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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE I
Módulo V — Aprendendo com fatos cotidianos

Roteiro 1


João Batista


 

Objetivo: Analisar a missão de João Batista, à luz da Doutrina Espírita.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • O […] verdadeiro missionário de Deus tem de justificar, pela sua superioridade, pelas suas virtudes, pela grandeza, pelo resultado e pela influência moralizadora de suas obras, a missão de que se diz portador. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo 21, item 9.

  • João Batista foi a voz clamante do deserto. Operário da primeira hora, é ele o símbolo da verdade que arranca as mais fortes raízes do mundo, para que o reino de Deus prevaleça nos corações. Humberto de Campos: Boa nova. Capítulo 2.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto evangélico

  • E naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia e dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Mateus 3.1-3.

    E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Mateus 3.11.

2. Interpretação do texto evangélico


João Batista é conhecido como o precursor, aquele que viria antes de Jesus a fim de lhe preparar o caminho. Foi ele quem batizou o Mestre e o designou como Messias.


Vestido de peles e alimentando-se de mel selvagem, esclarecendo com energia e deixando-se degolar em testemunho à Verdade, ele precedeu a lição da misericórdia e da bondade. O Mestre dos mestres quis colocar a figura franca e áspera do seu profeta no limiar de seus gloriosos ensinos e, por isso, encontramos em João Batista um dos mais belos de todos os símbolos imortais do Cristianismo. […] João era a verdade, e a verdade, na sua tarefa de aperfeiçoamento, dilacera e magoa, deixando-se levar aos sacrifícios extremos. (5)


João Batista foi o grande missionário de Jesus, porque o “[…] verdadeiro missionário de Deus tem de justificar, pela sua superioridade, pelas suas virtudes, pela grandeza, pelo resultado e pela influência moralizadora de suas obras, a missão de que se diz portador.” (4)

Historicamente, ele é conhecido como primo de Jesus, filho de Zacarias e Isabel, nascido em circunstâncias extraordinárias, em decorrência da gravidez de sua mãe em idade avançada.


João Batista foi a voz clamante do deserto. Operário da primeira hora, é ele o símbolo da verdade que arranca as mais fortes raízes do mundo, para que o reino de Deus prevaleça nos corações. Exprimindo a austera disciplina que antecede a espontaneidade do amor, a luta para que se desfaçam as sombras do caminho, João é o primeiro sinal do cristão ativo, em guerra com as próprias imperfeições do seu mundo interior, a fim de estabelecer em si mesmo o santuário de sua realização com o Cristo. Foi por essa razão que dele disse Jesus: — “Dos nascidos de mulher. João Batista é o maior de todos.” (5)


Ele representa aqueles que estão empenhados na luta pela reeducação espiritual, sob o império da lei de causa e efeito. São conhecidos como legalistas da Lei de Deus que, se adotam posturas extremadas, transformam-se em fanáticos e exageradamente ortodoxos.

O primeiro texto evangélico (Mt 3.1-3) nos informa que durante a pregação, João Batista estimulava a multidão a arrepender-se, “porque é chegado o reino dos céus.” O arrependimento é, pois, a base da melhoria espiritual.


Para que cada qual trabalhe na sua purificação, reprima as más tendências e domine as paixões, preciso se faz que abdique das vantagens imediatas em prol do futuro, visto como, para identificar-se com a vida espiritual, encaminhando para ela todas as aspirações e preferindo-a à vida terrena, não basta crer, mas compreender. Devemos considerar essa vida debaixo de um ponto de vista que satisfaça ao mesmo tempo à razão, à lógica, ao bom senso e ao conceito que temos da grandeza, da bondade e da justiça de Deus. (1)


Sabemos que sem o arrependimento não ocorre a regeneração do Espírito. É necessário reconhecer as faltas cometidas e se preparar para repará-las. Neste sentido esclarece Emmanuel:


O remorso é a força que prepara o arrependimento, como este é a energia que precede o esforço regenerador. Choque espiritual nas suas características profundas, o remorso é o interstício para a luz, através do qual recebe o homem a cooperação indireta de seus amigos do Invisível, a fim de retificar seus desvios e renovar seus valores morais, na jornada para Deus. (6)


Até João Batista, a tentativa de se obter paz interior estava relacionada às obrigações religiosas ou às manifestações de culto externo: sacrifícios, holocaustos, oferendas, santificação do sábado etc.

Com Jesus, verificamos que Deus não está assentado no altar dos templos religiosos. Mas que se encontra em todo o Universo e no âmago do ser humano.

O “Reino”, de que o versículo 2 de Mateus faz alusão, tem significado bem diverso daquele que era apregoado pelo Judaísmo, como bem nos esclarece o evangelista Lucas: “O Reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Porque eis que o Reino de Deus está entre vós.” (Lc 17.20,21)

João preparava o caminho para que Jesus pudesse nos fornecer a chave do reino dos céus, e nos ensinasse as diretrizes para o alcance da harmonia pessoal, estabelecendo o reino de Deus no coração.

João Batista pregava o advento do Reino dos Céus com ardor, usando de todo o poder de convencimento que possuía.


A mente, como não ignoramos, é o incessante gerador de força, através dos fios positivos e negativos do sentimento e do pensamento, produzindo o verbo que é sempre uma descarga eletromagnética, regulada pela voz. Por isso mesmo, em todos os nossos campos de atividade, a voz tonaliza a exteriorização, reclamando apuro de vida interior de vez que a palavra, depois do impulso mental, vive na base da criação; é por ela que os homens se aproximam e se ajustam para o serviço que lhes compete e, pela voz, o trabalho pode ser favorecido ou retardado, no espaço e no tempo. (11)


Preparar o caminho do Senhor, endireitando as suas veredas, conforme assinala o registro do evangelista (Mt 3.3), tem significado especial.


O homem bem-intencionado refletirá intensamente em melhores caminhos, alimentando de ideais superiores e inclinando-se à bondade e à justiça. […] É necessário meditar no bem; todavia é imprescindível executá-lo. A Providência Divina cerca a estrada das criaturas com o material de edificação eterna, possibilitando-lhes a construção das “veredas direitas” […]. Semelhante realização por parte do discípulo é indispensável, porquanto, em torno dos seus caminhos, seguem os que manquejam. Os prisioneiros da ignorância e da má-fé arrastam-se, como podem, nas margens do serviço de ordem superior […]. Somente aqueles que constroem estradas retas escapam-lhes aos assaltos sutis, defendendo-se e oferecendo-lhes também novas bases a fim de que se não desviem inteiramente dos Divinos Desígnios. (10)


No segundo texto de Mateus (capítulo 3, versículo 11), lemos que João Batista batiza com água as pessoas que desejam ser convertidas, atendendo ao rito judaico. Sabemos, hoje, que tal simbolismo é dispensável, uma vez que a verdadeira conversão ocorre no íntimo do ser. Esclarece Emmanuel que os “[…] espiritistas sinceros, na sagrada missão de pater­nidade, devem compreender que o batismo, aludido no Evangelho, é o da invocação das bênçãos divinas […] (9)

No Espiritismo não há batismo ou outro ritual de qualquer espécie. Jesus veio em seguida à pregação de João Batista, oferecendo-nos o seu Evangelho de Luz e Amor.


A […] Providência Divina movimentou todos os recursos indispensáveis ao progresso material do homem físico na Terra, o Evangelho de Jesus é a dádiva suprema do Céu para a redenção do homem espiritual, em marcha para o amor e sabedoria universais. […] O Evangelho é o roteiro para a ascensão de todos os Espíritos em luta, o aprendizado na Terra para os planos superiores do Ilimitado. De sua aplicação decorre a luz do Espírito. No turbilhão das tarefas de cada dia, lembrai a afirmativa do Senhor: — “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Se vos cercam as tentações de autoridade e poder, de fortuna e inteligência, recordai ainda as suas palavras: — “Ninguém pode ir ao Pai senão por mim.” E se vos sentis tocados pelo sopro frio da adversidade e da dor, se estais sobrecarregados de trabalhos no mundo, buscai ouvi-Lo sempre no imo dalma: — “Quem deseje encontrar o Reino de Deus tome a sua cruz e siga os meus passos.” (8)


À medida em que o ser avança sob a inspiração do Alto, vai alcançando novos aprendizados, propiciados pela fieira das reencarnações. Aprende a santificar as suas experiências cotidianas sob o “batismo” transformador da mensagem do Cristo.

Neste sentido, nos esclarece a Doutrina Espírita: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.” (3)

O espírita, inspirado pelas orientações do evangelho, explicadas pelos postulados do Espiritismo compreende, então, que é pela caridade que o ser se transforma, ascendendo a planos evolutivos superiores.


A caridade é a virtude fundamental sobre que há de repousar todo o edifício das virtudes terrenas. Sem ela não existem as outras. Sem a caridade não há esperar melhor sorte, não há interesse moral que nos guie; […]. A caridade é, em todos os mundos, a eterna âncora de salvação; é a mais pura emanação do próprio Criador; é a sua própria virtude, dada por ele à criatura. (2)


O precursor nos oferece exemplo de transformação moral, obtido sob os ditames da vontade disciplinada, corretamente administrada.


O amor-próprio, o brio, o caráter e a honra deveriam ser traços do aperfeiçoamento espiritual e nunca demonstrações de egoísmo, de vaidade e orgulho, quais se manifestam, comumente, na Terra. Quando o homem se cristianizar, compreendendo essas posições morais no seu verdadeiro prisma, não mais se verificará qualquer colisão entre os acontecimentos da existência comum e os seus conhecimentos do Evangelho, porquanto o seu esforço será sempre o da cooperação sincera a favor do reerguimento e da elevação espiritual dos semelhantes. (7)



ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Enriquecer o estudo deste Roteiro, utilizando a página Jesus e o precursor, de Humberto de Campos, existente em seu livro Boa nova. Destacar, também estas afirmativas existentes em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 17, item 4: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.”



Referências:

1. KARDEC. Allan. O céu e o inferno. Tradução de Manuel Justiniano Quintão. 58. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Segunda parte, Capítulo 1, item 14, p. 172.

2. Idem - O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 13, item 12, p. 223.

3. Idem - Capítulo 17, item 4, p. 276.

4. Idem - Capítulo 21, item 9, p. 323.

5. XAVIER, Francisco Cândido. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos (Irmão X). 35. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 2 (Jesus e o precursor), p. 24.

6. Idem - O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006, questão 182, p. 110.

7. Idem - Questão 216, p.130.

8. Idem - Questão 225, p. 135.

9. Idem - Questão 298, p. 175.

10. Idem - Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 86 (Intentar e agir), p. 187-188.

11. Idem - Entre a terra e o céu. Pelo Espírito André Luiz. 23. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 22 (Irmã Clara), p. 177-178.


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