O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

Índice |  Princípio  | Continuar

O Livro dos Espíritos — Livro I — Doutrina Espírita.

(1ª edição)
(Idioma francês)

Capítulo II.


Criação.

Princípio das coisas. — Investigações da Ciência sobre o princípio das coisas. — Infinito do espaço. — Todos os mundos do Universo são povoados de seres vivos. — Formação dos seres vivos na Terra. — Adão. — Diversidade das raças na Terra. (Questões 11 a 22 b.)


11. O Universo foi criado, ou existe de toda eternidade, como Deus? [Questão 37.]
“Sem dúvida o Universo não pôde fazer-se a si mesmo; e, se existisse, como Deus, de toda a eternidade, não poderia ser obra de Deus.”


11 a. Como Deus criou o Universo? [Questão 38.]
“Para me servir de uma expressão comum: por sua vontade.”


O Universo compreende a infinidade dos mundos que vemos e dos que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros que se movem no espaço, assim como os fluidos que o preenchem.
Diz-nos a razão não ser possível que o Universo se tenha feito a si mesmo e que, não podendo ser obra do acaso, há de ser obra de Deus.


12. É dado ao homem conhecer o princípio das coisas? [Questão 17.]
“Não, Deus o proíbe.”


12 a. Poderemos conhecer a duração da formação dos mundos: da Terra, por exemplo? [Questão 42.]
“Nada te posso dizer a respeito, porque só o Criador o sabe; e bem louco quem pretendesse sabê-lo, ou conhecer o número de séculos dessa formação.”


O princípio das coisas é um mistério que não é dado ao homem penetrar nesta vida e que inutilmente ele procura conhecer. Tanto é assim que a origem dos mundos, a época, a maneira e a duração de sua formação permanecem nos segredos de Deus.


13. O homem penetrará um dia o mistério das coisas que lhe são ocultas neste mundo? [Questão 18.]
“Sim; quando o véu estiver levantado para ele.”


13 a. Os Espíritos conhecem o princípio das coisas? [Questão 239.]
“Mais ou menos, segundo sua elevação e pureza. Os Espíritos inferiores não sabem mais que os homens.”


O véu que agora oculta ao homem o princípio das coisas lhe será levantado numa existência mais apurada; então compreenderá tudo: o passado e o futuro se desdobrarão aos seus olhos à medida que se elevar na perfeição espiritual, e a Natureza não terá mais segredos para ele.


14. Não pode o homem, pelas investigações científicas, penetrar alguns dos segredos da Natureza? [Questão 19.]
“Sim; mas não pode ultrapassar os limites fixados por Deus.”


14 a. Por que os homens que aprofundam as ciências naturais são tão frequentemente levados ao ceticismo? [Questão 147.]
“Orgulho! Sempre orgulho! O filho que julga saber mais que o pai o despreza e renega; mas o orgulho será confundido.”


14 b. O orgulho será confundido neste mundo ou no outro?
“Neste mundo e no outro.”


O homem, mediante sua inteligência, poderá penetrar alguns mistérios da Natureza, até os limites fixados por Deus às investigações da Ciência. Quanto mais é concedido ao homem penetrar nesses mistérios, tanto maior deve ser sua admiração pelo poder e sabedoria do Criador. Mas, seja por orgulho, seja por fraqueza, sua própria inteligência o faz, muitas vezes, joguete da ilusão, e cada dia que passa lhe mostra quantos erros tomou por verdades e quantas verdades repeliu como erros.


15. Fora das investigações científicas, pode o homem receber comunicações de ordem mais elevada acerca do que lhe escapa aos testemunhos dos sentidos? [Questão 20.]
“Sim, se o julgar útil, Deus pode revelar-lhe aquilo que a Ciência não consegue explicar.”


A ciência vulgar do homem não ultrapassa o testemunho dos sentidos; entretanto, em algumas circunstâncias lhe é dado receber comunicações de ordem mais elevada. É por meio delas que o homem adquire, dentro de certos limites, o conhecimento de seu passado e de seu destino futuro.


16. O espaço universal é infinito ou limitado? [Questão 35.]
“Infinito. Supõe limites para ele: que haveria além? Isto te confunde a razão, bem o sei; no entanto, a razão te diz que não pode ser de outro modo. O mesmo se dá com o infinito em todas as coisas. Não é na vossa pequena esfera que podereis compreendê-lo.”


O espaço universal é infinito, isto é, sem bordas. Supondo-se um limite ao espaço, por mais distante que o pensamento possa concebê-lo, diz a razão que além desse limite há alguma coisa e assim, gradativamente, até o infinito, porque, mesmo que essa coisa fosse o vácuo absoluto, ainda seria espaço.


17. Todos os globos que circulam no espaço são habitados? [Questão 55.77
“Sim.”


17 a. Os outros mundos são habitados por seres inteligentes como o homem? [Questão 55.]
“Sim, e o homem da Terra está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, bondade e perfeição. Entretanto, há homens que se julgam muito fortes e pretendem que só este pequeno globo tem o privilégio de abrigar seres racionais. Orgulho e vaidade! Acreditam que Deus criou o Universo só para eles.”


Deus povoou os mundos de seres vivos, e todos concorrem para o objetivo final da Providência.
Acreditar que os seres vivos estejam limitados ao único ponto que habitamos no Universo, seria pôr em dúvida a sabedoria de Deus, que não fez coisa alguma inútil; Ele deve ter dado a cada um desses mundos uma destinação mais séria que a de nos recrearem a vista. Nada, aliás, nem na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra pode levar-nos à suposição de que só ela goze do privilégio de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de mundos semelhantes.


18. A constituição física dos diferentes globos é a mesma? [Questão 56.]
“Não; eles não se assemelham de forma alguma.”


18 a. Não sendo a mesma para todos a constituição física dos mundos, deve-se concluir que tenham organizações diferentes os seres que os habitam? [Questão 57.]
“Sem dúvida, como entre vós os peixes são feitos para viver na água e os pássaros no ar.”


18 b. Poderíamos obter alguns dados sobre o estado dos diferentes mundos?
“Sim; todavia, não os podereis verificar. Ademais, para que vos serviriam? Ocupai-vos de vosso mundo, pois aí tendes muita coisa a fazer.”


A constituição física dos diferentes globos não é idêntica. As condições de existência dos seres que os habitam devem ser apropriadas ao meio em que são chamados a viver. Assim também em nosso mundo vemos seres destinados a viverem na água, no ar e na terra, diferirem bastante em estrutura e organização, porquanto o poder de Deus é infinito e sua Providência provê a todas as necessidades.
Se nunca tivéssemos visto peixes, não compreenderíamos que alguns seres pudessem viver dentro da água. Assim acontece com outros mundos, que provavelmente contém elementos que desconhecemos.


19. O homem sempre existiu na Terra? [Questão 59.]
“Não; mas em outros planetas.”


19 a. Podemos conhecer a época do aparecimento do homem e dos outros seres vivos na Terra? [Questão 48.]
“Não; todos vossos cálculos são quiméricos.”


O homem e os diversos animais nem sempre existiram na Terra, fato esse demonstrado pela Ciência e confirmado pela revelação. A época da aparição dos seres vivos na Terra se perde na noite dos tempos e nos é desconhecida.


20. Houve um tempo em que a Terra não era habitada?
“Sim, quando ela estava em fusão.”


20 a. De onde vieram os seres vivos para a Terra? [Questão 44.]
“A Terra lhes continha os germens, que aguardavam o momento favorável para se desenvolverem.”


20 b. Ainda há seres que nasçam espontaneamente? 78 [Questão 46.]
“Sim, mas o gérmen primitivo já existia em estado de latência. Sois todos os dias testemunhas desse fenômeno. Os tecidos do homem e dos animais não contêm os germens de uma multidão de vermes que só esperam, para desabrochar, a fermentação pútrida necessária à sua existência? É um pequeno mundo que dormita e que se cria.”


No começo tudo era caos. A Terra era desabitada, os elementos estavam confundidos, e nada do que vive podia existir; mas já encerrava em seu seio o princípio orgânico de todos os seres.
Aos poucos, cada coisa foi tomando o lugar que a Natureza lhe assinalou; os princípios orgânicos se reuniram assim que cessou a força que os mantinha afastados, formando os germens de todos os seres vivos. Estes germens permaneceram em estado de latência e de inércia, como a crisálida e as sementes das plantas, até o momento propício à eclosão de cada espécie; então os seres de cada espécie se reuniram e se multiplicaram (Nota 2). [Questão 43, 44.]


21. A espécie humana se encontrava entre os elementos orgânicos contidos no globo terrestre? [Questão 47.]
“Sim.”


21 a. A espécie humana começou por um único homem? [Questão 50.]
“Não.”


21 b. Então, Adão é um ser imaginário?
“Não, mas não foi o primeiro, nem o único a povoar a Terra.” [Questão 50.]


21 c. Apareceram muitos homens ao mesmo tempo na Terra?
“Já te foi dito que sim; e muito tempo antes que Adão surgisse, que já era melhor.”


21 d. Poderemos saber em que época viveu Adão? [Questão 51.]
“Mais ou menos na que lhe assinalais: cerca de 4.000 anos antes do Cristo.”

A espécie humana se encontrava entre os elementos orgânicos contidos no globo terrestre, e veio a seu tempo. Foi isso que levou a se dizer que o homem se formara do limo da terra.
A Humanidade não começou por um só homem. Aquele, cuja tradição se conservou sob o nome de Adão, foi um dos que sobreviveram, em certa região, a alguns dos grandes cataclismos que em diversas épocas abalaram a superfície do globo; mas ele não foi nem o primeiro nem o único que povoou a Terra.
As leis da Natureza se oporiam a que o progresso da Humanidade, constatado muito tempo antes do Cristo, pudesse realizar-se em alguns séculos, caso o homem não estivesse na Terra senão a partir da época assinalada à existência de Adão.


22. De onde vêm as diferenças físicas e morais que distinguem as variedades de raças humanas na Terra? 79 [Questão 52.]
“Do clima, da vida e dos costumes. Dá-se o mesmo com dois filhos da mesma mãe que, educados longe um do outro e de modos diferentes, em nada se assemelharão quanto ao moral.”


22 a. Essas diferenças constituem espécies distintas? [Questão 53 a.]
“Certamente que não; todos são da mesma família. Porventura as múltiplas variedades de um mesmo fruto as impedem de pertencer à mesma espécie?”


22 b. Se a espécie humana não procede de um só indivíduo, os homens devem deixar, por isso, de se considerarem irmãos? [Questão 54.]
“Todos os homens são irmãos em Deus, porque são animados pelo espírito e tendem para o mesmo fim. Quereis sempre tomar as palavras ao pé da letra.”


A variedade de climas sob os quais os homens se formaram, a diversidade dos hábitos e das necessidades têm produzido neles diferenças físicas e morais mais ou menos pronunciadas. Tais diferenças não alteram o caráter distintivo da espécie humana, nem impedem os homens de pertencerem à mesma família e de serem todos irmãos, destinados todos ao mesmo fim que lhes foi assinalado pela Providência.
Os povos têm formado ideias muito divergentes sobre a Criação, segundo o grau de suas inteligências. A razão, apoiada na Ciência, reconheceu a inverossimilhança de certas teorias. Aquela que é dada pelos Espíritos confirma a opinião admitida há muito tempo pelos homens mais esclarecidos. Longe de amesquinhar a obra divina, ela no-la mostra sob um aspecto mais grandioso e mais conforme às noções que temos do poder e da majestade de Deus.



[77] N. T.: Nem todos os globos apresentam condições de habitabilidade, pelo menos as que conhecemos na Terra e que são necessárias para a presença do homem neste planeta. Na Lua, por exemplo, não poderíamos viver. Como, porém, a constituição física dos diferentes globos não é a mesma, e sendo diferentes as condições de existência dos seres que os habitam, apropriadas aos meios em que têm de viver é possível a vida mesmo em temperaturas extremas e na mais densa ou rarefeita atmosfera. Além disso, ao afirmarem que todos os globos que circulam no espaço são habitados, os Imortais poderão estar se referindo, também, aos mundos transitórios, verdadeiras estações ou pontos de repouso aos Espíritos errantes.


[78] N. T.: Hoje a Ciência já não admite a geração espontânea, como o fazia no século XIX, nem mesmo para os seres das ordens mais inferiores da Criação, como vírus e bactérias, por exemplo.


[79] N. E.: Ver “Nota explictiva”, p. 551.


Abrir