingrata que renega
o pai.”
Deus é um ser distinto de todos os outros seres. Ver Deus
na resultante de todas as forças reunidas do Universo seria negar sua
existência; Ele seria então efeito, e não causa.
A inteligência de Deus se revela em suas obras como a de um pintor em
seu quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, como o quadro
não é o pintor que o concebeu e executou. Seria ainda aqui tomar o efeito
pela causa.
9.
Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus? [Questão
10.]
“Não.”
9 a.
Por que não é dado ao homem compreender a essência da Divindade? [Questão
10.]
“Falta-lhe, para tanto, um sentido.”
9 b.
Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade? [Questão
11.]
“Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria e, por sua
perfeição, se houver aproximado de Deus, então o verá e o compreenderá.”
A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite
compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade, o
homem o confunde muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe
atribui; mas, à medida que nele se desenvolve o senso moral, seu pensamento
penetra melhor no âmago das coisas; então faz da Divindade uma ideia
mais justa e mais conforme à sã razão, embora sempre incompleta.
10.
Se não podemos compreender a natureza íntima de Deus, podemos ter ideia
de algumas de suas perfeições? [Questão
12.]
“Sim, de algumas. O homem as compreende melhor à medida que se eleva acima
da matéria; ele as entrevê pelo pensamento.”
10 a.
Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único,
onipotente, soberanamente justo e bom, não temos uma ideia completa
de seus atributos? [Questão 13.]
“De vosso ponto de vista, sim, porque acreditais abranger tudo. Mas ficai sabendo que há coisas acima da inteligência do homem mais inteligente e para as quais a vossa linguagem, limitada às vossas ideias e sensações, não tem como se expressar.
“A razão, com efeito, vos diz que Deus deve possuir essas perfeições
em grau supremo, porque, se tivesse uma só de menos, ou não a tivesse
em grau infinito, não seria superior a tudo e, por conseguinte, não
seria Deus. Para estar acima de todas as coisas, Deus não pode achar-se
sujeito a qualquer vicissitude, nem sofrer nenhuma das imperfeições
que a imaginação possa conceber”. (Nota 1).
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A razão nos diz que Deus é eterno, imutável, imaterial,
único, onipotente, soberanamente justo e bom e infinito em todas as
suas perfeições.
Deus é eterno. Se tivesse tido um começo, teria saído do nada, ou, então,
teria sido criado por um ser anterior. É assim que, pouco a pouco, remontamos
ao infinito e à eternidade.
É imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo
não teriam nenhuma estabilidade.
É imaterial. Isto é, sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria;
de outro modo, não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações
da matéria.
É único. Se houvesse muitos deuses, não haveria unidade de vistas, nem
unidade de poder na ordenação do Universo.
É onipotente. Porque é único. Se não tivesse o soberano poder, algo
haveria mais poderoso ou tão poderoso quanto Ele; não teria, assim,
feito todas as coisas e as que não tivesse feito seriam obra de outro
Deus.
É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das Leis divinas
revela-se nas menores como nas maiores coisas, e essa sabedoria não
permite se duvide nem de sua justiça, nem de sua bondade.
[71] N. T: [No livro impresso] as perguntas feitas por Allan Kardec
aparecem em itálico; as respostas dadas pelos Espíritos estão postas
entre aspas; os comentários atribuídos ao Codificador estão grafados
em tipos menores, não aspados e em letras “redondas”.
[72] N. T.: Conforme se pode ver mais adiante na reprodução digitalizada
da edição francesa deste livro, suas matérias estão distribuídas em
duas colunas, o que pode confundir um pouco o leitor e tornar enfadonha
a leitura. Para obviar esses inconvenientes, preferimos agrupá-las numa
só coluna, como, aliás, procedeu Allan Kardec na 2ª edição de O
Livro dos Espíritos e nas demais obras da Codificação.
[73] N. T.: Os números colocados entre colchetes […], precedidos
das siglas LE ou LM, que aparecem ao final das perguntas deste livro
[impresso] e, mais raramente, depois das respostas dos Espíritos ou
dos comentários de Kardec, correspondem, respectivamente, aos números
das questões alusivas ao mesmo assunto, existentes na edição definitiva
de O Livro dos Espíritos (LE) e de O Livro dos Médiuns
(LM). Muitas delas são textuais e, embora nem todas obedeçam à mesma
redação, nem apresentem os mesmos desdobramentos, permitirão ao leitor
confrontar facilmente o texto histórico publicado em 1857 com o texto
atual — definitivo — dos dois primeiros livros da Codificação Espírita.
[74] N. T.: Na edição original deste livro [impresso], dividido
em duas colunas, esta resposta aparece sem aspas, na coluna da direita,
espaço reservado aos comentários de Allan Kardec, levando muita gente
a perguntar-se se teria sido dada por ele ou pelos Espíritos da Codificação,
dúvida que já não subsiste na 2ª edição da obra, publicada em 1860,
onde o referido texto aparece entre aspas, sendo, portanto, atribuído
aos Espíritos. O mesmo raciocínio se aplica à resposta da questão
nº 53, desta obra que, na edição original francesa, também aparece
sem aspas, na coluna da direita (ver reprodução digitalizada do livro,
páginas 405 e 418, respectivamente).
[75] N. T.: O texto original francês não contempla com letras as
perguntas numeradas que aparecem nesta tradução. Assim procedendo, tivemos
em vista facilitar ao leitor a localização de cada uma delas ao longo
deste livro.
[76] N. T.: Esta e outras Notas que aparecem entre parênteses encontram-se
desenvolvidas no final desta tradução (p. 347 a 364).