292. — Em que sentido deveremos
tomar o conceito de religiões?
— Religião, para todos os homens, deveria compreender-se como sentimento divino que clarifica o caminho das almas e que cada Espírito apreenderá na pauta do seu nível evolutivo.
Neste sentido, a religião é sempre a face augusta e soberana da Verdade; porém, na inquietação que lhes caracteriza a existência na Terra, os homens se dividiram nas religiões numerosas, como se a fé também pudesse ter fronteiras, como as pátrias materiais, tantas vezes mergulhadas no egoísmo e na ambição de seus filhos.
Dessa falsa interpretação têm nascido no mundo as lutas antifraternais e as dissensões religiosas de todos os tempos.
293. — As religiões que surgiram
no mundo, antes do Cristo, tinham também por missão principal a preparação
da mentalidade do mundo para a sua vinda?
— Todas as ideias religiosas, que as criaturas humanas traziam consigo do pretérito milenário, destinavam-se a preparar o homem para receber e aceitar o Cordeiro de Deus, com a sua mensagem de amor perene e reforma espiritual definitiva.
O Cristianismo é a síntese, em simplicidade e luz, de todos os sistemas religiosos mais antigos, expressões fragmentárias das verdades sublimes trazidas ao mundo na palavra imorredoura de Jesus.
Os homens, contudo, não obstante todos os elementos de preparação, continuaram divididos e, dentro das suas características de rebeldia, procrastinaram a sua edificação nas lições renovadoras do Evangelho.
294. — Reconhecendo-se que várias
seitas nasceram igualmente do Cristianismo, devemos considerá-las cristãs,
ou simples expressões religiosas insuladas da verdade de Jesus?
— Todas as expressões religiosas nascidas do Cristianismo se identificam pela seiva de amor do tronco que as congrega, apesar dos erros humanos de seus expositores.
Os sacerdotes das castas mais diversas inventaram os manuais teológicos, os princípios dogmáticos e as fórmulas políticas; todavia, nenhum esforço humano conseguiu deslustrar a claridade divina do “amai-vos uns aos outros”, ( † ) base imortal de todos os ensinos de Jesus, cuja luminosa essência as identifica entre si, em todas as posições e tarefas especializadas que lhes foram conferidas.
295. — Se as seitas religiosas
nascidas do Cristianismo tem uma tarefa especializada, qual será a das
correntes protestantes, oriundas da Reforma?
— A Reforma e os movimentos que se lhe seguiram vieram ao mundo com a missão especial de exumar a “letra” dos Evangelhos, enterrada até então nos arquivos da intolerância clerical, nos seminários e nos conventos, a fim de que, depois da sua tarefa, pudesse o Consolador prometido, pela voz do Espiritismo cristão, ensinar aos homens o “espírito divino” de todas as lições de Jesus.
296. — O Espírito, antes de
reencarnar, escolhe também as crenças ou cultos a que se deverá submeter
nas experiências da vida?
— Todos os Espíritos, reencarnando no planeta, trazem consigo a ideia de Deus, identificando-se de modo geral nesse sagrado princípio.
Os cultos terrestres, porém, são exteriorizações desse princípio divino, dentro do mundo convencional, depreendendo-se daí que a Verdade é uma só, e que as seitas terrestres são materiais de experiência e de evolução, dependendo a preferência de cada um do estado evolutivo em que se encontre no aprendizado da existência humana, e salientando-se que a escolha está sempre de pleno acordo com o seu estado íntimo, seja na viciosa tendência de repousar nas ilusões do culto externo, ou pelo esforço sincero de evoluir, na pesquisa incessante da edificação divina.
297. — Considerando que a convenção
social confere aos sacerdotes das seitas cristãs certas prerrogativas
na realização de determinados acontecimentos da vida, como interpretar
as palavras de Mateus: — “Tudo o que ligardes na Terra, será ligado
no Céu”, ( † )
— se os sacerdotes, tantas vezes, não se mostram dignos de falar no mundo
em nome de Deus?
— Faz-se indispensável observar que as palavras do Cristo foram dirigidas aos apóstolos e que a missão de seus companheiros não era restrita ao ambiente das tribos de Israel, tendo a sua divina continuação além das próprias atividades terrestres. Até hoje, os discípulos diretos do Senhor têm a sua tarefa sagrada, em cooperação com o Mestre Divino, junto da Humanidade, — a Israel mística dos seus ensinamentos.
Os méritos dos apóstolos, de modo algum poderiam ser automaticamente transferidos aos sacerdotes degenerados pelos interesses políticos e financeiros de determinados grupos terrestres, depreendendo-se daí que a igreja romana, a que mais tem abusado desses conceitos, mais uma vez desviou o sentido sagrado da lição do Cristo.
Importa, porém, lembrarmos neste particular, a promessa de Jesus, de que estaria sempre entre aqueles que se reunissem sinceramente em seu nome.
Nessas circunstâncias, os discípulos leais devem manter-se em plano superior ao do convencionalismo terrestre, agindo com a própria consciência e com a melhor compreensão de responsabilidade, em todos os climas do mundo, porquanto, desse modo, desde que desenvolvam atuação no bem, pelo bem e para o bem, em nome do Senhor, terão seus atos evangélicos tocados pela luz sacrossanta das sanções divinas.
298. — Considerando que as religiões
invocam o Evangelho de Mateus ( † )
para justificar a necessidade do batismo em seus característicos cerimoniais,
como deverá proceder o espiritista em face desse assunto?
— Os espiritistas sinceros, na sagrada missão de paternidade, devem compreender que o batismo, aludido no Evangelho, é o da invocação das bênçãos divinas para quantos a eles se reúnem no instituto santificado da família.
Longe de quaisquer cerimônias de natureza religiosa, que possam significar uma continuação dos fetichismos da Igreja Romana, que se aproveitou do símbolo evangélico para a chamada venda dos sacramentos, o espiritista deve entender o batismo como o apelo do seu coração ao Pai de Misericórdia, para que os seus esforços sejam santificados no trabalho de conduzir as almas a ele confiadas no instituto familiar, compreendendo, além do mais, que esse ato de amor e de compromisso divino deve ser continuado por toda a vida, na renúncia e no sacrifício, em favor da perfeita cristianização dos filhos, no apostolado do trabalho e da dedicação.
299. — Qual o procedimento a
ser adotado pelos espiritistas na consagração do casamento, sem ferir
as convenções sociais, reflexas dos cultos religiosos?
— Os cultos religiosos, em sua feição dogmática, são igualmente transitórios como todas as fórmulas do convencionalismo humano.
Que o espiritista sincero e cristão, assumindo os seus compromissos conjugais perante as leis dos homens, busque honrar a sua promessa e a sua decisão, santificando o casamento com o rigoroso desempenho de todos os seus deveres evangélicos, ante os preceitos terrestres e ante a imutável lei divina que vibra em sua consciência cristianizada.
300. — Como interpretar a missa
no culto externo da igreja católica?
— Perante o coração sincero e fraternal dos crentes a missa idealizada pela igreja de Roma deve ser um ato exterior, respeitável para nós outros, como qualquer o cerimônia convencionalista do mundo, que exija a mútua consideração social no mecanismo de relações superficiais da Terra.
A igreja de Roma pretende comemorar, com ela, o sacrifício do Mestre pela humanidade; todavia, a cerimônia se efetua de conformidade com a posição social e financeira do crente.
Ocorrem, dessa maneira, as missas mais variadas, tais como a “do galo”, a “nova”, a “particular”, a “pontifical”, a “das almas”, a “seca”, a “cantada”, a “chã”, a “campal”, etc., adstritas a um prontuário tão convencionalista e tão superficial, que é de admirar a adaptação ao seu mistifório, por parte do sacerdote afeito à sinceridade e inteligente.
301. — As aparições e os chamados
milagres relacionados na história da origem das igrejas são fatos de natureza
mediúnica?
— Todos esses acontecimentos, classificados no domínio do sobrenatural, foram fenômenos psíquicos sobre os quais se edificaram as igrejas conhecidas, fatos esses que o Espiritismo veio catalogar e esclarecer, na sua divina missão de Consolador.
Emmanuel