O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O Livro dos Espíritos — Livro I — Doutrina Espírita.

(1ª edição)
(Idioma francês)

Capítulo primeiro.


Deus.

Provas da existência de Deus. — Deus é um ser individual. — Atributos da Divindade. (Questões 1 a 10 a.)


1. Que é Deus? 71, 72 [Questão 1.] 73
“Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas.” 74


2. Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus? [Questão 4.]
“Num axioma que aplicais às vossas ciências: não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e vossa razão responderá.”


Para crer em Deus basta lançar os olhos sobre as obras da Criação.
O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.


3. Que consequência se pode tirar do sentimento intuitivo, que todos os homens trazem em si, da existência de Deus? [Questão 5.]
“Que Deus existe.”


3 a. O sentimento íntimo que temos da existência de Deus não seria fruto da educação e das ideias adquiridas? 75 [Questão 6.]
“Se assim fosse, por que vossos selvagens teriam esse sentimento?”


Deus pôs dentro de nós mesmos a prova de sua existência pelo sentimento instintivo que se acha entre todos os povos, em todos os séculos e em todos os graus da escala social.
Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse apenas produto de um ensino, não seria universal e, como sucede com as noções científicas, só existiria nos que tivessem recebido esse ensino.


4. Poder-se-ia encontrar nas propriedades íntimas da matéria a causa primeira da formação das coisas? [Questão 7.]

“Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É preciso sempre uma causa primeira.”


Atribuir a formação primeira das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, pois essas propriedades são, em si mesmas, um efeito que deve ter uma causa.


5. Que pensar da opinião que atribui a formação primeira a uma combinação fortuita da matéria, ou seja, ao acaso? [Questão 8.]

“Outro absurdo. Que homem de bom senso pode considerar o acaso como um ser inteligente? E, além disso, que é o acaso? Nada!”


A harmonia que regula as forças do Universo revela combinações e propósitos determinados e, por isso mesmo, denota um poder inteligente. Atribuir a formação primeira ao acaso seria um contrassenso, pois o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz.


6. Onde se vê, na causa primeira, uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências? [Questão 9.]

“Tendes um provérbio que diz: Pela obra se conhece o autor. Pois bem! Vede a obra e procurai o autor. É o orgulho que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si e, por isso, se julga um espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!”


Julga-se o poder de uma inteligência por suas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primeira é, portanto, uma inteligência superior à Humanidade.
Quaisquer que sejam os prodígios realizados pela inteligência humana, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que realize, tanto maior há de ser a causa primeira. Essa inteligência superior é que é a causa primeira de todas as coisas, seja qual for o nome pelo qual a designem.


7. Alguns filósofos disseram que Deus é o infinito; os próprios Espíritos assim o têm designado. Que se deve pensar desta explicação? [Questão 3.]

“Definição incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, insuficiente para definir o que está acima de sua inteligência.”


7 a. Que se deve entender por infinito? [Questão 2.]
“O que não tem começo nem fim.”


Deus é infinito em suas perfeições, mas o infinito é uma abstração. Dizer que Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa pela própria coisa; é definir uma coisa que não é conhecida por outra que também não o é. E é assim que, querendo penetrar o que não lhe é dado conhecer, o homem se lança num beco sem saída, dando margem a discussões.


8. Deus é um ser distinto, ou seria, segundo a opinião de alguns, a resultante de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas, o que faria de cada ser uma parcela da Divindade? [Questão 14.]

“Orgulho da criatura, que se julga o próprio Deus. Filha ingrata que renega o pai.”


Deus é um ser distinto de todos os outros seres. Ver Deus na resultante de todas as forças reunidas do Universo seria negar sua existência; Ele seria então efeito, e não causa.
A inteligência de Deus se revela em suas obras como a de um pintor em seu quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou. Seria ainda aqui tomar o efeito pela causa.


9. Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus? [Questão 10.]

“Não.”


9 a. Por que não é dado ao homem compreender a essência da Divindade? [Questão 10.]
“Falta-lhe, para tanto, um sentido.”


9 b. Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade? [Questão 11.]
“Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria e, por sua perfeição, se houver aproximado de Deus, então o verá e o compreenderá.”


A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade, o homem o confunde muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui; mas, à medida que nele se desenvolve o senso moral, seu pensamento penetra melhor no âmago das coisas; então faz da Divindade uma ideia mais justa e mais conforme à sã razão, embora sempre incompleta.


10. Se não podemos compreender a natureza íntima de Deus, podemos ter ideia de algumas de suas perfeições? [Questão 12.]

“Sim, de algumas. O homem as compreende melhor à medida que se eleva acima da matéria; ele as entrevê pelo pensamento.”


10 a. Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom, não temos uma ideia completa de seus atributos? [Questão 13.]
“De vosso ponto de vista, sim, porque acreditais abranger tudo. Mas ficai sabendo que há coisas acima da inteligência do homem mais inteligente e para as quais a vossa linguagem, limitada às vossas ideias e sensações, não tem como se expressar.
“A razão, com efeito, vos diz que Deus deve possuir essas perfeições em grau supremo, porque, se tivesse uma só de menos, ou não a tivesse em grau infinito, não seria superior a tudo e, por conseguinte, não seria Deus. Para estar acima de todas as coisas, Deus não pode achar-se sujeito a qualquer vicissitude, nem sofrer nenhuma das imperfeições que a imaginação possa conceber”. (Nota 1). 76


A razão nos diz que Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom e infinito em todas as suas perfeições.
Deus é eterno. Se tivesse tido um começo, teria saído do nada, ou, então, teria sido criado por um ser anterior. É assim que, pouco a pouco, remontamos ao infinito e à eternidade.
É imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade.
É imaterial. Isto é, sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria; de outro modo, não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria.
É único. Se houvesse muitos deuses, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo.
É onipotente. Porque é único. Se não tivesse o soberano poder, algo haveria mais poderoso ou tão poderoso quanto Ele; não teria, assim, feito todas as coisas e as que não tivesse feito seriam obra de outro Deus.
É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das Leis divinas revela-se nas menores como nas maiores coisas, e essa sabedoria não permite se duvide nem de sua justiça, nem de sua bondade.



[71] N. T: [No livro impresso] as perguntas feitas por Allan Kardec aparecem em itálico; as respostas dadas pelos Espíritos estão postas entre aspas; os comentários atribuídos ao Codificador estão grafados em tipos menores, não aspados e em letras “redondas”.


[72] N. T.: Conforme se pode ver mais adiante na reprodução digitalizada da edição francesa deste livro, suas matérias estão distribuídas em duas colunas, o que pode confundir um pouco o leitor e tornar enfadonha a leitura. Para obviar esses inconvenientes, preferimos agrupá-las numa só coluna, como, aliás, procedeu Allan Kardec na 2ª edição de O Livro dos Espíritos e nas demais obras da Codificação.


[73] N. T.: Os números colocados entre colchetes […], precedidos das siglas LE ou LM, que aparecem ao final das perguntas deste livro [impresso] e, mais raramente, depois das respostas dos Espíritos ou dos comentários de Kardec, correspondem, respectivamente, aos números das questões alusivas ao mesmo assunto, existentes na edição definitiva de O Livro dos Espíritos (LE) e de O Livro dos Médiuns (LM). Muitas delas são textuais e, embora nem todas obedeçam à mesma redação, nem apresentem os mesmos desdobramentos, permitirão ao leitor confrontar facilmente o texto histórico publicado em 1857 com o texto atual — definitivo — dos dois primeiros livros da Codificação Espírita.


[74] N. T.: Na edição original deste livro [impresso], dividido em duas colunas, esta resposta aparece sem aspas, na coluna da direita, espaço reservado aos comentários de Allan Kardec, levando muita gente a perguntar-se se teria sido dada por ele ou pelos Espíritos da Codificação, dúvida que já não subsiste na 2ª edição da obra, publicada em 1860, onde o referido texto aparece entre aspas, sendo, portanto, atribuído aos Espíritos. O mesmo raciocínio se aplica à resposta da questão nº 53, desta obra que, na edição original francesa, também aparece sem aspas, na coluna da direita (ver reprodução digitalizada do livro, páginas 405 e 418, respectivamente).


[75] N. T.: O texto original francês não contempla com letras as perguntas numeradas que aparecem nesta tradução. Assim procedendo, tivemos em vista facilitar ao leitor a localização de cada uma delas ao longo deste livro.


[76] N. T.: Esta e outras Notas que aparecem entre parênteses encontram-se desenvolvidas no final desta tradução (p. 347 a 364).


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