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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Programa II — Filosofia e Ciência Espíritas


Roteiro 10


Instinto

Objetivo:

» Avaliar os conceitos filosóficos e científicos de instinto, comparando-os com os significados espíritas.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Segundo a filosofia, instinto (do latim Instinctus), é um guia natural, pouco modificável, que independe da conduta, animal ou humana. Trata-se, portanto, de impulso interior que permite ao ser agir de forma inconsciente, executando atos considerados adequados às necessidades de sobrevivência própria, da prole ou da espécie.

  • Segundo a Doutrina Espírita, os atos instintivos foram construídos pelo princípio inteligente em sua longa passagem pelos reinos inferiores da Criação. O instinto é considerado, então, […] uma espécie de inteligência. É uma inteligência não racional; é por ele que todos os seres proveem às suas necessidades. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 73.



 

SUBSÍDIOS


Em Filosofia, instinto é considerado um “[…] guia natural da conduta animal e humana [que] não é adquirido, não é escolhido e é pouco modificável […]. (1) Os Espíritos da Codificação afirmam que o instinto é “[…] uma espécie de inteligência. É uma inteligência não racional; é por ele que todos os seres proveem às suas necessidades.” (2) Ou seja, necessidades de manutenção e sobrevivência da espécie, a fim de atender aos desígnios da Criação em geral, e os da reencarnação em particular.

Contudo, nem sempre é possível estabelecer um limite entre o instinto, propriamente dito, e a inteligência, porque muitas vezes ambos se confundem, (3) sobretudo nos processos primários da evolução humana. Por mais que o homem progrida intelectualmente e aprenda a dominar os impulsos da vontade, há instintos que permanecem, refletidos nos automatismos biológicos.

Daí afirmarem os Espíritos superiores: “[…] o instinto existe sempre, mas o homem o despreza. O instinto também pode conduzir ao bem. Ele quase sempre nos guia e algumas vezes com mais segurança do que a razão. Nunca se engana.” (4)

As contribuições do instinto representam, a priori, experiência bem sucedida da sobrevivência da espécie, adequadamente incorporada à memória integral do homem e dos animais. O aprendizado parcial, ainda não automatizado, não se manifesta como ato instintivo, pois o “[…] instinto não raciocina; [só] a razão permite a escolha e dá ao homem o Livre-arbítrio.” (5)

De acordo com os estudiosos, especialmente os vinculados à Psicologia,


[…] o instinto difere da tendência pelo caráter biológico, porquanto se destina à conservação do indivíduo e da espécie e vincula-se a uma estrutura orgânica determinada: distingue-se do impulso por seu caráter estável. Existem duas concepções fundamentais de instinto: 1ª a metafísica, segundo a qual o instinto é a força que assegura concordância entre a conduta animal e a ordem do mundo; 2ª a científica, segundo a qual o instinto é um tipo de disposição biológica. (1)


Tendência é algo que impele alguém a seguir um caminho. É sinônimo de predisposição, de inclinação ou propensão. Alguma coisa inata, mas que, conforme as circunstâncias, pode ser controlada pela educação. Difere, portanto, do instinto, porque este independe do controle da razão.

Impulso, por sua vez, é ação irrefletida e espontânea, movida pela emoção, que também pode ser administrada pela educação. A pessoa adquire, então, autocontrole.

Esclarece o Espiritismo que o instinto


[…] é uma inteligência rudimentar, que difere da inteligência propriamente dita por serem quase sempre espontâneas as suas manifestações, ao passo que as da inteligência resultam de uma combinação e de um ato deliberado. O instinto varia em suas manifestações, conforme as espécies e suas necessidades. Nos seres que têm a consciência e a percepção das coisas exteriores, ele se alia à inteligência, isto é, à vontade e à liberdade. (6)

1. INSTINTO: PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS E CIENTÍFICOS


Os estudos metafísicos sobre o instinto surgem com os estoicos,  †  para os quais há uma “[…] ordem providencial do mundo, que todos os seres estão destinados a manter, [pois] dirige a conduta animal.” (1) Dessa forma, a Natureza faz o animal cuidar de si mesmo, automaticamente, e a conservar-se, contribuindo para manter a ordem do todo. (1)

Por esse motivo, já afirmava Marco Túlio Cícero (106 a.C-43 a.C), famoso filósofo, orador, escritor, advogado e político romano: “[…] Para conservar-se, para conservar sua vida e seu corpo, toda espécie animal evita por natureza tudo o que parece nocivo, deseja e trata de arranjar tudo o que é necessário à vida, como alimento, abrigo e todo o resto. Também é comum a todos os seres, animais o instinto sexual com vistas à procriação e certo cuidado com as crias.” (7)

Segundo a doutrina metafísica (7) o instinto apresenta as seguintes características: a) ação providencial — garantida pelas leis da Natureza; b) infabilidade — consequente da característica anterior, o instinto estaria apto para garantir a vida do animal e a sobrevivência da espécie; c) imutabilidade — que deriva das duas características anteriores e que resultaria na perfectibilidade do instinto; d) cegueira — o instinto independe do controle do animal, age cegamente. (7)

Do ponto de vista científico, o instinto pode ser explicado por meio de duas teorias: a explicativa e a descritiva.

1.1 - Teoria Explicativa do Instinto


Esta teoria abrange três enfoques: a) o da ação reflexa; b) o do intelecto; c) o do sentimento (ou simpatia).


O enfoque da ação reflexa


Imaginada originalmente por René Descartes (1596-1650), conhecido filósofo francês, partiu-se do pressuposto que o corpo humano funciona como uma máquina, movida por ação reflexa. (8) Essa conceituação ganhou unanimidade no meio científico, alcançando, inclusive, o século XX, ainda que a teoria dos reflexos de Descartes tenha sido bastante questionada pelos respeitáveis estudos do neurologista escocês Robert Whytt (1714-1766).  † 


[…] Com relação aos reflexos, em 1751 Whytt publicou The vital and other involuntary motions of animals - Google Books - , resultante de anos de pesquisas sobre o papel da medula espinhal [nervosa] na mediação do ato reflexo e o primeiro estudo extensivo dos reflexos com base numa pesquisa experimental. […] Whytt distinguiu os atos voluntários dos involuntários: os primeiros eram controlados pela vontade, originavam-se no cérebro e exigiam que este estivesse intacto; os segundos eram controlados por meio da medula espinhal. A meio caminho entre os controles voluntário e involuntário, e servindo de ligação entre eles, estava a formação de hábitos. Assim, os atos que se iniciam como voluntários, e sob o controle deliberado da vontade, tornam-se semelhantes a reflexos quando são suficientemente praticados. (9)


A teoria de Whytt contribuiu para melhor entender os atos instintivos, abrindo portas para sucessivos estudos nos séculos seguintes. Posteriormente essa teoria foi amplamente defendida por cientistas e filósofos de renome, como Herbert Spencer (1820-1923), filósofo positivista inglês, em sua obra Princípios de Psicologia (1855) The principles of psychology - Google Books; por seu conterrâneo Charles Darwin (1809-1882), famoso naturalista, no famoso artigo Descent of Man - Google Books - (A descendência humana), em 1871 (10); por todos os darwinistas e neo-darwinistas, do passado e do presente; e, também, pelos estudiosos que elaboraram a teoria do reflexo condicionado, como o fisiologista russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936). (10)

Por definição, reflexo ou ação reflexa é a resposta involuntária a um estímulo. A ação reflexa não é controlada inicialmente pelo Sistema Nervoso Central (SNC), mas pela medula nervosa (reflexo medular) e pelo bulbo. A ação reflexa caracteriza os atos inconscientes, cujos resultados são específicos e previsíveis porque, ao longo da evolução se tornaram adaptativos (automatizados). (11) Por exemplo, a tosse, a salivação, o vômito, o piscar e o movimento pupilar são, entre outros, atos reflexos.

Outro ponto a considerar: “[…] Os reflexos dependem de uma via nervosa intacta entre o ponto de estimulação e o órgão que irá responder (músculo ou glândula). Essa via é denominada de arco reflexo.” (11) O arco reflexo é uma reação involuntária rápida que visa proteger o organismo, sendo originado de um estímulo externo antes mesmo de o cérebro tomar conhecimento do estímulo periférico, consequentemente, antes que possa comandar uma resposta.


O enfoque do intelecto


Refere-se a manifestações instintivas mais complexas, ou mais elaboradas. Trata-se de uma espécie de inteligência automatizada, de aprendizado originado de um hábito adquirido, formado e aperfeiçoado pelo animal, ao longo do tempo.

É enfoque ensinado pela psicologia evolutiva, apresentado pela primeira vez em Cambridge, Reino Unido, pelo inglês George Romanes (1848-1894), e que se encontra no livro Mental Evolution in Animals - Google Books - (A Evolução Mental nos Animais), publicado em 1883.

A despeito da aceitação da maior parte de suas ideias, no que se dizia respeito ao comportamento instintivo do animal, o estudo de Romanes foi pouco a pouco desprezado, apelidado de “método anedótico”, pelos exageros das conclusões apresentadas pelo autor, a respeito das habilidades dos animais. Por exemplo: “[…] ele afirmou que as formigas têm o hábito de criar mascotes. Que os escorpiões se suicidam quando cercados pelo fogo. Que os pássaros são dotados de solidariedade e fidelidade conjugal, e que os castores demonstram “sagacidade e previsão” quando selecionam o local de sua morada.” (12)

O cientista que mais contribuiu para o estudo do comportamento instintivo foi o britânico Douglas Spalding (1840-1877)  †  que, a despeito da sua origem humilde, era portador de inteligência e acuidade mental excepcionais para analisar fatos observados ou para apresentar conclusões. Este estudioso foi preceptor daquele que seria um influente matemático, lógico e filósofo do século XX: Bertrand Arthur William Russel,  †  3º conde de Russel (1872-1970). (13)

Apesar do curto período de vida (morreu com 37 anos), Spalding desenvolveu consistentes ideias sobre o instinto, distinguindo os atos involuntários dos voluntários — que podem ser desenvolvidos com a aprendizagem e/ou educação — , e, outros atos instintivos, próprios de cada animal, conhecidos hoje como “específicos das espécies”. (13)


O enfoque do sentimento (ou da simpatia)


Neste enfoque o instinto é relacionado aos sentimentos e, em particular, ao da simpatia, como afirmava Henri Bergson (1859-1941),  †  conhecido filósofo e diplomata francês: “[…] Nos fenômenos do sentimento, nas simpatias e antipatias irrefletidas, sentimos em nós mesmos, de forma bem mais vaga e ainda demasiado penetrada de inteligência, algo que deve acontecer na consciência do inseto que age por instinto. Para desenvolvê-los em profundidade, a evolução distanciou elementos que na origem se interpenetravam.” (14)

Segundo o enfoque do sentimento, a inteligência humana se desenvolve cada vez mais, distanciando-se do instinto, propriamente dito, por um processo de especialização, que só os sentimentos concedem.

1.2. Teoria Descritiva do Instinto


Esta teoria representa uma mescla de ideias freudianas, da psicologia humanista, da social, do gestaltismo, da educação e da sociologia. Para perceber as influências dessas distintas áreas do saber, é importante, primeiramente, saber como a Psicologia conceitua instinto: “[…] tendência ou disposição permanente para atuar do modo biologicamente determinado e característico de uma espécie. O ato instintivo é o produto, no comportamento animal [inclusive no homem], das condições específicas resultantes da hereditariedade, do meio ambiente e do impulso (adaptação, frustração, conflito, fuga).” (15)

Sigmund Schlomo Freud (1856-1939), médico neurologista austríaco, considerado o pai da psicanálise, desenvolveu uma divisão estrutural da personalidade humana, em três partes: id, ego e superego. Por esta classificação, os conceitos de instinto e inteligência ficam evidentes.

  • O id (inconsciente) representa os processos primitivos do pensamento, sobretudo do sexo e da agressividade, que exige constante satisfação de suas necessidades. O id constitui, para Freud, o reservatório das pulsões — palavra de origem alemã que significa instinto. (16)

  • O ego (consciente) é entendido como elemento de ligação entre o id e o superego. Ou seja, é “[…] em parte consciente e em parte inconsciente, situa-se no centro da personalidade.” (16) Dessa forma, as ações do indivíduo são determinadas pelas necessidades instintivas do inconsciente (id), suas crenças e comportamentos, desenvolvidos pelo aprendizado ao longo das eras. Mas por fazer parte das instâncias da consciência, o ego saudável proporciona a habilidade para adaptar-se à realidade e interagir com o mundo exterior, pelos mecanismos da inteligência, de uma maneira que seja cômoda para o id e para o superego.

  • O superego (ou superconsciência) é a parte da personalidade que age contra as manifestações instintivas do id, por representar pensamentos morais e éticos, já internalizados (possivelmente pela educação).

Para Freud os instintos influenciam a ação consciente do indivíduo que, conforme esse grau de interferência, o meio e as condições de vida (educação recebida), manifestam-se na forma de processos patológicos mentais, variáveis em intensidade e tipos. Freud cometeu alguns equívocos, claramente definidos hoje, talvez pela ênfase que deu ao instinto sexual, considerado controlador dos demais tipos de instintos.

A Teoria do Instinto Social, que integra a Psicologia Social, tem como base os estudos do psicólogo britânico William MacDougal (1871-1938),  †  que afirmou: “[…] o instinto é a base de toda a atividade humana e as operações mentais são apenas instrumentos para a execução dos impulsos criados pelo instinto.” (15) Analisa, também, que


[…] os aspectos volitivos [da vontade] e cognitivos da natureza humana são suscetíveis de grandes modificações, ao passo que o aspecto emocional é permanente e hereditário, persistindo inalterado e comum a todos os indivíduos em situações idênticas. MacDougal enumera os instintos que considera sociais: instinto de fuga e sensação de medo; instinto de repulsa e sensação de repulsa; instinto de curiosidade e sensação de espanto; instinto de luta e sensação de ira; instinto de autodegradação e sensação de sujeição (autossentimento negativo); instinto de autoafirmação (autorrevelação) e sensação de orgulho (autossentimento positivo); instinto paterno e sensação de ternura. São esses os instintos primários e respectivas emoções “que desempenham função de grande importância para a vida social.” (15)


A Psicologia da Gestalt (gestaltismo) é escola ou posição sistemática, intrinsecamente relacionada aos processos de percepção. Para o gestaltismo,  †  o entendimento sobre o instinto deve estar totalmente distanciado da teoria dos reflexos, do Behaviorismo  †  — que tem como objeto de estudo o comportamento, caracterizado pela resposta dada a estímulos externos, sem considerar o papel exercido pela consciência do indivíduo. Assim, o instinto deve ser entendido como


[…] uma disposição psicobiofísica, dependente da hereditariedade, muitas vezes completamente formada logo depois do nascimento, outras vezes só depois de certo período de desenvolvimento, que orienta o animal a dar atenção especial a objetos de certa espécie ou de certo modo, e a sentir, depois de perceber esses objetos, um impulso para determinada atividade, em conexão com eles. [G.E. Muller, 1948]. (10)


Os mais famosos psicólogos gestaltistas foram os alemães Kurt Koffka (1886-1941)  †  e Wolfgang Köhler (1887-1967),  †  e o checo Max Wertheimer (1880-1943)  † . Desenvolveram as Leis da Gestalt,  †  válidas até os nossos dias. A Gestalt ampliou seu leque de abrangência, teórica e prática, transformando-se, então, em sólida linha filosófica que envolve, inclusive, processos pedagógicos.

A Psicologia Humanista, por outro lado, faz crítica aberta e


[…] vigorosa às duas correntes psicológicas dominantes na Psicologia: a behaviorista, “com suas tendências mecanicistas, reducionistas e elementaristas”, e a psicanalítica, que estuda “somente indivíduos perturbados: neuróticos e psicóticos.” […] Os membros desse movimento consideram que: a) o behaviorismo, na medida em que enfatiza exclusivamente o comportamento manifesto, tende a desumanizar o homem, a reduzi-lo, segundo James Bugental (1967)  †  a “um rato branco maior ou a um computador mais lento”. Eles afirmam que a imagem do homem proposta pela orientação estímulo-reação oferece, na melhor das hipóteses, um quadro incompleto da natureza humana e, na pior, um quadro totalmente inexato. Em suma, “o behaviorismo não se defronta com o que há de único no homem, aquelas qualidades eminentemente subjetivas que o diferenciam do animal de laboratório”; b) a psicanálise, na medida em que estuda apenas indivíduos perturbados, não pode chegar a conhecer as qualidades e as características positivas do homem. Abraham Maslow  †  afirmou que a psicologia “tem ignorado atributos tais como a alegria, a satisfação, a generosidade e o êxtase”, concentrando-se apenas no lado sombrio, no aspecto “doente” do homem. (17)


A Psicologia Humanista parte do princípio que o ser humano é portador de livre-arbítrio e não está preso a determinismos impostos exclusivamente pela herança genética ou adaptações ambientais.

Os seus principais representantes são: os psicólogos estadunidenses Ahraham Maslow (1908-1970)  † , Carl Rogers (1902-1987)  † , Gardner Murphy (1895-1979)  † , James Bugental (1915-2008)  † , e os alemães Charlotte Bühler (1893-1974)  †  e Kurt Goldstein (1878-1908)  † . Tais estudiosos propuseram


[…] a criação da Terceira Força na Psicologia, cujo objetivo final seria “[…] a preparação de uma completa descrição do que significa estar vivo como ser humano, [a qual] inclui necessariamente o inventário da dotação inata do homem; suas potencialidades de sentimento, de pensamento e de ação, seu crescimento, evolução e declínio; sua interação com várias condições ambientais; a gama completa de experiências que lhe são possíveis e o seu significado no universo.” (James Bugental, no discurso que fez para assumir o cargo do primeiro presidente da Associação Americana de psicologia humanista 1962). (17)


Percebe-se com nitidez que a Psicologia Humanista possui fundamentos sintonizados com o pensamento espírita.

A Psicologia Genética estuda os fenômenos genéticos de acordo com a origem e o desenvolvimento do indivíduo e suas funções mentais. Aceita a ideia de que os “[…] fenômenos psicológicos são o produto de leis herdadas e atávicas, as quais influem na ocorrência e no desenvolvimento das funções [destaque] psicológicas do indivíduo e, concomitantemente, na sua filiação grupal.” (18) A psicologia genética abrange abordagens da psicologia do desenvolvimento, da psicologia comparada e da psicologia de pessoas mentalmente enfermas.

2. CONSIDERAÇÕES ESPÍRITAS SOBRE O INSTINTO


O Espiritismo orienta que, independentemente da forma como a Filosofia e a Ciência analisam a questão instinto, jamais se deve esquecer que os mecanismos que determinam a evolução do instinto ou da inteligência são mediados pelo perispírito, veículo que molda o corpo físico, do homem e dos animais, imprimindo-lhe as experiências nas múltiplas reencarnações, e nos aprendizados adquiridos nos inúmeros estágios no plano espiritual. A Doutrina Espírita ensina, igualmente, que os atos instintivos foram construídos pelo princípio inteligente em sua longa passagem pelos reinos inferiores da Criação.

Explica André Luiz a respeito:


Esse corpo [perispírito] que evolve e se aprimora nas experiências de ação e reação, no plano terrestre e nas regiões espirituais que lhe são fronteiriças, é suscetível de sofrer alterações múltiplas, com alicerces na adinamia proveniente da nossa queda mental no remorso, ou na hiperdinamia imposta pelos delírios da imaginação, a se responsabilizarem por disfunções inúmeras da alma, nascidas do estado de hipo e hipertensão no movimento circulatório das forças que lhe mantém o organismo sutil, e pode também desgastar-se, na esfera imediata à esfera física, para nela se refazer, através do renascimento, segundo o molde mental preexistente, ou ainda restringir-se a fim de se reconstituir de novo, no vaso uterino, para a recapitulação dos ensinamentos e experiências de que se mostre necessitado, de acordo com as falhas da consciência perante a Lei. (19)


O orientador Calderaro apresenta no livro No Mundo Maior, importante conceituação de mente, que facilita o entendimento de “molde mental” informado por André Luiz e, também as explicações emitidas por Freud, a respeito.


No sistema nervoso, temos o cérebro inicial, repositório dos movimentos instintivos e sede das atividades subconscientes; figuremo-lo como sendo o porão da individualidade, onde arquivamos todas as experiências e registramos os menores fatos da vida. Na região do córtex motor, zona intermediária entre os lobos frontais e os nervos, temos o cérebro desenvolvido, consubstanciando as energias motoras de que se serve a nossa mente para as manifestações imprescindíveis no atual momento evolutivo do nosso modo de ser. Nos planos dos lobos frontais, silenciosos ainda para a investigação científica do mundo, jazem materiais de ordem sublime, que conquistaremos gradualmente, no esforço de ascensão, representando a parte mais nobre de nosso organismo divino em evolução. (20)


Mais adiante, na mesma obra, Calderaro fornece outros esclarecimentos, complementando os anteriores:


— Não podemos dizer que possuímos três cérebros simultaneamente. Temos apenas um que, porém, se divide em três regiões distintas. Tomemo-lo como se fora um castelo de três andares: no primeiro situamos a “residência de nossos impulsos automáticos”, simbolizando o sumário vivo dos serviços realizados; no segundo localizamos o “domicílio das conquistas atuais”, onde se erguem e se consolidam as qualidades nobres que estamos edificando; no terceiro, temos a “casa das noções superiores”, indicando as eminências que nos cumpre atingir. Num deles moram o hábito e o automatismo; no outro residem o esforço e a vontade; e no último demoram o ideal e a meta superior a ser alcançada. Distribuímos, deste modo, nos três andares, o subconsciente, o consciente e o superconsciente. Como vemos, possuímos, em nós mesmos, o passado, o presente e o futuro. (21)


Um ponto importante, também destacado por André Luiz, é que, em determinado momento evolutivo da construção do instinto, ocorreram processos de automatização dos hábitos os quais, necessariamente, foram repassados à geração seguinte, na forma de aprendizado instintivo. Eis como esclarece o Espírito benfeitor:


É assim que dos organismos monocelulares aos organismos complexos, em que a inteligência disciplina as células, colocando-as a seu serviço, o ser viaja no rumo da elevada destinação que lhe foi traçada do Plano Superior, tecendo com os fios da experiência a túnica da própria exteriorização, segundo o molde mental que traz consigo, dentro das leis de ação, reação e renovação em que mecaniza as próprias aquisições, desde o estímulo nervoso à defensiva imunológica, construindo o centro coronário, no próprio cérebro, através da reflexão automática de sensações e impressões em milhões e milhões de anos, pelo qual, com o Auxílio das Potências Sublimes que lhe orientam a marcha, configura os demais centros energéticos do mundo íntimo, fixando-os na tessitura da própria alma. Contudo, para alcançar a idade da razão, com o título de homem, dotado de raciocínio e discernimento, o ser, automatizado em seus impulsos, na romagem para o reino angélico, despendeu para chegar aos primórdios da época quaternária, em que a civilização elementar do sílex denuncia algum primor de técnica, nada menos de um bilhão e meio de anos. […] E entendendo-se que a Civilização aludida floresceu há mais ou menos duzentos mil anos, preparando o homem, com a bênção do Cristo, para a responsabilidade, somos induzidos a reconhecer o caráter recente dos conhecimentos psicológicos, destinados a automatizar na constituição fisiopsicossomática do espírito humano as aquisições morais que lhe habilitarão a consciência terrestre a mais amplo degrau de ascensão à Consciência Cósmica. (22)

3. CONCLUSÃO


Os estudos existentes sobre o instinto são complexos e amplos, pois ainda não existe consenso científico. Não é tema de um único significado, ao contrário, uma nova ideia completa outra já existente. É assunto para muitos anos de pesquisa e estudo. Esclarece, a propósito, Robert Winston  †  um dos mais conhecidos cientistas britânicos da atualidade: “[…] Darwin estava certo ao dizer que nenhuma das qualidades associadas ao termo “instinto” é rigorosamente universal — sempre há exceções.” (13)


Obviamente, precisamos de uma definição e ela está na diferença entre a mente com a qual nascemos e a mente que “formamos”, via aprendizado, cultura e socialização. Então, instinto é essencialmente a parte do nosso comportamento que não é fruto de aprendizado. Contudo, nosso ambiente (e, portanto, nosso aprendizado) pode ter influência poderosa no modo pelo qual nossos instintos se expressam. O instinto [no homem] é construído de elementos humanos, herdados, da ação, desejo, razão e comportamento; […]. Hoje, sabemos muito mais a respeito das características herdadas do que Darwin — sabemos que são transmitidos por genes. (23)


Em processo de admirável síntese, a sabedoria de Emmanuel sintetiza a longa jornada evolutiva do ser humano: “Da sensação à irritabilidade, da irritabilidade ao instinto, do instinto à inteligência e da inteligência ao discernimento, séculos e séculos correram incessantes. A evolução é fruto do tempo infinito.” (24)


MINIGLOSSÁRIO

  • Behaviorismo ou psicologia do comportamento (behavior): teoria anunciada pelo psicólogo estadunidense John Broadus Watson (1878-1958)  † , consiste em teoria e método de investigação psicológica que procura examinar do modo mais objetivo o comportamento humano e dos animais, com ênfase nos fatos objetivos (estímulos e reações).

  • Estoicos: seguidores do estoicismo, filosofia fundada por Zenão de Cítio  †  que ensina ser o Universo governado por um Logos divino (ou Razão universal), e que a alma é identificada por este princípio divino, do qual é parte integrante. Esse Logos ordena todas as coisas, que fez tudo surgir, a partir dele e de acordo com ele. Graças ao Logos, o mundo é um kosmos (palavra grega que significa harmonia).

  • Metafísica: saber que pretende penetrar no que está situado além ou por detrás do ser físico (corporal). A metafísica é conceito aristotélico, por ele denominado filosofia primeira, que deve ser colocada, ou estudada, antes de qualquer outro tipo de filosofia, pois investiga os princípios e as causas dos seres e das coisas.

  • Psicologia social: ramo da Psicologia que estuda processos psicológicos nos grupos de indivíduos, a interação individual dentro de um grupo e entre grupos.

SUGESTÕES AO MONITOR


OBSERVAÇÃO: Sugerimos que o estudo seja realizado em duas reuniões, a fim de que ocorra melhor assimilação dos conteúdos.


PRIMEIRA AULA: estudar os itens Introdução dos Subsídios e Instinto: princípios filosóficos e científicos.

1. Fazer uma explanação inicial do item Introdução, dos subsídios de Roteiro de Estudo. Se possível, utilizar recursos audiovisuais ou eletrônicos.

2. Pedir à turma que faça leitura silenciosa dos conteúdos do item Instinto: princípios filosóficos e científicos, recomendando que assinale pontos considerados mais importantes ou passíveis de esclarecimentos complementares.

3. Promover uma análise discursiva do texto lido, em plenário.

4. Pedir aos participantes que estudem, em casa, os demais itens do Roteiro, que serão utilizados na próxima reunião semanal.


SEGUNDA AULA: estudar os itens Considerações Espíritas sobre o instinto e Conclusão.

1. Realizar breve retrospecto dos assuntos estudados na reunião anterior, destacando os pontos principais.

2. Debater em plenária o conteúdo espírita que apresenta esclarecimento sobre instinto (item 2), elucidando opiniões emitidas pelos participantes.

3. Correlacionar as ideias espíritas e o pensamento filosófico e científico.

4. Expor ao término da reunião as ideias que integram o item Conclusão, como fechamento do estudo.



REFERÊNCIAS

1. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia - Google Books - . Tradução de Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes: 2003, p. 567.

2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010, questão 73, p. 115.

3. Idem ibidem - Questão 74, p. 115.

4. Idem ibidem - Questão 75, p. 115.

5. Idem ibidem -  Questão 75-a, p. 115.

6. Idem ibidem - Questão 75-a - comentário, p. 115.

7. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Op. Cit, p. 567-568.

8. GOODWIN, James C. História da psicologia moderna - Google Books - . Tradução Marta Rosas. 1ª ed. São Paulo: Cultrix, 2005. Capítulo 3, p. 82.

9. Idem ibidem - p. 82-83.

10. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Op. Cit, p.568-569.

11. Davis, Taber. [ Taber’s Cyclopedic Medical Dictionary - Google Books by Clarence Wilbur Taber ]  †  . Dicionário médico enciclopédico Taber. Tradução de Fernando Gomes do Nascimento. 1ª ed. São Paulo: Manole, p. 1516.

12. GOODWIN, James C. História da psicologia moderna. Op. Cit. Capítulo 5, p. 168.

13. Idem ibidem - p. 165-167.

14. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Op. Cit, p. 569.

15. CABRAL, Álvaro e NICK, Eva. Dicionário técnico de psicologia  - Google Books - . 11 ed. São Paulo: Cultrix, 2001, p. 160.

16. GOODWIN, James C. História da psicologia moderna. Op. Cit. Capítulo 12, p. 432.

17. CABRAL, Álvaro e NICK, Eva. Dicionário técnico de psicologia. Op. Cit, p. 255.

18. Idem ibidem -  p. 251.

19. XAVIER, Francisco Cândido e VIERA, Waldo. Evolução em dois mundos. Pelo espírito André Luiz. 25 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Primeira parte, Capítulo 2, item: Corpo espiritual depois da morte, p. 35.

20. XAVIER, Francisco Cândido. No Mundo Maior. Pelo Espírito André Luiz. 26 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Capítulo 3, p. 53.

21.  Idem ibidem - p. 54.

22. XAVIER, Francisco Cândido VIERA, Waldo. Evolução em dois mundos. Op. Cit. Primeira parte, Capítulo3, item: evolução no tempo, p. 43.

23. WINSTON, Robert. Instinto humano - Google Books - . Tradução Mário M. Ribeiro e Sheill Mazzolenis. São Paulo: Globo, 2006. Introdução, p. 19.

24. XAVIER, Francisco Cândido. Roteiro. Pelo espírito Emmanuel. 13 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Capítulo 4, p. 23.


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