Roteiro 3
As regiões de sofrimento no Plano espiritual
Objetivos específicos: Relacionar as principais características das comunidades de sofrimento, situadas no Plano espiritual. — Informar-se a respeito da condição espiritual dos habitantes de tais comunidades.
SUBSÍDIOS
1. A DESTINAÇÃO DO SER HUMANO APÓS A MORTE DO CORPO FÍSICO
Vivemos, pensamos e operamos — eis o que é positivo. E que morremos, não é menos certo. Mas, deixando a Terra, para onde vamos? Que seremos após a morte? Estaremos melhor ou pior? Existiremos ou não? Ser ou não ser, tal a alternativa. Para sempre ou para nunca mais; ou tudo ou nada: Vivemos eternamente, ou tudo se aniquilará de vez? É uma tese, essa, que se impõe. Todo homem experimenta a necessidade de viver, de gozar, de amar e de ser feliz. Dizei ao moribundo que ele viverá ainda; que a sua hora é retardada; dizei-lhe sobretudo que será mais feliz do que porventura o tenha sido, e o seu coração rejubilará. […] Haverá algo de mais desesperador do que esse pensamento da destruição absoluta? Afeições caras, inteligência, progresso, saber laboriosamente adquiridos, tudo despedaçado, tudo perdido! De nada nos serviria, portanto, qualquer esforço no sofreamento das paixões, de fadiga para nos ilustrarmos, de devotamento à causa do progresso, desde que de tudo isso nada aproveitássemos, predominando o pensamento de que amanhã mesmo, talvez, de nada nos serviria tudo isso. Se assim fora, a sorte do homem seria cem vezes pior que a do bruto, porque este vive inteiramente do presente, na satisfação dos seus apetites materiais, sem aspiração para o futuro. Diz-nos uma secreta intuição, porém, que isso não é possível. (1)
Para as doutrinas materialistas não existe a possibilidade de vida após a morte do corpo físico. Mesmo para algumas escolas espiritualistas, a ideia da destinação do ser humano após a morte é apresentada de forma incompleta e bastante confusa.
A despeito da propagação desses conceitos, em […] todos os tempos, o homem se preocupou com o seu futuro para lá do túmulo e isso é muito natural. Qualquer que seja a importância que ligue à vida presente, não pode ele furtar-se a considerar quanto essa vida é curta e, sobretudo, precária, pois que a cada instante está sujeita a interromper-se, nenhuma certeza lhe sendo permitida acerca do dia seguinte. (11)
Na verdade, a […] ideia do nada tem qualquer coisa que repugna à razão. O homem que mais despreocupado seja durante a vida, em chegando o momento supremo, pergunta a si mesmo o que vai ser dele e, sem o querer, espera. Crer em Deus, sem admitir a vida futura, fora um contrassenso. O sentimento de uma existência melhor reside no foro íntimo de todos os homens e não é possível que Deus aí o tenha colocado em vão. A vida futura implica a conservação da nossa individualidade, após a morte. Com efeito, que nos importaria sobreviver ao corpo, se a nossa essência moral houvesse de perder-se no oceano do infinito? As consequências, para nós, seriam as mesmas que se tivéssemos de nos sumir no nada. (11)
Apesar de existirem escolas espiritualistas que ensinam que o ser humano não conserva a sua individualidade após a desencarnação, a maioria admite o contrário.
A Doutrina Espírita entende este assunto da seguinte forma: desde […] que se admita a existência da alma e sua individualidade após a morte, forçoso é também se admita: 1º, que a sua natureza difere da do corpo, visto que, separada deste, deixa de ter as propriedades peculiares ao corpo; 2º, que goza da consciência de si mesma, pois que é passível de alegria, ou de sofrimento, sem o que seria um ser inerte, caso em que possuí-la de nada nos valeria. Admitido isso, tem-se que admitir que essa alma vai para alguma parte. Que vem a ser feito dela e para onde vai? (13)
As comunicações mediúnicas, usuais nas Casas Espíritas, não apenas atestam a sobrevivência dos Espíritos, mas revelam seu estado de felicidade ou infelicidade, conforme a utilização boa ou má do seu livre-arbítrio quando encarnados. Essas comunicações nos esclarecem igualmente a respeito da vida no além-túmulo. A destinação do ser humano após a morte do corpo físico pode ser entendida segundo os seguintes esclarecimentos espíritas:
a) No espaço, os Espíritos formam grupos ou famílias entrelaçados pela afeição, pela simpatia e pela semelhança das inclinações. Ditosos por se encontrarem juntos, esses Espíritos se buscam uns aos outros. (2)
b) As comunidades espirituais do plano extrafísico são formadas por Espíritos da mesma categoria que […] se reúnem por uma espécie de afinidade e formam grupos ou famílias unidos pelos laços da simpatia e pelos fins a que visam: os bons pelo desejo de fazerem o bem; os maus, pelo de fazerem o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se acharem entre os que se lhes assemelham. Tal uma grande cidade onde os homens de todas as classes e de todas as condições se veem e se encontram, sem se confundirem; onde as sociedades se formam pela analogia dos gostos; onde a virtude e o vício se acotovelam, sem trocarem palavra. (8)
c) Entre os Espíritos há hierarquia de poder, níveis de subordinação e autoridade, tal como ocorre numa sociedade organizada. (7) O resultado das relações entre os Espíritos estabelece a existência de […] diferentes ordens, conforme o grau de perfeição que tenham alcançado. (3) Essas ordens revelam as qualidades que os Espíritos já adquiriram e as imperfeições contra as quais terão que lutar. (4)
d) A autoridade que um Espírito tem sobre o outro está fundamentada na ascendência moral. (7) Entre os Espíritos Superiores essa ascendência é natural, sempre benéfica, respeitando o livre-arbítrio de cada um. (6) Tal já não ocorre nas relações entre certos Espíritos inferiores que usam da inteligência ou da força (poder) para subjugarem outros Espíritos, encarnados ou não. (5), (9), (10)
e) O mundo espiritual comporta vários níveis, ou regiões, caracterizados pela sombra e pela dor; pela ventura e pela alegria, conforme o patamar evolutivo dos seus habitantes. Há entre os dois extremos extensa região que apresenta subníveis ou subplanos evolutivos, revelando a gradação de progresso atingido pelos Espíritos aí residentes. Antes mesmo da Codificação do Espiritismo, o vidente sueco Emmanuel Swedenborg nos informava que […] o outro mundo, para onde vamos após a morte, consiste de várias esferas, representando outros tantos graus de luminosidade e de felicidade; cada um de nós irá para aquela a que se adapta a nossa condição espiritual. (14)
f) O Plano espiritual comporta verdadeiras cidades, de pequeno, médio ou grande porte, genericamente denominadas colônias espirituais. Os Espíritos ali se agrupam, estabelecendo regras de vida em sociedade, de acordo com a sua moralidade e com os seus conhecimentos. Espalhados pelas vastas regiões espirituais existem pequenos agrupamentos humanos, geralmente ligados a uma colônia espiritual. Tais agrupamentos, à semelhança das cidades espirituais, representam redutos de paz, de amor, de trabalho ou de sofrimento e criminalidade, conforme a natureza dos seus habitantes.
g) Nas cidades espirituais há residências, onde vivem juntos os membros de uma mesma família. Há também templos religiosos, hospitais, escolas, bibliotecas, academias, recintos para encontros sociais etc. Veem-se parques, jardins, rios, mares, extensas áreas plantadas, montanhas, planícies etc.
A literatura espírita é rica a esse respeito, revelando detalhes das comunidades espirituais e características dos seus habitantes. A série de livros ditada pelo Espírito André Luiz, por meio da psicografia de Francisco Cândido Xavier, merece destaque pelas elucidações lógicas e pela coerência com a Codificação Espírita. Merecem destaque, igualmente, as obras de Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco, dentre as quais Nos Tormentos da Obsessão. Essa obra nos relata episódios cotidianos de um nosocômio fundado e dirigido por Eurípedes Barsanulfo, que atende a desencarnados em sofrimento, sobretudo espíritas que faliram em seus compromissos espirituais.
2. CARACTERÍSTICAS DAS COMUNIDADES ESPIRITUAIS DE SOFRIMENTO E DE DOR
Essas comunidades podem ser classificadas em duas grandes categorias, conforme a localização e a gradação do sofrimento: comunidades de regiões abismais e comunidades do umbral.
As características gerais que ambas as categorias apresentam são as seguintes:
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Predomínio de paixões e ações negativas. O mal, as brigas, as desarmonias, as perturbações generalizadas campeiam nessas localidades.
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Ociosidade marcante entre seus habitantes. Muitos destes dominam outros habitantes, subjugando-os ao trabalho escravo ou ao domínio da sua vontade autoritária e perturbadora (obsessão).
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Os habitantes se comunicam pelo uso das palavras articuladas, como se estivessem encarnados. Os obsessores e dominadores mantêm controle mental sobre aqueles a quem subjugam, por meio dos recursos da hipnose e das chantagens emocionais.
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A volitação é restrita e, quando ocorre, não há deslocamentos significativos, permanecendo a entidade próxima ao solo. O mais comum é a caminhada, utilizando-se das pernas e dos pés.
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O trânsito está temporariamente interditado às regiões mais elevadas.
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A natureza não oferece beleza. Há predomínio de cores fortes e sombrias. Uma espécie de névoa envolve as regiões. As árvores e os animais são estranhos, feios, sem viço.
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As cidades possuem edificações bizarras, pintadas de tons berrantes.
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As músicas são exóticas e irritantes.
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O relevo é árido, áspero, sem verdura e sem paisagens tranquilas. Há muitos vales, permeados de cavernas, grutas, abismos e pântanos.
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Essas comunidades exercem influência direta nos encarnados.
Apesar da desolação e do desequilíbrio reinantes, tais comunidades são constantemente visitadas por benfeitores espirituais, que ali realizam missões de auxílio. Muitos desses benfeitores estão instalados em plenas regiões abismais, em construções genericamente denominadas de núcleos ou postos de auxílio. Eles ali se encontram em missão sacrificial.
3. EXEMPLOS DE COMUNIDADES ESPIRITUAIS CARACTERIZADAS PELO SOFRIMENTO E PELA DOR
3.1 O Vale dos Suicidas
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Fonte: Essa comunidade está descrita no livro Memórias de um Suicida, recebido mediunicamente por Yvone A. Pereira, edição FEB.
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Tipos de habitantes: Suicidas.
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Características da localidade:
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Há pouca luz solar, que é constantemente filtrada por uma névoa densa;
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A vegetação é sinistra, seca, contorcida; as árvores possuem pouca folhagem; muitas plantas exóticas;
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Ouvem-se muitos gemidos, súplicas, choros humanos. O desespero, a dor profunda, a mágoa e o remorso são sentimentos dominantes.
Eis a descrição amarga e dolorosa que um ex-suicida faz do local onde habitou por algum tempo.
[…] Fora eu surpreendido com meu aprisionamento em região do Mundo Invisível cujo desolador panorama era composto por vales profundos, a que as sombras presidiam: gargantas sinuosas e cavernas sinistras, no interior das quais uivavam, quais maltas de demônios enfurecidos, Espíritos que foram homens, dementados pela intensidade e estranheza, verdadeiramente inconcebíveis, dos sofrimentos que os martirizavam.
Nessa paragem aflitiva a vista torturada do grilheta não distinguiria sequer o doce vulto de um arvoredo que testemunhasse suas horas de desesperação […]
O solo, coberto de matérias enegrecidas e fétidas, lembrando a fuligem, era imundo, pastoso, escorregadio, repugnante! O ar pesadíssimo, asfixiante, gelado, enoitado por bulcões ameaçadores como se eternas tempestades rugissem em torno; e, ao respirarem-no, os Espíritos ali ergastulados sufocavam-se como se matérias pulverizadas, nocivas, mais do que a cinza e a cal, lhes invadissem as vias respiratórias, martirizando-os com suplício inconcebível ao cérebro humano habituado às gloriosas claridades do Sol — dádiva celeste que diariamente abençoa a Terra — e às correntes vivificadoras dos ventos sadios que tonificam a organização física dos seus habitantes.
Não havia então ali, como não haverá jamais, nem paz, nem consolo, nem esperança: tudo em seu âmbito marcado pela desgraça era miséria, assombro, desespero e horror […]
O vale dos leprosos, lugar repulsivo da antiga Jerusalém […] que no orbe terráqueo evoca o último grau da abjeção e do sofrimento humano, seria consolador estágio de repouso comparado ao local que tento descrever. (16)
Aqui, era a dor que nada consola, a desgraça que nenhum favor ameniza, a tragédia que ideia alguma tranquilizadora vem orvalhar de esperança! Não há céu, não há luz, não há sol, não há perfume, não há tréguas!
O que há é o choro convulso e inconsolável dos condenados que nunca se harmonizam! O assombroso “ranger de dentes” da advertência prudente e sábia do sábio Mestre de Nazaré! A blasfêmia acintosa do réprobo e se acusar a cada novo rebate da mente flagelada pelas recordações penosas! A loucura inalterável de consciências contundidas pelo vergastar infame dos remorsos! O que há é a raiva envenenada daquele que já não pode chorar, porque ficou exausto sob o excesso das lágrimas! O que há é o desaponto, a surpresa aterradora daquele que se sente vivo a despeito de se haver arrojado da morte! É a revolta, a praga, o insulto, o ulular de corações que o percutir monstruoso da expiação transformou em feras! O que há é a consciência conflagrada, a alma ofendida pela imprudência das ações cometidas, a mente revolucionada, as faculdades espirituais envolvidas nas trevas oriundas de si mesma! […]
Quem ali temporariamente estaciona, como eu estacionei, são grandes vultos do crime! É a escória do mundo espiritual — falanges de suicidas que periodicamente para os seus canais afluem […]. (17)
3.2 Uma cidade estranha
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Fonte: Esta cidade está descrita no livro Libertação, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ditado pelo Espírito André Luiz, edição FEB.
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Tipos de habitantes: Espíritos imperfeitos, vinculados ao mal.
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Características da localidade: A cidade que André Luiz chama de estranha, estava (ou está) situada em vasto domínio das sombras e pode ser assim descrita:
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A claridade solar jazia diferençada.
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Fumo cinzento cobria o céu em todas a sua extensão.
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A volitação fácil se fizera impossível.
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A vegetação exibia aspecto sinistro e angustiado. As árvores não se vestiam de folhagem farta e os galhos, quase secos, davam a ideia de braços erguidos em súplicas dolorosas.
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Aves agoureiras, de grande tamanho, de uma espécie que poderá ser situada entre os corvídeos, crocitavam em surdina, semelhando-se a pequenos monstros alados espiando presas ocultas. (19)
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O que mais contristava, porém, não era o quadro desolador, mais ou menos semelhante a outros […] e, sim, os apelos cortantes que provinham dos charcos. Gemidos tipicamente humanos eram pronunciados em todos os tons. (20)
Observando as características ambientais daquela cidade, André Luiz faz as seguintes indagações íntimas:
Aquelas árvores estranhas, de frondes ressecadas, mas vivas, seriam almas convertidas em silenciosas sentinelas de dor, qual a mulher de Lot, transformada simbolicamente em estátua de sal? E aquelas grandes corujas diferentes, cujos olhos brilhavam desagradavelmente nas sombras, seriam homens desencarnados sob tremendo castigo da forma Quem chorava nos vales extensos da lama? Criaturas que houvessem vivido na Terra que recordávamos, ou duendes desconhecidos para nós? (21)
Continuando no seu pungente relato, André Luiz nos informa que de […] quando em quando, grupos hostis de entidades espirituais em desequilíbrio nos defrontavam, seguindo adiante, indiferentes, incapazes de registrar-nos a presença.
Falavam em voz alta, em português degradado, mas inteligível, evidenciando, pelas gargalhadas, deploráveis condições de ignorância. Apresentavam-se em trajes bisonhos e conduziam apetrechos de lutar e ferir. (21)
A certa altura, à medida que se vai aproximando da cidade, o ar parece impregnado de fluidos viscosos, provando mal-estar, asfixiante opressão e respiração ofegante. Assinala André Luiz: de quando em quando grupos hostis de entidades espíritas em desequilíbrio nos defrontavam, seguindo adiantes, indiferentes, incapazes de nos registrar a presença. Falavam em voz alta, em português degradado, mas inteligível […] (21)
A cidade era dirigida pelo sacerdote Gregório, […] um sátrapa de inqualificável impiedade, que aliciou para si próprio o pomposo título de Grande Juiz, assistido por assessores políticos e relígiosos, tão frios e perversos quanto ele mesmo. (22)
Ali se encontrava aristocracia de gênios implacáveis, senhoreando milhares de mentes preguiçosas, delinquentes e enfermiças. (22)
André Luiz continua nos transmitindo, com matizes fortes, os panoramas dessa cidade umbralina:
Música exótica fazia-se ouvir não distante. […]
Em minutos breves, penetramos vastíssima aglomeração de vielas, reunindo casario decadente e sórdido […]
Rostos horrendos contemplava-nos furtivamente, a princípio, mas, à medida que varávamos o terreno, éramos observados, com atitude agressiva, por transeuntes de miserável aspecto […]
Mutilados às centenas, aleijados de todos os matizes, entidades visceralmente desequilibradas, ofereciam-nos paisagens de arrepiar. (23)
[…] Vestiam-se de roupagens de matéria francamente imunda. Lombroso e Freud encontrariam aí extenso material de observação. Incontáveis tipos que interessariam, de perto, à criminologia e à psicanálise vagueavam absortos, sem rumo. Exemplares inúmeros de pigmeus, cuja natureza em si ainda não posso precisar, passavam por nós, aos magotes. Plantas exóticas, desagradáveis ao nosso olhar, ali proliferam, e animais em cópia abundante, embora monstruosos, se movimentavam a esmo […]. Becos e despenhadeiros escuros se multiplicavam em derredor […]. (24)
[…] Milhares de criaturas, utilizadas nos serviços mais rudes da natureza, movimentam-se nestes sítios em posição infraterrestre […]. Situam-se entre o raciocínio fragmentário do macacoide e a ideia simples do homem primitivo na floresta. Afeiçoam-se a personalidades encarnadas ou obedecem, cegamente, aos Espíritos prepotentes que dominam em paisagens como esta. Guardam, enfim, a ingenuidade do selvagem e a fidelidade do cão. (25)
O orientador Gúbio, dirigente do grupo em trabalho de auxílio nessa cidade, esclarece:
Quase todas as almas humanas, situadas nestas furnas, sugam as energias dos encarnados e lhes vampirizam a vida, qual se fossem lampreias insaciáveis no oceano de oxigênio terrestre. Suspiram pelo retorno ao corpo físico, de vez que não aperfeiçoaram a mente para a ascensão, e perseguem as emoções do campo carnal com o desvario dos sedentos no deserto. Quais fetos adiantados absorvendo as energias do seio materno, consomem altas reservas de força dos seres encarnados que as acalentam, desprevenidos de conhecimento superior. Daí, esse desespero com que defendem no mundo os poderes da inércia e essa aversão com que interpretam qualquer progresso espiritual ou qualquer avanço do homem na montanha da santificação. No fundo, as bases econômicas de toda essa gente residem, ainda, na esfera dos homens comuns e, por isto, preservam, apaixonadamente, o sistema de furto psíquico, dentro do qual se sustentam, junto ás comunidades da Terra. (26)
Essas palavras de Gúbio merecem profunda reflexão de nossa parte, porque a morte do corpo físico não opera milagres e cada um colhe, no Além, aquilo que houver semeado. Devemos, porém, acreditar em dias melhores, pois […] o bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos que a vêm habitar, os bons predominarem, porque, então, farão que aí reinem o amor e a justiça, fonte do bem e da felicidade. Por meio do progresso moral e praticando as leis de Deus é que o homem atrairá para a Terra os bons Espíritos e dela afastará os maus. Estes, porém, não a deixarão, senão quando daí estejam banidos o orgulho e o egoísmo. (12)
A Cidade Estranha está situada em uma vasta região do Plano espiritual denominada Umbral. Esta região está citada no livro Nosso Lar, psicografado por Francisco Cândido Xavier, ditado pelo Espírito André Luiz, edição FEB.
Vamos apresentar, em seguida, as características gerais do Umbral e dos seus habitantes.
Os habitantes das regiões umbralinas podem ser classificados em dois grandes grupos, assim especificados:
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Espíritos imperfeitos — presos às paixões e às sensações da vida material.
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Espíritos benfeitores — que vivem nos chamados postos de auxílio, realizando trabalho sacrificial de auxílio aos Espíritos necessitados.
O Umbral é uma zona obscura que se inicia na crosta terrestre, uma espécie de região purgatorial, caracterizada por grandes perturbações decorrentes da presença de compactas legiões de almas irresolutas, ignorantes e desesperadas, em graus variáveis.
Vamos, em seguida, acompanhar a descrição que o Espírito André Luiz faz desta localidade espiritual.
O Umbral é uma região espiritual que […] começa na crosta terrestre. É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos […] Pois bem: todas as multidões de desequilibrados permanecem nas regiões nevoentas, que se seguem aos fluidos carnais. (27)
O Umbral funciona, portanto, como região destinada a esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena. (28)
O Umbral é região de profundo interesse para quem esteja na Terra. Concentra-se, aí, tudo que não tem finalidade para a vida superior […]. Há legiões compactas de almas irresolutas e ignorantes, que não são suficientemente perversas para serem enviadas a colônias de reparação mais dolorosa, nem bastante nobres para serem conduzidas a Planos de elevação. Representam fileiras de habitantes do Umbral, companheiros imediatos dos homens encarnados, separados deles apenas por leis vibratórias. Não é de estranhar, portanto, que semelhantes lugares se caracterizem por grandes perturbações. Lá vivem, agrupam-se, os revoltados de toda espécie. Formam, igualmente, núcleos invisíveis de notável poder, pela concentração das tendências e desejos gerais […] O Umbral está repleto de desesperados. (29)
O Umbral possui núcleos onde há infelizes, malfeitores e vagabundos de várias categorias. É zona de verdugos e vítimas; de exploradores e explorados. (30)
[…] A zona inferior a que nos referimos é qual a casa onde não há pão: todos gritam e ninguém tem razão. O viajante distraído perde o comboio, o agricultor que não semeou não pode colher […]: — não obstante as sombras e angústias do Umbral, nunca faltou lá a proteção divina. Cada Espírito lá permanece o tempo que se faça necessário. (31)
Das colônias espirituais, situadas acima do Umbral, partem missões consagradas ao trabalho e ao socorro espiritual aos Espíritos que ali se situam. (31)
O trabalho dos benfeitores espirituais nessas localidades é de muita coragem e de renúncia, porque os […] missionários do Umbral encontram fluidos pesadíssimos emitidos sem cessar, por milhares de mentes desequilibradas, na prática do mal, ou terrivelmente flageladas nos sofrimentos retificadores. (32)
É importante que pensemos mais detidamente a respeito dessas informações transmitidas por André Luiz, a fim de que, sabendo aproveitar de forma equilibrada as experiências vivenciadas na vida física possamos desfrutar de momentos de paz no Plano espiritual. O que vale é perseverarmos no bem, porque dia virá em que as cidades de sofrimento, tanto no Plano espiritual quanto no material, existirão apenas nos arquivos da história do planeta, porque a Terra será um mundo de regeneração, habitada por Espíritos melhores; e então, nesse instante, estará sendo cumprida a promessa da Cristo: Bem-aventurados os mansos porque herdarão a Terra (Mateus, 5.4).
GLOSSÁRIO
Abjeção — Aviltamento, último grau de baixeza. |
Bulcões — Nevoeiros densos e negros que precedem uma tempestade. |
Ergastulados — Encarcerados, prisioneiros. |
Grilheta — Condenado às galés ou aos trabalhos forçados. |
Maltas — Grupos ou reuniões de pessoas de baixa condição. Vagabundos. |
Niilismo — Em Filosofia significa ausência de toda crença. Doutrina política que justifica a destruição de qualquer organização social, porque todas são más. Negação de tudo. É a doutrina do nada. † |
Pigmeus — De pequeníssima estatura, anões. |
Réprobo — Reprovado, condenado. |
Sátrapa — Título dos antigos governadores persas. Grande Senhor. Déspota. |
Vergastar — Bater com vergasta (chibata, chicote). Açoitar. |
Referências Bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Tradução de Manoel Justiniano Quintão. 45. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000. Primeira Parte, Capítulo I, item 1, p. 11-12.
2. Idem - O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Capítulo IV, item 18, p. 90.
3. Idem - O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003, questão 96, p. 86.
4. Idem, ibidem - Questão 100, p. 87-89.
5. Idem, ibidem - Questão 101, p. 89-92.
6. Idem, ibidem - Questão 107, p. 92-93.
7. Idem, ibidem - Questão 274, p. 179.
8. Idem, ibidem - Questão 278, p. 180.
9. Idem, ibidem - Questão 829, p. 384.
10. Idem, ibidem - Questões 836-837, p. 386.
11. Idem, ibidem - Questão 959, p. 445-446.
12. Idem, ibidem - Questão 1019, p. 475-476.
13. Idem - O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 66. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000. Primeira parte. Capítulo I, item 2, p. 20.
14. DOYLE, Arthur Conan. A História de Swedenborg. História do Espiritismo. Tradução de Júlio Abreu Filho. São Paulo: Pensamento, 1960, p. 38.
15. Idem, ibidem - p. 39. [Obs. Não existe nesse Roteiro a referência nº 15]
16. PEREIRA, Yvone A. Memórias de um Suicida. 22. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000, p. 15-16.
17. Idem, ibidem - p. 17.
18. Idem, ibidem - p. 17. [Obs. Não existe nesse Roteiro a referência nº 18]
19. XAVIER, Francisco Cândido. Libertação. Pelo Espírito André Luiz. 18. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 4 (Numa cidade estranha), p. 63-64.
20. Idem, ibidem - p. 64.
21 Idem, ibidem - p. 65.
22. Idem, ibidem - p. 67.
23. Idem, ibidem - p. 70.
24. Idem, ibidem - p. 73.
25. Idem, ibidem - p. 74.
26. Idem, ibidem - p. 76.
27. Idem - Nosso Lar. Pelo Espírito André Luiz. 55. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 12 (O umbral), p. 79-80.
28. Idem, ibidem - p. 81.
29. Idem, ibidem - p. 81-82.
30. Idem, ibidem - p. 82.
31. Idem, ibidem - p. 83.
32. Idem, ibidem - p. 84.